Mudança de Hábito escrita por Babs


Capítulo 8
Surpresas finais




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          Com a iminente viagem da irmã, Érica abandonou suas horas livres na biblioteca, afundando-se nas suas recém-adquiridas responsabilidades. Para a alegria de Yaminah e o desespero de Alam, a garota dormia pouco e empenhava-se ao máximo em atender a todas as obrigações.

            Érica retornava sozinha de uma reunião quando viu, ao longe, o diplomata conversando com alguém encapuzado. Curiosa e embalada pela última conversa com a irmã, resolveu por segui-lo.

            Seguiu-o alguns metros, mas ainda era impossibilitada de ouvir a conversa. Muriel, atento à aproximação da rainha, apressou-se em dispensar o encapuzado. Virando-se, seguiu em direção à garota que fingia prestar atenção em outra coisa.

-Posso ajudá-la, Majestade? – Perguntou fitando-a.

-Estava apenas aproveitando os poucos instantes que tenho antes da próxima reunião. – Contou.

-A senhora gostaria de companhia em uma caminha? – Questionou-a.

-Agradeço a gentileza, mas sou obrigada a recusar. – Respondeu. – Meus minutos de folga acabaram e Carla deve estar a minha procura.

-Que pena.

-Mas aceitarei em uma próxima vez. – prometeu.

-Então vamos esperar que isso não demore a acontecer, não? – Revidou não esperando por resposta.

            Com uma reverencia, distanciou-se da governante. Érica, assustada pelo modo como ele falara, demorou a retornar ao castelo.

-Onde estava? – Perguntou Alam assim que a garota adentrou o escritório.

-Tomando um pouco de ar. – Explicou retirando uma grossa pasta de uma das gavetas da mesa.

-Será que Vossa Majestade teria um minuto? – Perguntou assim que a garota mergulhou nas pilhas de papel.

-É só falar. – Disse sem fitá-lo.

-Por favor, Érica? – Pediu.

-Em que lhe posso ser útil? – Questionou com ironia, fitando-o.

-Gostaria de convidá-la para um passeio, mas vejo que está ocupada de mais até para isso. – Revidou, levantando-se.

-Espere. – Pediu a garota. – Desculpe-me. – Disse levantando-se e virando-se para a janela. – Não foi minha intenção magoá-lo, apesar de sempre fazer isso.

-Não é isso que me magoa Érica. – Disse caminhando em sua direção. – O que me magoa é o fato de nunca abaixar sua guarda. – Explicou.

Érica não respondeu.

-Pode me dar uma chance de te mostrar que eu não sou um monstro? – Tentou, falando em suas costas.

Érica, em resposta, concordou com um aceno de cabeça, ainda sem olhar para o general.

-Obrigado. – Agradeceu sincero. – Encontre-me em meia hora no estábulo. – Pediu antes de se retirar.

            Com a saída de Alam, a garota arrumou a papelada e rumou para o quarto, trocou de roupa e dirigiu-se para o estábulo, conforme o pedido do general.

-Cheguei. – Anunciou constrangida.

-Não esperava que realmente viesse. – Revidou o general.

-Eu disse que viria. – Defendeu-se a garota enquanto o alcançava.

-Não exatamente.

            Ciente de que Alam mostrava como seu comportamento realmente era, a garota calou-se por um instante antes de mudar de assunto.

-Aonde vamos? – Perguntou vendo que ele selara os cavalos.

-Surpresa. – Contou, agora sorrindo. – Tome. – Disse enquanto passava-lhe as rédeas de Hermes.

            Confusa, Érica aproximou-se do animal, encostando sua face na dele.

-Estava com saudades. – Disse como que explicando ao cavalo seu repentino desinteresse. – Me desculpe... aconteceu tanta coisa e tão rápido.

-Acho que ele ficará mais confiante quando você montá-lo. – Sugeriu o general.

            Érica não pensou duas vezes. Passou a perna e em um impulso rápido, logo estava montada. Ajeitou a camisa, constatando que Alam estava em seu respectivo cavalo.

-Ainda bem que vim com a roupa de caça. – Comentou.

