Shikashi!! escrita por Uma Qualquer


Capítulo 23
O fim e o começo


Notas iniciais do capítulo

Onde aproveitamos as férias, abrimos nosso coração e nos preparamos pro que der e vier.



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As provas vieram pela última vez, e surpreendentemente, não levei bomba em nada.

Claro, minha melhor amiga estava de volta ao meu lado pra sofrer junto comigo, então passamos de ano arrastadas mas felizes. E depois da primeira semana de março, o período chegou ao fim. Pelo menos até abril, estávamos livres da escola!

Era hora daquilo que eu fazia de melhor: um monte de nada. Assistir animes e seriados até altas horas, dormir até altas horas... Era perfeito. Além disso eu também saía com a Rin, a Gumi e a Yukari. A gente pegava um cinema, ia ao shopping ou simplesmente passava o dia na casa umas das outras. Menos da Rin, porque a gente queria evitar um climão caso o Len visse a Gumi e a Yukari juntas... Mas enfim, tudo estava correndo perfeitamente bem, sem nenhuma novidade e com bastante diversão e procrastinação, como todas boas férias devem ser.

Pelos cenários que o Kaito me orientava a desenhar, pude ver que ao menos ele estava saindo de casa pra variar naquelas férias. Parque de diversões, cinema, estádio de beisebol... Até que era bom variar das velhas salas de aula e corredores escolares. Só não sabia dizer se ele tinha ido a esses lugares pra realmente se divertir ou só fez a pesquisa e tirou umas fotos, mas conhecendo o Kaito como eu conhecia, a última opção era a mais provável.

O casamento do Gakupo e da Luka estava cada vez mais perto, e agora que a Gumi já sabia de tudo eu estava bem mais acostumada, por assim dizer. Pra ser sincera, quase não doía mais pensar nisso. Eu achava que ir à festa e ver eles dois seria um martírio, mas à medida que a data se aproximava, eu tinha mais certeza de que ia conseguir sobreviver.

Então, faltando uns dois dias pra festa, a Rin me chamou e ao YuGumi (como a gente estava chamando as duas) pra uma sessão no karaokê, que a gente não visitava desde o fim das aulas. Pagamos pelas horas e fomos até a sala, sem saber que os clientes que estavam usando ela ainda não tinham terminado a sessão.

Foi assim que eu o vi pela primeira vez.

Ouvi, na verdade, antes de ver. Era uma voz de garoto, jovem e aveludada, que pertencia a um cara louro, os cabelos meio longos e repicados como os de um astro de visual kei, de olhos castanho avermelhados. Estava cantando alguma insert song de anime bem puxada pro rock e parecia completamente concentrado na música. Tanto que levou um tempo até ele perceber a mim e as meninas na porta da sala, sem falar nada, só assistindo.

Eu não me incomodaria de passar o resto do tempo só olhando pra ele, mas o cara tinha notado a gente e é... Foi esquisito. Ele nos viu e e então virou pro outro lado da sala.

— Nossa, a gente estourou o tempo – ele riu. Desligou o microfone e nos encarou outra vez. – Foi mal, meninas!

— Tudo bem – a gente respondeu ao mesmo tempo.

Ele olhou pra mim, piscando devagar, e então sorriu. Não parecia ser muito mais velho que o Kaito, mas era um pouco mais alto e... Minha nossa. Ele era muito lindo. Aquele sorriso só já tinha tirado meu fôlego, mas ele não se intimidou e chegou bem perto de mim.

— Então... – ele disse, sem tirar os olhos dos meus. –  Estamos indo.

— Tudo bem – eu repeti abobada, sem entender por que ele tinha parado na minha frente, até a Rin me puxar discretamente pro lado.

Agh, que mico... Eu tinha me plantado no meio do caminho e nem tinha percebido! Me curvei em desculpas e passei para o lado da porta, permitindo que ele e sua companhia saíssem. Ela era uma garota estilosa, de cabelo roxo e verde, usando uma blusa branca e jaqueta e shorts de couro. Tinha um jeitão intimidador que lembrava um pouco a Cul, talvez porque as duas usavam rabo de cavalo. Ela nos olhou rapidamente, sem esboçar reação, e foi atrás do cara louro. Então reparei que ele usava jeans rasgados e uma camisa de banda igual às da Gumi. Tinha um jeito meio relaxado de andar, de mãos nos bolsos, mas ainda assim aquele jeito largado parecia elegante nele. Eu simplesmente não parava de olhar pra ele...

— Terra para Miku – a Gumi provocou, beliscando meu braço de leve.

Ele pareceu ter ouvido, porque virou pra trás e sorriu outra vez. Entrei na sala fumaçando, enquanto a Rin dançava ao meu redor.

— A Miku desencalhou – ela cantava. – A Miku desencalhou, a Miku desencalhou...

