Olivia escrita por Loren


Capítulo 10
Aviso




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***

—De vez em quando, eu erro o batuque e acabo toda encharcada de vinagre! Já tive que perder várias aulas por causa disso.

—Agora entendi porque quase nunca mais te vejo nas aulas.- brinquei com Gale e começamos a rir.

Gale Lewis era do primeiro ano de Lufa- lufa e, consequentemente, minha colega, uma das mais próximas que tive até o Halloween. Também havia Alene Stevens, não era tão falante como Gale, mas mesmo assim era uma companhia agradável. Havia dias ou semanas que passávamos sem vê-la com frequência, por conta do desespero com a nota de Poções. Passava muito tempo na biblioteca, tentando reparar seus erros em tal matéria. Estávamos seguindo tão distraidamente o fluxo de pessoas que eu nem havia me dado por conta que estávamos nos afastando do Salão Comunal. Só percebi quando Gale apertou meu pulso e murmurou com olhos desorbitados.

—Meu Merlin...

Na parede do corredor, escrito com sangue, um aviso:

A CÂMARA SECRETA FOI ABERTA

INIMIGOS DO HERDEIRO, CUIDADO!

Abaixo destas, Madame Nora estava pendurada, sem fazer movimento algum.

—Ela está morta?- perguntei em um sussurro.

—Eu não sei. Não consigo ver.

Me debati contra alguns alunos da frente e minha cabeça conseguiu ficar entre dois. Harry, Rony e uma menina de cabelos cheios e bagunçados, que reconheci sendo a Hermione, estavam de frente para os professores que observavam pasmos a parede. Exceto Dumbledore. Este, fitou a pichação sem esboçar reação. Logo, ele pediu para que os monitores levassem seus alunos para seus respectivos Salões, porém anunciou que o trio devia permanecer. Na volta, comentários de todos os tipos surgiram.

—Céus, o que será?

—A Câmara Secreta? Não era só uma lenda?

—Aquilo realmente era sangue?

—Potter no meio disso? Quem diria, não?

—Você acha que Harry está metido naquilo?- perguntei para Gale.

Ela deu de ombros.

—Eu nunca falei com ele. Entrei aqui esse ano. Mas eu não sei... Ano passado, dizem que ele derrotou Você- Sabe- Quem outra vez. Não faria muito sentido se fosse ele, mas eu não sei.

—Quem?

—Quem o quê?

—Quem é Você- Sabe- Quem?- ela me fitou incrédula.

—Aquele- Que- Não- Deve- Ser- Nomeado? O maior bruxo das trevas?- ela falou de uma forma óbvia, mas continuei confusa.- Que Harry derrotou quando era um bebê.

—Voldemort?

—SHH!- ela disse e tapou minha boca com as duas mãos.- Não se fala o nome dele. Por isso o codinome. Entendido?- eu assenti.- Ótimo. Agora, vamos porque estamos ficando para trás e não quero ter que batucar outra vez.

Já dentro do salão comunal, alguns alunos se atiraram no sofá e poltronas. Eu e Gale fomos para nosso dormitório, uma das tampas de barril que havia no túnel logo depois da sala. As camas eram extremamente confortáveis, com lençóis de algodão bem macio e cobertores bem felpudos para o inverno. Não havia janelas, apenas uma abertura acima do aquecedor que se fechava durante a noite, para o sereno não entrar. Era iluminado com lampiões, um em cada lado da cama e nossos baús ficavam embaixo ou nos pés das mesmas.

—Mas o que é a Câmara Secreta?- questionei para Gale que alimentava seu gato preto.

—Não faço a mínima ideia. Já ouvi falar, mas nunca entendi. Só sei que nunca a encontraram.

—Salazar Sonserina a criou.

Eu e Gale pulamos e gritamos, mas Alene não moveu um músculo, apenas abriu mais ainda as pálpebras.

—Desculpa. Não sabia que ia assustá-las tanto assim...- murmurou.

—Tudo bem, Alene. É que não sabíamos que estava aí. Você não foi jantar.