            Assim que transpuseram os portões do castelo, passaram a galopar, instalando uma pequena competição. O general ficou feliz ao ver o sorriso que brindava os lábios de Érica, mas nada comentou.

            Pararam em frente a uma ponte, no formato de arco, em pedra. Sob ela, um rio de água cristalina.

-É melhor deixarmos os cavalos aqui. – Aconselhou Alam.

            Após amarrarem os cavalos próximo a margem  atravessaram a ponte e seguiram por uma trilha por cerca de vinte minutos. A rainha, calada, apenas acompanhava os passos certeiros do marido.

-Curiosa? – Questionou quebrando o silêncio.

-Estou. – Respondeu.

-Já estamos chegando.

            E era, de fato, verdade. Instantes depois se depararam com uma cachoeira de águas tão cristalinas e verdes quanto às do rio que cruzaram há pouco. A garota perdera o fôlego; o lugar era lindo.

-É lindo! – Exclamou assim que recobrou a fala.

-Verdade. – Concordou. – Sempre venho para cá quando preciso espairecer. – Explicou.

            Érica não respondeu. Caminhou em silêncio, desfrutando da cálida brisa ao som estrondoso, porém sinfônico, da água caindo. Respirou profundamente antes de sentar-se em uma pedra na beirada da piscina natural.

-Se soubesse que a veria tão feliz, teria te trazido antes. – Comentou sentando-se ao seu lado.

-Não gosto de viver presa.

-Eu sei.

-A natureza me proporciona liberdade. – Contou perdendo-se na imensidão da queda d’água. – Obrigada. – Agradeceu sincera.

-Pode vir aqui mais vezes, se quiser. – Sugeriu.

-Pensei que não pudesse sair do castelo.

-Não está mais presa a isso. – Garantiu-lhe. – Outras coisas a prendem agora. – Lembrou-a.

- É bom saber que posso vir para cá. – Comentou. – Como posso retribuir?

-Sorria. – Disse, deixando-a encabulada.

            Passaram a tarde ali. Alam mostrou-lhes os arredores e a garota somente não caiu na tentação de mergulhar, por não trajar roupas de banho.

-Eu poderia ficar aqui para sempre. – Comentou enquanto sentava-se na margem.

            Uma brisa gélida, anunciando o crepúsculo, cortou o ar entre os dois, fazendo-a arrepiar.

-Acho que devemos ir. – Comentou tirando sua camisa e passando-a ao redor da garota, a fim de aquecê-la.

O movimento aproximou o rapaz do rosto ruborizado da garota. Alam fixou em seu olhar, adorava os olhos daquela que tinha como esposa. Intuitivamente aproximou-se mais, surpreendendo-se por não encontrar obstáculos. Érica fechou os olhos, entregando-se enquanto o general tomava seus lábios carinhosamente.

Ao abraçá-lo, a garota perdeu o equilíbrio caindo na água gelada da piscina natural e levando o rapaz consigo.

Riram do fato antes de saírem da piscina.

-Boa noite. – Cumprimentou uma voz zombeteira, apontando um florete na direção dos dois.

            O sujeito, como Érica notou, lembrava o encapuzado que conversava com Muriel naquela manhã. O casal ficou atônito. Alam avançou com cautela; a mão sobre a bainha de sua espada, pronto a sacá-la ao menor sinal de perigo.

Não foi necessário. Uma chuva de ataques subseqüentes a recente ameaça começaram. O general lutava contra dois espadachins, enquanto Érica, que escapara pelo outro lado da piscina em busca de sua adaga, fora interceptada pelo terceiro representante do grupo.

            O combate foi rápido. O general matou os dois em tempo recorde e logo correu ao encontro da garota, que como ele mesmo constatara tempos atrás, lutava em pé de igualdade com seu oponente.

            Ferindo-o do braço à mão, a garota empurrou-o para dentro do lago, sem constatar que ela mesma ferira-se de raspão no abdômen.

-Érica! – Chamou-a correndo em auxilio.

