Olivia escrita por Loren


Capítulo 15
Bondade




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***

Acordei quando tentei me virar na cama, mas minha cabeça ardeu loucamente.

Abri os olhos no mesmo momento enquanto levava a mão à minha cabeça. Estava enfaixada. Aos poucos me acostumei a luminosidade do local e reconheci como a enfermaria. Me sentei com esforço e olhei ao redor. Estava apenas eu ali. Na mesa ao lado, flores novas em um vaso e alguns doces estavam postos ali, juntamente de alguns cartões. Eu sorri, quando reconheci a letra de Gale e Alene, mas continuava confusa.

—Bom dia, senhorita De Angellis.

Virei o rosto e encontrei Dumbledore aproximando-se, naquele passo calmo com seu sorriso tranquilo de sempre.

—Professor Dumbledore... O que aconteceu?- perguntei assim que ele se sentou nos pés da cama.

Ele respirou fundo e apontou para minha cabeça.

—Como se sente?

—Um pouco dolorida. O que aconteceu?- insisti.

—Você desmaiou depois que o Basilisco a jogou contra uma das estátuas.- eu fiz uma careta.

—Nossa. Ainda bem que desmaiei. A dor deve ter sido horrível.- ele riu baixinho.

—Com certeza.

—E o que aconteceu com o... Basilisco? E Harry? Oh meu Merlin, e Gina?! E Ron? Como estão todos...

—Acalme-se, acalme-se, pequena. Estão bem. Estão bem. Harry matou o Basilisco. E Gina acordou depois que a lembrança foi destruída.

—Aquele rapaz... Quem era, professor?

Ele pegou o ar e me olhou atentamente antes de responder. Provavelmente pensando se deveria falar ou não.

—Aquele rapaz era a memória do diário: Tom Marvolo Riddle.

Eu abri a boca em completo espanto.

—Céus... Que loucura!

—Sim, mas já está tudo bem. Acabou. Todos estão bem e todos os petrificados já acordaram.

—Ah, ainda bem.

Eu me virei e peguei uma das tortas de abóbora. O professor continuava a me fitar e aquilo me deixou um pouco desconfortável.

—O que houve, professor?

—Você conseguiu entrar lá, falando por conta própria, não foi?

Eu engoli em seco. Assenti, abaixando a cabeça.

—Tudo bem, Olivia. Tudo bem. Mas saiba que falar com as cobras não é um dom comum. Eu aconselho a guardar isso para si, está bem? É perigoso se algumas pessoas souberem disso.

—Até mesmo minha mãe?- ele apertou os lábios.

—Acho que sim. Será melhor. Esqueça esse assunto. Certo?- ele aconselhou, olhando-me por sobre os óculos meia lua e eu concordei.- Muito bem. Agora, descanse. Logo a Madame Pomfrey virá para liberá-la e você vai poder arrumar suas coisas.

—Eu apaguei por quanto tempo?

—Uns dois dias. A batida na sua cabeça foi muito forte. Não se preocupe, não perdeu nada importante. Mas é bom se apressar, a senhorita Gale já estava reclamando de que você dorme demais.- disse e levantou-se, parando antes de sumir pelo corredor afora.- Ah, só mais uma coisa, senhorita De Angellis. Se precisar de alguma coisa, alguma ajuda, pode falar comigo. Está bem?

—Sim, senhor.

E ele saiu, sereno como eu sempre o havia visto.

***

—Ah, aleluia! Achei que jamais ia acordar!- exclamou Gale, erguendo os braços quando me viu entrar no nosso quarto da Lufa-lufa.

Eu ri e caminhei devagar até minha cama. Minhas costas ainda doíam com o forte impacto que tive contra a estátua.

—Gracinhas para depois, Gale.- repreendeu Alene.

—É sempre depois.- suspirou e voltou a arrumar sua mala.

—Como você está, Oli? Dói muito?- perguntou Alene, sentando-se ao meu lado e pegando na minha mão.

—Não, não. Estou bem. Mas, me digam, quais são as novidades?

—Você entra na Câmara Secreta e pergunta para nós sobre as novidades?- respondeu Alene, com um olhar de cética mas rindo.

—Ah tudo bem. Temos uma. Podemos dizer que graças a você, querida Oli, nós não estamos mais em quarto lugar no Campeonato das Casas.- eu a olhei estranhada e olhei para Alene, que apenas revirou os olhos, ainda rindo.- Porque agora estamos em terceiro, passando a Corvinal! Uhu!- disse Gale e pulou em cima da cama.

—Mas por que graças a mim?

