Olivia escrita por Loren


Capítulo 11
Cobras




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***

No outro dia, sentei-me aos bocejos no café. Mal tinha acordado ainda quando Gale sentou-se ao meu lado com aquela energia fora do comum me enchendo os ouvidos de perguntas,

—Oli, você já ficou sabendo? Já? Que loucura, não acha? Acha que é verdade? Eu acho que é possível. Como não poderia ser? Céus, será que estamos em perigo também?

—Gale, pelo amor de Merlin, acalme-se.- eu pedi, massageando a cabeça.

—É verdade. Oli nem sequer penteou os cabelos, deixe ela respirar.- disse Alene servindo o meu e seu prato com algumas torradas.

Agradeci, mordi uma e dediquei total atenção à morena.

—Diga.

—Colin Creevey, Grifino, primeiro ano, foi levado para a enfermaria ontem à noite.

—Ué, mas por quê?

—Encontraram ele petrificado.

Eu engasguei com a comida e comecei a tossir incessantemente. Bebi um pouco de suco e voltei a respirar com mais regularidade, mas ainda sem acreditar na notícia.

—Petrificado? Jura?

Ela assentiu.

—Céus... Que horror.

—Há rumores de que a Câmara Secreta foi aberta, lembra? Acham que essa é a única explicação para algo do tipo acontecer.

—E o que vocês acham?- eu perguntei.

—Eu acredito que sim. Vou até tomar mais cuidado. Melhor prevenir do que remediar.- disse Gale e começou a se servir.

—Eu não sei.- respondeu Alene.

—Jura que não? Você, que é toda fã das lendas e da Câmara, não sabe? Estou tão decepcionada com você, Alene!- ironizou Gale com um pouco de drama na voz.

Eu prendi o riso e Alene fez um sorrisinho cínico, como se achasse graça nas brincadeiras que Gale fazia nas horas erradas.

—Engraçadinha. Eu não retiro a hipótese da Câmara, mas ainda é muito cedo para afirmarem algo do tipo.

—Por quê diz isso, Ale?- perguntei, curiosa.

—De acordo com a lenda, somente o herdeiro de Salazar poderia abrir a Câmara. Ela foi aberta uma vez depois que Salazar foi embora. Isso foi há muito tempo...

—O que quer dizer?

—Ou o herdeiro de anos atrás voltou ou seu descendente está por aqui. Mas pode ser qualquer um que está dentro deste Salão. São inúmeras possibilidades, mas a pergunta principal é: por quê? Por que abrir a Câmara?

—Se for um Sonserino, sabemos a resposta.- respondeu Gale com um tom de nojo na voz.

—Sim, claro. Mas não sei... Ainda faltam muitas peças não reveladas.- refletiu a gringa de tranças e eu dei de ombros.

—Bem, se foi aberta ou não, isso não cabe a nós descobrir. Nem nos ajuda nas tarefas e provas. Vamos tomar o café e correr para a aula de Transfiguração.

—Mas e se for, Oli? E se tiver sido aberta?- insistiu Gale.

—Bem, torcer para que não sejamos as próximas.

***

—Transfiguração é extremamente fácil, Oli. Você só precisa mexer a varinha do modo certo e dizer as palavras corretas.

—Mas é o que eu faço! E ainda assim sai errado!- falei em um tom esganiçado.

Alene riu baixinho do meu desespero.

—Não se preocupe. Com o tempo você pega o jeito facilmente. Qual a matéria que você se dá melhor?

—Feitiços e um pouco de Poções.

—Ah Poções. Como eu odeio Poções.- ela lamentou e eu ri.

—Entendo. Pelo menos você se dá super bem em algo e gosta. Eu nem um e nem outro.

—O que você mais gosta de fazer?

—Gosto de desenhar.

—Ah é. Isso tem a ver com você sumir nos finais de semana?

Eu sorri amarelo. Eu continuava a pintar. Geralmente eu fazia os desenhos em algumas aulas entediantes ou na sala comunal. Finalizava a pintura em quadros na torre de Astronomia. Eu tinha medo de ser pega, mas até aquele momento ninguém nunca havia me visto. Geralmente eu ia nas horas menos propícias para se usar a torre: da manhã até o meio dia ou das três até às cinco. Guardava os quadros na parte de baixo, envoltos em alguns panos, atrás de um armário que tinha todos os aparelhos que se usava nas aulas. Não eram muitos como acontecia em Siena. Por conta das aulas e deveres, me tomavam todo o tempo livre. Até aquele dia eu só havia pintado três: um era o pôr-do-sol visto da torre, Gale bagunçando os cabelos de Alene e outro da mulher de cabelos bagunçados, mas somente seu contorno.

