Olivia escrita por Loren


Capítulo 19
Salgueiro




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/658054/chapter/19

***

Acordei cedo demais.

E acordei assustada. Estava suando aos montes e ofegava incessantemente. Já havia amanhecido, mas provavelmente não era a hora do café, visto que Alene nem sequer havia saído da cama. Sem mais vontades de voltar à mais um dos pesadelos, me levantei e me arrumei para sair. Chegando ao Salão, vi que outras pessoas já estavam de pé. Uma dormia no sofá, com o livro aberto no peito e outros dois rapazes conversavam baixinho sobre qualquer coisa que não me chamou a atenção.

Chegando ao hall de entrada, vi que as portas do Grande Salão ainda estavam fechadas e decidi rumar os passos para o pátio da entrada. Passei pela fonte e respirei fundo, agradecida pelo ar limpo do dia e do silêncio tranquilo que me rodeava. Um passarinho passou por cima do meu ombro e sorri, instintivamente, ao ouvir seu canto. O segui até a mureta que rodeava o pátio e observei ele descer a ladeira. Dali era possível enxergar a cabana do Guarda-Bosques e a Floresta Proibida. Ainda conseguia ver a silhueta pequenina e azul, quando ela dobrou uma esquerda e sumiu quando chegou perto de uma grande árvore, a mesma que quase me assassinara no ano passado. Eu nunca havia a reparado antes. Era linda.

Seu tronco era grosso e suas raízes tão grandes que ficavam expostas em uma parte, antes de se afinarem e sumirem por baixo da terra. Eu não saberia dizer como eram seus galhos, visto que estes estavam repletos de folhas. Mas sabia que eram muitos pois sua folhagem era em excesso e só a fazia parecer maior ainda.

—Gostou?

Dei um pulo para trás com a voz grossa e rouca soar de repente. Virei-me e tive que erguer o rosto mais do que o necessário para buscar o responsável pela minha surpresa.

—Oh, bom dia, senhor Hagrid.

Ele riu um pouco.

—Senhor Hagrid? Ora, gostei disso. O que faz aqui, senhorita?

—Eu perdi o sono. E o Grande Salão ainda está fechado. Decidi pegar um pouco de ar.- respondi, dando de ombros.

—Ah, sim. A senhorita estava observando a árvore?- ele perguntou, apontando.

—Sim, sim. Eu não havia reparado nela antes. É muito bonita.

—É um Salgueiro Lutador. Deve-se tomar cuidado.

—Por quê? E por que esse nome?

—Ele não gosta muito de visitas.- respondeu e virou-se para entrar no castelo e curiosamente ou não, eu entendia.

Antes disso, eu olhei mais uma vez para a árvore e então chamei o Guarda-Bosques outra vez. No futuro, se eu não tivesse pedido aquele favor, talvez... Bem, talvez não tivesse feito diferença alguma.

***

—Como assim você não pode passar a hora livre conosco hoje?

—Íamos jogar snap explosivo. Ou algo assim. Gale que quer nos apresentar esse estúpido jogo de cartas.

—Não é estúpido. É super divertido. Melhor do que um livro de Poções.

—Eu não gosto de Poções. Eu tenho dificuldades em Poções. É diferente.- replicou Alene, envergonhada e guardando o livro na bolsa.

—Pelo amor de tudo que vocês prezam, calem a boca! Às vezes vocês atordoam os ouvidos de quem está perto, sabiam?- pedi, massageando as têmporas.

—Então diga que irá jogar conosco e eu silenciarei minha voz.- eu e Ale a encaramos, descrentes.- Por alguns segundos, mas já será muita coisa.

—Podemos jogar à noite. No meu horário livre já tenho coisa para fazer.

—O quê? O quê?! Chegamos ontem no colégio e você já tem coisa para fazer? Você só conversa conosco e com aquela...- de repente, Gale arregalou os olhos e logo os semicerrou.- Foi ela, não foi?

—Ela quem?

—Aquela garota da Grifinória. Eu sabia que ela não era boa coisa! Eu sabia!

—Gina não tem nada a ver com isso. E você adorou ela, não negue.

—Que seja. O que, raios, você vai fazer então?

—É coisa minha, não é nada demais e podemos jogar à noite. Fim da conversa.

Gale e Alene reviraram os olhos.

—Certo. Tanto faz. Vamos para a aula agora? E parem de me olhar assim.- pedi, torcendo para mudarem de assunto.

—Ah estou tão animada! Nossa primeira aula de Defesa Contra as Artes das Trevas! Isso é maravilhoso! Como acham que é aquele professor?

—Não sei o que pensar. Pareceu educado, mas parece não saber nada.- comentou Alene.

