Olivia escrita por Loren


Capítulo 14
Câmara




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***

Estávamos naquele mesmo banheiro onde eu havia jogado o diário.

Minha nuca se arrepiou quando me lembrei que ali morava um fantasma. Mas não havia mais como dar para trás. Estava escuro, tendo apenas a luz da lua passando pelos vitrais para iluminar levemente o local. Eu e o ruivo apontávamos nossas varinhas para o professor e Harry deu o primeiro passo para falar com a Murta. Era o fantasma de uma menina do terceiro ou quarto ano, com os cabelos presos dos dois lados e ficava flutuando de um lado para o outro, em cima de um box. Vestia o uniforme do colégio e não parava de gemer.

—Quem está aí?!- ela gritou, quando ouviu os passos.- Ah, Harry, é você.- cumprimentou de forma doce, mas logo engrossou o tom.- O que você quer?

—Quero saber como você morreu.- ele disse pausadamente.

—Ah... Foi terrível. Aconteceu bem aqui, neste box mesmo. Eu tinha me escondido porque Olivia Hornby estava caçoando dos meus óculos. Eu estava chorando, aí eu ouvi alguém entrar.

—Quem era, Murta?

—Oh... Eu não sei. Eu estava distraída!- respondeu, gritando a última palavra. Começou a flutuar para perto de nós.- Mas a pessoa falou alguma coisa estranha, um tipo de língua diferente. Então eu percebi que era um garoto que falava, aí eu abri a porta para dizer para ele ir embora e... Morri.

—Foi sóisso? Como?

—Eu só me lembro de ter visto dois olhos muito grandes e amarelos. Bem ali ó. Perto da pia.- apontou e saiu, voltando a gemer pelo banheiro.

Harry começou a tatear a pia e o espelho. Abriu a torneira mas não saiu água. Ele viu alguma coisa inscrita no metal e deu um passo para trás.

—É isso. É isso, Ron. Eu acho que essa é a entrada para a Câmara Secreta.

Eu olhei para aquele conjunto de pias e franzi o cenho. Como poderia haver uma entrada se não havia nem um espaço entre pia ou outra? Além do mais, aquilo era fechado por cima. Eu não entendia como aquilo podia funcionar.

—Diz alguma coisa. Harry, diz alguma coisa em língua de cobra.

Harry engoliu em seco e disse “Abram”. A parte de cima subiu e as pias começaram a se mover para a frente. Eu não sabia o que me deixava mais surpresa: O fato de eu ter realmente entendido o que Harry disse em língua de cobra ou aquilo se transformando na entrada para a Câmara. A pia onde Harry havia mexido, moveu-se mais para frente ainda e começou a descer, sendo escondida em seguida por uma grade no chão.

—Excelente, Harry.Bom trabalho. Bem, eu já vou.- começou a parabenizar o professor, depois de ter dado uma olhada no buraco fundo.- Não preciso mais ficar aqui!- disse, tentando se esquivar, mas os meninos e eu o empurramos contra a entrada.

—Precisa ficar sim!- Harry retirou sua varinha e ordenou.- Vá na frente.

—Ora meninos, do que vai adiantar?

—Antes o senhor do que a gente!- retrucou o ruivo e o professor assentiu, ainda desconcertado.

—Claro, mas é claro.- e virou-se, segurando nas pias ao lado. Olhando por cima do ombro, ele ainda tentou mudar a ideia.- Não seria melhor se...

Mas não soubemos qual era sua sugestão, visto que Ron o empurrou com a varinha e este caiu poço abaixo. Depois do grito e o baque, ouvimos sua voz desgostosa.

—É realmente muito sujo aqui embaixo.

Harry olhou para mim e Ron. Via-se o medo no olhar deles, mas a determinação brilhava mais ainda.

—Vamos lá.

—Ah, Harry!- chamou Murta.- Se você morrer lá embaixo, eu divido o banheiro com você.- sugeriu e riu, envergonhada.

Eu e Ron nos entreolhamos completamente estranhados, mas Harry apenas agradeceu, sendo educado do jeito que sempre era. Pulamos um de cada vez: Harry, Ron e eu. Era escorregadio e o poço mais era um túnel, fazendo várias voltas. Caímos em um chão duro e parecendo de pedras, encontrando o professor já de pé e limpando sua capa. Quando nos pusemos de pé, pude ver que o chão era coberto de ossos de ratos. Eu engoli a ânsia e apenas mirei para cima. Nas paredes, outros túneis apareciam, alguns mais altos, outros mais baixos, atravessando completamente os tijolos.

—Agora lembrem-se, qualquer sinal de movimento, fechem os olhos imediamente.- disse Harry e subiu por um outro túnel.

Ron fez sinal para eu ir na frente, logo atrás o professor e por último o ruivo. O cheiro era completamente desagradável. Me lembrava esgosto, carniça e sangue. Harry nos guiou por alguns minutos, até pararmos um estranho espaço onde o teto era mais baixo e parecia a parede de uma montanha rochosa. Abaixo, havia algo claro que se estendia muito à frente. Eu me aproximei, tocando e sentindo a textura áspera e gelada.

