Olivia escrita por Loren


Capítulo 21
Diretor




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/658054/chapter/21

***

Seguimos a figura alta e esguia de McGonagall.

Malfoy resmungava que era um sacrilégio ele estar sendo levado para a diretoria ao invés da enfermaria. Se eu já não soubesse que estava em problemas, teria que reprimir a inevitável risada do estado do loiro. Segurando um pano contra o nariz, o qual já nem sangrava mais, apressava os passos para alcançar a professora. O que era um pouco difícil, visto as longas passadas que ela possuía, mesmo que o Sonserino tivesse crescido nas últimas férias.

Chegamos em uma estátua dourada de um Grifo, posto dentro de um nixo nas paredes. A estrutura mostrava a criatura de pé, com as asas erguidas à sua frente, deixando seu tronco à vista. Parecia nos querer convidar ao seu abraço, mas sua expressão parecia mais convidar a um jantar. A professora nos indicou para aproximar-nos. Depois de entalarmos na entrada por conta da falta de educação de Malfoy, sairmos e ele entrar primeiro, esperamos a próxima ordem.

No entanto, McGonagall apenas murmurou algumas palavras e esticou os dedos, como que se enfeitiçando a estátua. Em seguida um barulho de pedras começou e o Grifo se mexeu, virando-se para a direita e subindo. Aos meus pés uma escadaria em espiral ascendeu juntamente da estátua. Subi no primeiro degrau e as escadas continuaram a subir. Acima de mim, apenas uma luz amarela era visível. Alguns segundos se passaram e apenas nesse meio tempo, eu sentia meu peito afundar-se em uma angústia desesperadora.

Eu havia desferido um soco em um aluno. Eu havia socado um Sonserino. Pelos céus, eu havia metido a mão na cara de Malfoy! Apenas um encontro com seu pai e era o suficiente para saber que aquele homem era problemas. Imagina atacar seu filho! Pensei em Hagrid, o qual já estava com uma corda no pescoço, poderia ser despedido e ter uma de suas criaturas levadas para longe e isso porque o próprio Malfoy filho havia sido estúpido de querer enfrentar um animal três vezes maior que si. Se Hagrid já estava em tal situação, já podia ver meu futuro.

Suspensão? Bobagem. Expulsão? Provavelmente. Pelo pai do loiro eu já poderia ser encaminhada à guilhotina. Tentando ser positiva, seria expulsa. E jamais veria aquele castelo ou meu salão outra vez. Justo? Justo. Não podia reclamar. Eu havia machucado outro aluno. Em defesa, sim, mas não era necessário que a defesa fosse física quando o ataque tivesse sido verbal. Era justo. Mas eu não podia negar a tristeza que começava a instaurar-se em mim. Quando a escadaria parou, pulei para fora do nixo e observei a enorme porta de carvalho com os ombros caídos.

Malditos nervos, pensei.

—Veja bem essa porta. Porque será a última vez que a verá. A porta e o castelo inteiro.- aconselhou friamente o Sonserino sem me fitar.

Foi à frente para abrir a porta. Ao menos, teria valido à pena ver o tão elegante Malfoy, contorcer-se em uma corcunda, passando pelo mesmo que passei na primeira vez para abrir a pesada porta. Não pude conter um riso. Este, furioso e com os fios da fronte bagunçados, me fitou descrente.

—Consegue fazer melhor?- provocou.

Aproximei-me e bati três vezes na madeira. Em seguida, o barulho de tranca se fez lá dentro e a madeira começou a mexer-se lentamente. Ele me olhou com desgosto.

—Professor Dumbledore gosta que batam na porta primeiramente.

Ele bufou, ajeitou os cabelos e as vestes, adentrando no recinto como se fosse um lorde de extrema importância. O segui, balançando a cabeça, dessa vez eu descrente: com meu destino e com a capacidade de idiotice daquele rapaz. Respirei fundo e outra vez, entrei na sala do diretor. O mesmo estava sentado em sua mesa, lendo algum pergaminho ou o que quer que fosse que jazia no tampo. Sem nos olhar, indicou para aproximar-nos com seus dedos longos e enrugados. Com passos lentos e a cabeça baixa, cheguei perto e me mantive em silêncio. Não se podia dizer o mesmo de Malfoy.