— Quieta, pestinha – reclamei, cada vez mais vermelha. – Ele só sorriu e mais nada! Eu nem sei quem ele é...

— Amor à primeira vista – ela parou e pôs a mão no peito dramaticamente. – Com certeza ele nos analisou e viu que o YuGumi já formam o casal perfeito e eu já gosto do K... Ahem. Que meu coração já está ocupado. Então ele olhou pra você, que está saindo da friendzone pra convidada-de-casamento-zone, e pressentiu que o seu coração carente precisa de amor!!!

— Eu vou te bater – ameacei, pegando o microfone enquanto as meninas riam.

A Rin me olhou com um sorrisinho matreiro, e então tapou os ouvidos. – Pode me bater Miku-chan, ainda é melhor que te ouvir cantar!



Sério, melhores amigas. Me shippando com um cara que a gente nem conhecia, só porque... Sei lá, porque eu fiquei no caminho dele, e porque ele me sorriu? Ele era muito lindo, mesmo ainda não chegando perto do Gakupo pra mim, mas... Enfim, era só um estranho que era um gatinho e cantava superbem, mas que eu provavelmente não ia ver tão cedo outra vez.

Certo? Certo. Eu já era experiente com ilusões, obrigada. Não precisava criar uma nova, agora que a antiga estava prestes a se desfazer tipo, na minha frente.

Falando nisso, eu tinha achado estranha essa história da Luka ter brigado com o Gakupo e, quando reataram, resolver se casar com ele. Tipo, foi meio rápido, e ela nem queria quando ele pediu antes... Mas segundo a Gumi, ela tinha refletido melhor sobre o assunto e decidido que, se sabia que o Gakupo era o cara certo, não tinha por que esperar. Eles podiam se estabelecer nas carreiras deles enquanto usavam alianças, nada impedia né?

Se bem que ela podia ter pensado nisso antes, daí o Gakupo não teria se precipitado e ido falar com os pais dela e criado aquela confusão toda. Mas aí ela só ia descobrir que ele precisava maneirar na própria atitude quando já fosse tarde, então... É, acho que as coisas não acontecem sem um motivo. Pelo menos, eu prefiro acreditar que não.

Eles se casaram no feriado do equinócio da primavera, numa cerimônia pequena e restrita aos familiares. Logo depois o casal e sua família foi para a festa de comemoração, também pequena mas bastante aconchegante, no salão de festas de um hotel. A noite chegou e eu me arrumei o melhor que pude, com um vestido de sedas rosa e lilás com flores na alça, sapatilhas brancas e um xale branco. Mamãe conseguiu arrumar boa parte do meu cabelo num coque alto, com as pontas soltas caindo pelas costas em cachinhos, e pôs uma maquiagem leve em meu rosto. No final, achei que estava arrumada o bastante pra uma festa de casamento, mas e o suficiente pra não ofuscar a noiva (como se alguém pudesse).

Quando desci do táxi a Rin e a Yukari me esperavam do lado de fora do hotel. Estavam deslumbrantes, a Rin num vestido de babadinhos salmão e a Yukari num longo de veludo prateado. Ficamos uns minutinhos admirando os vestidos umas das outras antes de finalmente entrarmos no hall do hotel, porque não é todo dia que suas companheiras de bagunça e preguiça estão parecendo verdadeiras princesas.

— Espere só até ver a Gumi – Yukari disse orgulhosa.

Quando entramos o lugar parecia um sonho. Mesmo com o pouco orçamento a Luka e o Gakupo se viraram pra fazer da comemoração um momento especial. Havia flores de cerejeira nas mesas e na decoração do salão, que estava fantástica. Uma banda de conhecidos do Gakupo estava tocando num palco improvisado, e alguns casais estavam dançando no espaço aberto entre as mesas.

— Parece que um deles é aluno do Gakupo-san – Yukari contou, apontando com o queixo para o baterista. Era um carinha de cabelo escuro e liso, tão comprido que a franja escondia completamente o rosto. Dos integrantes da banda, era o único que usava uma camisa preta de banda em vez de terno branco como os outros.

— Ele podia ter se arrumado um pouquinho melhor, né não? – Rin resmungou, torcendo o nariz.

— O nii-san não quis que ele mudasse de estilo só por causa dele – uma voz conhecida nos fez pular de alegria.

— Gumi!

Ela estava simplesmente incrível, num vestido tomara que caia de cor creme com rendas pretas, além de luvinhas de renda preta nas mãos e um pequeno arranjo de flores nos cabelos verdes. Nunca vi ela tão linda e radiante, parecia uma bonequinha de luxo! Nos abraçamos e ela nos conduziu até nossa mesa, onde os outros convidados dela já tinham se sentado, no caso o Len e o Kaito.

