Guardião escrita por Michelle Hawk


Capítulo 2
Cidade nova, medos antigos


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde galerinha do bem, estamos postando mais um capítulo da nossa aventura!!! Espero que gostem da Julia e que digam o que acharam do capítulo, tá bem????

Dedico esse capítulo para as lindas pessoas que comentaram no prólogo e me deixaram soltando fogos de artifício de tamanha felicidade. Obrigada, amores!!
Obrigada também a quem marcou para acompanhar e a quem favoritou. Agradeço por estarem lendo, viu? É muito bom saber que vocês estão aí!!!!

Sem mais delongas, vamos ao capítulo...



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Julia acordou em um sobressalto, enquanto o suor escorria por sua testa. Aquele pesadelo havia sido tão real quanto ela sabia ser possível. Suas mãos ainda tremiam bastante e o coração acompanhava a respiração acelerada. Cada batida como se fosse a última.

Havia se tornado rotina ter sonhos como aquele, mas sempre em lugares diferentes. Por causa disso, passou a anotar seus pesadelos assim que acordava. Acendeu o abajur e pegou o bloco e uma caneta que ficava ao lado de sua cama. Escreveu, com detalhes, o que aconteceu.

O desespero do jovem ao tê-la morta em seus braços, os pais o acusando de ter causado aquilo, a promessa que ele fez: “— Eu prometo que tentarei chegar mais cedo da próxima vez, Lizzie. Eu prometo”. Anotou absolutamente tudo.

Quando percebeu que não havia esquecido nada, passou as páginas para ler os outros sonhos escritos. Na semana anterior, ela era uma judia presa em Auschwitz e o rapaz que a amparava nos braços era um soldado alemão.

Ela sabia que era apenas um infiltrado e que realmente não era um nazista, até porque as suas feições não eram aceitas por eles. Possuía incríveis olhos castanhos e cabelos escuros, coisa que fugia ao padrão imposto na época, na raça ariana. Julia chegou a se admirar pelo fato dele ter total acesso ao campo de concentração, sendo claramente que não fazia parte daquilo.

A única coisa que não via, em seus sonhos vividos, era a sua morte. Sempre era antes ou depois dela, mas nunca a via acontecer. De certa forma agradecia por aquilo, mas ao mesmo tempo sentia-se incompleta. Precisava ver o que acontecia.

— O que houve, Julia? — Tina perguntou. Os cabelos longos e escuros caindo por sobre o busto coberto, escondendo metade de um pijama com a cara do Garfield estampada na camisa.

— Não foi nada. Pode voltar a dormir — respondeu colocando o bloco e a caneta na cabeceira da cama e desligando o abajur. Voltou-se a deitar nos macios lençóis, antes que sentisse alguém ao seu lado.

— Eu sou sua irmã e isso que aconteceu não parece “não ser nada” — a jovem comentou, religando o abajur e encolhendo-se na cama de Julia.

— Tive outro pesadelo — deu-se por vencida, dividindo seu cobertor com Tina.

— O mesmo rapaz?

— Sim, exatamente o mesmo rapaz — suspirou pesadamente. Acomodou a cabeça no travesseiro que a jovem, de cabelos castanhos, prontamente tomou metade para si —, mas não era o mesmo sonho. Foi algo diferente agora.

— O que você viu? — a irmã apoiou a cabeça na mão, de forma que pudesse ter total visão de Julia. A ruiva fez o mesmo.

— Era em Londres. Fazia frio e eu me vi morta novamente — respondeu. — Ele chorava e prometia chegar mais cedo, da próxima vez.

— Ai que horror — Tina tremeu como se tivesse frio. — Chego a passar mal com isso.

— Acredite quando digo que é pior para mim. É uma dor imensa reviver isso sempre — comentou permitindo que seus cabelos vermelhos se espalhassem pelo travesseiro, deixando o aroma de recém lavado invadir o local. — Sabe o que é pior?

— O que pode ser pior do que ter sempre o mesmo sonho?

— É saber que ele sempre está ali. O jovem de expressão triste — fechou os olhos na tentativa de formar uma imagem mental do sujeito. — Ele sempre a ama e sempre a perde. Parece ser um destino cruel — respondeu suspirando ao proferir as palavras. — Eu sinto a dor dele e isso me machuca imensamente.

— Julia, esse cara deve ser algum ator que você viu em uma propaganda de margarina e, de alguma maneira, sua mente está recriando a imagem dele.

— E como explica o fato de estar tendo sonhos seguidos a respeito de minha morte?

— Tem assistido filmes demais — a morena concluiu, beijou a testa da irmã e levantou-se. Regressou para a sua cama em seguida. — Durma, Ju. Amanhã é nosso primeiro dia de aula na escola nova e não podemos nos atrasar. Faça como a Marie e esqueça da vida nos braços de Morfeu — apontou para a mais nova do quarto, que mantinha a boca aberta em um sono pesado.

— É fácil falar — respondeu Julia por fim, desligando o abajur outra vez.