—Eu acho que ele deve ser bom. Pelo menos, melhor que o do ano passado. E você, Oli?

—Não sei. Não parei para pensar nisso. Acho que prefiro descobrir na hora.- respondi, mas no fundo, eu sentia algo estranho quando pensava naquele professor.

Não que ele parecesse mal ou rude. Pelo contrário, parecia agradável e muito educado. Mas eu sentia que havia algo sobre ele não dito. Como um segredo. Eu só não sabia dizer se era um ruim ou muito ruim, pois não existem segredos bons. Quando se é coisa boa, se conta, fala, grita, espalha, porque está feliz. Se guarda, é porque no fundo não tem intenção boa. Eu achava isso. Bem, eu estava errada.

Aprendi depois que muitos contam as coisas boas para se aparecerem e outros guardam as ruins para não machucar ou perturbar os outros. Aprendi da pior maneira, porém a mais educativa: experiência própria.

***

—Muito bom dia. Meu nome é Remo Lupin, como já foi dito no jantar. Eu estava olhando sobre os assuntos que eu deveria ensinar, mas percebi que não há nenhuma lógica. Parece que cada professor deu um assunto diferente. Então, sendo assim, acredito que darei alguns assuntos parecidos nos três primeiros anos. Não se assustem. O nível de dificuldade será de acordo com cada ano. Alguma pergunta?

Ele tinha um jeito extremamente calmo. Falava de forma alta e centrada, mas sem estardalhaço. Eu gostei logo de primeira. Parecia ser um professor sério e, diferentemente do anterior, dava realmente atenção a nós, não ficando somente sentado atrás da mesa e admirando a si. Não, eu nunca consegui esquecer o primeiro professor, de tão ruim que ele era. De qualquer forma, a primeira aula havia sido divertida. Aprendemos sobre o Kappa¹, uma criatura com pele de peixe e bico de pássaro. Tinha mãos como de patos, uma cauda comprida e fina, com dentes bem afiados. A tarefa era um relatório sobre a criatura, incluindo o físico, classificação, forma de ataque e formas de remediar seu veneno.

—Primeira aula e já temos dever, meu Merlin!

—O que você esperava, Gale? Liberdade o ano inteiro?

—Não, mas tanta coisa no primeiro dia?

—Essa foi só a primeira aula. Sugiro que se recomponha.- aconselhou Alene e Gale revirou os olhos.

O resto da manhã girou em torno de mais duas aulas de Transfiguração, com a pausa para o almoço. Após, tivemos mais duas de Poções para finalizar o dia e assim já se reuniam três relatórios para fazer. Ao fim das aulas, Gale fora dormir, Alene dirigiu-se para a biblioteca e eu para os terrenos do castelo. Chegando perto do Salgueiro Lutador, me sentei em uma pedra e abri o caderno de desenhos, começando a rabiscar o contorno do tronco a lápis. Ora ou outra, ficava dois ou três minutos observando-a atentamente, pois jurava que a via se mexer e não parecia ser por causa do vento. Mas quando a fitava, estava estática. Tive a certeza que não estava louca quando me distraí com um passarinho e este recebera uma chicotada de um dos galhos. Eu arregalei meus olhos com o susto. E uma risada soou atrás de mim.

—Ela pode ser ciumenta se você lhe oferece muita atenção.- virou-se e encontrei o guarda-bosques sorrindo.

—Como ela pode ser tão viva?- exclamei, lembrando dos últimos acontecimentos, e ele riu outra vez.

—Acredito que toda árvore tenha vida.- observou e eu corei ao perceber o quão idiota foi meu comentário.- Mas sim, ela é viva de uma maneira diferente. Consegue se mexer com mais rapidez. Pode até mesmo ser perigosa. Não lida bem com proximidades também. Impressionante como ainda não tentou expulsá-la.- arregalei os olhos mais uma vez.

—Até quão longe os galhos podem alcançar?!- ele riu alto outra vez.

—Um pouco mais para frente, não se preocupe. Mas geralmente quando ela quer ficar sozinha, gira bem rápido seus galhos. Isso assusta os visitantes.

—Oh... Senhor Hagrid?- ele assentiu.- Se ela pode ser tão perigosa assim, por que ela está plantada aqui? Nos arredores do colégio? Não é perigoso?

—Bom, que é perigoso, é. Mas foi escolha do diretor. Tinha um porquê da árvore ser plantada naquela época, mas não me recordo bem.

Ele limpou a garganta e aumentou o tom, olhando para os lados, como se temesse ser ouvido, mas ao mesmo tempo querendo ter certeza do que dizia.