—O que é isso?

—Parece uma... Cobra.- disse o professor.

—É pele de cobra.- corrigiu o moreno, e percorrendo mais ao lado da pele.

—A cobra que deixou isso devia terA uns 18 metros de comprimento. Ou mais!- exclamou o ruivo, surpreso.

O professor balançou a cabeça, revirou os olhos e caiu no chão. Mal pude acreditar no quão fraco ele era.

—Como ele é corajoso, não é?

No entanto, Lockhart se pôs de pé rapidamente, tirando a varinha da mão de Ron. Ele tinha um sorriso maior do que o normal e os olhos pareciam prestes a saltar das órbitas. Respirava ofegante, satisfeito consigo mesmo. Eu engoli em seco. Comecei a tirar minha varinha suavemente do meu bolso.

—A aventura termina aqui, meninos. Mas não se preocupem.- disse, direcionando a varinha para cada um.- O mundo conhecerá nossa história. Como eu cheguei tarde demais para salvar a garota. Como vocês dois enlouqueceram tragicamente ao verem o corpo dela mutilado. Bom, será o primeiro, senhor Potter. Diga adeus, às suas lembranças.

E logo quando ele gritou o feitiço, eu puxei Harry para o chão, erguendo minha varinha em seguida, sem saber qual feitiço dizer, mas não foraa necessário. O feitiço do professor saiu pelo outro lado. Lembrei-me então que era a varinha de Ron e que esta havia apresentado sérios problemas desde sua quebra. No entanto, o teto começou a tremer depois que Lockhart foraa lançado contra a parede. Uma a uma pedras começarama cair e seus tamanhos pareciam aumentar. Me levantei e puxei Harry junto comigo para o outro lado, antes de que uma gigantesca pedra e outras tantas nos esmagasse. Depois que a poeira abaixou, ouvimos a voz de Ron.

—Harry! Olivia!

—Olivia, você está bem?

Eu assenti. As pedras haviam se aglomerado, formando uma barreira. Subimos em algumas e por uma pequena fresta, conseguimos enxergar Ron.

—Ron! Ron, você está bem?

—Estou bem.

Vimos algo se mexendo ao lado do ruivo e o professor sentou-se, continuando a sorrir. Ele nunca parava de sorrir?

—Olá. Quem é você?- perguntou para Ron.

—Ahm... Ron Weasley.

—É mesmo. E... Quem sou eu?

O ruivo nos olhou, erguendo as mãos em sinal de confusão.

—O feitiço saiu pelo outro lado, Ron. Ele deve ter recebido toda a carga. Não deve nem se lembrar de quem é.- eu expliquei.

—Esse lugar é muito esquisito.- comentou e brincou com uma pedra.- Você mora aqui?

—Não.- respondeu o ruivo e pegou a pedra, batendo em seguida na cabeça do professor, que voltou a desmaiar.

—O que eu faço agora?!

—Espere aqui e tire algumas dessas pedras para a gente poder passar. Eu vou procurar a Gina.

—Tá bom.

Descemos das pedras e eu comecei a puxar algumas para foraa do amontoado.

—Olivia, você pode...

—Claro. Eu ajudo o Ron. Boa sorte, Harry.- eu disse, sorrindo e voltando para as pedras.

—Ah, obrigada.- eu o olhei, estranhada.- Por ter me puxado. Nas duas vezes.

Eu dei de ombros, sorrindo. Ele me olhava de modo nervoso, com os lábios meio trêmulos enquanto sorria. Seu rosto estava todo sujo de poeira. Ele parecia querer dizer mais alguma coisa, mas no fim abanou a cabeça, desistindo. Ele se afastou, indo para o fundo do túnel e pude perceber que terminava em uma parede, com uma porta redonda com cinco cobras cravadas, saindo de um dos lados, indo para as várias direções. Eu ouvi ele dizer “Abram” novamente. Eu me virei, não querendo ver o que ia acontecer. Só ouvi a porta abrindo e se fechando em seguida, com Harry lá dentro, preparado com a varinha e a própria sorte.

***

Foi depois de alguns minutos.

Eu e Ron tirávamos as pedras em um silêncio embaraçoso, até que ele começou a perguntar da Gina. Parecia frustrado por não ter percebido que a irmã estava com problemas. Eu fui falando aos poucos como havia sido o ano para ela e contei sobre o diário. Ele confirmou a história, já sabendo da parte do caderno velho. Então, retirando uma gigantesca pedra, ouvimos um som parecido a um silvo, mas muito mais alto que um normal. Ouvi também um outro som, parecendo com o de uma ave e alguém gritando alguma coisa.

—Caramba! O que será que está acontecendo?!- gritou Ron, assustado.

Eu engoli em seco. Harry podia estar sendo morto lá dentro e eu parada, sem fazer nada. Lembrei de Gina e respirei fundo, decidindo que não cometeria o mesmo erro, apesar de sentir minhas pernas tremerem.

—Ron, eu já volto! Continue tirando as pedras!