Len estava inacreditavelmente bonito num terno escuro, camisa branca e gravata borboleta, os cabelos presos num rabo de cavalo mais baixo. O gesso tinha sido tirado do braço uma semana antes, e por um momento, pensei até que fosse outra pessoa. Ele nos saudou relaxadamente como sempre, sem parecer ter consciência de que estava o maior gato. Do lado dele, Kaito não tinha aberto mão do terno azul escuro ou da echarpe de sempre. Mas seus cabelos estavam penteados pra trás, deixando bem à mostra os olhos e o rosto. Ainda parecia ser ele, mas com um ar mais maduro e sofisticado. Ele nos cumprimentou formalmente, como um perfeito cavalheiro de meio século de idade, e saiu afastando as cadeiras uma a uma pra que todas nós nos sentássemos.

— Dá um tempo – Len disse entediado. – Elas sabem se sentar sozinhas.

— Com certeza sabem – Kaito respondeu, voltando para o lugar dele ao lado do Kagamine.

— O meu irmão não reconheceria um ato de cavalheirismo, nem que fosse atingido com um na cabeça – Rin provocou.

Ele revirou os olhos, e então seu olhar pousou sem querer na Gumi e na Yukari, que se entreolhavam sorrindo. Parece que a Yukari-senpai tinha pedido desculpas ao Len e eles ja estavam de boas agora, mas ainda assim, ter o casal feliz bem ali na sua frente...

Era um convite para o climão.

Os garçons chegaram bem na hora nos trazendo petiscos, o que imaginei que fosse nos animar, afinal eram doces! Até me arrisquei a provar um pouquinho de saquê de morango, que devia ser mais leve que uma bebida alcoólica comum mas que queimou legal quando desceu garganta abaixo. Eu realmente não levava jeito pra beber, então me concentrei nos docinhos mesmo, que estavam deliciosos.

Então depois do décimo mont-blanc, reparei que o Len estava anormalmente calado, e como até o Kaito imaginava o motivo, ele ergueu uma sobrancelha pra mim. Pois é, eu também não sabia o que fazer...

— Ah, tenho uma novidade – Yukari disse de repente, antes que um silêncio constrangedor tomasse a mesa. – Vocês vão ter uma nova companheira esse ano. A Cul acabou reprovando.

— Sério? – exclamei sem acreditar. – Mas ela sempre pareceu tão centrada... No clube de culinária, pelo menos.

— Pois é, esse foi o erro dela – Yukari contou, consternada. –  A Cul se dedicou demais ao clube e a um curso de gastronomia que estava fazendo aos sábados, além do trabalho de meio período pra pagar o tal curso. Ela era da minha sala, então tentei ajudar o máximo que pude. Mas no fim as notas dela foram bem abaixo do esperado... Então ela vai fazer o segundo ano outra vez, com vocês.

Uau. A senpai era bem orgulhosa, pelo pouco que eu conhecia dela. Como será que ela lidaria com uma turma onde todos eram um ano mais novos que ela, sem falar nos gêmeos que eram logo dois anos mais jovens e tinham ficado no topo das notas da sala?

— Bom, eu posso dar uma força pra ela – o Len se recostou na cadeira, jogando a franja despenteada para trás com a mão. – Desde que ela possa me retribuir à altura por minhas aulas particulares...

Bufei pra ele, indignada. Quais eram os planos daquele pestinha em relação à nossa ex-senpai?

— Vai pedir pra ela cozinhar pra você? – Kaito perguntou.

— Exato! – Len voltou-se pra ele, empolgado. – Se ela perdeu um ano letivo inteiro se dedicando à culinária, aposto que as comidas que ela faz agora devem estar num nível divino!

— Isso é interessante – O Kaito assentiu pensativo. – Posso falar com ela pra pesquisarmos mais sobre comidas azuis. Sabe, é muito difícil achar essa cor em frutas ou verduras...

Olhei pras meninas, que balançaram a cabeça rindo. Pelo jeito o Kaito tava influenciando o Len com as esquisitices dele... Mas bem, antes outro esquisito do que um pervertido. E agora, no lugar de uma nerd dos mangás, teríamos uma nerd da cozinha! Aquele não ia ser um ano normal na escola... se é que já houve algum.

Nossa conversa foi interrompida pelo vocalista da banda, que anunciou a entrada dos recém-casados. E minha nossa, que visão. O Gakupo com seus longos cabelos roxos completamente soltos, caindo sobre o terno escuro bem cortado, usando um colete por cima da camisa branca. Eu não sei explicar, mas acho que o colete masculino foi a invenção mais elegante e sexy que um alfaiate já criou. Estava doida pra o Gakupo tirar o paletó pra eu poder apreciar melhor os detalhes... Erm, com discrição claro, para fins puramente estéticos, vai que eu precise de algo assim num desenho futuramente? Além do mais ele agora era casado, aquela aliança reluzindo em sua mão me fazia lembrar que tinha que ter respeito redobrado com ele a partir de hoje.

