Mudança de Hábito escrita por Babs


Capítulo 6
Um incêndio, um enterro e uma mudança


Notas iniciais do capítulo

Gente, mil desculpas pela demora. EU sei que é muita falta de consideração da minha parte, mas não é fácil conciliar estudos, leituras e fic. Mesmo porque eu sempre tento escrever bonitinho e na maioria das vezes faço muitas pesquisas para ter certeza do que estou escrevendo.
Desculpas novamente, mas acho que o cap. está a altura, espero que gostem.

E obrigada por estarem acompanhando minha humilde história!



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Assim que acordou, Lucy encontrou Daniel encostado no parapeito da sacada. Levantou-se e caminhou até o mesmo.

-Bom dia Lucy. - Cumprimentou-a serenamente.

-Bom dia. - Respondeu sonolenta. - Não me leve a mal, mas o que faz aqui?

-Estava esperando você acordar. - Contou deixando-a encabulada. - Vamos tomar café da manhã? - Convido o rapaz.

-Claro. Só vou me trocar.

            Alguns minutos depois, estavam no jardim da piscina, onde uma bela mesa para duas pessoas fora montada. Conversavam animadamente enquanto degustavam a refeição. Em seguida, foram para a piscina. Lucy não pensou duas vezes antes de entrar.

-Você não vem? - perguntou aproximando-se da borda.

-Não. Obrigado. - Respondeu.

-Ah, entra. - Insistiu a garota jogando-lhe água.

            Não resistindo ao pedido da garota, o general também entrou na piscina. (N/A: Eles estavam com roupa de banho por baixo. Parece inútil avisar, mas é sempre bom.).

***

            Ao acordar, Érica foi ao banheiro, onde tomou um demorado banho. Saiu trajando apenas um roupão branco e uma toalha enrolada no cabelo. Abriu o guarda-roupa pegando um delicado vestido de verão. Estava a meio caminho do banheiro, quando a porta do escritório se abriu, permitindo que Alam saísse de lá.

-Como conseguiu entrar? - Espantou-se ao lembrar-se de ter trancado a porta antes de dormir.

-Acha mesmo que esta é a única cópia? - Perguntou mostrando-lhe uma cópia da chave.

-Imaginei que sim. - Resmungou encaminhando-se até o banheiro.

            A garota se trocou e arrumou os cabelos em um bonito rabo-de-cavalo. Calçou uma sandália de salto médio e saiu do banheiro. Não surpresa, encontrou Alam sentado na poltrona, esperando-a.

-Estou te esperando para o desjejum. - Comentou. - Me acompanharia?

-Estou sem fome. - Alegou.

-Eu não lhe farei mal algum. - Tentou.

-A questão não é essa. - Começou.

-E qual seria? - Alfinetou-a.

-Não vem ao caso. - Respondeu dirigindo-se à varanda.

            Alam levantou-se e caminhou até Érica de forma soturna. Parou bem atrás dela, impedindo-a de fugir, caso isso viesse a acontecer. O general gostava da garota e embora a mesma desconhecesse, dentre todas as jovens que poderia escolher, até mesmo entre ela e a irmã, a escolhera. Via nela algo que lhe chamara a sua atenção fora seu sorriso.

-Por que me repudias tanto? - Inquiriu, assustando-a.

Mesmo assustada, a garota virou-se de fronte ao rapaz com aparência séria.

-Como você trataria alguém que lhe tirou a liberdade?

            O general calou-se. Será que era realmente esse mostro que refletia os olhos da garota?

-Imaginei que não responderia. - Comentou. - Olha, eu lhe agradeço muito por tão ter forçado um beijo nem nada mais ontem, mas não pense que aceito essa situação que me foi imposta.

-Muitas gostariam de estar em seu lugar. -Esclareceu

-Sei disso. Mas eu não sou "muitas". -Afirmou

            Vendo que perderia a discussão, o general distanciou-se da garota e sem nada pronunciar, saiu do quarto.

