Depois que Roger tomou banho, nós lanchamos e dormimos. Eu queria ter adormecido bem, porém Roger não parava quieto na cama. Ou tendo pesadelo ou insônia e só dormiu quando eu o abracei e fiz carinho nele. Ao amanhecer, eu acordei primeiro. Temos aula hoje, e não podemos nos atrasar. Faço o café da manha e tomo um banho rápido. Quando saio do banho, Roger está sentado na cama, com a cabeça baixa e os cotovelos apoiados na perna.

— o café esta pronto – digo já vestida

— eu já vou descer, pode ir comendo – ele diz rouco e baixo

— tudo bem – ando devagar até ele – bom dia – dou-lhe um selinho e desço

Assim como na noite anterior o banho foi bem demorado. Contei com o tempo que levei para tomar café e cantar I Look At You – da Miley e Believe In Me – da Demi. Já estou totalmente pronta, exceto pela parte que ainda não escovei os dentes.

Roger desce para tomar o café e eu vou escovar meus dentes e finalmente para fechar com chave de ouro, passar um delineador e um rímel mais um glóss. Roger come devagar, como se estivesse lutando para que a comida descesse pela garganta e continuasse lá. Sei como é pois já passei por isso.

— se quiser ficar não tem problema – me sento á sua frente e seguro uma de suas mãos

— Simas e Sarah não terão este gostinho – ele força mais uma vez e se levanta – vou chegar de cabeça erguida

— estou com você – aperto suas mãos com carinho

— obrigada – ele suspira

O caminho até a universidade também é feito em silencio e chegamos á tempo para a primeira aula. Roger segue para seu prédio e eu sigo para o meu. Como da ultima vez fico lendo meu livro de romance. Só mais dois dias, só mais dois dias.  

Eu achei que minha família era complicada, mas os Baker’s consegue vencer. Desrespeitando ou não a senhora Ema Baker, ela não tinha o direito de levantar á mão para mim. E se ela me bateu ela me deu o direito de revidar. Porém sem esta questão, estou péssima pelo Roger, não foi certo o que Ema fez. Mas abandonar tudo por minha causa é mais do que ele pode suportar e começo á me sentir culpada com isso. Ele pode voltar atrás se ele quiser, eu sei que já me escolheu. E sei que não acabou por aqui, tem mais coisa por trás disto tudo. E vou descobrir.

Sarah esta de volta e com um quilo de maquiagem para esconder os roxos do pescoço e dos olhos. Simas também, porém sem maquiagem. Como Roger ainda esta dormindo no meu dormitório (Cosuelo pediu, tanto para manter Roger e John longe de Simas, quanto para segurar Luce e eu quanto á Sarah), eles estão se encontrando menos. E todos estão satisfeitos com isso, pelo menos é o que eu acho.

Depois de um dia cheio de tédio, finalmente me encontro com Luce naquele nosso esconderijo. Ela esta tão inquieta que não para de andar de um lado para o outro.

— me conta logo, como foi? – ela se vira para mim e se senta

— no começo ela me tratou bem, conheci Eveline e Cloe elas são uns amores – sorrio ao me lembrar delas – o senhor Baker também é um homem muito bom e simpático.

— no começo? – ela me olha mordendo os lábios – teve mais coisa não é?

— tinha mais uma mulher lá á Nádia – começo e ela revira os olhos

— já entendi tudo – bufa

— mas você nem me deixou falar – riu baixo – você vai gostar

— conta logo – ela me sacode

— ela ficou fazendo perguntas sobre a maldição, depois começou a me apontar e me xingar. É claro que eu iria discutir com ela, daí ela me deu um tapa no rosto e eu dei um soco nela falando um monte de coisas – assim que falo Luce gargalha alto – e por fim, Roger esta morando comigo agora

— ele desistiu da família por você? – Luce arregala os olhos e cobre a boca com as mãos

— sim, mas acho que mais cedo ou mais tarde ele vai se arrepender – suspiro – ainda preciso tomar esta decisão logo, certo?