—Oh, é mesmo. Bem, digamos que Dumbledore lhe deu cinquenta pontos pela sua bravura e demonstração de amizade que teve em ajudar a aluna Gina Weasley, Ron Weasley e Harry Potter. Ele avisou isso no jantar que tivemos de celebração ao fim das provas e do monstro. Parabéns, querida. Você é famosa agora.- desceu da cama e voltou para suas coisas.

—Oh, meu Merlin!- eu ri, nervosa.- Isso é sério?

Alene confirmou, acenando com a cabeça.

—Relaxa. São só pontos.

—Só pontos...- resmungou a morena de costas.

—Enfim, quer ajuda para arrumar suas coisas?

—Oh, não. Tudo bem. Eu consigo arrumar sozinha.

Alguém bateu na porta e Gale foi abri-la, enquanto Alene voltava para suas coisas.

—Sim? Ah, mas é claro! Só um momentinho!- disse a morena, rindo e virando-se para mim, sem abrir a porta.- Oli, tem alguém que quer falar com você. Ali foraa. No corredor.

Eu saí, confusa com o tom melodramático e malicioso de Gale, mas quando vi quem era, prendi a respiração e entendi o porquê do estranho comportamento da minha colega.

—Oi Olivia.

—Ah, oi... Cedrico.- respondi, sentindo as bochechas corarem. Agradeci mentalmente pelo corredor estar escuro.

—Eu queria ver como você estava, eu não pude te visitar na enfermaria. Desculpe.

—Ah, tudo bem. Você tem mais o que fazer.- eu brinquei, abanando as mãos sem jeito. Ele deu uma risada e eu me lembro de tê-lo achado mais adorável ainda com aqueles fios caindo na testa.

—É bom ver que está bem. Soube que foi uma batida e tanto.

—É... Mas logo passa.

—Bem, é isso. Ah, é para você. Não sei se gosta, mas...- e me estendeu um sapo de chocolate.

Eu não era grande fã (sim, eu não era grande fã dos sapos de chocolate), mas o fato dele ter procurado algo para me presentear, me fez esquecer completamente daquele irrelevante fato.

—Oh, obrigada.

—Melhoras, Oli. Ah, e obrigada pelos cinquenta pontos.- ele agradeceu, me deu dois tapinhas no ombro e foi para seu quarto.

Eu suspirei, ainda sorrindo e me sentindo completamente sortuda por Cedrico Diggory ter ido falar justamente comigo. Entrei no quarto, sentindo que pisava em nuvens, quando vi o olhar zombeteiro de Gale e o de malícia de Alene.

—Quinto ano, Oli? Quinto? É. Estou surpresa.- comentou Alene, de braços cruzados e tom sério, mas sorria descaradamente.- Eu podia esperar isso de Gale, mas de você?

—Ei!- exclamou a morena, dando um tapa na gringa.

—Vou até terminar minhas malas, porque eu não sei mais o que faço com vocês duas!

—E aí, Oli, o que ele disse para você?

—Nada demais.- eu respondi, dando de ombros.- Toma.- joguei o sapo para ela.- Coma o doce, mas a figurinha é minha.

—Você nem coleciona!

—Mas a questão é quem deu para ela.- lembrou Alene, piscando um olho. Gale riu alto e jogou-se na cama, com aquele hábito de exagero dela.

—Vocês são tão terríveis que deveriam pertencer à Sonserina!

Gale começou a dramatizar que aquilo era um sacrilégio e eu ri, enquanto Alene jogava almofadas para Gale parar. No fim, fizemos uma última briga de travesseiros naquele ano. Era bom estar com elas. Era bom tê-las como amigas.

***

—Oli! Querida!- minha mãe gritou assim que me viu e correu para me abraçar.

—Calma, mãe. Deixa eu sair do trem primeiro.- disse, rindo.

Havia ficado um ano sem vê-la. E por mais que eu havia me sentido bem sem aqueles ataques constantes e seu instinto protetor sufocante, estava com saudades dela. Afinal, era minha mãe. E mãe é mãe. Independente dos seus defeitos, continua sendo mãe. E mãe é sempre o tudo que temos.

—Oh, querida. Dê-me aqui suas malas. Deixa que eu carrego.- ela disse as pegando e colocando em um dos carrinhos. Nos afastamos da multidão, indo em direção à coluna.- Dumbledore me mandou uma carta há dois dias. Eu quis ir te visitar na mesma hora, mas não pude. Desculpe.

—Tudo bem. Eu entendo.

—Olivia!- virei-me e pude avistar dois meninos se aproximando: um moreno e um ruivo.

—Harry! Ron! Que surpresa. Como estão?- perguntei logo após me afastar um pouco de minha mãe.

—Bem. E você?- os dois estavam limpos e com alguns curativos na testa e mãos, principalmente o moreno.