***

            Lucy e Daniel aproveitavam o agradável calor matinal. Para a infelicidade dos pombinhos, o general tinha reuniões naquele dia. Entristecido por não poder desfrutar da companhia da jovem, Daniel despediu-se da mesma e rumou para o escritório.

            Surpreendeu-se ao encontrar Alam, sozinho, vagando em pensamentos longínquos.

-Alam? - Chamou-o.

-Está atrasado. - Respondeu secamente.

-Peço perdão. - Respondeu sincero. - Posso saber o motivo de tanto mau-humor.

-Temos negócios a tratar, decisões a tomar e você fica entretendo-se com a Lucy! - Esbravejou o general.

-Nossa tudo isso por causa da Érica? - Alfinetou Daniel.

            O general preferiu não comentar. Ao invés disso, dirigiu-se até uma das prateleiras, onde pegou uma pasta intitulada como confidencial. Voltando à mesa, abriu-a e entregando uma pequena pilha de papéis para o amigo, começou a analisar sua própria pilha.

-Alam. - Chamou Daniel. - Acha que as garotas já estão preparadas?

-Acredito que sim. Mas somente Yaminah pode nos confirmar. - Respondeu ainda seco.

-Bem ou mal elas terão que se portar amanhã. - Comentou distraído.

***

-Oi Kika - Cumprimentou Lucy adentrando o quarto da irmã.

-Por que está toda molhada? - Rebateu a garota

-Ah, é que eu estava na piscina. - Contou - Mas e você, por que está aqui sozinha? O dia está lindo!

-Estou meio indisposta. - Explicou sentando-se na poltrona.

-Aconteceu alguma coisa? - Perguntou Lucy preocupada aproximando-se.

- Não é nada. - Respondeu depois de um longo suspiro.

            Érica levantou-se abruptamente. Dirigiu-se para a porta do aposento sem olhar para a irmã.

-Aonde vai? - Perguntou Lucy

- Não sei ao certo, vou andar por ai. - Respondeu retirando-se.

-Quer companhia? - Tentou a morena

-Não. - Sentenciou por fim.

***

            Distante dali, Muriel esperava impaciente por alguém. Dentre a espessa folhagem, um homem encapuzado surgiu. Desmontou de seu belo corcel negro e caminhou até o diplomata.

-Está atrasado! - Acusou Muriel

-Peço perdão. Tive alguns imprevistos no caminho. - Explicou.

-Perdão é para os fracos! - Gritou em um surto de raiva. - Nunca mais me deixe esperando. - Alertou-o com a ponta da espada posicionada em sua jugular.

-Como quiser. - Respondeu o outro.

-Agora. - Recomeçou o nobre, recompondo-se. - Tenho um serviço para você. Hoje e amanhã, quero que observe a família das irmãs. - Sabe de quem falo?

-Érica e Lucy? - Tentou soturnamente.

-Essas mesmas.

-E o que quer que eu faça depois?

-Mate-os. Quero que ponha fogo na casa deles. - Explicou - E tenha certeza de que estarão mortos.

-Mas sen... - O mercenário calou-se ao observar a pequena bolsa de moedas que Muriel segurava.

-Receberá a outra metade quando o trabalho for executado com êxito. - Explicou

-Assim será feito. - Respondeu com uma pequena reverência.

-Excelente. - Concluiu Muriel.

            Com outra reverência, muito maior que a primeira, o mercenário desapareceu.

-(Veremos se isso não abalará as expectativas deles.) HAHAHAHAH.

***

            Entediada com o recente aprisionamento, Érica caminhava sem rumo pelos cômodos do palácio.

            Cessou o passeio ao deparar-se com uma pequena, porém extremamente aconchegante sala. Toda decorada em rubro, a saleta comportava uma namoradeira de couro preto bem embaixo da janela. Uma escrivaninha e duas pequenas estantes de livros metodicamente arrumadas. Também possuía um bar e uma leve iluminação.