—Espera, o que você vai fazer?

Em frente a porta, eu respirei fundo e fechei os olhos. Eu nem sequer sabia se sabia falar naquela língua. No fundo, torcia para que sim, apesar de ideia me assustar. Me concentrei, lembrei das palavras de Harry e as repeti. Por um segundo, nada aconteceu. Então, o som do clique da porta se abrindo, soou nos meus ouvidos.

Uma cobra solitária percorreu ao redor do círculo, fazendo com que as outras cobras retrocedessem para que ela pudesse passar e assim que ela voltou para seu local de origem, a porta se abriu. Eu peguei minha varinha e entrei correndo. Fiquei estupefata com a visão. Dos dois lados estátuas de cabeças de cobras brotavam do chão com as línguas para foraa. Ao fundo, uma cabeça de um velho com barbas longas estava esculpida e sua boca estava aberta, como se fosse uma passagem. Havia água por todo lado e apenas um caminho reto até o fim estava um pouco seco. Desci as escadas e corri, olhando para todos os lados em busca de Harry ou do monstro. Quando cheguei mais perto, pude ver um rapaz em pé. Eu parei e analisei-o por alguns segundos. Tinha cabelos castanhos e encaracolados nas pontas. O nariz era reto e seu queixo bem quadrado, com as linhas do rosto marcando suavemente seu contorno. Os lábios eram finos e seus olhos eram uma mistura com o castanho. Era belo, mas dele eu só conseguia sentir algo muito ruim.

—Quem é você?

Ele sorriu, parecendo satisfeito em me ver.

—Ora, Olivia. Quem diria. Mais bela do que eu imaginava que ia ser.

—Quem é você?

—Uma lembrança.

—Você não estuda no colégio.

—Não mais.

—E o que faz aqui?

—Voltando à vida.- respondeu e sorriu de forma maldosa, olhando para o chão.

Segui seu olhar e guardei o grito na garganta. Me ajoelhei no mesmo momento e afagava os cabelos de Gina, enquanto sentia os olhos arderem.

—Gina, oh céus, Gina... Por favor, por favor... Acorda! Acorda, vamos! Por favor!

—Ela não vai acordar.

Eu o olhei com muita mais raiva do que qualquer outro pessoa que eu havia sentido (mais mesmo até do que o professor Lockhart).

—O que você fez?! O que você fez, seu idiota?!- eu gritei, furiosa.

—Ora, ora. É geniosa. Melhor do que o esperado.

—Do que está falando, seu imbecil?!

—Acho bom ter cuidado como fala comigo, mocinha. Pode se arrepender mais tarde.

—Onde está Harry?- perguntei, ignorando suas palavras sem sentido.

Ele respirou fundo e deu um sorrisinho cínico.

—Provavelmente, brincando com um amigo meu.

O som de passos apressados veio e junto deles Harry apareceu, saindo de um dos túneis na lateral. Ele se aproximou e ajoelhou-se, com os olhos em Gina, mas percebendo que eu estava ali. Além da poeira, o suor banhava seu rosto e alguns arranhões apareciam na bochecha esquerda.

—Olivia? Como... Como você conseguiu entrar aqui?

—Eu... Bem...

—Isso não importa agora.- disse o rapaz, chamando a atenção para si.- O processo está quase completo. Em alguns minutos, Gina Weasley estará morta e eu deixarei de ser uma lembrança. Eu voltarei, ainda mais vivo.- e sorriu para mim. Eu senti minha nuca se arrepiar.

Harry olhou para mim e Gina. Quando ia falar, uma cobra gigantesca surgiu da água que havia aos pés da cabeça esculpida, balançando de um lado para o outro e emitindo aquele silvo que eu havia escutado antes.

—Oh meu Merlin!- eu gritei, perplexa.

Devia ter muito mais que dezoito metros. Seus olhos estavam vermelhos, sangrando, e sua boca era enorme, com afiados e longos dentes. Eu abracei Gina contra meu corpo, tentando por instinto, apenas protegê-la. E percebi, pelo canto do olho, que o rapaz me olhou com nojo. Harry se levantou e correu para longe, tentando chamar a atenção da cobra para si. Eu não sabia o que fazer. Harry começou a subir a estátua do homem e eu ouvi ao meu lado, um barulho fino soar. Quando me virei, pude ver o cabo de uma espada no chapéu. Porém, quando eu tentei pegá-la, ela entrou no chapéu e desapareceu. Eu não fazia a menor ideia do que aquilo significava, mas apenas me levantei e levei o chapéu comigo, passando ao lado da cobra.

—Harry!

O moreno e o animal olharam para mim. Eu joguei a vestimenta surrada para ele. Eu não soube naquele momento se ele pegou a espada, pois havia um problema de olhos cegos e dentes afiados muito maior em minha frente. O rapaz disse alguma coisa, disse na língua das cobras, eu sabia que sim. Mas eu estava tão apavorada, que nem prestei atenção. Só lembro da cabeça daquele animal se aproximar rapidamente e eu perder a consciência.

***


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