Camomila escrita por MsBrightside


Capítulo 2
Capítulo 1 — "Você me trouxe uma torta?"


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo de Camomila! AEAEAEAEAEAE!
Quero agradecer pelos comentários no primeiro capítulo, acompanhamentos e tudo isso, vocês são incríveis mesmo! u_u
Bom, eu fiz algumas alterações. Mudei o banner e o nome do primeiro capítulo, mas não é nada que influencie o enredo, então tá tudo certo.
Nesse capítulo eu usei outra música como inspiração, é uma música linda e se vocês puderem, escutem. Não irão se arrepender. Deixarei o link e isso aí (https://www.youtube.com/watch?v=AuWnsASrXuo). O capítulo ainda não foi revisado, mas um dia será, se Deus quiser.
Obs.: A imagem do banner também é uma cena do clipe que eu vou deixar.
Espero que gostem!



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VOCÊ ME TROUXE UMA TORTA?”

Ela era incomparável e sem dúvidas a mulher da minha vida.

Você passa uma vida procurando alguém que corresponda ao que você almeja ser, mas no final ela só te deixa louco da cabeça e de sangue fervido. Parado, em sua porta, com o coração no chão e o orgulho perdido. Ela era a mistura de tudo de ruim com um quê de novidade e coisa boa que já aconteceu. Ela era a libertinagem, a descoberta, a década de sessenta, as guerras de poder, o inchaço dos interesses públicos, o biquíni de bolinhas, a copa do mundo, o holofote das celebridades, a cultura de massa, a primavera árabe, o batom alaranjado e o sorriso camuflado. Ela era a segregação, a impureza e o destilar de um coração. Indiretamente, ela era tudo o que eu queria sem ser exatamente o que eu deveria desejar. Acho que isso se chama pecado. ”



Superar não era bem o que Fred queria agora.

A verdade é que ele nunca imaginou o que poderia querer, porque nos seus melhores sonhos era Rosa quem ficava viúva. Talvez ela tenha sido mais esperta.

E rápida.

As pessoas perguntavam porque ela havia batizado seu chá com láudano, perguntavam o motivo do desejo de dormir para sempre. Envergonhado, não sabia o que dizer.

Nós éramos felizes, ou quase isso. Tínhamos apenas esses problemas de casais. ”

Existem coisas tão profundas que nem a própria pessoa é capaz de desvendar. ”

Eu a amava e ela me amava também, é só disso que quero me lembrar agora. ”

Ele já sabia o discurso de trás para frente.

A verdade é que nunca saberia explicar o quão forte e devastador foi tê-la e o quão pesado e exterminador foi vê-la escapar entre seus dedos, como água que corre. O amor lhe pegou pelo peito e lhe ensinou a dançar, mas no final, ele percebeu que o tempo todo estava aprendendo a dançar sozinho. Ela o cuidou e sanou todos os desejos ocultos de seu coração, mas, foi breve, se foi. Ninguém nunca estaria preparado para perder o amor de sua vida. Estava conformado, mas tinha medo. Medo de viver um dia feliz e quando chegar não ter Rosa para comemorar. Viver um dia triste e quando chegar não ter Rosa para chorar. Afinal, o amor não é sobre ter alguém para contar?

O dia começou o mais lúgubre possível, Fred não dormiu. Camomila, pela última vez, ele precisava descansar. Seus olhos simplesmente insistiam em ficar abertos mesmo que pesassem, era estranho e ao mesmo tempo útil, já que poderia terminar alguns trabalhos que levou para casa, além de suas teses do doutorado. Para tentar esquecer o ocorrido, durante os últimos meses, Fred entrou e saiu de aulas extras, começou o doutorado e algumas especializações, começou um curso de culinárias, abandonou depois de quase colocar fogo em sua casa por ter dormido depois do chá.