Então reparei na esposa que ele trazia, de braços dados. Uau, ela realmente estava à altura dele! Seu vestido era como uma flor de copo-de-leite invertida, branco-pérola, sem alças e bem acinturado, formando uma cauda que não tocava o chão atrás e uma abertura em pétala que exibia um pouco das pernas à frente. Seus sapatos também eram perolados, e nos cabelos soltos como os do Gakupo havia uma corrente fina dando voltas sobre a cabeça, dando a impressão que havia gotas de pérola em seus cabelos aqui e ali. Tudo nela, desde a roupa à maquiagem, era leve e natural e só fazia ela resplandecer ainda mais.

— Hah, olha só a cara do Gakupo-senpai – Len riu admirado.

— Andei dando uns beliscões que ele me pediu – a Gumi contou. – Só pra ele se convencer que não era sonho.

Não dava pra culpar ele. O dia que ele mais ansiava até agora tinha chegado, e a mulher com quem ele se casou parecia ter vindo direto do reino das fadas. Se ele viesse a ter um colapso de tanta felicidade, eu ia entender completamente...

Então eles tomaram o microfone e agradeceram aos convidados, um a um, lembrando de como cada um deles foi importante em suas vidas até hoje. Nós ficamos até emocionados quando a Luka nos agradeceu por ter acolhido o Kaito, que foi um aluno tão querido pra ela, e quando o Gakupo lembrou da nossa viagem à hospedaria e agradeceu por cuidarmos da Gumi. Nesse ponto eu tive que me conter pra não chorar. A Yukari segurou minha mão brevemente e me sorriu; era o jeito dela de dizer que também me agradecia.

— Sério, obrigado mesmo por virem – Gakupo finalizou. – Num dia tão especial pra nós dois, é bom ter as pessoas que nos são especiais reunidas aqui.

— Por favor, fiquem à vontade e divirtam-se bastante!–  Luka completou.

Todos aplaudiram e a banda começou a tocar uma música apenas no violino. Luka olhou pro Gakupo surpresa, e ele lhe sorriu em resposta. Era "Make You Feel My Love", uma das poucas músicas não-deprê e amorzinho da Adele. Ele estendeu a mão, convidando-a para dançar, e ela aceitou sorrindo, emocionada. Alguns aplaudiram, e aos poucos, outros casais foram se juntando à dança dos recém-casados. Num piscar de olhos a Gumi e a Yukari já tinham ido também, e quando percebi o Kaito estava parado do meu lado, me estendendo a mão.

— Aceita essa dança? – Perguntou.

Tentei tirar uma com a cara dele, mas não consegui. Ele estava muito sério e, eu tinha que admitir, muito bonito também, e tudo aquilo me desconcertava.

— Eu... Não entendo de música lenta – tentei me desvencilhar.

— Ótimo – ele deu um sorrisinho presunçoso. – Até que enfim, uma coisa mundana que eu sei fazer e você não.

— Você, um dançarino? – Len o encarou, incrédulo.

— Ah, não um de verdade – ele fez um gesto de pouco caso. – Só sei o bastante pra não passar vergonha em festas desse tipo.

— M-Mas a Miku nunca dançou nada assim – a Rin exclamou, visivelmente desesperada, quase tanto quanto eu. O que ela ia fazer se eu fosse pra pista de dança com o crush dela?

— Sabe, a Rin é bem melhor que eu... – comecei a dizer, mas ele abanou a cabeça.

— Por isso mesmo, você tem que começar de algum lugar. Então, vamos?

Respirei fundo, lançando um olhar culpado à Rin, que parecia estar tendo um minienfarto. Mas eu não tinha escolha, certo? Minha educação me impedia de recusar um convite assim, sem mais nem menos. Além do mais a experiência do Kaito devia compensar a minha falta de jeito, e mais importante de tudo, ele era meu patrão. Não se recusa o convite pra dançar do cara que paga suas contas, certo?

Nossa. Dois meses de trabalho e já me sinto uma verdadeira operária.

Meus saltos eram baixos, o que tornava o processo dos passos mais confortável. Ele ficou a poucos centímetros de distância à minha frente, me segurando pelos lados do corpo logo acima da cintura, depois de pousar minhas mãos sobre os ombros dele. Aquela posição nos deixava literalmente cara a cara, e a alguns metros adiante eu podia ver os olhos de mira a laser da Rin apontados pra minha cabeça.

— Você quer que eu seja assassinada – resmunguei. – Sem dúvidas. É isso que você quer.

— Não entendi – ele respondeu distraído, e então deu um sorriso. – Oh. Está usando um perfume diferente hoje!

— Claro. Eu não tenho um só, sabe.