____ ღ ____

A jovem saiu da cama cedo naquela manhã. Não conseguiu pregar o olho depois do sonho que teve e, mesmo que quisesse, não conseguiria. Se olhou no espelho e percebeu o quanto uma noite mal dormida lhe fazia mal. Se amaldiçoou por ter olheiras tão evidentes e desceu para tomar o café.

— Bom dia, querida — o pai, senhor Adams, a beijou na testa. Ele não aparentava ter mais do que quarenta anos e parecia sempre muito bem-disposto, mesmo acordado a àquela hora. Colocou uma xícara na frente de Julia e sentou-se ao seu lado, servindo-a com café. Na mesa havia sucos, pães, bolos e biscoitos, mas a garota não sentia fome alguma.

— Obrigada — ela respondeu. O pai a olhou por um momento, enquanto a menina bebericava o café.

— Você está bem? — perguntou, deixando o jornal cair por sobre a mesa e levando sua total atenção para a filha.

— Eu tive o mesmo pesadelo, pai — respondeu encarando-o. — Sempre o mesmo rapaz e sempre me vejo morrer. Não tenho tido uma boa noite de sono há semanas.

— Não deve ser nada demais — o senhor Adams tomou um gole de seu café e enrolou o jornal. — Deve ter visto o rapaz em alguma propaganda de margarina e guardou para si. Agora sua mente dá o rosto dele a esses sonhos bobos. Está vendo filmes demais — Julia o olhou.

— Foi exatamente o que a Tina disse.

— Viu? É unânime então — o homem levantou-se da mesa e acariciou-lhe os cabelos. — Vou acordar a sua mãe e não se preocupe com isso. Está tudo bem — buscou uma bandeja, que estava no balcão, e a levou pelas escadas acima.

A jovem relaxou seu corpo na cadeira e puxou o celular do bolso do pijama. Havia uma mensagem de Anitta, sua amiga e vizinha. Ela e a ruiva se conheceram no mesmo dia em que a sua família se mudou para a aconchegante casa na rua tranquila. Não tardou muito para que a jovem sardenta e de longos cabelos castanhos, se aproximasse da recém-chegada e se tornasse sua amiga. Indo de encontro a todas as possibilidades e inabilidade de Julia de fazer amizade.

Na mensagem dizia que ela não iria para a escola hoje, porque sua mãe amanheceu doente. Anitta e a senhora Hill moravam sozinhas. O pai dela foi morto na guerra do Afeganistão, por causa de uma granada que explodiu o tanque onde estava. As duas sobreviviam graças a pensão do governo, justamente porque a mãe de Anitta era paralitica e não tinha condições de trabalhar.

Quando ela adoecia cabia a filha ajuda-la durante o dia, mais até do que já fazia. A senhora Hill era uma mulher muito bonita e jovem, mas desde menina não andava. Ela caiu de um balanço, quando tinha nove anos, e perdeu os movimentos das pernas. Casou-se muito nova e logo depois veio Anitta. A diferença de idade era bem pouca e as duas pareciam mesmo como irmãs, não como mãe e filha.

Julia respondeu a mensagem dizendo que iria informar a diretoria sobre o ocorrido e que anotaria tudo para que Anitta pudesse copiar depois. Estava distraída digitando quando a gata da família, Sydney, subiu na mesa ronronando e esfregando-se carinhosamente na mão da menina. Deitou-se impedindo que Julia continuasse, não deu a mínima importância para a comida e fechou os olhos azuis.

— Você é uma gata folgada — comentou a jovem, acariciando rapidamente a orelha do bichano que virou a cabeça na direção do carinho. Julia parou o afago e apertou o botão de enviar a mensagem, antes que Sydney virasse de barriga para cima, para que Julia também lhe acariciasse ali. — Isso é golpe baixo, moça.

Alisou a barriga da gata por um tempo, ouvindo o ronronar ficar cada vez mais forte, antes que suas irmãs também acordassem e descessem para tomar o café.

— Está melhor, maninha? — Tina perguntou.

— O que a Ju teve? — quis saber a mais nova.

— Nada, Marie, apenas os mesmos pesadelos — respondeu quando Tina tirou Sydney da mesa. Julia protestou, porque ainda afagava o animalzinho, mas a irmã fingiu que não era com ela, sentando-se na cadeira ao lado — Não suba mais na mesa, Sydney — a gata silvou para a menina e correu para a sala, aconchegando-se em uma das poltronas. Tina colocou uma xicara na frente de Marie e a encheu, fazendo o mesmo com a sua e completando a de Julia. — E vocês não parecem nada animadas para o primeiro dia de aula — comentou tomando um gole do café e reclamando porque estava frio.

— Que grande dia é o de hoje, hein? — comentou a mais nova em tom de ironia. — Três novatas caminhando para suas fogueiras. Os jovens são cruéis e você sabe disso, Christina.

— Primeiro, nunca me chame de Christina. Segundo, você sabe exatamente como se impor. Sabe que nenhum jovem pode conosco — piscou o olho para a irmã e ela sorriu.

— Não sei como vocês conseguem se tornar populares logo no primeiro dia — reclamou Julia.