Movimentou seus pés para fora da cama e abandonou as cobertas desdobradas por ali. Não via motivo em arrumar a cama se provavelmente a bagunçaria novamente. E de novo. Suas tentativas de dormir em paz eram quase inofensivas, então não podia fazer nada mais que aceitar o fato. Encostou novamente seus pés no chão frio, jogou seu peso por cima deles e se colocou ereto, já com uma imensa vontade de se deitar. Antes de cruzar o quarto e buscar pela saída, seus olhos não puderam deixar de notar o retrato de Rosa em um porta-retratos que ficava em cima do criado-mudo. Por muitas vezes ele se perguntou como alguém poderia ser tão bonita, não obtinha resposta. Não era como se ela quisesse ser assim, ela apenas era. Era. Isso doía como fogo e eles ainda tinham muito o que deixar queimar.

Não jogaria aquele contra a parede, não desta vez. Não rasgaria mais fotos nem quebraria suas coisas, porque, no final, quem sofreria mais seria ele. E sim, Fred poderia ser bem egoísta mesmo sem querer.

Depois de um banho frio e cheio de pensamentos e paradoxos inconclusivos, sentiu sua barriga roncar. Ficou feliz ao lembrar que ainda tinha a capacidade de sentir fome, pelo menos não estava tão prejudicado assim, não o quanto pensava estar. Sua dispensa não estava tão farta o quanto ele queria, então resolveu ir ao mercado que não ficava tão longe assim. Poderia comprar chá, algumas frutas e mais algumas coisas que não exigisse além do que ele aprendeu no breve curso de culinária. Resolveu ir a pé e queimar alguns neurônios com o sol castigante do Rio de Janeiro, costumava ser masoquista também.

De início, a luz do dia que já havia se formado atingiu seus olhos sem hesitar, era um dia bonito, até. Conseguia admirar a beleza mesmo com o tom caótico e rotineiro que a cidade se encontrava, mesmo quando preferia a calmaria. Mas sabia que no fundo estava em um estado desesperado para ver beleza em qualquer coisa que não envolvesse o nome dela no meio. Passou em frente da floricultura, mas não comprou nada, foi direto ao mercado, não queria perder tanto tempo mesmo que na verdade não tivesse muita coisa para fazer.

***

Não era cedo, nem tarde quando Cecília chegou a casa. Achava patético o fato de não conseguir se manter ereta sobre o chão, porém o bom de morar sozinha era poder privar todos de seu luto envergonhador. Seu estômago embrulhava, mas ela agradeceu aos céus por não ser nenhuma borboleta. Lembrou que ele matou todas sem nenhuma objeção.

Tirou seus grampos de cabelo enquanto tentava tirar seus sapatos, o que não deu certo justamente por sua falta de coordenação e pelo excesso de álcool em seu sangue. E em sua cabeça, em sua roupa, espalhado pelo quarto. Se arrastou pelo lugar, ainda escutava as vozes que tanto denegriam a imagem que ela nem mais se importava em preservar. Lembrava que retribuiu seus elogios fúnebres todos de volta e quase se orgulhou disso, mas no lugar preferiu cair no choro com seu corpo sendo tocado pela banheira que se enchia aos poucos. Tirou o resto da roupa que ainda vestia e com o cuidado que tinha e pelo pouco sentimento de zelo com seu corpo, tentou não morrer entrando naquela banheira.

Ninguém sentiria sua falta, pensando bem.

A água aos poucos cobria seu corpo, lhe dando uma sensação de proteção. Ninguém poderia tirá-la dali, ela não queria sair. Escutou algo arranhar a porta e percebeu que era Oliver, seu companheiro canino fiel.

Sorriu de lado para ele, que se deitou ali, ao seu lado, mesmo que do lado de fora. Ele era novo, mas ela tinha a impressão que o pequeno sabia de tudo, na verdade, eles sempre sabem. Desligou a torneira e encostou sua cabeça na borda da banheira enquanto sentia uma onda de sono lhe atingir.

