Correspondências escrita por Blue Butterfly


Capítulo 9
214, Harbor View - Apartment #12 - Charleston MA




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26/04/2010

Olá, Jane. Como você tem passado?

Sei que essa minha carta demorou mais do que as outras para chegar. Sinto muito por isso. O motivo é que escrevo da Virgínia. Estou passando um mês aqui para um tipo de estágio, por assim dizer. Alguns médicos foram selecionados para participarem desse encontro, o processo de seleção foi bem restrito e difícil, e fiquei muito feliz em ter sido convidada e mal tive tempo de preparar minha viagem. Espero que você entenda. Os dias são mais longos aqui, e trabalhamos muito, desde muito cedo até tarde da noite. Nesse primeiro sábado - os finais de semana são teoricamente livres - tirei um tempo para lhe escrever.

Em relação à minha profissão, não fui completamente honesta. Disse que sou médica, mas não disse que tipo de médica eu sou... O que seria, uma médica legista. Escolhi essa área da profissão porque, bem, me sinto mais a vontade trabalhando com os mortos. Algumas pessoas - a maioria, para ser honesta - acham estranho, mas é algo que significa muito para mim. Gosto de pensar que posso falar por eles, que sou a única que pode interpretar sua última mensagem deixada para o mundo. Não sei se faz sentido para você.

Espero que não tenha pensado que esqueci do nosso compromisso. Agarrei tua carta no mesmo momento em que ela chegou à caixa de correio, que por coincidência foi no mesmo momento em que eu pegava um táxi para partir para o aeroporto. Dediquei-me a respondê-la agora a noite, onde tudo é mais quieto e consigo destinar completa atenção a ela - ou a você?

Por falar em você... Te vi na televisão hoje a tarde. Aparentemente você obteve sucesso em apreender o assassino de três mulheres. Caso bastante comentado, não é? Mesmo não assistindo muita televisão em Boston, fiquei sabendo por meio de conversas paralelas onde trabalho. Sua imagem me surpreendeu - positivamente, devo dizer. Não é a toa que as câmeras se voltam todas para você. Mas me diga, você é sempre tão séria? Ou só quando jornalistas se metem na tua vida pessoal?

Bem, a julgar pelo teu humor, vou assumir que você gosta de bancar a engraçada apenas com as pessoas mais próximas; não vou realmente adotar um coelho, acho que Bass, meu cágado, ficaria ofendido, Jane.

Sobre meus pais, é apenas complicado.

Espero que você esteja bem, e por favor, me chame apenas de Maura. Se tiver intenção que eu receba sua carta aqui em Virgínia, você pode endereçá-la ao mesmo endereço do remetente. Sugiro também que apenas encaminhe para cá antes da segunda semana do mês de maio, caso contrário corro o risco de não recebê-la (pelo simples fato de que a carta chegaria depois de eu ter partido). Se não tiver pressa, encaminhe para meu endereço em Boston, e retornarei assim que chegar em casa. E uma última observação, gosto de ler suas cartas quando são escritas à mão, parece mais real - mas não estou pedindo que o faça sempre, sei como é estar ocupada o tempo todo.

Ah! Quase me esqueci... Vou manter em mente a dica sobre quando gritar. Embora eu não saiba exatamente o quê.

Espero ouvir de você logo - mas não se sinta pressionada.

Sinceramente,

Maura Isles.


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