—Acho que porque os alunos e alunas faziam muita bagunça por aqui. Isso não era adequado.

—Que tipo de bagunça?- ele baixou o olhar para mim e de repente ficou vermelho

Relembrando, devia ter sido realmente um momento constrangedor para o Guarda-Bosques, mas ao mesmo tempo hilário para qualquer outra pessoa que entendesse.

—Ah... Erm... Nada. Bagunças. Bagunças que... todos alunos e alunas normais fazem. Em campos. Gramas. Jardins.- a cada palavra sua face tornava-se mais e mais vermelha e eu continuava sem entender nada do que ele dizia.- Ah não é nada do que tu teha feito e nem saiba, Olivia. E é bom que continue assim.- disse balançando a mão e relaxando.- A não ser se quiser ter filhos algum dia e...

—O que ter filhos tem a ver com bagunça em jardins?- sua face avermelhou-se outra vez.

—Eu... Eu... não devia ter dito isso. Não devia ter dito isso.

Ele se virou em direção a cabana e seguiu seu caminho, repetindo a frase anterior inúmeras vezes. Dei de ombros e voltei-me para a árvore. Ela estava imóvel. Se tivesse algum movimento, passaria a ideia de que era por causa do vento. Brincava comigo mesma de que era uma ótima atriz. Chegava até dizer que de todos seus atributos, era esse que eu gostaria de ter.

***

—Ganhei! Ahá! Lidem com isso!- exclamou Gale pela terceira vez consecutiva e fez a dançou sentada no colchão com os braços para cima.

—A dança da vitória não, Gale, pelo amor de Merlin!- pediu Alene revirando os olhos.

—Garota, se tu não consegue lidar com meu glamour, comece a aprender, porque isso só irá aumentar.- sugeriu par a gringa e balançou os cabelos crespos.

Eu apenas ri e juntei as cartas para embaralhá-las. Depois de distribuí-las, começamos outra partida. Enquanto Gale e Alene argumentavam sobre alguma regra, eu observava Sr. Garboso dormindo na janela. Até mesmo dormindo ele não deixava a pose que seu nome carregava. As costas ficavam eretas e nem abaixava a cabeça entre as asas. Parecia que apenas tinha olhado para baixo e fechado os olhos. Assim mesmo dormia.

Desviei o olhar para minha cama e ali estava jogado meu cachecol. Ao ver as cores, sem porquê, me lembrei da Sr. Sprout, a qual havia esbarrado hoje mais cedo e me perguntara se eu iria à Hogsmeade no final de semana. Eu não dei certeza. Realmente não sabia se iria ou não. No fim, provavelmente eu iria dizer não, mas no fundo eu sentia uma vontade foraa do comum de sair do castelo, sem ser ter que pegar o trem. Mas ainda assim...

—Alô? Terra para Oli! Anda, garota. Se continuar lenta assim, vou roubar sua vez sem dó.

—Não seja tão suja, Gale.

—Jogo é jogo, minha cara.

—Isso é um lado Sonserino o qual estava escondendo?- perguntou Ale com um sorriso de canto.

—Blefe, querida Ale. Aprenda a usar.

Eu ri e joguei.

—O que foi Oli? Está quieta hoje. Chega a ganhar de Alene.- comentou Gale enquanto jogava.

—Exceto quando vocês duas estão discutindo.- a negra² piscou e apontou o dedo para mim.

—Um ponto para ti, garota. Mas sério, o que houve?

—Ah nada... Eu tenho que decidir se irei para Hogsmeade esse final de semana ou não...

—Hogsmeade? O povoado?- eu assenti.- Mas é somente para alunos de terceiro em diante.

—Sei disso, Ale. Mas minha mãe falou que Dumbledore permitiu minha ida se...

—Opa, opa! O próprio Dumbledore? Falou com sua mãe? Para permitir que quebrasse uma das próprias regras da sua escola?- eu assenti para todas e Gale sorriu cruzando os braços.- Uau, eu amo esse cara! O que tu fez para conseguir isso? Dá para me ensinar?

—Eu não fiz nada. Ele que sugeriu para minha mãe dizendo que por eu ter a idade do terceiro, estou apta para esses passeios.

—Tu deve ser importante para ele, Oli.- observou Ale.- Ou talvez sua mãe. Já conheci alguns alunos com as idades incorretas por aqui que não necessariamente tiveram previlégios. Tu não é a primeira a ter idade incorreta, apesar de ser raro.- arregalei os olhos.

—Sério? Que coisa... mas não sei o que pode ser. Não conhecia Dumbledore até ano passado, quando ele foi em casa para me contar sobre Hogwarts.

