Olivia escrita por Loren


Capítulo 13
Sumiço




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***

Acredito que um mês e meio havia se passado.

Ou mais. Ou menos. Não me recordo.

O fato é que eu estava quase dormindo em uma das poltronas do Salão, enquanto lia o livro de Transfiguração, quando Alene me acordou.

—O que... O que houve?

—Calma. Gina, aquela menina da Grifinória, está ali no túnel. Disse que precisa falar com você.

—Oh, tudo bem. Obrigada.- ela assentiu e foi para o quarto.

Quando eu saí, a ruiva me puxou fortemente pelo braço e me levou até os pés da escada caracol.

Ciao para você também.

—Desculpe. É que... Temos um problema.

—O que houve?

—O diário está com o Harry.- ela disse de uma vez só, sem mais nem menos.- E agora?

—O... O que... Espera, Harry? Harry Potter?

—Que outro Harry eu conheço?!

—Ah, não sei. Podia ser algum de outra casa, de outro ano...

—Mas não é. E agora? Eu acho que vou pegar de volta. As meninas podem entrar no quarto dos meninos sem problema.

—O quê? Não, Gina, você não pode!

—Por que não?

—Não lembra de como era estar com aquele diário? Você mesma disse para mim alguns dias que se sentia muito melhor. Se você pegá-lo de novo, pode se repetir tudo o que você passou!

—Mas não posso deixá-lo com o Harry! É perigoso também! E...- ela corou.- Eu falei tudo sobre ele para Tom.

—Muito bem. Primeiro: Pare de chamar o caderno de folhas de Tom. É somente um velho diário. Segundo: Não, você não vai pegá-lo de volta. Terceiro: Você vai contar a verdade para o Harry.

—O quê?!

—É melhor assim. Você não vai se arriscar e ele saberá da verdade, estará salvo, tecnicamente. E talvez ele saiba o que fazer melhor do que nós duas com aquela... Coisa.- eu não gostava de tocar no assunto daquele objeto. Me fazia mal pensar nele e no seu suposto nome.- Se você quiser, eu vou com você para falarmos juntas.

—Não, não. Tudo bem. Você... Tem razão. Eu vou falar com ele.- ela disse, balançando a cabeça e dando por vencida.

—Quer que eu vá com você?

—Não. Eu... Preciso fazer isso sozinha.

—Tudo bem. Depois me diga como foi.

Ela assentiu e subiu as escadas, sem nem se despedir. Eu pensei em ir atrás dela e ajudá-la. Achava que talvez ela não conseguisse. Mas ela havia me dito que ia conseguir sozinha. E eu, tonta, acreditei.

***

Mais alguns dias se passaram.

Eu e Alene estávamos no Salão, resolvendo os deveres de Poções, quando uma morena extremamente furiosa entrou atirando a capa no chão, bufando sem parar e jogando-se no sofá com os pés na mesa.

—Muito educado.- repreendeu Alene e Gale lhe mostrou a língua.

—O que houve Gale?

—Cancelaram o jogo.

—Sério?

—Mas por quê?

—E eu sei lá! Só disseram que todos os alunos deveriam voltar para suas casas. Que coisa chata. Hoje era a Lufa-lufa contra a Grifinória! Contra a Grifinória! Íamos arrasar com eles!

—Ou não. Harry Potter é o apanhador da Grifinória e ouvi dizer que ele é muito bom.- retrucou Alene.

—Quanta fé na sua própria casa, garota.

Alene deu de ombros e continuou a escrever no pergaminho.

—Mas eu não entendo. Para o jogo de Quadribol ser cancelado, algo muito grave deve ter acontecido.

—Hum...- Gale parecia pensar e quando a porta se abriu, seu sorrisinho de canto brotou.- Acho que sei como resolver esse enigma e cumprir o que te prometi, Oli.

Eu olhei para ela, confusa. Ela acenou para alguém e começou a chamar com a mão. Quando segui seu olhar, minha garganta secou. Era Cedrico que chegava junto com os outros jogadores.

—Do que Gale está falando?- perguntou Alene, completamente perdida.