Me fazia falta pintar. Eram os únicos momentos que eu me sentia em completa paz, sem nada a me preocupar. Não havia felicidade maior do que ter meus dedos sujos de tinta. Mas ninguém sabia disso. Nem Gale, nem Alene e nem Gina. Nem mesmo minha mãe, a qual eu continuava a conversar por meio de cartas. Era sempre uma em um fim de semana. Ela já havia conseguido um pequeno apartamento para nós e se adaptado ao trabalho. Ela dizia que andava sempre tão ocupada, que ao final do dia pensava apenas em dormir. Eu não negava que isso me acalmava. Eu não estava lá para cuidar e saber como ela estava, então o fato dela só querer descansar em casa me deixava tranquila. Era um foco que a deixava exausta, mas a fazia não pensar em bobagens que me assustavam como seus estranhos surtos.

Eu havia entendido por fim o que porquê de ganhar uma coruja. Não somente porque eram lindas e minha mãe havia dito que também teve uma, mas porque eram muito práticas. Me poupava de caminhar até o Corujal e me alegrava estar lendo e o Sr. Garboso me acariciar os cabelos com o bico. Oh sim, era esse seu nome. Eu o havia chamado assim por causa de sua mania de grandeza. Ele era muito convencido e até mesmo charmoso Quando o elogiavam, erguia descaradamente sua face com os olhos fechados e parecia sorrir. Quando era uma crítica, levantava ainda mais e virava o rosto para trás. Somente eu podia fazer carinho nele.

—O que você faz quando some?

—Ah, eu gosto de ficar sozinha de vez em quando.- respondi dando de ombros.

Ela me olhou com as sobrancelhas juntas. Eu sabia que ela ia começar com aqueles questionários de perguntas diretas que ela tinha mania, mas Gale chegou bem na hora e agradeci mentalmente por nossa colega ser intrometida.

—Aonde vocês estão indo?

—Para a aula de História da Magia?- respondeu Alene com um tom irônico.- Você ainda não gravou os horários? Já estamos na metade do ano!

—Ei, ei! Calma! Eu gravei, mas o que eu quis dizer é se vocês realmente estão indo para lá.

—Bem, sim! O que mais iríamos fazer?

—Ver a Aula de Duelo!

—Aula de quê?- perguntei confusa.

—Parece que, por conta dos ataques, Dumbledore decidiu que os alunos devem saber se proteger. Vai ter aula para todos os anos, juntando algumas casas, isso se não for todas e anos diferentes, pelo que sei. Bem, a verdade é que não sei se é bem isso, mas vai ter uns duelos e o professor Lockhart que vai ensinar!- disse animada e logo se abanando com o nome.

Eu e Alene reviramos os olhos.

—Que estupidez. Ele não tem nada demais.- eu retruquei.- E Alene concorda comigo. Certo?

Ela apenas abraçou fortemente seus livros e assentiu. Havia baixado os olhos e corado um pouco. Eu nunca entendi o porquê daquela reação naquela época. Acredito que nem ela mesmo sabia.

—Ok, mas deixando a chatice de vocês duas de lado, vamos?

—O quê?

—Vai ter uma aula assim, agora! Pelo que vi juntaram as turmas do segundo, quarto e quinto ano de três ou das quatro casas. Vamos, por favor! Ninguém vai reparar que sumimos e nem nos achar no meio de tanta gente! Somos bem pequenas!

—Segundo, quarto e quinto ano? Por que misturar os pequenos com os maiores dessa forma? É uma junção muito estranha.- comentou Alene.

—Deixe de ser tão estraga-prazeres, garota! E aí, vamos?

Eu mordi o lábio. Eu ainda tinha uma pequena queda por Cedrico Diggory, mesmo ele sendo quatro anos à frente no colégio. Claro que pela idade eram apenas três anos, mas às vezes eu mesma me esquecia que tinha doze, por conta de todos terem as idades “certas” em cada grau no colégio. Complicado, eu sei. Mas eu era apenas uma garotinha. Mal sabia que tinha problemas maiores por aí do que os de idade. No fim, eu aceitei ir com Gale. Alene não ficou nem um pouco satisfeita com isso, mas deu de ombros e seguiu para a aula de História da Magia.

Gale me arrastou até nos misturarmos em um grupo do segundo ano da Corvinal e logo este misturar-se a grupos do terceiro e segundo ano de outras casas. Todos entraram no Grande Salão e no centro deste estava um comprido e retangular palco com duas escadas em cada ponta. Todos estavam em seus grupinhos e eu não podia deixar de correr os olhos por todo o local o procurando. Até que minha mente estalou e me virei para Gale, que olhava ansiosa para o palco e se encostava no mesmo como quem não quer perder o lugar.

—Gale.

—Sim.- ela nem sequer me olhou.

—Onde está o quinto ano?- ela me olhou e sorriu de forma travessa.

—Ah é. O quinto ano não vem. Eu menti porque só assim você viria.

—O quê?!

—Acalme-se, garota. A gente acha outro jeito depois de você encontrar seu amado Cedrico.

—Achar... O... Quem... Como?- eu gaguejei enquanto sentia minhas bochechas começarem a ferver.

—Eu disse que ia descobrir. Aliás, quinto ano? Que gosto maduro, hein, Oli.- ela respondeu piscando e voltando a atenção para o palco.