—Que bom que pôde ceder um pouco de seu tempo, diretor. Que o senhor saiba que esta... lufana- apontou-me com a expressão de asco-, atacou-me fisicamente! Espero que o senhor tome uma atitude a respeito...

O diretor não disse nada e nem mesmo usou de sua voz para pedir silêncio. Apenas ergueu o dedo indicador e continuou a escrever no pergaminho com a outra mão. Impressionei-me que Malfoy era capaz de seguir uma ordem sem que fosse a de seu próprio consciente. Mas não era nada fora do normal: era Dumbledore. Não levou mais que um minuto para o barulho arrastado da ponta da pena contra o papel parar. Em seguida, o diretor recostou-se para trás e juntou as mãos, observando-nos com um olhar atento e inquisidor. Não parecia bravo, não parecia decepcionado, não parecia entediado. Apenas nos analisava sem dizer uma palavra.

O Sonserino começou a perder a paciência e sua perna tremia levemente, demonstrando sua ansiedade. Queria falar, sem grandes rodeios ou a educação básica, como o usual. Porém parecia segurar-se perto do diretor. Não era tão estúpido como pensava. Desviei o olhar de sua perna para o senhor à minha frente, mas logo abaixei a cabeça, sentindo as bochechas se avermelharem com tamanha vergonha.

—Ouvi dizer que houve uma briga no pátio. Feita pelos dois.- começou a dizer, com a voz calma e seus dois dedos indicadores apontados a nós.

—Olivia me agrediu!- Dumbledore arqueou uma sobrancelha, tendo o olhar um pouco incrédulo.- Como o senhor pode ver.- insistiu Malfoy, indicando o nariz, o qual havia um fino filete de sangue seco.

Era somente um filete, não um riacho. Suspirei e com os olhos para meus sapatos lustrados, esperei pelo sermão.

—E imagino que senhorita De Angellis tenha feito tal agressão com alguma razão.- erguei o olhar, totalmente pega de surpresa pelos dizeres. Dumbledore não me mirava, os olhos azuis celeste fitavam os olhos cinza.- Pelo menos é muito difícil de encontrar Lufanos que encontrem tal atitude prazerosa. Acho até que senhorita De Angellis seria a primeira. Ou estou errado, senhor Malfoy?

Estava preparada para mais um discurso sobre injustiça recheado de atrevimentos, mas ao virar-me para o loiro, o vi de lábios apertados e o maxilar travado. Pelo aperto que seu punho fazia, julgo que estava bravo, mas nem por isso respondeu de maneira malcriada. Pela segunda vez na vida impressionei-me com o rapaz. Cheguei a pensar que sua hesitação talvez fosse por algum respeito ao professor? Porém não durou muito.

—O meu pai vai saber disso.- Dumbledore, no entanto, apenas sorriu, de maneira bondosa.

—Não há vergonha ou humilhação alguma em admitir um erro, senhor Malfoy. Espero que o senhor saiba disso.

O sonserino apenas bufou e virou as costas, saindo como um furacão ou uma criança mimada. Se em algum momento eu havia me impressionado com o Sonserino, tal momento havia acabado. E eu não conseguia nem mais lembrar quais eram as razões de eu me surpreender. Revirei os olhos quando a porta bateu. Em seguida uma risada baixa me fez voltar a consciência e percebi Dumbledore me observava.

—Acredito que a senhorita também não seja uma grande fâ do senhor Malfoy.- encolhi os ombros, um pouco envergonhada, mas sem segurar a língua.

—Com todo respeito senhor, não acredito que alguém consiga ser um... fã de Malfoy.

Dumbledore riu novamente e indicou a cadeira de encosto alto e veludo carmim velho. Com passos incertos e lentos, sentei-me à frente da mesa e continuei a apertar minhas mãos, já sentindo-as suar.

—Bem, senhor Malfoy com certeza não se encontra à disposição para explicar o ocorrido. Então...- bateu as mãos e estendeu as mesmas para mim, incentivando-me a falar.