— Mas esse combina com você também – ele aspirou de leve. –   Suave e floral, como o seu vestido. Você tem um bom senso pra essas coisas, Miku-chan.

— E você não tem bom senso pra coisa nenhuma. Por que não tira essa echarpe uma vez na vida? Parece até um tentáculo que você não pode cortar fora.

— Talvez seja, viu.

— Hein?

— Ué, foi você quem começou com a história do alien... E não se mova tão rápido. Me acompanhe e seja mais graciosa. Minha função como dançarino é deixar que a dama possa se exibir.

— Hah, exibir o quê, pra quem? Já deu uma boa olhada nas outras garotas? Você chegou a ver a sua ex-sensei, por acaso?

— Sim, mas agora, estou olhando para você.

A luz clara dos candelabros mostrava nitidamente os olhos dele, de um azul profundo impressionante. Meu rosto foi ficando mais e mais quente, à medida que eu percebia o rosto dele se aproximando do meu,  e seus lábios ficaram a milímetros do meu ouvido...

— Agora, quero que dê uma boa olhada pra trás.

Obedeci imediatamente, tentando a todo custo ignorar o arrepio que me percorreu da nuca até o resto do corpo. Aquilo era invasão de espaço pessoal, pensei indignada. Ele devia me avisar pelo menos, antes de fazer algo assim!

Atrás de nós, Gakupo e Luka tinham trocado um beijo nas faces e estavam dançando abraçados agora, como se não houvesse mais nada ao redor. A visão me fez parar por alguns segundo, antes que eu me voltasse para o Kaito sorrindo, os olhos baixos.

— É isso – murmurei. – Acabou.

— O que acabou, exatamente?

— As ilusões. As fantasias adolescentes bobas. Todos estão seguindo seus caminhos, e agora eu tenho certeza, meu caminho e o dele nunca vão seguir juntos.

Era uma constatação doce e amarga, que eu já havia feito muito tempo antes mas nunca verbalizado, muito menos a outra pessoa. Meus olhos ardiam, mas algo em minha cabeça dizia que não valia a pena borrar a maquiagem por uma verdade tão óbvia. Eu não era mais criança.

Em vez disso, ergui os olhos para o Kaito. – E você? Sua sensei está casada agora. Não sente nada em relação a isso?

— Claro – ele sorriu com sinceridade. – Sei que ela vai ficar bem. Estou realmente feliz por ela. Pelos dois, na verdade. Sei que o Gakupo é um cara legal.

— E você nunca vai me contar qual foi o seu lance com a Luka mesmo, né?

Achei que ele fosse me olhar ameaçador ou dizer algo bem grosso, mas ele só sorriu de lado. – Talvez um dia.

Fiz biquinho de desgosto e ele reclamou que eu estava saindo do ritmo outra vez. No final ele até que era um bom professor, e me senti pronta pra enfrentar as próximas danças lentas que viessem pela vida. Mas no momento o que eu precisava era me soltar e me mexer um pouco, porque aquele pouquinho de saquê de morango devia ter afetado meus nervos, que agora estavam um pouco mais... elétricos que o normal.

Bem a tempo a banda terminou a dança, todos aplaudiram e uma música mais agitada começou. Foi mais divertido; Len e Rin se juntaram a nós dois, e segurando a parte mais longa do vestido, até a Yukari estava no meio entre nós. Gakupo e Luka dançavam com a Gumi, e não demorou a eles se juntarem a nossa rodinha. Foi um momento de diversão e mesmo de libertação. Tudo o que me preocupou, afligiu, martirizou e me derrubou estava oficialmente deixado pra trás.

Afinal, era assim que se devia viver a vida, certo? Um dia de cada vez, e o mais intensamente possível.


Horas depois os primeiros convidados começaram a se despedir, e como eu e os outros éramos menores de idade, tínhamos realmente que ir embora. Os Kagamine foram lá e desejaram felicidades ao casal, assim como o Kaito. Eu logo teria que ir também, já que a Gumi e a Yukari iam ajudar nos preparativos para que o casal fosse viajar em lua de mel despreocupados.

De repente tive uma ideia, uma ideia extremamente maluca, mas uma que eu não podia simplesmente ignorar. Então chamei a Gumi de lado e contei a ela, e pedi sua opinião.

— Bem – ela disse. – Ele é um adulto e sabe como agir, mas... Tem certeza do que você vai dizer, do que vai fazer?

—  Sim – sorri confiante. – Acho que eu só precisava esperar o momento em que eu estivesse em paz comigo mesma. E é como eu me sinto agora.

Ela parecia preocupada, mas ainda assim veio até mim e me abraçou bem forte. – Boa sorte então. Se precisar de qualquer coisa, pode falar comigo.

