Acordo do meu pior pesadelo e bufo. A noite foi longa e justo quando as coisas parecem melhorar, o despertador toca. O barulho incessante e irritante entra por meus ouvidos e meu único pensamento é: Quem foi o idiota que inventou o celular? Balbucio mais uns palavões e me levanto.

Celeste já está acordada, devidamente arrumada e me espera para tomar café. Seu sorriso de felicidade é muito visível. Não duvido nada que se ela abrir sua boca mais um milímetro, arco íris sairá de sua boca de tanta alegria. Não sou uma pessoa mau humorada durantes as manhãs, sou bastante animada. Não sei o que aconteceu hoje, mas nossos papéis se inverteram. Não estou rabugenta só estou cansada.

_Se vier para perto de mim com essa cara eu te deixo aqui. Estou falando sério.

_Eu tenho que te aguentar com essa cara todo dia.- constato com a esperança de que isso calará sua boca, mas sempre esqueço que estou falando com Celeste Newsome.

_Certo queridinha, mas minha cara de mau humor é muito mais bonita que a sua.

Não a respondo, simplesmente me levanto e pego minhas coisas. Em pouco tempo o táxi para em frente ao aeroporto. Cel ainda está brava comigo por querer ir em uma avião normal. De acordo com ela, se um jato real está a sua disposição, você não pode o deixar esperando. Mas se estou finalmente voltando para casa, quero entrar do mesmo jeito que saí. Simplesmente e humildemente.

Dizer que estou nevosa é pouco. Estou tendo um treco. O avião já decolou há umas horas, mas não consigo tirar esse sentimento de dentro de mim. Celeste está ao meu lado, dormindo profundamente. Inesperadamente sou levada ao dia que fui para o palácio. Com uma modelo arrogante sentada do outro lado do corredor, com a maquiagem perfeita e os óculos escuros. Nunca poderia imaginar que, naquele dia, eu estaria aqui. Morrendo de medo de voltar para meu país, com medo das reações e com a culpa me consumindo.

Tento dormir mas é praticamente impossível. Lembranças e memórias enchem minha mente. Penso em tantas coisas que não consigo lembrar de uma em particular. Fico tentada em acordar Celeste e a fazer ficar acordada comigo até que o avião pouse, mas resisto ao impulso. Passo o resto da viagem olhando para um ponto fixo no lado de fora da janelinha.

Acho que dormi. Ou não. Não tenho certeza. Mas levei um susto quando a porta da cabine foi aberta, a aeromoça apareceu e uma voz saiu de algum lugar.

_Senhores passageiros, estamos nos preparando para pousar. Apertem seus cintos e levantem seus bancos. Em trinta minutos entraremos em solo Illeano.

O palácio está do mesmo jeito de quando sai. Cada árvore em seu lugar, cada guarda em seu posto e criadas correndo pelos corredores. Me sinto tão em casa, mas uma completa estranha ao mesmo tempo e isso me dá náuseas. Era disso que estava com medo. Reviver tudo o que passei, me faz passar mal, mas Bradley está certo, tenho que enfrentar meus problemas, só assim eles irão embora. Por falar em Bradley, imagino como deve ter sido seu dia ontem, seu encontro com Maxon e só rezo para que Brad não tenha o socado.

Sou acordada de meus pensamentos por uma Lyra saltitante e feliz que se jogou em mim na primeira oportunidade.

_Graças que vocês chegaram! Isso já está ficando um saco. Acredita que o rei colocou um guarda costas para nos fazer se comportar?- ela pergunta ultrajada e irritada.

Lyra não gosta de ser controlada. Mesmo se a mando ligar a televisão ou ir fazer comida ela fica brava e grita que ninguém manda nela. Passar seus dias ao lado de Clarkson vai minar toda a sua paciência. Os dois acabarão com a paciência um do outro e quando isso acontecer, preciso estar do lado para ver.

Ver Maxon novamente ao lado de Kriss não foi doloroso. Lyra estava certa, já o superei tem tempo mas não admitia para mim mesma. Lyra geralmente está certa em tudo, mas ninguém diz isso para ela.Vai inflar seu ego já grande. Seguimos para o salão onde o almoço será servido. Maxon não conseguia parar quieto durante todo o caminho. Ele está ansioso. E eu estou certa. Ele tá planejando alguma coisa.

Converso animadamente com a Rainha Amberly quando um homem entra pelos portões e segue até Maxon. Os dois conversam em silêncio e depois Maxon se levanta.

_Gostaria de informa-los que o Príncipe de Nova Gales do Sul não se juntará conosco para o banquete.

Um sorriso malandro se estampa em sua boca e ele volta a conversar com sua esposa. A única coisa que me fez aguentar esse almoço maçante, foi o pensamente de que daqui a alguns minutos reencontrarei todos os meus amigos e as pessoas que amo e que sinto falta.

Estou saindo do salão, indo em direção ao meu quarto onde Lucy, Mary e Anne me esperam, quando um braço me puxa e me vejo dentro de um esconderijo para rebeldes. Está escuro, mas consigo reconhecer Maxon na minha frente.

_Por que fez isso Príncipe Maxon?- pergunto educadamente quando na verdade quero bater em seu nariz perfeitinho.

_Eu te considero uma amiga- uma amiga? Serio? Quem ele acha que é para me achar sua amiga? Só nos falamos duas vezes. Três se contar agora.- e como um amigo, quero te dar um conselho.

Não falo nada e espero que ele continue.