—Eu não sei qual foi o motivo da briga, professor. Eu estava voltando da casa do senhor Hagrid quando vi o rebuliço no pátio. Quando me aproximei, um dos meus colegas disse que eram Alene e Gale, em alguma briga com Malfoy.- ele juntou as sobrancelhas.

—E qual seria a razão da briga?- eu dei de ombros.

—Não cheguei a saber. Quando me coloquei no meio da roda, fui ajudar Alene e íamos embora. Mas Malfoy começou a xingar todas nós e Gale estava quase chorando. Senhor, Gale nunca chora.- ressaltei para que entendesse o quão grave era aquilo mas Dumbledore apenas disse:

—Todos choramos, Olivia. O que pode acontecer é que algumas são pessoas são fortes ou orgulhosas demais para fazê-lo em público. Então foi o momento que a senhorita desferiu um soco no senhor Malfoy?- senti as bochechas esquentarem.

—Sim...- admiti baixinho e logo suspirei.- Não há desculpa para isso. Eu senti raiva. Muita, muita raiva. E queria fazer Malfoy fechar a boca. Eu sinto muito.

—Isso já aconteceu antes?

—Sim, senhor.- respondi com a garganta seca e sentindo as mãos apertarem cada mais entre si.- Duas vezes.

Ele me observava com uma mão sobre a boca, parecendo debater algo consigo mesmo sobre minha resposta. Após um minuto me remexi na cadeira, já desconfortável com o diretor me olhar mas não me ver. Estava perdido em pensamentos e eu perdida no que fazer.

—Muito bem. Conversarei com os outros alunos presentes, para enteirar-me melhor do ocorrido. Mas a senhorita e o senhor Malfoy terão detenção, além de menos vinte pontos.- deixei os ombros caírem, desanimada e cada vez mais nervosa.

—Sim, senhor.

—Então me diga... Está animada para o passeio de Hogsmeade no próximo final de semana?- arregalei os olhos, incrédula.

—Senhor?

—Senhorita?

—Passeio? Hogsmeade? Eu poderei ir?

—Eu mandei a permissão para sua mãe, ela não lhe disse?

—Sim mas... Eu não serei expulsa?

Dumbledore sorriu largamente e pude notar que estava segurando-se para não rir. No entanto, apenas balançou a cabeça.

—Não, senhorita De Angellis. A senhorita não será expulsa. Ninguém é expulso de Hogwarts por uma briga ou outra. Nem mesmo as escolas trouxas fazem isso.

De repente, suspirei como se estivesse prendendo todo o ar de meus pulmões. Minhas mãos se soltaram e meu olhar perdeu-se no chão, ainda atônita com a notícia. Em um segundo, levantei-me e tomei as mãos do professor.

—Obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada! Muito obrigada!

Dumbledore pareceu um tanto quanto espantado com minha reação, mas logo sorriu suavemente e tapeou levemente minhas mãos.

—Ninguém é expulso de Hogwarts por causar ou participar de uma briga, senhorita De Angellis. Caso contrário, a escola teria metade do efetivo dos alunos que tem.- assenti, todavia nervosa e mal podendo acreditar na sorte que eu tinha.- Saiba, no entanto, que notificarei sua mãe e os pais de Malfoy sobre o ocorrido.- engoli em seco.

—O senhor irá em meu funeral?- perguntei, sorrindo sem graça.

—Nicole continua com um pulso firme, não?- dei de ombros, sem dizer que sim mas também não negando.- Mas não se preocupe. Não acho que será necessário que me convide para tal evento. Vai sobreviver.

Suspirei e voltei ao meu assento, mais tranquila.

—Desculpe, senhor. Mas a última briga que participei... Minha mãe jurou que se eu fizesse outra coisa do tipo, eu não teria que me preocupar com o estado de meu uniforme para o dia seguinte. Não precisaria usá-lo.- expliquei, sorrindo amarelo e logo algo estalou em minha mente.- Não que minha mãe seja uma maníaca! Ou ruim para mim! É só o jeito de falar. Minha mãe...

Dumbledore ergueu a mão para mim, pedindo para que eu parasse e prendi o ar no mesmo instante.

