Olivia escrita por Loren


Capítulo 12
Diário


Notas iniciais do capítulo

Notas finais.



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***

Semanas se passaram desde aquele incidente.

Eu não comentara com ninguém sobre o que eu achava. Com o tempo, comecei a achar que eu estava enlouquecendo. Que talvez era apenas coisa da minha cabeça. Havia dias que eu estava convicta de que eu havia me enganado. Outros, no entanto, eu me apavorava com a exatidão de cada palavra dita. Eu queria contar para minha mãe. Ela era a mais próxima que poderia me explicar algo do tipo. Pois pelo o que Alene havia me dito, a língua das cobras podia ser ou aprendida ou descender da família. Meu pai era trouxa. Minha mãe devia de ter as respostas, mas eu não me animava a dizer algo do tipo por cartas. Havia decidido que esperaria pelo Natal.

Estavam alguns alunos fazendo o dever em uma das salas com a professora de Astronomia. Era tarde e os alunos do primeiro e segundo ano podiam fazer juntos as tarefas tendo na sala o auxílio da professora se fosse necessário. Eu estava do lado de Gina, tentando me concentrar no dever, mas Harry estava sentado na mesma mesa. Eu não havia falado com ele desde a enfermaria e nem o visto desde o incidente na Aula de Duelo. Eu sabia das fofocas que corriam à solta pelo castelo. Gale era uma fofoqueira de plantão, era praticamente nossa repórter do dia a dia. Alene não gostava muito disso, mas eu sabia que ela prestava atenção em cada palavra dita por nossa colega. Ela havia me dito que concordava com os rumores de que talvez Harry fosse o herdeiro, mas ao mesmo tempo tinha dúvidas pois Harry era Grifino e para ela aquilo fazia diferença. Eu não concordava de jeito nenhum. Não que eu conhecesse tanto assim o moreno, mas sabia que ele não poderia ser. Era gentil e bondoso demais a meu ver.

Eu queria muito poder conversar com ele. Depois da minha mãe, ele era a pessoa mais próxima que talvez pudesse me ajudar a entender. Não éramos próximos, isso era fato, e por isso mesmo eu não sabia se era uma boa ideia falar com ele. Mas se ele era mesmo Ofidioglota, poderia me ajudar a descobrir se eu também era. Pelo menos eu achava. Quando levantei meu olhar, ele olhava para seus amigos e para Gina, aparentemente perdido. Eu olhei para a outra mesa e vi que as pessoas o olhavam de canto. Suspirei. Era que nem em Siena. Comece uma fofoca maldosa e pronto! Isso ataca todos. Quando voltei meu olhar, ele olhava para mim e eu acenei, sorrindo. Imaginava que devia ser difícil para ele as suspeitas que todo mundo aparentava descaradamente. Ele sorriu, meio sem jeito. Recolheu seus livros e saiu. Foi aí que decidi.

—Gina, eu já vou para meu Salão. Está tarde e eu estou cansada.- expliquei enquanto recolhia minhas coisas.

—Uhum.- disse sem nem me olhar.

Eu parei e a fitei.

—Gina, você está bem?

—Uhum.- e continuou a escrever.

—Gina...

—Sh!- exclamou a professora.

Eu encolhi os ombros e me levantei.

—Eu vou indo, mas depois vamos conversar, tudo bem?

—Uhum.

E saí. Gina me preocupava nas últimas semanas. Havia algo nela fora do normal. Havia momentos em que ela ria e agia normalmente, outros que ela ficava quieta demais, distraída nas aulas e com os olhos marejados e outros, mais recentes, que ela sempre mantinha uma postura reta e concentrada ao seu redor. Aquela bipolaridade era absurdamente estranha e quando eu me lembrava de falar com ela, já era hora de nos separarmos. Anotei mentalmente que precisava que falar com ela. E rápido. Mas naquele momento, apressei os passos apenas para uma coisa.

—Harry!- chamei e o Grifino virou-se, parecendo surpreso.- Oi, tudo bem?- perguntei, recuperando o fôlego.