            Deixando a porta semi-aberta, a garota vasculhou o cômodo. Encantou-se com q diversidade de livros. Não resistindo, escolheu um intitulado "The Beauty and the Beast", caminhou até a namoradeira e ajeitando a almofada, sentou-se com o livro já aberto.

            Adorava ler. Mesmo sendo de uma família pobre, Érica orgulhava-se de ter aprendido a ler e a escrever. Seus pais sacrificaram muitos sonhos para que ela e a irmã tivessem acesso a tal privilégio.

***

-Às vezes eu não a entendo. - Comentou Lucy para o nada.

            Não tendo mais o que fazer ali, retirou-se do cômodo também. No entanto, rumou para o jardim. Há tempos que não entrava em contato com a terra e com os outros elementos. Sentia falta disso.

            Encontrou um singelo jardim nos fundos do Castelo. Não resistindo, retirou seus sapatos e como uma criança, ajoelhou-se na grama.

            Com as mãos, tocou as pétalas de uma orquídea próxima enquanto que a outra apalpava a relva recém aparada.        

            Permaneceu ali tempo suficiente para esquecer-se de seus medos, dúvidas e anseios. Até que um murmúrio ao longe a trouxe de volta ao presente.

-Perdão alteza. - Pediu o jardineiro humildemente.

-Eu é quem peço. - Rebateu levantando-se rapidamente. - Atrapalhei o senhor?

-De modo algum. -Responde prontamente.

- É o senhor quem cuida delas? - Inquiriu contemplando-as

-Sim. Elas são minha vida, sabe? Dedico a elas todo o meu amor. - Contou. - Vossa alteza as aprecia?

-Não precisa falar assim comigo. - Comentou.

-Claro que sim. - Respondeu rapidamente.

            Vendo que de nada adiantaria insistir no assunto, Lucy disse:

-Eu adoro flores e essas são minhas favoritas. - Explicou apontando para as orquídeas.

-Também gosto muito delas, alteza. - Concordou o jardineiro.

-Lucy? - Chamou Alam aparecendo no jardim.

-Altezas. - Cumprimentou o jardineiro com uma pequena reverência, distanciando-se.

-Sim? - Respondeu encarando o general.

-Daniel está a sua procura. - Disse o rapaz.

-Ah, obrigada. - Agradeceu sorrindo. - E onde eu o encontro?

-Provavelmente perto da piscina. - Contou.

-Obrigada mais uma vez. - Agradeceu Lucy. Pondo-se a caminhar.

-Lucy! - Chamou Alam novamente.

-Sim?

-É que ....  Gaguejou.

-É que? - Repetiu

 -Você odeia o Daniel tanto quanto a Érica me odeia? - Perguntou vacilante.

-Eu não odeio o Daniel. E a Kika também não te odeia. - Afirmou.

-Será? Eu vejo ódio estampado em seu olhar quando fala comigo. - Desabafou.

-Alam, tenho certeza de que a Kika não te odeia. Ela só não se acostumou com tudo isso. - Explicou. - De mais algum tempo a ela. - Recomendou afastando-se.

***

-Senhora, estava a sua procura. - Informou Sophie.

-Aconteceu alguma coisa? - Adiantou-se.

-Yaminah está esperando por vossa alteza. -Informou. - Está atrasada para a aula de dança.

-Mas eu ia... - Tentou.

-Sinto muito minha senhora, mas temos que nos apressar.

            Com uma última olhada na direção da piscina, Lucy acompanhou a serviçal até o salão de dança.

***

Érica perdera a noção do tempo com aquele livro. Finalmente acabara a leitura. Quanta emoção. Adorava final feliz e, embora já tivesse previsto, amou descobrir que a fera era na verdade um príncipe.

-Senhora? - Chamou Carla soturnamente.

-Ai Carla, que susto!