— Você também pode, apenas tem que cativar os outros, Ju — Tina respondeu levantando-se e colocando a vasilha com o café para esquentar na cafeteira outra vez.

— Sabe muito bem que eu não consigo — Julia buscou o celular e o colocou no bolso do pijama outra vez. Lavou sua xícara antes de seguir até a as escadas e encontrar seus pais no meio delas. Beijou sua mãe e seguiu direto para seu quarto.

A realidade era que Julia nunca foi boa em fazer amigos. Talvez tivesse uma doença que a impossibilitasse ou a sua timidez fosse a responsável por isso, mas a verdade era que quase nunca confiou em alguém de fora de seu círculo familiar. Ela muito se admirava com o fato de Anitta ter conseguido a incrível façanha de se aproximar e mais ainda o fato dela ter permitido essa aproximação. Achou que estar em uma cidade nova contribuiria ainda mais para que ela se fechasse dentro de casa, com uma tigela de pipoca na mão e passasse os finais de semana inteiros assistindo tevê sozinha, enquanto suas irmãs aproveitavam a popularidade que sempre conseguiam ter.

Mas não foi isso que aconteceu. Julia acabou tendo a certeza que teria companhia na sua jornada cinéfila.

A jovem escolheu uma roupa que jugou ser ideal para o primeiro dia de aula — calça jeans, bata azul e sapatilha — e seguiu para o banho. Não demorou muito pois sabia o quanto seu pai era pontual com os horários de saída, ainda mais sabendo que ele tinha que estar no colégio mais cedo do que os alunos, já que era o professor de biologia. Fez uma maquiagem básica, apenas para esconder algumas espinhas ou as olheiras acentuadas e prendeu os cabelos em um rabo de cavalo simples. Quando percebeu estar pronta, pegou sua mochila e desceu para esperar o resto de sua família também se arrumar.

Sentou-se em um dos lugares do sofá e respirou de maneira profunda.

— Seu pai me contou sobre o sonho — comentou a senhora Adams e sentou-se ao lado da filha. Usava um robe de seda creme e tinha os cabelos loiros soltos. Assim como o pai de Julia, a mãe não aparentava ter mais de quarenta. — Você quer conversar, amor?

— Não se preocupe com isso — respondeu de maneira doce. Ouviu seu pai e sua irmã dizer que era coisa de sua cabeça, não queria que mãe dissesse o mesmo. Embora Willa fosse diferente.

Sempre estava disposta a fazer um carinho quando as filhas estavam tristes e sempre as ouvia. Independente do assunto da conversa. Era uma mãe excepcional.

— Posso dizer o que eu acho? — perguntou. Julia a olhou antes de assentir. — Os sonhos muitas vezes são expressões do que sentimos — ela colocou uma mecha do cabelo da filha para trás da orelha. — É sempre um rapaz que você nunca viu, não é?

— Sim, sempre o mesmo rapaz.

— Sonhar com alguém que não conhecemos pode representar que você tem alguma coisa particular sua, que tem escondido, e que breve poderá ter que enfrentar — Julia franziu o cenho. — E se ver morto, significa que terá uma riqueza — A ruiva sorriu e a mãe a abraçou. — Viu? Nem sempre um sonho é ruim — separou-se e beijou a sua testa, no mesmo instante em que Bruno, o pai, desceu as escadas acompanho pelas filhas.

— Vamos andando ou nos atrasaremos — comentou se aproximando da esposa e beijando-a rapidamente. Willa despediu-se de todos e esperou na porta até que tivessem ido.

Quando percebeu que estava sozinha, levou a mão até a boca e foi impossível impedir que as lágrimas começassem a correr. Dirigiu-se rápido até a mesinha do telefone e digitou um número. Aguardou dois toques antes que uma voz rouca feminina atendesse.

— Alô!

— Mãe? — soluçou antes de continuar. — Eu preciso de sua ajuda.

— Willa, se acalme. O que houve, amor? — a senhora perguntou do outro lado da linha.

— Eu não quero perder minha filha outra vez, mãe — soluçou e encolheu-se no sofá.

— O que há com ela?

— Os pesadelos começaram. Agora é só questão de tempo — Willa suspirou — Eu vou perder a minha menina novamente. Eu não aguento mais isso. Por favor, me diz que achou alguma coisa que possa impedi-los.

— Estamos procurando, amor. Os outros estão bem confiantes agora, achamos alguns livros antigos que podem nos ajudar e estamos trabalhando incansavelmente — a senhora Adams conseguiu perceber que a senhora sorriu e aquilo a acalmou. — Nós vamos salvá-la, está bem? Não se preocupe.

— Obrigada.

— Descanse — respondeu a senhora por fim e desligou o telefone. Willa encostou-se no sofá e apenas poderia torcer para que a mãe realmente descobrisse algo que pudesse salvar a vida da sua menina. Que pudesse salvar a vida de Julia.


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Notas finais do capítulo

É isso amores lindos!!!
Espero que tenham gostado!!
Um beijão enorme para vocês e até o próximo capítulo!!!
Byeeeeee...