—Oi Olivia. O que houve?

—Eu precisava falar com você.

—Diga.- ele incentivou e deu de ombros.

Eu inspirei fundo. Se ele negasse, eu provavelmente passaria como louca, mas estava tão angustiada que não via outra opção.

—É verdade... Que você falou com a cobra naquele dia?- comecei a falar aos poucos.

Ele abriu a boca, um pouco surpreso. Parecia não esperar aquela pergunta.

—Eu... Bem...

Harry não me respondeu. Eu mesma nem dei importância, no momento em que uma voz rouca e arrastada, começou a sussurrar, pedindo por sangue e morte. Por um instante, achei que era coisa da minha cabeça, mas percebi que não quando Harry virou-se e começou a tatear as paredes.

—Harry?

—Espere...- ele disse baixinho e começou a se afastar.

Eu o segui e logo quando viramos a esquina, eu prendi o grito na garganta. O fantasma Nick- Quase- Sem- Cabeça estava flutuando, mas imóvel. Atrás dele, Justin estava caído, totalmente petrificado.

—Oh meu Merlin...- eu sussurrei, apavorada e escorada na parede.

Harry se aproximou de Justin e nesse momento, Filch apareceu com aqueles ombros caídos, cara carrancuda e aspecto sujo.

—Pego em flagrante.- acusou o zelador.- Desta vez você não escapa, Potter. Guarde as minhas palavras- disse em ameaça, antes de sair com um sorrisinho.

Ele mal havia percebido minha presença ali. Harry tentou chamá-lo, inutilmente. Eu me aproximei de Justin e mal conseguia acreditar. Ele estava pálido, com os olhos e boca bem abertos. Me perguntava o que ele teria visto para ficar daquele jeito. Engoli em seco, pensando se era aquela voz que eu havia escutado.

—Olha.- disse Harry e eu me aproximei da janela onde ele estava.

—O que foi?

—As aranhas.

—Céus!- murmurei, pasma.

Inúmeras aranhas pequenas andavam em fila, apressadas, para foraa do castelo.

—Que coisa mais estranha. Nunca vi aranhas tão juntas assim.

—Nem eu.- ele concordou.

Passos apressados surgiram de repente e dobrando a outra esquina, apareceu a professora McGonagall. Ela olhou espantada para os dois seres imóveis. Seu espanto era tanto que permaneceu com os olhos e boca arregalados, sem dizer uma palavra, por uns bons segundos que mais pareceram minutos.

—Professora, eu juro que não fui eu!- defendeu-se Harry.

—Isso não está mais em minhas mãos. Venha comigo.

—Mas não foi ele!- eu exclamei, saindo da sombra da coluna. A professora olhou atordoada para mim.- Eu estava vindo com Harry. Ele esteve o tempo todo comigo. Não foi ele. Quando chegamos aqui- e eu apontei para o lufano e o fantasma-, já estavam assim.

McGonagall respirou fundo e mexeu as mãos sobre suas vestes, demonstrando nervosismo.

—De Angellis, vá para seu Salão. Você está dispensada. Apenas Potter deve me acompanhar.

—Mas não foi ele, professora!- exclamei, um pouco alto demais.- Desculpe.

—Vá para seu Salão. E sem mais uma palavra.

Eu a olhei desconcertada e sem mais o que dizer. Virei-me para Harry e ele assentiu, dando um sorriso fraco. Eu suspirei e pedi licença. Me afastei sentindo-me péssima a cada passo. Eu sabia que, racionalmente, eu não podia fazer nada. Era a voz da professora contra a minha. Mas ao mesmo tempo eu queria ter feito mais. Quem me dera a decepção comigo mesma fosse somente isso que me atordoasse naquela noite. Voltando para o Salão, eu ouvi a voz outra vez. Ela ria e sussurrava “sangue” outra vez. Eu corri desesperada e parei somente quando cheguei na minha cama. Gale e Alene não estavam lá. Eu agradeci, pois assim pude chorar baixinho sem ser interrompida.