Eu apenas balancei a cabeça, de forma negativa, fingindo que não sabia. Ele veio, sentou-se na poltrona ao lado de Gale e nos cumprimentou com um sorriso. Gale era bem conhecida pelos jogadores por toda sua animação e apoio nos jogos de Quadribol. Eu voltei a escrever, fingindo que não havia apenas uma mesa que nos separava e que minhas bochechas não estavam coradas.

—O que quer, Gale? Já disse que somente ano que vem você pode tentar entrar para o time.

—Eu sei, garoto. Mas não é sobre isso. Por acaso você sabe porque o jogo foi cancelado?

Ele suspirou e bagunçou os cabelos. Eu me lembro de ter o achado completamente fofo naquele momento. Paixões platônicas, quem entende?

—Pelo que entendi, houve outro ataque.

Eu parei de escrever na mesma hora e, sem vergonha alguma, ergui os olhos.

—Como assim?- perguntou Gale e deixou de sorrir, percebendo a gravidade da situação.

—Parece que outras duas alunas foram petrificadas. Acho que daqui a pouco algum professor virá para dar algum aviso, algo do tipo.

Eu me levantei, batendo na mesa e deixando a tinta cair no meu trabalho.

—Céus! Cuidado, Olivia! Aonde você vai?!- interrogou-me Alene e salvando seu pergaminho.

—Eu... Desculpe. Eu tenho que ir ver alguém.

—Mas disseram para ficarmos na sala...

Corri para a porta, sem prestar atenção nas palavras de Cedrico, apenas pensando quanto tempo eu tinha ainda até encontrar Gina. Mas antes que eu pudesse ter qualquer tipo de noção, a professora Sprout esbarrou em mim quando entrava no Salão.

—Oh, cuidado, pequena Oli.- avisou com um sorriso.

—Desculpe, professora. Mas eu tenho que ir ver alguém...

—Não, não. Desculpe. Mas você deve ficar aqui.- disse, impedindo a passagem.

—Mas, professora...

—São ordens do diretor, Oli.

—Tudo bem, professora. Eu cuido dela.- e duas mãos pousaram em meus ombros, levando-me até o sofá.

—Não está entendendo, Cedrico! Eu realmente preciso...

—Acalme-se. Não sei quem você está procurando, mas seja quem for, já deve estar no próprio Salão. Todos os alunos foram chamados para voltarem ao castelo. Não se preocupe.

Eu não conseguia. Se outro ataque havia acontecido, tinha algo a ver com aquele maldito diário. Eu precisava saber de Gina. Precisava saber se ela estava bem. Eu me sentia péssima. Sentia um peso dentro de mim, afundando-me no sofá. Eu devia ter previsto que ela ia pegar o diário. Ela não ia conseguir encarar o Harry tão facilmente, levando em conta que ela estava apaixonada por ele há mais de um ano.

—Quem que você queria achar?- Cedrico me perguntou, segurando firma uma das minhas mãos.

—Atenção, alunos e alunas! Provavelmente já devem estar sabendo que houve outro ataque. Exatamente, por conta disso, algumas novas regras serão instauradas: Todos os alunos devem voltar para seus Salões Comunais às 18h todos os dias. Todos os alunos serão acompanhados as aulas por um professor à todas as aulas. Sem exceção.- ditou a professora, lendo um pergaminho.- É isso. Agora, todos para suas camas, vão.

—Professora!- chamou Gale, erguendo os braços.

—Sim, senhorita Gale.

—O que vai acontecer se... Se isso continuar?

Todos olharam apreensivos para a professora Sprout. Ela, visivelmente, não queria que alguém tivesse feito aquela pergunta. Parecia tão desconfortável quanto os outros naquela sala. Ela suspirou e deixou de tremer as mãos.

—Se isso continuar, temo que a escola será fechada.- e todos seguraram os seus murmúrios de surpresa. Ela assentiu, parecendo tão decepcionada como todos.- É. Infelizmente.- e saiu.

Pela primeira vez, vi os ombros da professora caídos e seu rosto preenchido pela tristeza.

***

No outro dia, cabulei duas aulas.