—Estava terminando o trabalho de Poções. Acho que agora sim consigo aumentar a nota.- declarou com um sorriso esperançoso. Sempre a achei uma graça naquela época com aquele sorriso e as tranças nas laterais.

—Ainda bem. Mas você dizia sobre Salazar...- incentivou Gale.

—Ah, sim! Eu sei porque sempre gostei de lendas e as de Hogwarts são muito interessantes, Vocês sabiam que dizem que o Barão Sangrento era apaixonado por Rowena? Ou era por sua filha? Ah, agora não lembro... As duas são Corvinas...

—Salazar, Alene. Salazar.- lembrou Gale revirando os olhos e se estirando na cama.

—Ah, sim! Dizem que, diferente dos outros fundadores, Salazar queria apenas ingressar alunos puro sangue no colégio. Os outros foram totalmente contra. Então, ele, sem muitas escolhas, decidiu abandonar o colégio. Mas não iria embora sem deixar sua parte nele. Dizem que ele construiu uma câmara, onde lá, guardou algo que seria capaz de expurgar todo o colégio de alunos sangue ruins e nascidos trouxas. E que apenas o seu herdeiro, seria capaz de fazer o uso certo dessa herança.

—Mas o que ele guardou lá?

—Eu não sei. Ninguém nunca encontrou a Câmara e ninguém nunca descobriu o que tem lá. Mas se diz que lá, é a casa de um monstro.

Nesse momento, minha nuca se arrepiou e eu me senti fria. Mesmo que fosse uma lenda, as palavras de Alene me pareceram muito reais. E se fosse mesmo real, o castelo abrigava uma criatura. Que não teria compaixão alguma de matar qualquer aluno de qualquer ano.

—Relaxa, Olivia! É uma lenda! Com certeza, algum Sonserino engraçadinho fez uma brincadeira de mau gosto! Vamos dormir, porque amanhã já começamos com Poções.

—Nem me fale...- choramingou Alene e as duas se deitaram, com os lampiões apagados.

Suspirei. Apaguei o meu e deitei na cama. Eu continuara tendo alguns pesadelos desde o dia da escolha da minha casa. Ora alguns era violentos, ora outros eram suaves e ora eu nem tinha pesadelos, o que acontecia com mais frequência. Mas naquela noite, sonhei novamente com a mulher. Porém, ela tinha algo de diferente em si. Dentes. Amarelos e compridos, cheios de sangue.

Meu sangue.

***

—Vamos, Olivia. Vai ser divertido.

—Eu não sei. Nunca fui muito fã de esportes...

—Eu também não! Eu odiava esportes até meu pai falar sobre este!- e Gale começou a rir.- Quadribol é diferente.

—Como?

—Vai entender se vier conosco.- cruzou os braços e trocou um olhar cúmplice com Alene.

—Está bem! Me convenceram!- exclamei com as mãos para o alto e elas começaram a me arrastar para fora do quarto.- Ah, esperem, eu esqueci meu cachecol!- avisei quando elas já estavam para fora do Salão.

Voltei às pressas e estava distraída colocando o pano amarelo e preto no pescoço quando esbarrei com alguém no corredor.

—Oh, me desculpe! Eu não...

—Ah, tudo bem. Eu estava lendo, não vi você.- levantei os olhos e deixei a boca cair. Ele deu uma risadinha.- Você está bem?

—Cla... Claro.- gaguejei e corei.

—Você é a novata que não apareceu na Seleção, certo?- eu assenti.- Olive?- ele tentou e arqueou uma sobrancelha enquanto me apontava. Eu ri.

—Quase. Olivia.

—Foi perto. Como está sendo Hogwarts para você?

—Legal. Bem legal.- respondi, apertando minhas mãos.

—Se adaptou direito? Nos estudos e com os colegas?

—Ah, os estudos vão indo, nunca fui das mais inteligentes. Mas as colegas...

—OLIVIA DE ANGELLIS LEONE! QUER FAZER O FAVOR DE SAIR LOGO?! EU NÃO ESTOU COM VONTADE DE BATUCAR E LEVAR UM BANHO DE VINAGRE!- a voz de Gale reverberou por todo Salão, mesmo ela estando do lado de fora.