***

O Natal havia chegado.

Depois daquela noite que eu mal havia dormido, acordei tentando empurrar o assunto para o fundo da mente. Toda vez que eu lembrava, pensava comigo mesma que não era a hora certa e que procuraria saber mais depois. No fim, acabei me esquecendo completamente nas próximas semanas.

Eu havia mandado uma carta para minha mãe uma semana antes, perguntando se eu ficaria em Hogwarts ou não. Ela disse que ia ter que trabalhar e disse que eu poderia decidir. Eu fiquei surpresa. Minha mãe estava me dando liberdade para escolher. Não minto que gostei. Eu, na realidade, havia adorado. Mas todo aquele comportamento tranquilo era estranho vindo dela. Eu não ia deixar de aproveitar, mas continuava tendo aquela desconfiança de minha mãe. Ela não era daquele jeito. E eu sabia, no fundo, que ainda havia coisas que ela me escondia. No fim, decidi ficar. Minhas colegas iam para casa, mas eu queria ficar sozinha. Pensava em pintar, passear e apreciar mais o colégio e talvez até mesmo adiantar alguns estudos. Não estava preocupada em ficar sozinha, mas fiquei feliz quando soube que Gina também ia permanecer por lá.

—Eu gosto de estar com meus pais, mas a casa sempre está cheia.- ela explicou.- Eles vão viajar essas férias para visitar meu irmão Gui, que está no Egito. Além do mais, tenho algumas coisas para fazer...

—São os estudos?- ela apenas abaixou a cabeça.- Gina! Você havia me dito que ia se concentrar neles!

—E estou! Não é isso que me preocupa. Eu estou bem nas notas.

—O que é então?

Estávamos no Grande Salão. Faltavam poucos dias paras as férias acabarem. Poucas pessoas haviam ficado, mas as refeições continuavam fartas. Era divertido porque os grupos de amigos mantinham distância de outros e as comidas apareciam separadamente para cada um. Gina e eu estávamos na mesa da minha casa, devorando um peru pequeno, batatas cozidas, salpicão e algumas torradas com molho de laranja. Ela continuou quieta e fez menção para se levantar.

—Nada disso, senhorita! Pode ir se sentando! Há muito que eu quero conversar com você e não há nada para você fazer agora que eu sei bem disso. Então, sem desculpinhas para ir embora. Sente-se e me explique ou eu farei um escândalo e contarei para seus irmãos.

—Não faria muita diferença.- ela disse, mas mas se sentou.

—Como assim?

—Eles também perceberam. Mas acham que não é nada. Ao invés de perguntarem, criam as próprias soluções sem nem me consultar.

—Mas o que está acontecendo? Gina, fale para mim. E desta vez, sem mentirinhas.- eu insisti e peguei uma coxinha.

Ela inspirou bem fundo e começou. Como eu havia dito antes, quando ela começava, não parava.

—Quando eu estava mexendo nos meus materiais novos, eu descobri um caderno velho. Um antigo diário, mas estava em branco. Eu comecei a escrever nele e...

—E?

—E ele começou a me responder.- eu arregalei bem os meus olhos com a coxinha a meio caminho da boca.- Eu sei, eu sei. Eu também não acreditei. Enfim... Comecei a escrever tudo o que eu... Sentia. E o diário me compreendia, sabe? Era como o ombro amigo. Mas...

—Mas?- eu percebi que seus olhos começaram a marejar.

—Mas coisas estranhas começaram a acontecer comigo, Oli. Muito estranhas.

—Tipo o quê?

—Houve dias que eu acordei coberta de penas de galo e com minha roupa cheirando a sangue. Eu também não me lembro da noite de Halloween, nem das noites em que Colin e o Justino foram petrificados.

—Mas Gina, estávamos fazendo o dever de Astrologia juntas. Eu até me despedi de ti e disse que precisava falar contigo.