Uma de Feitiços e outra de Poções. Essas foram as últimas aulas. Antes destas, eu fui para o café da manhã, cruzando os dedos para encontrar Gina na mesa da Grifinória. Ela estava lá. Eu senti um alívio repousar em meus ombros. Ela saiu antes de mim, mas eu fui atrás dela logo em seguida. Entretanto, eu a perdi e meu nervosismo começou a pulsar outra vez. Eu apressei os passos para a sala de aula, torcendo para que ela estivesse lá. Não estava. Entre os intervalos, eu procurava por todos os lugares mais próximos da próxima aula. Cheguei a perguntar para Percy, seu irmão mais velho, mas ele apenas deu de ombros e seguiu seu caminho. Não achei Ron, nem Harry e nem mesmo os gêmeos para perguntar. Que eu sabia, eram os mais próximos dela ali. Antes da aula de Feitiços, deixei meus materiais no meu quarto e vasculhei todo o colégio.

Fui para a biblioteca, para o sétimo andar, para o sexto, para a torre de Astronomia, para o campo de Quadribol, para o terceiro e quarto andar. Estava quase pensando em procurar no Salão Comunal da Grifinória ou no Grande Salão, quando percebi que havia escurecido juntamente com a voz da professora McGonagall me quebrando a linha de raciocínio.

—Todos os alunos devem voltar para os dormitórios das suas casas imediatamente. Todos os professores ao corredor do segundo andar imediatamente.

Eu me afastei da parede em que estava encostada e segui para a direita, dobrando a esquina quando o escrito em sangue me deixou paralisada. Era como o primeiro aviso, mas os dizeres eram outros. Eu recuei e fiquei atrás de uma coluna que servia de fogo para iluminar as esquinas. Eu mal conseguia engolir. Comecei a pensar se aquilo estava ali havia muito tempo ou apenas alguns segundos atrás. Meu estômago gelou ao pensar que eu poderia ter esbarrado com o responsável por aquilo. Eu ouvi passos apressados dos dois lados. Erguendo os olhos, vi Harry e Ron chegando.

—Olivia? O que está fazendo aqui?- perguntou Harry.

Eu mal consegui abrir a boca para responder. Os passos do outro lado pararam e pude ouvir suas respirações. Eu pedi silêncio com o dedo para eles e me virei para prestar atenção. Eles fizeram o mesmo, mas sem poder ver a parede, visto que os professores estavam todos bem à frente, atrapalhando.

—Como podem ver, o herdeiro de Sonserina nos deixou outra mensagem.- disse a professora McGonagall, com a voz banhada no horror.- Nosso maior temor se concretizou. Uma aluna foi levada pelo monstro para dentro da Câmara Secreta. Os alunos devem ir para suas casas. Receio que este seja o fim de Hogwarts.

O professor Lockhart chegou, com aquele detestável sorriso e sua presunção absurda.

—Sinto muito. Eu cochilei. O que eu perdi?

—Uma menina foi levada pelo monstro, Lockhart. Finalmente chegou sua vez.- explicou o professor Snape e ainda acrescentou no fim, com aquela voz arrastada e impregnada de desprezo.

Como me agradava ter Snape por perto quando Lockhart estava no mesmo local.

—Minha... Minha vez?- gaguejou, abobolhado com o “convite”.

—Você não disse ontem mesmo que sempre soube onde era a entrada da Câmara Secreta?

O olhar de Lockhart pareceu brilhar de entendimento, mas logo foi substituído por algo que eu podia chamar de “desespero contido”.

—Está decidido. Nós vamos deixar que cuide do monstro, Gilderoy. Afinal, as suas habilidades são uma lenda.

Ele permaneceu parado por alguns segundos, mas logo voltou a sorrir, desta vez sem aquele toque de convencido na voz. Ele realmente estava desesperado.

—Muito bem. Eu vou até a minha sala... Me preparar.

E foi embora. A enfermeira virou-se para a professora.

—Quem foi que o monstro levou, Minerva?

—Gina Weasley.- respondeu, após algum tempo em silêncio, confirmando meu maior temor.

Eu ouvi o ofego do ruivo e mordi meus lábios. Eu quis chorar. Infantilidade, com certeza. Mas meu medo e desespero eram tão grandes que as lágrimas estavam prontas para cair. Eu nunca havia me apegado a tantas pessoas como naquele ano e justamente uma delas podia estar morta. E tudo porque eu não estive ao lado dela. Eu me sentia o monstro. Os professores se retiraram e o ruivo leu em voz alta as palavras escritas com sangue na parede.

