Mudança de Hábito escrita por Babs


Capítulo 7
A Coroação




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          A madrugada já se firmava no céu quando a enfermeira, abrindo a porta do quarto de Lucy, convidou Daniel a entrar. O general caminhou rapidamente pelo aposento até que pudesse fitar o rosto da garota.

-Ela está dormindo agora. – Explicou o médico. – Vamos deixá-la descansar.

-Não aconteceu nada de grave? – Perguntou aflito.

-Apenas alguns arranhões, mas nada de grave. Ela deve sorte de escapar ilesa.

-Obrigado. – Agradeceu Daniel.

            Sentando-se na beirada da cama, Daniel segurou a mão da garota entre as suas, com a esperança de que logo acordasse.

***

            Alam cochilava enquanto abraçava Érica de modo protetor. A garota moveu-se entre seus braços, acordando-o. Constatando que não era nada, voltou a fechar os olhos. Mais um movimento, e outro. Quando se deu conta a garota mexia-se compulsivamente, presa em um pesadelo.

Chamando-a com carinho, o general conseguiu trazê-la à tona de seu pesadelo.

-Você quer alguma coisa? – Perguntou preocupado depois de alguns instantes.

-Morrer. – Respondeu num sussurro.

            O general jamais pensara ver a alegre Érica naquele estado. A visão partia-lhe o coração.  Delicadamente chamou sua atenção.

-Eu sei o que está sentindo. – Disse.

-Não, não sabe. – Argumentou a garota

-Também já perdi meus pais, Érica. – Contou. – E de um jeito tão doloroso quanto você perdeu os seus.

            Vendo que a garota a sua frente olhava-o com curiosidade, Alam continuou. Contou-lhe que seu pai era estrangeiro, proveniente de terras longínquas e sua mãe uma humilde costureira que às vezes, recebia encomendas da corte. Fora assim que conhecera o palácio, durante uma das entregas da mãe.

            Contou-lhe também, que por ser estrangeiro, seu pai sofria constantes ameaças e por tal motivo resolveu alistar-se ao exército. Infelizmente, em uma de suas raras visitas a casa dos pais, encontrou-os mortos, envenenados por um daqueles que os odiavam.

-Foi a partir daí que me entreguei de corpo e alma ao exército. Fiz da minha vida algo puramente racional. Pelo menos até agora. – Finalizou 

-Eu sinto muito. – Comentou

-Quando disse que sei o que sente, estava dizendo a verdade. – Disse beijando-lhe a testa.

            Protegida pelos braços fortes do general a garota adormeceu novamente.

***

-Uma vitória, mesmo sendo pequena deve ser comemorada. – Afirmou Muriel para si enquanto enchia uma taça com vinho tinto.

            Na escuridão do aposento de hóspedes, o diplomata encontrava-se seguro. Nunca desconfiariam dele.

-Quando matá-los – Continuou, pensando alto – Espalharei a incerteza e assim que o caos tomar forma entregarei o reino aos bárbaros.

            Mais um longo gole da rubra bebida desceu pela garganta do homem.

-Mas antes: a Coroação. – Disse assim que terminou com o líquido contido na taça e esboçou um malévolo sorriso.

***

Quando Érica acordou constatou que uma chuva forte tomara conta dos céus. Desvencilhando-se dos braços do general com extrema cautela, a fim de não acordá-lo, a garota enrolou-se em seu hobby e soturnamente saiu do quarto.

Dirigindo-se rapidamente para o quarto da irmã, Érica parou abruptamente ao encontrar Daniel velando o sono da irmã. Com um sorriso discreto, adentrou o recinto, juntando-se ao general.

-Como ela está? – Perguntou preocupada.

-Ela é forte. – Afirmou Daniel mais para si.

-Daqui a pouco ela acordará. – Reforçou Érica.

-A propósito – Começou o general. – Sinto muito pelo o quê aconteceu.

            Cabisbaixa, Érica aceitou as palavras do homem ao seu lado, não sem antes, permitir que o silêncio reinasse no quarto.

            Foi com um leve sinal de que Lucy acordara, que os outros dois quebraram o silêncio. O general, feliz por vê-la acordada, disse:

-Como se sente?

-Péssima. – Respondeu tristonha.

-Eu sinto muito, Lu. – Comentou Daniel.

            Lucy não respondeu.

-Bem, vou deixá-las – Finalizou o general, acariciando a mão da garota antes de se retirar.

-Lu? – Chamou a irmã gentilmente.

            Com lágrimas nos olhos, Lucy fitou a irmã, que se encontrava na mesma posição.

            Abraçaram-se fortemente, como se aquele ato pudesse apagar o que acontecera. Lucy chorava compulsivamente, enquanto Érica tentava, em vão, consolá-la. A garota sabia que a irmã mais nova sofria tanto quanto ela.

-Por que isso tinha que acontecer? – Perguntava Lu entre soluços.

-Eu... eu não sei Lu. – Respondeu Érica com extremo pesar.

-Nós não temos mais nada agora.

-Não é verdade. – Discordou a outra. – Nós temos uma à outra Lu. – Disse. – Continuamos sendo uma família.

