A noite na caverna foi fria, e a fogueira que fizeram não foi suficiente para mantê-los aquecidos, sendo assim o grupo teve que dormir em pares para se manter aquecido. Hakuryuu e Judal em um canto, Kougyoku e Alibaba em outro. Judal passou a noite acariciando os cabelos de Hakuryuu. Sua vontade era ter um contato mais íntimo com seu rei e amante, mas ele se conteve em respeito a presença do outro casal. O cansaço de Alibaba fez com que dormisse feito uma pedra enquanto abraçava Kougyoku que por sua vez estava feliz em aproveitar aquele momento de paz. Ela não mais guardava rancor de Hakuryuu pelo que ele havia feito, agora seus pensamentos estavam firmes em seu futuro junto com Alibaba.

A decisão do grupo em escolher a caverna foi a mais adequada possível. Durante a noite uma chuva veio das montanhas próximas e caiu sobre a região. Era como se as próprias montanhas chorassem a forma trágica na qual a amizade entre Alibaba e Morgiana havia terminado. Onde uma vez houve amor, mesmo sendo um amor imaturo, agora havia restado apenas rancor e loucura. Um medo espreitava nas sombras da mente do jovem casal formado pela princesa de Kou e pelo príncipe de Balbadd. Uma antiga aliada agora os odiava e estava a solta por aí. A fanalis ressentida pelo abandono e desespero já havia se provado capaz de fazer qualquer coisa no auge de sua loucura.

No outro dia todos se levantaram cedo. Comeram o que havia sobrado das frutas que Alibaba e Kougyoku recolheram e partiram. Seu primeiro destino foi a vila próxima, onde a princesa de Kou havia descoberto sua gravidez. Lá compraram mantimentos e tiveram a oportunidade de deixar claro quem eram os novos bandidos que ocupavam as florestas próximas. O senhor que havia tratado a princesa de Kou ficou extremamente aliviado ao ver que todos voltaram inteiros daquela situação terrível. Após se despedirem seu novo destino de viagem era a Companhia Síndria.

Era extremamente necessário que se resolvesse a situação política do Império Kou, o desaparecimento de Hakuryuu forçou a nova aliança mundial entre países a escolher um governante interino para o país. O paradeiro de Kougyoku era desconhecido na época e por isso não foi procurada para assumir o posto de Imperatriz. O fato é que a princesa não queria ser encontrada e por isso levava uma vida discreta enquanto vigiava Sinbad. Ele por sua vez também não tinha interesse em encontrá-la. Ela já não lhe representava ameça e o destino do cenário político de Kou não lhe parecia importante quando comparado a tudo que planejava para o novo mundo no qual viviam.

A crise econômica no antigo país militarista que não estava preparado para o novo mundo era terrível. Faltavam empregos por toda parte e o êxodo dos cidadãos era constante já que haviam oportunidades de vida melhores em outros países. A crise precisava ser resolvida com urgência e um mero governante temporário não daria conta disso. A fim de sanar a situação, todos procuraram Sinbad. Kougyoku ainda o odiava, mas colocou o ódio de lado a pedido de Alibaba, afinal o bem do povo era mais importante e ela reconheceu a grande influência que o líder da Aliança dos Sete Mares tinha no novo mundo.

Sinbad reuniu os representantes da nova aliança mundial entre os países e assim chegou o dia da reunião. Tudo foi feito na sede da Companhia Síndria, e os principais líderes mundiais estavam presentes.

— Muito bem, a primeira coisa que precisamos decidir antes de tudo é qual de vocês é mais capacitado para ser o governante.

Sinbad disse em um tom sério dando início a reunião.

— Eu já tentei uma vez, mas não consegui resolver a crise. Não tenho experiência para tomar as medidas necessárias para reverter o cenário atual. Nosso país era completamente focado no militarismo, eu precisaria de ajuda de um bom conselheiro para resolver isso. Alguém que estudasse nossos problemas e tivesse experiência como comerciante seria o mais ideal. Se a aliança de vocês conseguir alguém assim para me ajudar, eu posso restaurar o país — Hakuryuu comentou.

— E o que te faz pensar que o povo aceitaria um rei como você novamente. Sabemos que sua ausência não foi intencional, mas todos julgam você como um covarde que abandonou o país e fugiu deixando o povo a própria sorte para passar fome. Infelizmente não podemos forçar que seu povo te aceite como governante. Em pouco tempo revoltas surgiriam por toda parte e talvez houvesse até uma guerra civil. A princesa Kougyoku por sua vez, é muito inexperiente para governar em meio a uma crise dessas. Mesmo assim, acredito que o povo a aceitaria melhor.