Eu bufei e me aproximei dela.

—Ei.- nos viramos com o chamado.- Vocês não deviam estar aqui.

—E quem é você para nos dizer o que fazer, Malfoy?- retrucou Gale cruzando os braços.

—Sou alguém a quem você com certeza deveria mostrar mais respeito.

—Falar bonito não nos intimida, senhorita.- Gale disse, irritada. Não era a primeira vez que Malfoy nos incomodava e Gale não tinha um pavio tão longo.- Aliás, mande um beijo para seu pai e pergunte à ele como ele faz para ter aquele belo cabelo de modelo! Eu realmente estou precisando hidratar os meus.- ela zombou com uma cara séria e mexendo nos seus cabelos.

Eu quis rir, mas me contive. Eu havia contado do incidente com o pai de Malfoy depois que Gale conheceu seu filho. Os “capangas” de Malfoy, dois colegas gordos e enormes da casa dele, também riram. Deviam conhecer a “senhora” para terem entendido a minha brincadeira. Malfoy os olhou de cara feia e voltou sua atenção a nós.

—Peça desculpas. Ou o professor Snape irá saber que há alunos cabulando as aulas.

Eu engoli em seco. Snape não era muito meu fã, na realidade ele não era fã de ninguém, mas parecia sentir prazer em pegar no meu pé durante suas aulas. Até mais eu do que Alene e olhe bem que minha colega era pior do que eu. Eu também nunca havia tido problemas no colégio e era a primeira vez que cabulava. Sentia que se fosse pega, ia ficar traumatizada depois e começava a me arrepender, quase pedindo desculpas a Malfoy e me retirando, quando uma mão grande pousou em meu ombro e outra parecida no ombro de Gale.

—Ora, ora. Veja o que temos aqui, George. Três cobras perdidas atacando dois inofensivos texugos.- disse o ruivo ao meu lado.

—Uma pena que não são capazes contra dois leões.

—O que vocês querem?- perguntou Malfoy, enrugando o nariz de desgosto.

—Queremos o que sempre queremos dos Sonserinos: Por favor, sumam. E se não para muito longe...

—Ao menos o mais distante possível.

—Mas elas...

—Estão conosco. E o monitor sabe.

—O monitor de vocês é seu irmão!- exclamou um dos gordos.

—E continua sendo o monitor.- replicou Fred, sorrindo.

Malfoy apenas nos olhou com nojo da cabeça aos pés e me fitou com uma raiva que brilhava em seus olhos, antes de se retirar para o outro lado do palco.

—Uou! Essa foi por pouco! Quase jurei que ele ia nos entregar!

—Você e suas ideias de capivara desdentada! Nunca mais te ouço, Gale! Se não fosse pelos Weasley estaríamos em perfeitos problemas!- comecei a ralhar minha colega, enquanto sentia meu rosto continuar a ferver. Desta vez não de vergonha, mas de pura raiva.

—Ei, ei. Acalme-se, garota. Já passou. Sua amiga não tem culpa de nada. Idiota é o Malfoy. Não esquenta sua cabeça com isso.- tranquilizou-me quem eu julguei ser George.

—A propósito, muito obrigada. Não sabíamos o que faríamos sem a ajuda de vocês.- eu agradeci olhando de um para o outro.

—Sempre às ordens para aqueles que odeiam o Malfoy.

—E amiga da nossa irmãzinha. Com sua licença, senhoritas.- eles disseram fazendo uma reverência e beijando nossas mãos, antes de se perderem na multidão.

—Eles são divertidos.- comentou Gale.

—Acho que todos os Weasley são.

Então a aula de duelo começou. Pulando a parte terrivelmente chata em que o professor Lockhart tagarelava sobre si e sobre como o professor Dumbledore havia pedido seu auxílio, ele chamou o professor Snape para ajudá-lo. O mais engraçado não foi o fato de Lockhart ter sido nocauteado por Snape, mas porque, pela primeira vez, fiquei extremamente feliz por ter uma aula com o professor de Poções. Depois disso eles chamaram dois alunos para treinarem. Malfou trapaceou, mas Harry devolveu na mesma moeda. Depois disso o Sonserino lançou uma serpente e Harry começou a falar com ela, pedindo para que não atacasse um aluno do segundo ano, da minha casa, Justin Finch-Fletchey. Snape a queimou em seguida e me recordo de todos olharem apavorados para Harry. Ele parecia atordoado com aqueles olhares. Eu estava confusa. Não entendia o que havia de anormal. Só depois de ouvir os comentários ao redor, os quais as pessoas não faziam questão de falar em tom baixo, que entendi que o Grifino havia falado com a cobra sim, mas em sua língua. Língua de cobra. Alene me explicou depois sobre os Ofidioglotas e a relação de Salazar com esses animais.

Não dormi naquela noite. Não por conta de pesadelos, mas porque realmente não conseguia pregar o olho, lembrando a todo momento o que aconteceu. Lembrando do fato de ter entendido o que Harry falou. O fato de eu ter entendido a língua das cobras.

***


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