-Peço perdão vossa alteza.

-Tudo bem. -Ponderou. - Fui eu quem perdeu a noção do tempo.

-Não imaginei que a senhorita estaria aqui.

-Há alguma restrição quanto à sala? - Questionou preocupada.

-Não minha senhora. - Disse Carla. -Esta sala é o escritório particular do senhor Alam. Ele não permite que terceiros entrem. - Explicou.

-Então não posso esquecer de me redimir, certo. - Contou fechando o livro e depositando-o ao seu lado. - Aconteceu alguma coisa?

-Não senhora. Mas Yaminah espera por vossa alteza.

-Pensei que não teríamos aula hoje.

-A senhora Yaminah mudou de idéia quanto a alguns detalhes. - Explicou. - Se puder me acompanhar.

-Claro.

            Com pesar, Érica saiu da saleta juntamente com Carla. Entristecera-se ao se certificar de que seu momento de ilusão acabara. Era hora de voltar à realidade.

***

-Estão atrasadas! - Sentenciou Yaminah.

-Pedimos perdão. - Disseram as irmãs assim que entraram no amplo salão.

-Está melhor? - Perguntou Lucy preocupada.

-Vou ficar. - Respondeu a irmã.

-Muito bem. - Interrompeu a governanta. - Sei que tinha adiado as aulas de dança para outra oportunidade, todavia, achei a oportunidade propícia para tal. Iniciaremos com uma valsa simples. - Explicou pacientemente.

            Com um estalo de dedos, pediu que Carla e Sophie posicionassem-se, juntamente com Érica e Lucy, para que iniciassem o ensaio.

-Carla e Sophie serão os cavalheiros, sendo assim, as duas têm que deixar-se guiar. É imprescindível que marquem a cabeça e mantenham a postura. - Recomendou energicamente.

            E com outro estalo pediu que o maestro iniciasse a música.

            Começaram. Lucy atrapalhou-se logo nos primeiros passos e Érica, sem querer pisou no pé de Carla.

-BASTA! - Ordenou Yaminah.

-Desculpa. - Pediu Érica à Carla.

-Tudo bem senhora. - Respondeu a outra.

-Muito bem. Vamos tentar mais uma vez. - Pediu Yaminah já recomposta.

            O maestro reiniciou seu trabalho juntamente com os dois pares. Sem que percebessem, Alam e Daniel apareceram soturnamente. Silenciosamente divertiam-se com a dificuldade das garotas.

            Yaminah sentia dificuldade em transmitir simples ensinamentos. Como não conseguiam seguir o ritmo simples da valsa?

-Posso tentar? - Interrompeu Alam cansado de ver Érica sofrendo.

            Yaminah aprovou com um gesto de cabeça. Carla, com uma pequena reverência, postou-se ao lado de sua superior. Érica encontrava-se aflita e sem jeito. E se pisasse no pé dele? Com que cara ficaria? Tentou concentrar-se.

-Com licença. - Pediu o general antes de passar seu braço pela cintura da garota.

            Érica endireitou-se. Não poderia errar.

-Acalme-se. - Sugeriu assim que a música começou. - Sinta a música.

            E foi justamente o que fez. Não pode deixar de reparar nos braços fortes que a seguravam. Alam era mais alto que ela e guiava-a de forma protetora e ao mesmo tempo firme, de modo que mesmo que ela quisesse, não conseguiria desvencilhar-se tão facilmente.

            Lucy logo se pôs a valsar com Daniel também. A garota gostava dele e assim que percebeu que valsava com perfeição, um magnífico sorriso brindou em seus lábios.

            Yaminah contentou-se ao ver a bela valsa. E principalmente ao perceber o clima romântico que pairava no ar. Silenciosamente retirou-se do salão juntamente com Carla e Sophie.

            Ainda com o soar da música, Daniel guiou Lucy para fora do salão. Queria ficar a sós com a garota.