-E nós nem tivemos a oportunidade de nos explicarmos. – Lembrou-se a morena – Eles devem ter pensado que fugimos de casa.

-Não Lu, claro que não. Alex prometeu-nos de que conversaria com eles, lembra-se?

-Sinto tanto a falta deles – Comentou a mais nova.

-Eu também Lu. Eu também.

***

Os dias passavam monótonos e sem grandes alvoroços. A pedido dos generais, as aulas com Yaminah foram momentaneamente suspensas. Com os dias livres, Lucy passava a maior parte de seu tempo andando pelos jardins do palácio, ou dentro da piscina.

Érica, quando não acompanhava a irmã em suas longas caminhadas, prendia-se na biblioteca. Já Alam passava os dias em seu escritório, juntamente com Daniel e Muriel. Com o recente incidente, o general perdera a tênue ligação que consolidara com sua esposa. Se é que poderia chamá-la assim.

-O que acha, Alam? – Perguntou o outro general

-Alam? – Chamou-o novamente.

-Desculpem-me, estava longe.

-Percebemos. – Comentou o diplomata.

-Muriel aconselha-nos a...

            Uma leve batida na porta interrompe o general.

-Entre. – Permitiu o mesmo.

-Desculpe-me. – Pediu Lucy entrando na sala.

-Aconteceu alguma coisa? – Preocupou-se Daniel.

-Gostaria de saber se poderia participar dessa reunião. – Disse a garota com olhar sério.

-Mas é claro senhora. – Respondeu Muriel.

-Obrigada. – Agradeceu sentando-se perto dos generais.

-Antes de continuarmos, por que não colocamos Lucy a par dos fatos? – Sugeriu Alam

-Boa idéia. – Concordou o diplomata. – Se me permitem?

            Com o consentimento de Alam e Daniel, Muriel explicou à Lucy que uma rede de espiões com o intuito de fragmentarem o reino havia sido instalada na capital e que infelizmente os membros não foram encontrados.

-Só conhecemos dois possíveis membros, que por precaução do próprio grupo, já foram eliminados.  – Adicionou Alam

-Sendo assim – Começou Lucy, surpresa ao constatar que todos a observavam. – Seria de extrema utilidade que também formássemos uma rede de espiões, não? – Terminou.

-Concordo com você, Lucy, todavia, como não suspeitar de um jogo duplo por parte deles? – Falou Daniel

-Logo, teríamos que desconfiar de todos. – Sugeriu Muriel

-Até de você? – Revidou Lucy.

            O diplomata fitou momentaneamente a futura rainha ante de defender-se:

-Vossa Alteza só possui a minha humilde palavra.

-Muito bem. – Cortou Alam ao perceber o clima que se iniciava. – Vamos fazer o que propôs Lucy, mas devemos tomar outras providências também. – Advertiu Alam. – Sugiro que antecipemos a coroação de vocês, assim, saberão que não será tão fácil nos atingir.

            Com o término da reunião, Alam anunciou que contaria as decisões para Érica, agradeceu a presença de Lucy e dirigiu-se à biblioteca. Muriel reverenciou-os antes de também partir, alegando que cuidaria pessoalmente dos preparativos. A sós, Daniel dirigiu-se à Lucy.

-Fiquei surpreso ao vê-la aqui. – Comentou

-Fiz algo errado? – Perguntou a garota preocupada.

-Pelo contrário! – Adiantou-se – Fiquei feliz de ver que começa a se interessar pelos assuntos do Estado. Seus conselhos serão muito úteis. – Elogiou.

            Ligeiramente encabulada, a garota seguiu até a janela. Seguindo-a, Daniel tomou-lhe os lábios com fervor.

***

Os dias passaram corriqueiros devido à iminente chegada da festa de coroação. As garotas, ainda sentidas pela perda dos pais, mal tiveram tempo de prepararem-se. A cada dia que passava um amontoado de informações lhe eram exigidas.

Finalmente o grande dia chegara. O palácio, todo decorado nos tons azul e dourado, mostrava uma criadagem perfeccionista, mas feliz por terem novamente alguém no comando do Estado.

O povo, que fora avisado às pressas, alegrava-se ao saber que governantes belas e gentis tomariam conta de suas preocupações mundanas.

Dentro de seus respectivos quartos, Érica e Lucy preparavam-se para a coroação.  Chegara o momento de mostrarem que estavam aptas ao futuro que se apresentava.

-Está pronta? – Perguntou Alam adentrando o quarto de Érica.

-Acho que sim. – Respondeu sorrindo.

-Você está linda. – Elogiou oferecendo seu braço

-Obrigada. – Respondeu encabulada.

            Érica trajava um belíssimo vestido confeccionado em tafetá azul Royal com belos bordados em lápis-lazúli. Não usava nenhum tipo de jóia, com a exceção de uma delicada pulseira de diamantes.

            Encontraram-se com Lucy e Daniel no caminho da grande escadaria. Lucy usava um delicado vestido de palha de seda na cor bordô. Diferentemente do da irmã, o vestido possuía poucos bordados, dando-lhe um ar sóbrio. Como complemento, usava uma bonita gargantinha, brincos e uma pulseira de brilhantes.