—Bem também.

—Como está a cabeça? Quando fomos vê-la, estava enfaixada.- perguntou o ruivo.

—Ah, já está melhor. Dói um pouco, mas não foi tão grave. Puderam até tirar a faixa. A Madame Pomfrey fez alguns pontos com magia, sem precisar raspar o cabelo.

—Ah que bom. Queríamos saber como estava.

—E agradecer.

—Pelo o quê?

—Pela ajuda que nos deu. Com as pedras e a espada.- respondeu o moreno, sorrindo.

—Ah, não foi nada. Era a vida de Gina e todo o colégio. Qualquer um teria feito o mesmo.

O ruivo riu e eu o olhei estranhada.

—Não. Não teria. Obrigada, Oli.- ele disse e me abraçou.

Em seguida, o moreno também me abraçou, um pouco sem jeito e hesitante.

—E não se preocupe.

—Seu segredo está guardado com a gente.

—Que segredo?- perguntei, quase rindo. Eles não falavam nada com nada para mim naquele momento.

—Bem, não é qualquer um que consegue abrir aquela porta facilmente.

Deixei de sorrir no mesmo instante e engoli em seco. Eu tentei falar algo, mas da minha boca saíram apenas gaguejos.

—Temos que ir. Tchau, Oli!- cumprimentaram e saíram, às pressas.

A ficha nem havia caído ainda. Foi tudo rápido quando percebi que eles sabiam que eu entendia as cobras. Senti uma pontinha de desespero, depois tranquilidade e depois uma pequena parcela de felicidade. Eles sabiam e, mesmo assim, não se assustaram e guardaram para si. Aquilo me deixou feliz. É sempre bom quando se descobre que pode confiar nas pessoas.

—Oli? Querida? Quem eram?- perguntou minha mãe, se aproximando com o carrinho cheio das malas.

—Ah, aqueles meninos que nos deram a carona. Lembra?

—Ah sim, sim. Mas, Olivia- disse, ignorando a resposta e voltando para aquele tom nervoso de sempre-, que história é essa?! Dentro da Câmara Secreta?! O que queria?! Se matar?!

—Era a vida da minha amiga, mãe. Eu não podia deixá-la simplesmente morrer!

—Mas e você? Não pensou em você?

—Claro que sim! Estava louca de medo! Mas como eu ia virar as costas para ela e os meninos?

—Virando, ora! E se fosse você que tivesse morrido?!- e o comportamento estranho dela continuava o mesmo. Bufei, já me sentindo cansada.

—Mas não morri, mãe! E não me arrependo de nada do que fiz e teria feito de novo! Eu só fiz o que devia ser feito! Gina é minha amiga. Teria feito isso por qualquer outra pessoa que eu gosto.

Ela parou o carrinho abruptamente e, por um momento, eu pensei que ela ia fazer uma escândalo. Justamente no meio da estação. Não era o local apropriado e eu não queria vê-la naquele estado outra vez. Mas, para minha surpresa, ela me olhou com os olhos lacrimejados e um sorriso fraco.

—Por qualquer outra pessoa?

—Claro! Se é amigo meu, por que não?- ela me abraçou no mesmo instante e beijou minha cabeça.

—Desculpe. Desculpe, querida. Eu fiquei tão preocupada com você que... Nem percebi que você fez algo fantástico. Você sempre foi assim.- ela me segurou pelos braços e se afastou para me olhar.- Sempre procurou pelo bem. Sempre querendo o bem para todos. Estou orgulhosa de você. Muito.

Eu arregalei os olhos, espantada. Mas logo sorri. E sorri, sorri e sorri. Abracei-a ainda mais forte. Eu estava feliz. Não que eu duvidasse do amor de minha mãe por mim, mas ela sempre estava tensa demais, preocupada demais e por conta disso, ela não falava o que pensava de mim. Apenas queria saber se eu estava bem e segura. Às vezes eu ficava confusa se minha mãe me protegia tanto por instinto maternal ou porque não acreditava em mim. Vê-la sorrindo, me parabenizando por algo que não fosse meus quadros, por algo de mim mesma, havia me deixado estupendamente feliz. É sempre bom quando recebemos um elogio. Principalmente quando se é da pessoa que mais amamos.

—Bem, agora, chega de enrolação! Vamos pegar logo o táxi. Você vai me contar toda a história e vai conhecer nossa nova casa. Acho que você vai gostar.

Me segurou pelos ombros com um braço e com o outro o carrinho. Juntas, atravessamos a parede.

***


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Notas finais do capítulo

Obs.: Finaliza-se o primeiro ano de Olivia, mas a história dela vai até o fim da guerra e alguns depois.
Beijos e abraços apertados da Loren.



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