            Assim como Yaminah, o maestro também se retirou quando finalizou de tocar.

Alam e Érica continuaram a dançar mesmo com o término da música. Estavam enfeitiçados pelo momento. 

Levemente cabisbaixa, a garota podia sentir o perfume amadeirado e inebriante que emanava do general. Recobrando seus sentidos, parou de dançar. O general também parou e observava com ternura a dificuldade que a garota passava tentando encontrar as palavras.

-Eu queria me desculpa... por hoje de manhã. - Falou a garota num sussurro.

-Não tem por que se desculpar. - Corrigiu o rapaz

            A garota abaixou ainda mais a cabeça com o comentário do rapaz. Estava encabulada.

-Não deveria ter sido tão grossa com você. -Murmurou.

            Em resposta Alam tocou seu rosto. Com o indicador e o polegar, segurou seu queixo carinhosamente e ergueu-o de modo que pudesse observar claramente o olhar da garota. Um olhar penetrante e cheio de vida, como pode constatar. E sem prévio aviso, beijou-a. Agradeceu intimamente por ela ter correspondido ao beijo.

-Tenho algo para lhe mostrar. - Sussurrou em seu ouvido causando-lhe arrepios.

-Ta. - Respondeu encabulada.

            Sem cerimônias, o general segurou a mão de Érica entre as suas e guiou-a pelos corredores do castelo. Subiram uma escadaria diferente da principal e saíram em uma parte ainda desconhecida pela garota.

-Aonde vamos? - Perguntou preocupada.

-Surpresa.

            Caminharam mais alguns minutos até que pararam. A sua frente, uma bela porta de mogno trabalhado com duas grandes fechaduras de ouro.

            Alam fez sinal para que Érica abrisse a porta. Receosa, a garota deu um passo à frente e empurrou a porta de forma que a mesma se abrisse.

            Surpreendeu-se ao constatar que se encontrava em uma biblioteca. Com uma ampla área central, onde se encontrava desenhada no chão uma rosa dos ventos, circundada altíssimas prateleiras de livros. Prateleiras essas que não se acabavam.

            Érica perdeu a fala. Não sabia o que dizer. Como ele descobriu que ela adorava livros? Como que lendo seu pensamento, Alam respondeu:

- Logo que entrei em minha saleta, percebi que algo estava diferente. Assim que vi o livro em cima da namoradeira deduzi que você que gostava de livros.

-E como sabia que era eu?

-Seu perfume. - Respondeu aproximando-se. -Então? Gostou? - Perguntou preocupado.

-Eu adorei. - Respondeu não contendo sua felicidade.

-Que bom. Ela é sua.  - Contou.

-Eu nem sei como posso te agradecer. - Disse sorrindo.

-O seu sorriso é suficiente. - Respondeu deixando-a ligeiramente corada.

            Não resistindo, tomou seus lábios entre os seus mais uma vez.

***

-Fico feliz que estejam se relacionando tão bem. - Comentou Muriel para o nada.

            O nobre encontrava-se escondido entre uma das estantes da biblioteca. A visão do casal era perfeita do local em que se encontrava.

-Assim o trauma será maior. - Disse saindo silenciosamente por uma passagem secreta.

***

-Obrigada por me ensinar a dançar. - Agradeceu Lucy.

-Eu quem agradeço pela oportunidade. - Comentou Daniel sentando-se.

            Encontravam-se sentados em um banco de jardim. Acima, um céu estrelado e uma lua cheia assistiam o casal apaixonado.

-Como a noite está agradável, não? - Comentou a garota.

-Está sim. - Concordou Daniel, aproximando-se.

            Lucy levantou a cabeça, observando o céu noturno enquanto uma tímida lágrima brotava de seu olho.

-O que foi? - Perguntou o general que a observava com atenção.

-Que? - Perguntou assustada. - Desculpe-me, mas qual foi mesmo a pergunta?