            Preocupado, o general colocou-se de costas para a água, descuido esse aproveitado pelo estranho encapuzado. O mesmo estava prestes a apunhalar-lhe as costas, quando Érica o viu e em reflexo empurrou Alam para o lado, sendo ela mesma atingida.

            Antes de fugir na escuridão da mata, o suspeito sussurrou:

-Nos encontramos novamente, não, Majestade?!

-Érica?! – Gritou Alam

-Eu estou... bem.

-Esta! – Ironizou.

            O general tomou-a nos braços, constatando o ferimento que sangrava. Silenciosamente carregou-a no colo. Atravessou a ponte e montou-a no cavalo, tomando o cuidado de não a mover bruscamente. Montou e aproximou-a de seu peito nu, abraçando-a com a mão livre.

            Hermes, treinado, seguia ao lado deles.

Érica encostou-se no peito do rapaz, lembrando-se da fatídica noite em que perdera os pais. Fora naquela mesma noite que dormira aninhada dos braços de Alam.

            A viagem foi silenciosa. Frustrado por não poder correr com a garota, Alam amaldiçoava-se por ser tão descuidado. Afinal, como não previra tal possibilidade?

-Alam. – Sussurrou Érica, baixinho.

-Estamos quase chegando. – Adiantou-se escondendo a raiva e o medo em sua voz.

-Você... você me perdoa? – Continuou como se não tivesse sido interrompida.

-Pare de se esforçar. – Pediu também num sussurro.

-Por favor, me deixa... me deixa continuar. – Pediu com a respiração desregulada. – Me perdoa por ter... ter  sido tão má com você. Você não merecia alguém... alguém tão mesquinho ... como eu. Você...

-Shhhh.

-Me perdoa?

-Não tenho nada para perdoar. Érica, você nunca fez nada de errado. – Apressou-se em explicar.

-Eu não...  deveria....

-Shhh. – Repetiu. – Nós já estamos chegando.

-Eu te amo. – Sussurrou antes de deixar-se cair na escuridão da inconsciência.

-Mais que droga! – Xingou o general após chamá-la em vão algumas vezes.

Felizmente o castelo estava a alguns minutos de distancia, ainda com cuidado, Alam apressou-se em percorrer aquela distância. Pulou do cavalo e correu com a garota no colo assim que chegou à escadaria de mármore. Ordenou que o médico fosse chamado e levou-a para o quarto com rapidez.

Já no quarto, o general deitou-a na cama, correu ao armário e ao banheiro, pegando uma toalha e uma camisa limpa. Sentou-se na beirada da cama e desabotoou a camisa da garota com agilidade. Jogou-a de lado e com a toalha, secou-lhe o busto, o rosto febril e o cabelo, colocando, por fim, a camisa que buscara.

O médico não demorou a chegar. Pediu que o general se retirasse, recebendo negativas como resposta.

-Vou ficar aqui. – Anunciou sentando-se na poltrona do quarto. – Qual a situação? – Pronunciou assim que o médico terminou com o curativo.

-Nenhum órgão foi danificado, mas a situação dela não é nada boa. Ela perdeu muito sangue. – Explicou.

-E não podemos fazer uma transfusão? – Perguntou solidário.

            Uma rápida tipagem sanguínea fora realizada antes de Alam deitar-se ao lado da garota, conectados pela fina peça que transportava o sangue de um para o outro. Ao término disso, o doutor tranqüilizou-o em parte com as perspectivas de melhoras e retirou-se.

            Alam dirigiu-se para o escritório, rabiscou uma mensagem curta e enviou-a com urgência para Daniel. Tomou um banho rápido e voltou para o quarto. Moveu a poltrona para o lado da cama, acomodando-se na mesma.

-Também te amo. – Sussurrou beijando-lhe a testa.

***

-Aquela maldita! – Exasperou Muriel enquanto limpava o ferimento do braço. –Ela vai me pagar por isso.

            Com raiva, terminou o curativo e preparou-se para retornar ao castelo.

 

-Não tive tanto trabalho para nada, Garotinhas. – Disse ao vento enquanto entrava em sua carruagem.


***


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