Agradeci de coração e fui para o ponto dos táxis, a alguns metros adiante na calçada. Pouco depois veio o Gakupo, sem paletó (e eu desejei que a iluminação ruim da rua fosse melhor pra que eu pudesse ver os efeitos do colete na silhueta dele...) e parecendo preocupado.

— A imouto disse que você queria falar comigo, Miku-chan... Está tudo bem?

— Sim – eu me embrulhei no xale e olhei firmemente pra ele.

Achava que ia tremer de nervoso quando o momento chegasse, que ia desmaiar ou algo do tipo, mas na verdade eu me sentia tão tranquila que não entendia como não tinha feito aquilo antes.

Mas bem, antes agora do que nunca, certo?

— Está tudo bem – repeti. – Só queria dizer que estou muito feliz por vocês dois. A Luka é uma pessoa incrível, tenho certeza que vocês vão ser muito felizes.

— Oh, obrigado – ele sorriu, realmente agradecido.

— E... Mais uma coisa – prossegui. – Fico feliz que seja ela e que vocês se amem. Porque... Na verdade, eu gosto muito de você, Gakupo-san. Não sei bem o que sinto agora, mas sei que até ano passado, eu estava apaixonada por você.

Ele piscou devagar, com um pouco da descrença que eu já esperava.

— Você... tem certeza?

Acenei com a cabeça. – Foi logo depois que te conheci. Eu sabia que você era um cara mais velho e que amava sua namorada, então não quis fazer nada precipitado... Eu nunca quis, na verdade. Não queria ter que te obrigar a ouvir as besteiras de uma adolescente, quando você já tem sua própria vida pra se preocupar. Mas agora que você e a Luka estão juntos e casados, achei que eu devia contar... Que está tudo bem agora. Que o que eu sentia, mais que tudo, era que eu queria te ver feliz. E se é com a Luka que você é feliz, eu não tenho do que reclamar. Só torcer por vocês dois.

Ele me ouviu em silêncio, me encarando com aqueles olhos lilases que eu sabia que tão cedo ia ver outra vez. Então, quando achei que ele fosse tentar falar qualquer coisa pra me consolar ou dizer que sentia muito, ele se inclinou na minha direção e me abraçou.

Foi tão inesperado que eu mal lembrei de respirar. O cheiro dele, o calor dele, tudo tão de repente... Lembrei de muitos meses atrás, quando a simples presença dele em meu quarto me tirava do sério. Ele ainda provocava aquele efeito, talvez sempre fosse provocar. Talvez meu coração nunca fosse esquecer dele.

Mas ele estava aprendendo a pensar no Gakupo com carinho agora. Apoiei o rosto no ombro dele e retribuí o abraço, sentindo meu peito pulsar forte. Mesmo assim, ainda me sentia calma.

— Se você não me dissesse, eu nunca ia desconfiar – ele falou, partindo o abraço aos poucos, pesaroso. – Me desculpe por ser tão distraído, Miku-chan.

— Tudo bem – sorri. – Você não ia poder fazer muita coisa, de qualquer maneira... Eu é quem tinha que me tocar sozinha, de que não da pra se apegar a ilusões a vida toda. Todo mundo tem uma estrada pra seguir em frente, não é?

— Verdade – ele sorriu de volta. Pôs a mão em meu rosto, e seu toque era morno e gentil. – Mas, Miku-chan, você é mesmo uma pessoa incrível. Passou por isso tudo sozinha, sem querer incomodar ninguém.

— T-tudo bem – repeti desconcertada. A última coisa que eu esperava, era que ele me elogiasse pela minha trouxisse... – Uma pessoa me disse que seria melhor se eu simplesmente contasse, em vez de guardar isso pro resto da vida... E bem, eu me sinto bem melhor agora. Me desculpa por ter que fazer isso no dia do seu casamento...

— Não – ele sacudiu a cabeça energicamente. – Você fez o que achou certo, no momento em que achou melhor, e eu respeito isso. Fico realmente agradecido pelos seus sentimentos Miku-chan, e sinto muito pelo que você sofreu por eles.

Assenti devagar, lutando pra não deixar as emoções tomarem conta de mim. Eu estava sendo forte e ele, mais compreensivo do que achei que ele pudesse ser. Não queria transformar tudo num drama logo agora.

— Acho que amadureci um pouco depois de tudo isso–  contei. – Quase perdi a amizade da Gumi, mas agora está realmente tudo bem.

— Espere – ele disse de repente. – Você e a Gumi...?

— É – respondi, meio envergonhada. – Meio que brigamos por isso também, por eu não ter contado nada a ela antes. Mas depois nos entendemos, e ela me dá o maior apoio agora, então pode ficar tranquilo.

— Sabia que ela não tinha contado alguma coisa naquele dia – ele sacudiu a cabeça, preocupado. Então voltou-se para mim. – Miku-chan, eu gostaria que você não ficasse constrangida por nada disso.