O homem que disse palavras tão duras e realistas era o primeiro ministro de um dos países que havia sido dominado pelo Império Kou pouco antes da guerra civil que terminou com a deposição de Kouen. Com o fim da guerra seu país foi libertado e os antigos governantes recolocados no poder. Seu nome era Rashmal. Ele era um velho magro e alto, de barba longa e olhar severo. Era muito experiente no meio político e todos concordaram com sua opinião, até mesmo Sinbad que liderava a reunião.

— Rashmal - dono, eu compreendo sua opinião e admito que tem razão, mas não podemos deixar a situação do país do jeito que está. Sendo assim eu proponho uma solução. Me ouçam por favor. Eu proponho que a princesa Kougyoku assuma o papel de imperatriz, como o senhor mesmo disse, ela terá maior aceitação do povo. E para compensar sua falta de experiência, eu aconselho que seu primeiro ministro seja Alibaba, príncipe herdeiro de Balbadd. Apesar de jovem ele é muito habilidoso com os negócios e é alguém em quem eu deposito muita confiança.

Todos ouviram a proposta de Sinbad, mas poucos depositavam confiança em um jovem desconhecido que havia perdido seu próprio reino. Entretanto o velho Rashmal, sabia quem era Alibaba.

— Eu não tenho objeções, acredito que a chance de dar certo é muito alta. Vocês aqui presentes não conhecem esse garoto. Mas o pai dele era um grande comerciante e sabia lidar muito bem com as finanças de um reino. Se Sinbad diz que ele possui tanto tino assim para o comércio é porque ele puxou ao pai.

O velho conhecia Rashid, o pai de Alibaba. Há muito tempo Balbadd e seu país tiveram uma próspera relação de negócios. Essa relação havia terminado com a péssima administração de Ahbmad, mas a confiança que o rei de Síndria depositava em Alibaba e o fato dele ser muito parecido com Rashid acabaram por convencer o velho. Ninguém nunca havia visto ele ceder assim tão fácil e por conta disso mudaram suas opiniões.

— Muito bem, mas antes de tudo eu tenho uma pergunta para esse jovem. Chegou a meu conhecimento que a princesa Kougyoku está grávida e vendo a proximidade de vocês, eu gostaria de saber: você é o pai da criança? — Rashmal perguntou em um tom estranhamente cordial.

— Sim, eu sou o pai. Existe algum problema relacionado a isso? — Alibaba estava surpreso pelo rumo que as coisas estavam tomando. Primeiro ele era declarado primeiro ministro e agora aquela pergunta nada discreta.

— Sinbad, pare de nos fazer de idiota, vamos legitimar esses dois como imperador e imperatriz logo, Kou não precisa de conselheiros ou ministros eleitos pela aliança. Se os dois governantes quiserem, podem escolher seus conselheiros por conta própria. E você garoto — Disse o velho se voltando a Alibaba — crie esse moleque tão bem quanto seu pai deve ter te criado. Eu proponho também restabelecer o reino de Balbad de volta ao controle da família Saluja, sendo assim o príncipe Alibaba é agora governador de ambos os países juntamente com a princesa Kougyoku e a partir desse momento governarão com apoio da aliança e terão todo suporte que precisarem. Alguém possui objeções?

Ninguém se manifestou e naquele dia, Alibaba conseguiu de volta seu reino e um lar para onde voltar e criar seu filho. Seu governo ao lado de Kougyoku reconstruiu Kou e Balbadd. Judal e Hakuryuu atuaram como conselheiros reais nesse período e continuaram sendo amantes. A princípio a relação dos dois não agradou a muitas pessoas, mas eles não se importaram e o bom trabalho auxiliando na restauração econômica do império acabou superando os preconceitos. Foram necessários muitos anos para que a situação econômica dos países se estabilizasse. Depois de completar dezoito anos, o filho de Alibaba e Kougyoku assumiu o governo de Balbadd.

Segundo os exemplos de seu pai, ele fazia um grande governo e era um excelente negociante. O jovem era ruivo como sua mãe e possuía um porte físico semelhante ao do pai em sua idade. Em seu rosto havia uma barba sempre por fazer e quem não o conhecesse julgaria que era um típico rapaz frequentador de bares e outros lugares associados a boemia e malandragem. Isso era parcialmente verdade, apesar de muito responsável, o garoto vivia trazendo mulheres para casa as escondidas. A última foi a filha de Sinbad, o que quase gerou um escândalo internacional quando os dois foram vistos se agarrando pelos cantos em uma festa no palácio imperial de Partevia.

Era uma época de paz e prosperidade, mas uma sombra ainda aguardava no horizonte, mesmo depois de todos aqueles anos Morgiana ainda não havia sido encontrada, ela e suas seguidoras desapareceram após o incidente que quase culminou com a morte de Hakuryuu, Alibaba e Kougyoku.