_Sei que está namorando seu professor.- se ele está esperando uma reação de surpresa, que vá me implorar para que não conte para ninguém. Ele se engana. Continuo com minha cara de paisagem.- quero que pense se vale a pena correr perigo por isso. Procure saber quem seu namorado é de verdade. Sei que sabe que ele esconde coisas de você. Só quero que seja feliz.- ele termina e me abraça.

Uma vontade gigante se rir surge em mim, mas a controlo. Faço minha melhor cara de tristeza e choque e o abraço de volta.

_O senhor está certo. Muito obrigada.- digo e saio do quartinho. Um sorriso diabólico se estampa em meu rosto. Primeira fase: Completa.

Ando ansiosamente em direção ao meu quarto. Corro na verdade. A vontade de ver todos é maior do que o medo da fúria de Clarkson por correr. Paro em frente a madeira detalhada e hesito em abrir. Não sei o que esperava, mas assim que giro a maçaneta sou sufocada por uma cabeleira loira e uma barriga gigante.

_Marlee! Que saudade! Meu deus, esse é o pequeno Kile?- pergunto enquanto acaricio sua barriga.

_Acho que está mais para grande Kile. Já viu como ela tá grande?- Aspen diz enquanto vem em minha direção. Marlee bate nele nós rimos.

O abraço como se minha vida dependesse disso. Provavelmente depende mesmo. Aspen é minha família e o mais perto que tenho de casa.Lágrimas de emoção escorrem por minhas bochechas e não consigo parar.

_Meu deus! O que a senhorita fez com esse cabelo?- Anne pergunta assustada. - precisamos dar um jeito nisso agora.- ela me bota na cadeira em frente ao espelho e me envergonho. Meu cabelo está normal. Normal para ainda sou uma cinco e moro em Carolina. Ele perdeu o brilho e a maciez, mas de um jeito, eu gosto. Nunca poderei dizer isso para as três. Elas me matariam.

_Mas então Lucy, quando será o casamento?

Ela cora.

_Ainda não escolhemos a data.- Aspen diz enquanto coloca seus braços em volta de Lucy. - Mas eu tenho trabalho. Aproveitem todas. Lyra e Celeste estão vindo para cá. Nos vemos depois Meri.

Passamos horas conversando e jogando papo fora. Ly e Cel chegaram eufóricas. Dizem que conseguiram despistar as outras garotas no salão das mulheres e que não estavam mais aguentando aquilo. Sentia falta disso, um tempo com minhas amigas onde posso contar tudo o que aconteceu em minha vida. Onde posso contar sobre Bradley, o noivado e tudo mais. Elas ficaram encantadas com meu anel. Estávamos felizes e animadas, gritando e rindo igual loucas, mas o silêncio reinou assim que Amberly atravessou a porta.

O olhar de espanto de todas presentes foi muito mais do que óbvio. Anne, Mary Lucy deixaram cair tudo o que estava em suas mãos e pararam de trabalhar na hora. Marlee e Lyra gaguejam na tentativa de encontrar uma resposta plausível. É possível ouvir Celeste falar “merda”para si mesma. Não sei o que pensar, o que falar, o que fazer. Então simplesmente olho para a rainha e espero que ela tome o primeiro passo.

_Eu sabia. Quando disse que se parecia com America Singer, não esteve tão certa. Não sei como meu filho não viu isso, mas eu vejo. Uma garota tão linda assim não consegue se esconder.- ele termina docentemente. Fecha a porta e me dá um abraço. Estou tão em choque que não consigo nem retribuir.

Celeste se levanta desengonçada e grita:

_Ela tá com a gente!- começa a fazer uma dancinha- então America, do que você estava falando mesmo de tortas de morango?- termina enquanto olha para mim, abre um sorriso sem dentes, esbuga os olhos e levanta a sombrancelha.

Lyra olha para ela com um sorriso repreendedor e ela dá de ombros.

_Ela já sabe, para que esconder.

_Fico feliz que esteja bem.- Amberly me dá um beijo na testa.- Você deixou um país inteiro bastante apreensivo. Maxon ficou louco tentando te encontrar.

Viro a cabeça quando menciona o nome do filho e ela parece entender.

_Então está noiva?- ela pergunta depois de olhar o anel em minha mão. Afirmo.- do misterioso Príncipe de Gales suponho.

_Sei que a senhora é uma rainha, me desculpe, mas esse apelido já é meu. Encontre outro para a senhora.- Lyra briga com Amberly e todas rimos.

_Então também suponho que saiba que ele é o príncipe já que não surtou. Também suponho que ele saiba que você não é Louisa Jonhson, certo?

Rio e afirmo novamente.

_Não tem porque ficar assim querida. Não vou contar seu segredo. Mas só se você for atrás de seu noivo. Acho que Maxon não está feliz com a companhia dele.

_Imagina quando ele souber que ele é seu noivo.- Lyra diz e gargalha. Amberly olha para ela brava e Lyra fecha a cara na hora e pede desculpas.

Meu cabelo não está pronto ainda. Só mais tarde. Haverá uma festa à noite e será quando aparecerei ruiva novamente.Troco de roupa e saio a procura de Bradley. Terceira fase em ação.

Estou parada em frente as portas fechadas do Grande Salão, onde as vozes de Maxon e Bradley são altas. Ninguém teve coragem de entrar no cômodo e acabar com a discussão dos dois.

_Fiquei sabendo que estão brigando por mim.- digo enquanto Maxon me encara.

Fase dois completa.