            Assim que alcançaram o topo da escadaria de mármore, todos viraram sua atenção. Sob o olhar atento dos espectadores e ao som da orquestra, as duas garotas desceram as escadas, seguidas um passo atrás pelos respectivos maridos.

            A cerimônia ocorrera sem problemas. Sentadas em seus tronos, ambas foram coroadas pelo mesmo sacerdote que consumara o casamento. Após um breve juramento, a guarda-real cruzou seus sabres a fim de que as rainhas passassem por debaixo dos mesmos.

            Assim que transpuseram os sabres, uma salva de palmas deu lugar ao recente silêncio.  Com o término da cerimônia, dirigiram-se para o banquete onde cada uma sentara-se em uma das extremidades da mesa.

            Horas depois, as rainhas, ainda separadas, conversavam com os dignitários da corte. Érica debatia com um grupo de homens a cerca das mudanças que deveriam ser feitas no reino.

            Lucy conversava com algumas mulheres da corte. Na mão, uma taça de vinho branco. Sentindo um mal-estar repentino, a rainha pediu licença e dirigiu-se para uma das várias varandas do salão. Érica, que não tirava os olhos da irmã, desculpou-se pela saída e seguiu-a.

-O que foi Lu? – Pergunto Érica assim que a alcançou.

-Não sei. – Respondeu. – De repente me veio um calafrio e uma tontura. – Respondeu com dificuldade, deixando a taça ir ao chão.

-LU! – Assustou-se a rainha.

            Ao amparar a queda da irmã, Érica constatou que a mesma ardia em febre. Preocupada, apoiou-a pelo ombro e, através de uma passagem usada pelos criados, chegou ao quarto da irmã, não sem antes pedir a um deles para chamar Daniel.

-O que aconteceu? – Perguntou Daniel seguido por Alam.

-Não sei ao certo. –Disse, quando a encontrei já estava mal.

-Vou chamar o médico. – Anunciou Alam.

-Não é preciso, já pedi para que viesse.

            O médico não teve dificuldade nenhuma em detectar que a rainha fora envenenada. Como bebera pouco do conteúdo da taça, o malefício por pouco não causara sérios problemas.

-É melhor você voltar para a festa. – Disse a garota assim que cobrou a consciência.

-Não vou a lugar nenhum. – Anunciou.

-Mas sentiram nossa falta. – Argumentou.

-A Lucy tem razão Érica. – Disse Alam tomando partido.

-Além do mais, eu já estou melhor. – Mentiu.

-Tem certeza?

-Absoluta.

-Tudo bem. Mas assim que isso terminar eu volto.  – Disse a garota dando-se por vencida.

-Todos devem acreditar que fora apenas uma crise de tontura como já ocorrera outras vezes. – Explicou Daniel, que optara por ficar ao lado da garota.

            Acompanhada de Alam, Érica retornou aos festejos.

***

            Logo nas primeiras horas da manhã, os empregados esforçavam-se para limparem o salão de baile. Érica, como prometera, passara a noite ao lado da irmã. A mesma ainda tinha dificuldade em respirar, mas a febre cessara.

-Gostaria de saber quem fez isso com você. – Disse Érica com a voz carregada de raiva.

-Eu não sei. – Respondeu Lucy. – E na nossa atual posição temos que ter cautela com o que dizemos.

-Aonde quer chegar?

-Você não acha o Muriel estranho? – Disse por fim

-Ahahahahahah, ele é meio estranho mesmo.

-Não foi nesse sentido. – Reprovou a morena.

-Eu sei, mas não podia perder a oportunidade. – Respondeu logo que terminou a risada. – Para falar a verdade, eu concordo com você. Ele agiu de modo muito estranho no funeral da rainha. Lembra-se?

-É verdade. Mas outra coisa me chamou a atenção, durante a reunião ele me olhou com um olhar tão... diferente.

-Acha que foi ele? – Perguntou a loira – Quero dizer, acha que quis, se vingar?

-Não sei, mas... – A garota, interrompida pelas batidas na porta, logo mudou de assunto.

-Atrapalho? – Perguntou Daniel bondosamente, assim que adentrou o quarto.

-Não. – Responderam em uníssono

-Aconteceu alguma coisa? – Questionou Lucy

-Eu conversei com o médico hoje cedo e ele me contou que sua respiração ficou prejudicada devido ao veneno e a inalação de carbono. – Começou. – Me aconselhou a tirá-la daqui, para que você se recuperasse com maior eficácia.

Como não houve objeções, o general continuou:

-Se quiser, podemos ir para o palácio de veraneio. – Sugeriu.

-Parece uma boa idéia. – Incentivou a loira.

            Resolvida a questão da viagem, seguiram-se seus preparativos. Como passariam só algumas semanas, Lucy optou por não levar muita coisa. Incentivada pela irmã, Lucy e Daniel partiram logo após o almoço do dia seguinte.

 

***

 


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Notas finais do capítulo

Gente, peço desculpas pela demora em postar esse cap.
Mas prometo que o próximo já está a caminho.... ahahahaha

Obrigada a todos que tem acompanhado essa humilde história!



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