-Eu perguntei por que está chorando e está tão distante. -Repetiu bondoso.

-Não é nada de mais.

-Se não me contar, nunca poderei lhe ajudar. - Tentou.

            Lucy ponderou momentaneamente. Levantou-se e ainda fitando o nada, falou:

-Estou com saudade. Saudade dos meus pais, da minha vidinha. Não que eu não goste daqui, mas... sinto saudade da vida que tinha antes, principalmente dos meus pais. - Desabafou tristonha.

            Em resposta, Daniel aproximou-se. Depositou sua mão sobre o ombro da garota, chamando-lhe a atenção. Assim que seus olhares se cruzaram o rapaz tomou seus lábios entre os dele.

***

            O dia amanheceu nublado e juntamente com ele o ânimo da população. Lucy e Érica acordaram cada uma em seu respectivo quarto. A primeira, ainda tristonha, caminhou para o banheiro. Banhou-se de modo revigorante, afastando seus nefastos pensamentos.

            Érica, por sua vez, ajeitou-se na cama de modo que pudesse observar a sacada. Mal conseguia acreditar no que ocorrera no dia anterior.

            A contragosto admitiu que começava a sentir algo pelo general. Lembrou-se do momento em que valsaram. Pareceu tão fácil quando ele a guiou. Sorriu.

-Posso entrar? - Perguntou Alam postando-se dentro do quarto.

            Érica não respondeu. Apenas enviou-lhe um olhar curioso de modo que Alam percebesse a redundância que cometera.

-Não vai se levantar? - Perguntou-lhe enquanto depositava uma pequena caixinha de veludo sobre a penteadeira. - Já estamos atrasados. - Advertiu-a.

-O que é isso? - Questionou levantando-se e prendendo o cabelo em um coque mal-feito.

-Quero que o use hoje. - Pediu retirando-se do cômodo. - Não demore.

            A garota caminhou até lá descobrindo que ganhara um presente. Dentro da delicada caixinha de veludo preto, um fino brinco em forma de flor, feito em rubi, repousava. Silenciosamente agradeceu o presente e tratou de se arrumar.

***

-Bom dia! - Cumprimentou Daniel assim que Lucy saiu do banheiro.

-Bom dia. - Respondeu sorrindo.

-Estava te esperando para tomarmos café- da -manhã. - Comentou general.

-Estou pronta em um minuto. - Avisou Lucy voltando para o banheiro e fazendo o general rir.

            Logo após o desjejum, os quatro encontravam-se no saguão de entrada. Trajavam vestes negras. Os generais, em seus trajes de gala e as meninas de longo, cabelos presos e, com exceção de Érica que usava os brincos de rubi, sem jóia alguma.

            Entraram em uma carruagem simples, mas que denunciava quem realmente eram e rumaram para o cortejo fúnebre da rainha Suzana. Embora por um triste motivo, Érica e Lucy alegraram-se de sair dos amplos e impenetráveis muros do palácio.

            O cemitério encontrava-se já populoso no momento em que chegaram. Do lado de fora dos grandes portões de ferro, a população reunia-se e cultuavam-na em silêncio.

            O quarteto adentrou os portões, caminharam por entre os túmulos e logo avistaram o mausoléu real. Todos os nobres, os altos-funcionários e os sacerdotes já se encontravam lá.

            Assim que chegaram foram recepcionados com uma pequena reverência. De acordo coma tradição, o funeral duraria todo o dia.

            Já passava das seis da tarde quando finalmente deixaram o lúgubre lugar. Várias luminárias iluminavam o caminho. Como futuras monarcas eram obrigadas a permanecer até o encerramento do cortejo.

            O momento também se mostrou oportuno para que as meninas fossem apresentadas a vários nobres e suas respectivas famílias, como também aos ministros e outras personalidades.

-Altezas. - Cumprimentou Muriel  já no exterior do cemitério.

-Pensei que já tivesse se retirado, Muriel. - Comentou Daniel.