— estou aqui para o que precisar – Luce me abraça

Ter esta conversa no quarto com Roger lá não faria bem á ele, ainda á varias coisas passando por sua cabeça e ele precisa coloca-las em ordem. Não vai ser fácil eu sei, mas ele precisa. Não sei se ele vai falar isso com o John ou outro amigo. Só que se ficar guardando tudo vai acabar explodindo.

Voltamos para o quarto, mas antes de abrir a porta. Escutamos uma conversa entre Roger e John

— você tem certeza disso Roger? – John pergunta seu tom sério

— pelo menos uma vez na minha vida eu tenho que lutar por algo que amo, e não vou desistir dela – Roger responde no mesmo tom

— sabe que sua mãe não vai facilitar nem um pouco não é? – John ainda pergunta sério

— claro que sei – ouço ele bufar – só espero que ela não desista de mim

— ela vai querer fazer o certo para os dois – John suaviza sua voz – só torça para que ela não ache que o certo é vocês seguirem caminhos diferentes.

— este é meu medo – ele responde baixo

— atrapalho? – Luce bate e abre a porta devagar

—não – John responde se sentando na cama dela

— vai dormir aqui hoje, ou prefere minha casa? – me sento ao lado de Roger na minha cama fazendo carinho em seu rosto

— sua casa é melhor, precisamos conversar – ele baixa a cabeça e eu entendo.

— tudo bem – me levanto e abro meu armário pegando a mala enorme da viagem que fizemos – vou aproveitar e já organizar isso lá

— cuidado no caminho – Luce abraça nós dois

— pode deixar – retribui – e quero minha cama intacta ouviram? – arqueio a sobrancelha e os dois gargalham

Resolvemos ir com meu carro desta vez, pelo tamanho da mala a carroceria dela seria melhor. Roger liga o rádio do carro cortando o silencio, e I Look At You da Miley começa a tocar e o vejo chorando silenciosamente ao decorrer da musica. Acho que não foi boa ideia ligar o rádio. Porém deixo mesmo assim, ele não esta nada bem, ainda mais chorar com essa musica. Isso é certeza. Essa musica é linda já chorei com ela. Agora começa á os primeiros acordes de outra musica e dou risada ao me lembrar de Luce, John e Jonah nos perturbando por uma musica na praia. Começo a cantar junto com Rihanna em Hate That I Love You e depois de um momento ele para de chorar e prestar atenção em mim cantando. Eu sei que canto bem e me orgulho disso e ele parece fascinado ao me ouvir cantar. Igual no dia da fogueira.

Chegamos a casa após quinze musicas depois daquelas, não me pergunte o nome de todas, pois não lembro nem da segunda.

Roger sobe com a minha mala enquanto eu ligo o ar condicionado. Subo em seguida para arrumar minhas novas roupas no closet e separo as que vão para a doação.

Roger fica o tempo todo em silencio, acho que para tomar atitude. E este silencio todo de ontem para hoje esta começando a me incomodar. Ele esta sentado na minha escrivaninha cabisbaixo. Nem parece o pegador, confiante e exibido que conheci.

— você também deve estar pensando muito não é? – ele pergunta em fim

— sim – termino de colocar alguns produtos e maquiagens na penteadeira e me aproximo dele – muito

— eu sei que deve ser difícil aceitar aquela família louca e perdão pelo o que minha mãe fez. Se eu soubesse não teria te levado – Roger levanta os olhos vermelhos para mim

— eu á perdoo por você, suas irmãs e seu pai – beijo sua bochecha – não é difícil aceitar aquela família e sim te ver acabado por ter desistido dela.