—Oh, verdade?- ela realmente parecia confusa e mordeu os lábios. Parecia que ia chorar.- Eu não lembro. Não lembro de nada. Oli... Eu... Eu acho que eu estou atacando.

—O quê?- exclamei um pouco alto e ela me mandou ficar quieta com o dedo.

—Eu estou atacando as pessoas. Eu que devo estar petrificando todo mundo!

—Gina, isso não faz o menor sentido. Como você poderia fazer algo do tipo? Não pense uma besteira dessas!

—Não existe outra explicação para isso. Eu não lembro de nada dessas noites. Eu acordo com cheiro de sangue e me sinto fraca todo dia que passa.- seus lábios tremiam e ela parecia realmente desesperada.

—Oh Gina.- eu disse e afaguei sua mão por alguns segundos.

Eu não duvidava que ela estava dizendo a verdade. Na realidade, eu duvidar de alguém era muito raro. Somente se fosse muito estranho o caso. Até mesmo as ladainhas sem fim do professor Lockhart eu acreditava, mesmo não o suportando. De qualquer forma, era difícil acreditar que Gina fosse capaz de algo tão mal. Geralmente, eu demorava para pensar, mas minha mente deu um estalo rápido.

—Gina. E o diário?

—Hã?

—Você não disse que tinha um diário?

—Sim. Mas o que isso tem a ver?

—Gina, seu diário te responde. Você não acha isso estranho?

—Um pouco, mas me acostumei com Tom.

—Tom?

—É. O diário responde no nome de Tom Marvolo Riddle.

—Gina, você já agia estranha assim? Antes de entrar no colégio?

—Não. Claro que não.

—E no colégio, quando foi?

—Acho que depois da segunda semana de aula.

—Quando você achou o diário?

—No meio da segunda semana de aula.- ela respondeu e arregalou os olhos.- Oh meu Merlin. Você acha que...

—Gina, é um caderno que responde de volta! Acha mesmo que é confiável?

Subimos até o Salão dela e eu esperei do lado de foraa. Não me sentia confortável entrando em outro Salão. Ela voltou e fomos para um dos corredores vazios. Ela escreveu “oi” e logo outro “Olá, Gina” apareceu.

—Céus!- eu exclamei.- Gina, você precisa se livrar disso!

—O quê?

—Livre-se! Isso não pode ser boa coisa!

—E como vou me livrar disso? Não posso deixar no lixo! Qualquer um pode ver que é um caderno bom!

—Deve haver algum lugar que ninguém vá! Pelo amor de Merlin! O castelo é gigantesco!

Ficamos em silêncio, pensando, quando um choro quebrou nosso raciocínio. Fomos seguindo o som até parar em frente a uma porta.

—O que é...

—É o banheiro feminino deste andar. Ninguém vai nesse banheiro.

—Ué, por que não?

—A Murta-Que-Geme.

—Quem?

—É um fantasma.

—Perfeito!

—O quê?

Eu peguei o diário de suas mãos e respirei fundo antes de entrar. Eu não lidava bem com os fantasmas do colégio, nem mesmo com o da minha casa e olha que ele era bem simpático. Entrei às pressas, de olhos meio fechados e joguei sem saber para onde o diário. Apenas ouvi um grito atordoado e voltei para o corredor correndo, puxando Gina para longe. Paramos somente quando estávamos perto do Grande Salão. Me escorei em uma parede enquanto Gina sentava em um degrau.

—E que fique claro: Não quero mais saber de diários perto de você. Entendido?- eu disse entre ofegos e ela assentiu.- Muito bem. Acho que agora as coisas vão voltar ao normal.

***


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Notas finais do capítulo

Olá :)
Gostaria apenas de avisar que talvez eu demore com os próximos capítulos. Isto é, se há leitores por aqui. Se houver, ficaria muito feliz de saber do que estão achando da história. Caso vejam algum erro, por favor, avisem para eu corrigir.
Obrigada pela atenção.
Beijos e abraços apertados da Loren.



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