***

A verdade é que Fred odiava elevadores, o deixavam tonto, teve que se segurar para não deixar tudo cair. Criticava o capitalismo, mas suas mãos estavam cheias de coisas que provavelmente estragariam antes que ele as ingerisse. Depois de fazer um malabarismo para pegar as chaves em seu bolso, ouviu um ranger de porta. Era da casa de seu vizinho, ou vizinha, não sabia bem, para falar a verdade faziam meses que ele não colocava seus pés para fora de casa. Não prestou atenção, não queria dar um “bom dia” para ninguém mesmo que esse fosse um pensamento bem errado de sua parte, mas ele não precisou dar. Sentiu uma fungada na parte de sua panturrilha e a ventilação abanar de rabo, impossível não direcionar seus olhos.

Viu um lindo e pequeno cachorrinho que fazia festa. Era a primeira… coisa… que fazia festa ao vê-lo. Assim, já se sentiram íntimos.

— Oi… — cumprimentou-o, deixando as compras do lado de dentro de seu apartamento. Se aproximou, devagar, não tinha medo, o bichinho exalava mansidão.

Observou ao redor e tomou o pequenino no colo. Percebeu que aquela porta provavelmente deveria estar aberta antes, ou, pelo menos, presumiu. Já que sabia que cachorros não tinham capacidade de abrir portas. A não ser por aqueles da TV nos dias de domingo, mas ele não parecia esse tipo.

— Oi, seu fujão… — Sorriu, ela primeira vez em muito tempo enquanto o cachorro lambia seu rosto — Cadê o seu dono? Vamos entregá-lo a ele, você não pode andar por aí sozinho assim…

Deu algumas batidas leves na porta, não obteve respostas. Resolvi abrir, pelo menos mais um pouquinho já que a mesma mantinha uma fresta aberta. Colocou sua cabeça para dentro do lugar e disse sonoramente:

— Oi?

Nada.

— É que seu cachorrinho encontrou a porta aberta e resolveu sair… Estou deixando ele aqui, tudo bem?

Nada, novamente.

Estranhou, não entendia o porquê. Parecia ter gente em casa, aliás, parecia ter muita gente em casa, pois estava tudo revirado, parecia ter tido uma festa ali. Cheirava a cigarros secos e sabonete barato, a verdade era essa. Parecia que um furacão passou por ali e por motivos de pura curiosidade e intromissão, Fred resolveu entrar. Afinal, alguém poderia estar em perigo ou alguém poderia ser tão irresponsável a ponto de deixar a porta aberta e um cachorro fofo pronto para escapar.

Haviam roupas jogadas pelo sofá, resto de bebidas pelas mesas e qualquer coisa que pudesse suportar o peso de uma garrafa. Percebeu que quem morava ali tinha uma garganta e estômago igualmente fortes, pois nem ele conseguia tomar aquelas bebidas.

Não que isso significasse muita coisa.

Percebeu que vinha uma luz do banheiro. Não algo de caráter divino, mas uma luz, pois todas as outras estavam apagadas, não fazia tanta diferença por ter um astro iluminador no céu. Novamente, ele chamou por alguém até então desconhecido, sabia que banheiros são usados para coisas particulares, mas seus olhos não puderam deixar de notar.

Mãos.

Pés.

Igualmente frios, igualmente mortos, ou quase isso.

Os cabelos vermelhos, azuis, amarelos, verdes e mais cem cores pairavam sobre as águas com uma beleza sem igual, mesmo com a situação sórdida. A essa altura, ele não sabia onde havia colocado o cachorro ou o que de fato estava fazendo ali, Fred apenas sacudia a menina de um lado para o outro, como se fosse sair um gênio da lâmpada. Ele pediria a vida dela de volta, tinha certeza. Aos poucos, ela abria os olhos e exalava o resquício de vida que ainda pairava sobre seu corpo e sua alma.

— Quem é você…? — disse, ainda sem saber certamente onde estava ou o que estava fazendo. Sentia a voz sair do seu corpo assim como sentia tudo dentro de si remexendo, doendo, falando.

— Sou seu vizinho. O que diabos você pensa que está fazendo?

— Meu vizinho?

— É! — exclamou, falho. Estava perplexo.

— Você me trouxe uma torta?


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Notas finais do capítulo

Obrigada!



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