—Opa outra vez! O próprio diretor foi na sua casa para te convidar a vir nas aulas?! É isso mesmo?!- exclamou Gale com as mãos espalmadas para mim.

—Sim? Qual o problema?

—Não é incomum ter professores avisando alunos nascidos trouxas pessoalmente sobre sua magia. No meu próprio caso, o professor Snape foi em minha casa.

—Quanta má sorte.

—De qualquer forma- continuou Ale, ignorando a negra-, não acredito que seja comum o próprio diretor ir à casa de um aluno. Ainda mais que sua mãe é bruxa. Ela poderia ter te contado.

Eu não havia contado para elas tudo sobre minha mãe. Sobre seus surtos ou sobre o fato de que ela própria havia escondido a verdade até meus doze anos.

—É... A Alene tem razão. Garota, o que tu tem, mel?- eu ri da piada da negra e ela balançou a cabeça.- Bem, que é estranho, é. Não vou discordar. Mas não é isso que importa agora, o que importa é que tu vai nesse passeio e vai trazer esses doces maravilhosos que todo mundo fala que lá tem...

—Eu não sei se vou.

—Como assim não sabe, garota? Por que não iria?! Olha a oportunidade! O que eu não daria para escapar umas horinhas dessas paredes frias e mortas, desse ar gélido a correr pela pele...

—Começou.- disse Ale já vendo o drama característico de Gale.

—E de escapar da cara sem graça de nossa chata Alene! Por favor, vai e aproveite por mim!- pediu, juntando as mãos.

—Primeiramente, sem graça Gale. Por fim, Oli deve escolher o que quer. Pare de ser a voz ruim do ombro esquerdo.

Gale olhou para Alene e depois para mim. Depois olhou para um canto da parede e falou baixinho.

—Vá, Olivia... Vá... Aproveite... Não escute a entediante Alene...

Alene jogou um travesseiro e logo as duas estavam quase estraçalhando todos os travesseiros da cama. Eu apenas ria, mas logo Sr. Garboso acordou e piou alto para que as duas parassem.

—Desculpe, Sr. Garboso.

—Perdona cariño!- disse Gale mandando um beijo.

Em resposta, ele virou a cabeça para trás.

—Coruja orgulhosa essa sua.- outro pio.- Perdona! Enfim... Vai sim, Oli. Aproveita. Espairece um pouco.- suspirei.

—Sinceramente, pensava em ir. Mas não sei bem... Não queria ir sozinha. Não há ninguém com quem eu possa ir.

—Na verdade tem.- franzi o cenho, confusa.- O trio maravilha. Digo, a dupla, porque a terceira acho que tu não é tão íntima.

—Quem?

—Ela se refere a Harry Potter e Rony Weasley, Grifinória. Eles e Hermione estão sendo chamados assim ultimamente. Andam sempre juntos.

—Vá com eles. Tu conhece os meninos.

—Mas não sou próxima.

—Ótima oportunidade para começar a ser! Vamos lá. Eles parecem ser bem legais e não parecem ser nojentos, apesar dos comentários da Sonserina.- olhei para Ale e ela concordou com a cabeça.- Apenas diga que procura por companhia, que está sozinha e etc etc.

—Mas e se eu estiver incomodando?- as duas reviraram os olhos.

—Pela quadrigésima terceira vez, tu não incomoda, Olivia. E se tu realmente pensar que sim, então depois tu se separa deles. Apenas peça para ir com eles até Hogsmeade. Ao menos, não irá sozinha até lá.

—É... Pode ser. Vou pensar sobre o assunto.

—E se isso não for suficiente- acrescentou Gale sorrindo de lado-, ouvi dizer que muitos alunos do sexto ano da Lufa-lufa visitam Hogsmeade.- e piscou.

Minhas bochechas coraram automaticamente e Alene disparou a rir. Dessa vez, quem jogou o travesseiro foraa eu. Após alguns minutos fomos dormir. Todas com a cabeça diretamente no colchão, visto que os travesseiros se desfizeram em penas pelos lençóis das camas e o chão do quarto.

***


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

¹Sobre o Kappa eu pesquisei na internet as imagens e mitos da cultura japonesa, pois não me recordava do que estava escrito no livro e, infelizmente, não estava a mão. Se tiver algum erro, sinta-se à vontade para avisar. Obrigada.
²Eu costumava usar o termo “morena” para Gale, mas Gale não é morena. Gale é negra. Isso, provavelmente, não ficava tão explícito anteriormente. Acredito que assim seja mais justo para com ela. :)

Um capítulo sem muito movimento, concordo. O próximo será melhorzinho. :)
Beijos e abraços apertados da Loren.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Olivia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.