— Oh, tudo bem. Eu só... Gostaria que a Luka-san não soubesse de nada por enquanto... Eu não ia saber como agir com ela depois. Com o tempo, vou me sentir mais segura e posso contar a ela.

— Não, pode deixar – disse ele. – É você quem deve fazer isso, ninguém mais. Só peço que não se afaste de nós. Você é uma pessoa muito especial, Miku-chan.

Sorri em agradecimento; ele não disse que eu era uma amiga, ou uma segunda irmã. Era uma pessoa especial. E bem, não tem nenhuma -zone pra enquadrar alguém assim, né?

Nos despedimos então e a Luka apareceu com a Gumi. Cumprimentei o casal mais uma vez e depois que eles saíram, a Gumi segurou minhas mãos.

— Tá tudo bem?

Respirei fundo e sorri, aliviada. – Se eu disser que tuuudo tá bem eu vou tá mentindo... Mas sim, me sinto bem melhor agora. O Gakupo-san foi mais gentil do que eu esperava. E... Obrigada por me apoiar, Gumi!

Ela sorriu e me deu um abraço forte. – O nii-san pode não ter sido a pessoa certa, mas com certeza ela existe, Miku-chan. Cedo ou tarde vocês vão acabar se encontrando.

— É sim – respondi. – Mas não vou esquentar com isso. – Tenho uma vida bem cheia pra dar conta, não é? Se tiver que acontecer alguma coisa, vai acontecer na hora certa.

— Exatamente o que eu dizia, antes da Yukari se declarar pra mim!

Nós rimos e nos despedimos. Então fui seguindo pelo ponto dos táxis, pensando se não era melhor pegar o metrô ou mesmo ir a pé... sei lá. Estava meio aérea agora.

Tudo estava acabado.

Uma vontade muito grande de chorar me sobreveio, e dessa vez foi difícil, mas consegui conter. Minha primeira paixão, que levou dois anos me consumindo, havia terminado naquela noite oficialmente, e clandestinamente só sobravam os restos de dor e frustração. Mas eu não ia chorar até chegar em casa e tirar a maquiagem. Precisava manter o mínimo de dignidade, pelo menos.

Na esquina da calçada, reconheci a echarpe do Kaito balançando na brisa e fiquei intrigada. O que ele estava fazendo ali? Geralmente o mordomo aparecia num piscar de olhos pra buscar ele de carro, então...

— Ah, oi – ele murmurou ao perceber que eu estava ali. Tentava parecer relaxado, mas havia uma ansiedade em seu rosto que nem ele podia esconder. – Estava pensando em passaar num café antes de ir pra casa.

— Você me viu? – perguntei sem rodeios. – Com o Gakupo?

Ele deixou os ombros caírem. – Sabia que você ia fazer alguma coisa do tipo hoje.

— E como sabia, senhor detetive? – provoquei.

— Por que não ia ter nenhuma oportunidade melhor depois de hoje. Não pode simplesmente se declarar pra um homem casado e... Ei, não me olhe como se eu fosse um stalker ou algo assim! Da última vez você quase foi atropelada, lembra?

Não consegui deixar de sorrir. Então, no fim das contas, o alien realmente se importava comigo. Tudo bem que ele devia estar preocupado em não perder a sua assistente de cenários, mas mesmo assim, era legal da parte dele.

— Estou bem, Kaito-kun– respondi por fim.

— Sério? Não está triste, nem arrasada, nem desesp-

— Estou tão bem quanto poderia estar–  insisti paciente. – Não se preocupe.

— Hm – ele baixou a cabeça por um momento. – Não é que eu esteja preocupado ou algo assim.

Ah não. Além de tudo, o alien era tsundere?

— Ok... – olhei ao redor. – Então, cadê o seu mordomo?

— É feriado, não quis fazer ele dirigir até aqui a essa hora.

— E você vai conseguir chegar em casa sozinho?

— Quantos anos acha que eu tenho, Miku-chan?

— Mentalmente?

Dei uma risada enquanto ele me lançava um olhar assassino.

— Enfim –  ele suspirou fundo e me encarou resoluto. – Ainda não está tão tarde, então se você quiser um café também...

Considerei o convite por um momento. Realmente não estava tarde, e um café naquele friozinho até que cairia bem. – Ok, pode ser.

Ele me espiou rapidamente, antes de erguer a gola do paletó contra o pescoço. Então, pra minha surpresa, tirou a echarpe e colocou ao redor do meu pescoço, como se fosse algo perfeitamente normal.

— E-ei – exclamei confusa. – O que você tá fazendo?

— O café mais próximo fica a algumas quadras daqui, e você só tem esse xale pra se proteger do frio. Se quiser posso te emprestar meu paletó...