-De fasto já o deveria ter feito. - Concordou. - No entanto, preciso conversar com vossas excelências.

-Muito bem. Por que não se junta a nós? - Convidou Alam dirigindo-se a carruagem.

 -E sua carruagem? - Questionou Lucy.

-Não se preocupe alteza, ela virá logo atrás.

            Aquecidos dentro da carruagem, o diplomata desatou a falar.

-Temo lhes contar, generais, que a revolta que se iniciara o exterior encontra-se dentro de nossas fronteiras. - Começou. - Enganamo-nos quando deduzimos que era o país vizinho quem nos ameaçavam; na verdade é um grupo bárbaro.

-Bárbaros? (N/A.: Levo em consideração o sentido de alguém que não habita os limites aqui estabelecidos.)

-Sim. - Concordou. - São eles que...

            Uma parada brusca chamou-lhes a atenção.

-O que aconteceu?- Perguntou Daniel ao cocheiro

-A roda se soltou. - Explicou

-Como se ela tivesse vida própria. - Esbravejou o general.

-É melhor descermos. - Sugeriu o diplomata.

            Assim que desceram, os generais prontamente foram ajudar o cocheiro.

-A casa de vocês é por aqui, não? - Murmurou Muriel para Érica seguindo, depois, para o foco do problema.

            Como por mágica, Érica lentamente relembrou-se daquele caminho. Era o mesmo que sempre utilizava há tempos atrás. Hipnotizada pelas lembranças, deixou-se levar pelo caminho.

-Kika? - Chamou Lucy.

            Ao virar-se, viu sua irmã caminhando rapidamente por um caminho perpendicular ao que se encontravam. Sem pensar duas vezes, seguiu-a.

-Kika! - Exclamou Lucy parando metros à frente. - Olha. - Disse apontando para o céu.

            Ao levantarem o olhar encontraram uma nuvem de fumaça vindo da direção em que seguiam. Um arrepio correu pela espinha de Lucy.

-Não pode ser. - Pensou alto antes de desatar a correr.

-Lucy! Espera! - Exclamou Érica apertando o passo para conseguir alcançá-la

Correram sem parar até alcançarem a casa onde outrora viveram. Para o desespero das garotas, a mesma encontrava-se em chamas.

-Não pode ser. - Falou Érica já prevendo o pior. Pelo horário, seus pais não só estariam em casa, como provavelmente dormindo.

-Não! - Gritou Lucy correndo para dentro da casa, agora em chamas.

-Lucy! - Chamou a irmã, mas a outra já se encontrava fora do alcance de sua voz.

            Com muito esforço, Lucy conseguiu adentrar a residência. Toras de madeira pegavam fogo por toda parte.

-Pai! Mãe! - Gritou em desespero não obtendo resposta. - Mãe! Pai! - Tentou novamente enquanto movia-se com dificuldade devido às vestes que usava.

-LUCYYY. - Berrou Érica começando a correr em direção às chamas. Seus olhos, já banhados em lágrimas.

            Mal deu alguns passos, mãos fortes a puxaram, impedindo-a de continuar.

-Você é louca! -Disse Alam esforçando-se para contê-la.

-ME SOLTAA. - Gritou.

-Não! - Disse energicamente.

-ME SOLTAA. -Berrou novamente, desta vez acertando-lhe um soco na altura do queixo fazendo-o largá-la.

            Assim que conseguiu se soltar, correu para a casa novamente. Desta vez, Alam segurou-a pela cintura e com o outro braço imobilizou-a.

-Não vou deixá-la entrar lá. - Comentou.

-MEUS PAIS ESTÃOS LÁ! E A MINHA IRMÃ TAMBÉM. - Gritou entre lágrimas.