—Não precisa se explicar, senhorita. Conheço Nicole. Sei do que fala.

—Ah que bom! Quando eu falava assim em Siena, todos os professores, diretores e outros mais da pedagogia achavam que minha mãe não tinha sanidade para me criar.- revirei os olhos, ao relembrar inúmeras vezes que coloquei minha mãe em reuniões com a diretoria da escola sem intenção.

—Entendo que possa passar outra ideia seu comportamento. Julgo que isso jamais a afetou?

—Nunca me faltou nada. Não há do que reclamar.

—Não digo de necessidades, senhorita Olivia, mas de sua rotina. Nada que fosse fora do comum ou que a preocupasse demais?

Talvez eu tivesse que ter percebido a pergunta não muito bem relacionada com o assunto anterior, mas no momento apenas pensei nas crises e surtos de pânico de minha mãe. Instintivamente neguei. Eu confiava em Dumbledore. Claro que sim. Mas ele não precisava saber. Ninguém precisava. Como minha mãe sempre me fazia lembrar.

—Não. Por quê?- respondi e perguntei defensivamente.

—Curiosidade, curiosidade.- abanou a mão como se estivesse espantando uma mosca.- Afinal a senhorita mudou-se de longe. Deve ter sido uma mudança grande para a senhorita. Dificuldades em se adaptar.- relaxei a postura.

—Um pouco. O clima não é para tanto. Sinto falta de algumas comidas mas nada que não possa ser providenciado.

—Bom, espero que a senhorita se anime com o Três Vassouras. O menu pode não ser de agrado total, mas há sempre alguma coisa ou outra que lhe abra o apetite.- franzi o cenho.

—Três Vassouras?

—Ah, que distração a minha! Não tem idade para entrar lá! Mas talvez Dedos de Mel ou Zonkos lhe anime.

—Desculpe, senhor, mas todas estes lugares soam como estrangeiro para mim.- comentei um pouco zonza com os estranhos nomes.

—São lojas de doces em Hogsmeade. A senhorita não ouviu falar?- após a breve explicação, os nomes me pareceram familiares.

—Ah, devo ter escutado em algum canto. Desculpe. Não me recordava.

—Quando a senhorita conhecê-las, não vai esquecê-las.

—Ah... claro. Bem... talvez ano que vem, não?

—Me atrevo a perguntar-lhe o porquê.- dei de ombros.

—Não sei. Não me sinto confortável com a ideia de ir sozinha... Serei a única do primeiro ano.

—Compreendo. Bom, a decisão será sua. Eu parto da opinião que toda ou nenhuma companhia será bem vinda se já tens a mais importante.

—Qual, senhor?

—A si próprio.- levantou-se e eu fiz o mesmo.- Mas não será eu a mudá-la de ideia. Pense no assunto. Talvez sinta-se mais à vontade na próxima semana. A permissão continua de pé, de qualquer forma.

—Obrigada, senhor. Pensarei a respeito.

—A propósito, sua detenção estará nas mãos do senhor Filch. Procure por ele para saber o que terá que fazer. Não terá a obrigação de fazê-lo no final de semana, a não ser que seja de sua escolha.- disse, enquanto acompanhava-me até a porta.

Senhor Filch, o zelador. Prendi um suspiro. Eu não poderia reclamar. Era o mínimo que devia fazer, após começar uma briga e ter a sorte de não ser expulsa.

—Obrigada, diretor. Irei procurá-lo.

Dumbledore sorriu para mim e retirou a varinha das vestes, balançando-a para a porta. A mesma abriu-se e o professor deu dois tapinhas em minhas costas, antes de despedir-se e voltar para seu recinto. Eu desci as escadas sentindo apenas gratidão, fosse Dumbledore, os céus, Merlin, o que quer que fosse que poupara de um fim trágico. No entanto havia ainda outro destino a se enfrentar e a fera desta vez não seria tão amigável com as notícias: minha querida porém estressada mãe.

***


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Qualquer erro de ortografia, concordância ou fatos, por favor, avisar. Agradeço!
Espero que tenham gostado.
Tentarei postar o próximo o mais rápido.
Beijos e abraços apertados da Loren.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Olivia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.