— eu vou ficar melhor – aqueles olhos tão lindos estarem tão tristes me corta o coração

— eu não quero te ver infeliz, e essa decisão será eterna. Se abandona-los, não vai poder voltar atrás depois. Você quer mesmo isso? – seguro seu rosto entre minhas mãos

— você quer desistir não é? – sua voz sai incrédula e um pouco irritada – você não quer este peso nas suas costas – ele se levanta e se afasta

— Roger não é isso – me levanto também e fico pouco atrás deles – eu só não quero que você se arrependa depois disso. Pode nunca mais poder voltar atrás. E pode acontecer de nós dois nos separarmos no futuro e ai, como que vai ficar as coisas?

— é isso que você pensa? – ele grita me assustando – que não vale a pena nós dois? É isso? Depois de tudo o que passamos?

— tenta se acalmar, fazer as coisas de cabeça quente nunca dá certo – digo segurando as lágrimas. Ele nunca gritou comigo

— não Micaela, você não sabe o que quer da vida. Você pode se arrepender depois. Pensa direito antes de decidir de vez o que quer – ele grita de novo e bate a porta do quarto atrás de si quando sai.

Droga! Porque sempre tenho que estragar tudo? Porque tenho que ser tão insegura? Poxa eu já sou adulta, tenho que parar com essas paranoias de adolescente. Chorando igual criança me sento na escrivaninha onde tem um retrato meu com meus pais e Misha. Seria tudo diferente se eles estivessem vivos? Esta doendo meu coração, é horrível brigar com quem se ama, e odeio isso. Ainda mais o motivo.

— o que eu faço mamãe? – pergunto entre soluços – o que eu faço?

— pesar o que você quer mais – ouço a voz dela. Claro que deve ser coisa da minha cabeça. É impossível certo? Na verdade, depois de ter conhecido duas deusas africanas eu não duvido de mais nada. – o que você mais quer? – sua voz suave e protetora pergunta.

— eu quero ficar com ele mamãe – baixo a cabeça ainda chorando – mas tenho medo de isso machucar nós dois e nos separamos depois

— vocês ainda tem que passar por muita coisa – sinto alguém tocando meu ombro e olho para trás. Ela esta com o cabelo solto, de jeans e camiseta. Como na ultima vez que eu há vi. Ela esta sorrindo. E choro ainda mais. – vocês são adultos, e um casal. Vão ter que aprender a trabalhar em dupla para superar tudo isso

— vai valer á pena lutarmos? – pergunto secando meus olhos

— vai sim minha princesa – ela me abraça e consigo sentir o cheiro do perfume que gostava de usar – mas a luta pode ser difícil e desgastante. Cabe a você saber o que decidir

— obrigada, por me ouvir e responder – a abraço. Nem parece que ela morreu, primeiro por estar ali falando comigo, segundo por conseguirmos nos abraçar

— sempre estou com vocês filha – ela sorri alisando meu cabelo – e gostei do que disse ao seu irmão. Com isso ele saberá valorizar uma mulher

— obrigada – sorrio em meio ás lágrimas

— tenho que ir, até meu amor – ela beija o topo da minha cabeça e desaparece como fumaça.

Choro mais um pouco, a saudade de não ter ela por perto é sufocante, mas preciso resolver este problema agora. Onde ele esta?

Saio pelo corredor que está escuro, a única porta aberta é a do meu quarto. Vou para o andar de baixo na esperança de encontrar ele ainda na casa. Na metade da escada o vejo sentado no sofá ainda chorando, de cabeça baixa com os braços apoiados nos joelhos, totalmente inclinado para frente . Eu sou uma péssima namorada mesmo! Aproximo-me devagar e me sento ao seu lado, abraço suas costas depositando um beijo na mesma.

— desculpe – peço ainda soluçando

— você já decidiu o que quer? – ele pergunta segurando um soluço

— se você não desistir de mim, eu escolho você – digo com a cabeça encostada em suas costas

— não vou desistir – sinto seus músculos se tencionarem

— então eu lutarei com você por nós – respondo com algumas lágrimas escorrendo

— eu te amo Mica, amo por demais da conta – ele fica ereto e me envolve em seus braços – desculpe por ter gritado com você

— tudo bem – fungo – eu também te amo. Amo muito.