—“O esqueleto dela jazerá na Câmara para sempre”. Gina...

***

—Lockhart pode ser imprestável, mas ele vai tentar entrar na Câmara! Podemos contar para ele o que sabemos.- disse Harry enquanto corríamos para a sala do dito professor.

Logo depois os meninos começaram a decidir o que iam fazer. Eu mal conseguia falar.

—Oli? Está tudo bem?- perguntou Harry.

—Ron, eu sinto muito.- eu disse, sem nem pensar direito.- Por minha culpa, Gina parou na Câmara.

—O quê?!- o ruivo parecia tão confuso quanto o moreno.

—Eu devia ter ajudado. Eu devia ter levado ela para Dumbledore. Eu... Devia ter queimado aquele maldito diário!- exclamei e duas lágrimas rolaram.

—Você sabe do diário?

—Gina encontrou aquele diário!

—Como?

—Ela disse que estava nos materiais dela. Só disse que estava lá. Céus, o que eu fiz...

—Ei, acalme-se, Olivia. Seja o que for, tenho certeza que você não teve culpa.- disse Ron e me deu dois tapinhas.

Funguei e assenti, ainda perdida nos pensamentos.

—Você deveria ir para seu Salão.- aconselhou-me o moreno.

—E vocês?

—Nós vamos ajudar Lockhart.

—Eu também vou!

—Mas Olivia...

—Não quero saber. Gina é minha amiga e eu devo isso à ela!- exclamei, com toda convicção que tinha.

Sem outra alternativa, eles me levaram junto. Não estava crente de que falar com Lockhart fosse a melhor hipótese, mas se os meninos estavam tão certos daquilo, eu não me via no direito de discordar. Chegando lá, porém, só encontramos um professor apressado em fazer as malas.

—Está indo algum lugar?- perguntou Harry que perscrutou todo o local com o olhar estranhado.

—Ah, estou sim!- começou a dizer com nervosismo e aquele sorrisinho patético.- Um chamado urgente! Inevitável!

—Mas e minha irmã?!

—Ah...- disse enquanto fechava uma mala.- Foi muita falta de sorte dela. Ninguém lamenta mais do que eu!

—O senhor está mentindo!- eu gritei, nervosa com o fato daquele homem continuar arrumando suas coisas sem nem mesmo nos dar uma atenção.- Não há chamado nenhum! O senhor está fugindo!

—Ora, não é bem assim, minha querida...

—Sua querida uma ova! Impossível que um chamado a esta hora da noite seja tão mais importante do que a vida de uma de suas alunas em perigo!

—Ah, mas é possível!

—Ah é? Qual é o chamado?- e cruzei os braços, querendo socar seu rosto. Nunca havia sentido tanta raiva antes como naquele momento.

—Ah... É... Particular.- sorriu e voltou para suas malas.

Eu bufei, jogando os braços para cima, mas Harry insistiu.

—O senhor vai mesmo fugir? Depois de tudo que diz ter feito? Depois de tudo que disse nos seus livros?

—Os livros podem ser enganosos.

—O senhor que os escreveu.

—Meu caro rapaz, tente usar o bom senso!- o professor exclamou, jogando a bolsa na mesa e gesticulando com as mãos.- Meus livros não venderiam nem metade se as pessoas não acreditassem que eu tinha feito tudo aquilo!

—O senhor é uma fraude.- concluiu o moreno.- Está levando o crédito do que outros bruxos fizeram!

—Tem alguma coisa que o senhor saiba fazer?

—Sim. Já que perguntou.- parecia ofendido com tudo que lhe haviam falado. Claro que ofendeu-se, era a verdade.- Sou muito bom com os Feitiços da Memória. Se não os bruxos já teriam saído por aí falando de mim. E eu não teria vendido mais nenhum livro. Na verdade- dirigiu-se para uma de suas malas e eu e os meninos retiramos nossas varinhas, apontando para as costas do professor-, vou ter que fazer o mesmo com vocês.

—É melhor nem pensar nisso.- avisou Harry e o professor abaixou a varinha, sem outra saída.

***


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