— Não, eu tô bem – ajeitei a echarpe quentinha junto ao meu pescoço, sentindo o perfume amadeirado e doce que vinha dela. – É que... pensei que você tinha o maior ciúme dessa coisa.

— Eu? Por que teria? – Ele estranhou. – É só uma echarpe. E aí, consegue andar na rua sem eu precisar segurar sua mão?

— Hah, olha só quem fala.

— Da última vez que te vi atravessar uma rua à noite você quase foi...

— Grrr. Dá pra calar a boca?


Depois do café o Kaito fez questão de me deixar em casa, mas como fomos de táxi, minha mãe não teve tempo de nos shippar. Fui pro meu quarto, tirei os sapatos e desfiz o coque, e me joguei na cama, cansada.

Hora de chorar, certo? Então, por  que eu não sentia a menor vontade? Talvez só estivesse exausta, tendo vivido emoções e surpresas demais por uma noite.

Sem falar no Kaito, que parecia estar levando a coisa de alien da guarda a sério, porque ficou lá até ter certeza de que eu não faria nenhuma besteira depois de me declarar. Ok que fomos pro café e ele continuou sendo o mesmo velho ranzinza de sempre e tirando sarro da minha cara quando podia, mas... Ele não me deixou sozinha. E como no Natal, isso meio que salvou um pouco a minha saúde emocional.

Ainda sentia o perfume da echarpe dele em minha pele. Engraçado, ele não gostava nem que eu tocasse naquela coisa e agora... E que negócio era aquele de ficar analisando meu perfume? Sacudi a cabeça, tentando espantar o cheiro delicioso vindo do meu pescoço. Eu ia acabar virando uma esquisita igual a ele!

Peguei meu celular na bolsinha e fiquei olhando as fotos tiradas naquela noite. Todas lindas, tudo tão lindo, uma noite de sonho. Até eu estava aceitável, pelas fotos que a Rin havia tirado de mim. As meninas expondo suas divas interiores, Gumi e Yukari simplesmente deslumbrantes e lindas juntas, Gakupo e Luka, um casal que doía de tão perfeito, Len e Kaito, dois galãs escondidos em dois moleques do ensino médio...

Passando pela galeria de fotos, percebi que eu tinha uma certa quantidade de fotos do Kaito ali. Nós dois no Natal, algumas na escola, uma no karaokê, várias na hospedaria... Até aquela em que pedi pra ele ficar ao lado da pintura da árvore ainda estava lá.

Sorri, lembrando da ocasião. Era nítida a cara dele de quem não estava gostando nada daquilo. Eu detestava admitir, mas o Kaito era um fofo às vezes. Cheio de mistérios, mas quase nunca conseguia esconder uma emoção quando estava sentindo. Acho que éramos bem parecidos nesse ponto.

Se bem que, com o Gakupo, até que consegui disfarçar bem o que eu sentia, certo?

Ao lembrar da minha declaração, finalmente umas poucas lágrimas afloraram.

É, tinha acabado. E podia ter acabado de um jeito terrível, mas não... Estava tudo bem. Enxuguei os olhos, sorrindo.

Eu estava pronta pra seguir em frente.

 

 


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Notas finais do capítulo

Então pessoas, esse foi o final de Shikashi.
MAS HEIN??? UATAFÓK??
Pois é, a fic acaba por aqui. Mas calma!! A história vai continuar, só que vou publicar ela sob outro título, com uma sinopse diferente, tudo arrumadinho e amorzinho. Por quê? Porque desse ponto em diante a história da Miku muda drasticamente, e eu não vi sentido em mudar a sinopse de Shikashi, afinal essa fic girou toda em torno da paixão mal resolvida dela pelo Gakupo e bem, ela já resolveu a questão. Agora é bola pra frente!
Outra coisa que eu queria explicar é que estou postando o final hoje, porque a partir de novembro vou estar comprometida com o NaNoWriMo e não vou poder escrever mais nada (pra saber o que é o evento, dá uma olhada no google... não sei incorporar links aqui nessa joça). Depois disso volto a postar normalmente, e a Miku e seus amigos vão voltar numa história diferente.
O que mais tenho a dizer? Só obrigada, muito obrigada a você que leu até aqui. Sério, se não tivesse sequer um leitor fantasma eu não me animaria a postar nem o segundo capítulo. Mas eu tive muito mais que isso, e o apoio e carinho e atenção de vocês me fez ir bem mais adiante do que eu achava que podia. Sério gente, obrigada por lerem, por comentarem e acompanharem Shikashi até aqui, vocês são demais! ♥
Agora vou parar antes que eu caia no choro TT
Caso queira deixar suas últimas considerações sobre a fic, sua opinião sobre a declaração da Miku, enfim, qualquer outra coisa que lhe dê na telha inclusive um mero OLAR... a hora é agora! Beijas a todo mundo e nos vemos em dezembro. Té maisinho :*****