            Daniel, juntamente com Muriel e a carruagem, agora consertada, acabavam de chagar ao local. Ouvindo tais palavras, Daniel correu para dentro da casa tomando o cuidado de segurar um lenço em seu nariz, para que não inalasse tanta fumaça. (N/A: o melhor/ e certo é um pano úmido, mas... devido às circunstâncias...) Lá encontrou Lucy caída entre as toras em chamas. Em suas mãos, uma foto chamuscada da família.

            Saiu segurando-a no colo. A essa altura, um grupo de ‘bombeiros\' já cuidavam das chamas juntamente com os curiosos da região. Alam, depois de muito esforço conseguiu colocar Érica dentro da carruagem. Entrou em silêncio, dando um comando ao cocheiro.

            Seguiram em absoluto silêncio até o castelo. Assim que desceram, Érica dirigiu-se para seu quarto, em silêncio e Daniel levou Lucy para o dela.

-Vou chamar o médico. - Avisou Muriel

-Érica. - Tentou Alam antes de perdê-la de vista.

            Assim que deitou Lucy em sua cama, uma equipe de enfermeiro e o médico real chegaram. O doutor lhe fez algumas perguntas enquanto as enfermeiras já seguiam os primeiros procedimentos.

-Senhor, poderia se retirar? - Pediu o médico.

-Como ela está? - Perguntou preocupado.

-Ficará melhor. - Falou o médico. - Agora, por favor, precisamos que se retire.

            A contragosto, o general foi acompanhado até a porta.

-Não se preocupe lhe avisaremos assim que tivermos alguma notícia. - Disse a enfermeira bondosamente.

            Daniel postou-se na entrada do cômodo. Não sairia dali até que tivesse uma notícia. Estava preocupado com a garota.

***

-Alam? - Chamou Muriel.

-Diga. - Respondeu impaciente.

-Eu tomei a liberdade de perguntar para algumas fontes minhas e parece que os pais delas não sobreviveram ao acidente. - Contou com a feição teatralmente triste. - Eu sinto muito. - Disse com tanta convicção que quase desatou a rir.

-Obrigado. - Agradeceu o general. - Por que não fica por aqui hoje e amanhã terminamos aquele assunto.

-Não precisa se incomodar.

-Faça como quiser.

            Terminado o breve diálogo, o general seguiu para o quarto de Érica. Precisa desesperadamente vê-la.

            Alam bateu na porta do quarto duas vezes antes de entrar. Não obtendo resposta e com maus pressentimentos, entrou. Encontrou-o em completa escuridão.

-Érica? - Chamou-a não obtendo resposta.

            Caminhou pelo cômodo até encontrá-la. A garota encontrava-se sentada no chão da sacada abraçada aos joelhos e com o rosto banhado de lágrimas. Aproximou-se e ajoelhou de modo que pudesse ficar da mesma altura que a garota.

-Érica. - Chamou-a de modo piedoso.

-Me esquece. - Murmurou virando o olhar.

-Eu quero te ajudar. - Contou.

-É tudo culpa sua! - Acusou Érica. - É TUDO CULPA SUA! CULPA SUA EU ESTAR AQUI AGORA E NÃO COM MEUS PAIS.

-Se você estivesse lá também teria morrido. - Comentou o rapaz.

-QUE FOSSE!- Gritou entre lágrimas. - PELO MENOS EU ESTARIA COM ELES! - gritou enquanto socava de leve o peito do rapaz. - Eu te odeio! - Murmurou parando de socá-lo e apoiando seu rosto nas mãos.

            Alam a abraçou de forma protetora enquanto Érica chorava. Ele sabia o que ela sentia. Sabia o que era perder tudo, mas não deixaria que a garota se sentisse sozinha. Não a deixaria sentir a mesma tristeza que sentira anos atrás.

            Lentamente seguro-a no colo e deitou-se na cama aninhando-a em seus braços. Ainda com lágrimas no rosto, Érica adormeceu. Estava cansada e o dia fora longo, muito longo.

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Notas finais do capítulo

Fim!

n.n



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