—Acho que isso responde.- ele disse e riu.- Bem, é melhor você ir. Se não vai perder o jogo.

—Você não vai?

—Hoje não.- mostrou o livro de Poções.- Snape gosta de prejudicar os alunos.

—Exceto os de Sonserina.

—Exato. Talvez outro dia. Até mais, Olivia.- despediu-se e entrou no quarto dos meninos.

Eu saí do Salão e nem prestei atenção na bronca que Gale me dava. Eu estava muito encantada relembrando cada palavra que Cedrico havia dito e cada gesto feito. Que podia eu fazer? Tinha doze anos e passava pela minha primeira paixão platônica. Não havia passado por coisa parecida na Itália. No entanto, as palavras-chave ecoaram meus ouvidos e voltei a prestar atenção em minha colega.

—...vou tacar aqueles sua pasta que você mantém lacrada e longe de todos nos lixo.

—O quê?!

—Só assim para você me escutar. Aposto que nem percebeu que já estamos fora do colégio.- olhei ao redor e vi a bela campina que Hogwarts possuía.

Lá embaixo, havia várias torres formando um retângulo com as bordas arredondadas. Eu podia ver três postes gigantes com aros no topo de cada um nos lados do estádio. Alunos de várias casas seguiam para lá animados e sem parar de falar.

—Ah... É. Acho que não.

—Qual seu problema? Eu fiquei falando, falando, falando, falando e falando e você não escutou metade do que falei! Tenho certeza que Alene lembra de muitas mais coisas do que você.

—Infelizmente.- ouvi a garota ao meu lado murmurar e prendi o riso.

—Não me vem com essa carinha, mocinha! O que estava pensando enquanto eu falava? Devia ser algo muito interessante para não dar atenção a minha beleza rara.- ralhou e afofou os cabelos negros.

—Tenha certeza que era mais interessante que você e seus cabelos crespos, minha cara.- ela abriu a boca e levou a mão ao coração.

—Oh! Isso queima minha alma e destroça meu coração! Como pôde trair-me desta forma?

—Menos, Gale. Menos.

—Tanto faz. Minha dramatização foi maravilhosa.- comentou e deu de ombros.- Agora, fala. Quem é?

—Quem é o quê?!- exclamei com as bochechas coradas.

—Só pode ser um menino para fazer você viajar nas nuvens dessa forma.

—Não é não.

—Você está vermelha. Então é. É da nossa turma? É de outra? Mais velho? Mais novo? Espera, não tem como ser mais novo, nós somos o primeiro ano, se bem que você é um ano mais velha...

—Apenas ignora, uma hora ela cansa de falar.- sussurrou Alene e voltou a se concentrar no caminho.

—Ei, o que estão cochichando?!

—Chegamos!- exclamou Alene e subimos para as arquibancadas.

Gale bufou e cruzou os braços.

—Pode ter certeza que ainda vou descobrir quem é, senhorita De Angellis.- murmurou para mim e começou a gritar para a Grifinória.

***

O jogo ocorreu de forma tranquila e eu tive que admitir: Quadribol era fantástico! Aquilo sim era um esporte incrível. Se não fosse pelo fato de Harry Potter ter perdido os ossos do braço.

Os boatos, obviamente, começaram e cada um inventou como ele poderia ter perdido. Uns diziam que foi por causa da bola enloquecida, outros por causa da queda. No fim, foi esclarecido que a incompetência do professor de Defesa Contra as Artes das Trevas causou o desparecimento dos ossos. Infelizmente, o professor era aquele homem da Floreiro e Borrões, o tal de Gilderoy Lockhart. Eu realmente tinha uma vontade tremenda de sair quando sua aula começava. Eram detestáveis. Eu estava indo para meu Salão, depois de ter passado na biblioteca, quando um furacão vermelho esbarrou em mim, quase me levando ao chão.

—Oh, céus, desculpe, Oli!

Era Gina. Dividíamos a mesa em algumas aulas. Gostava dela. Era divertida e engraçada quando se tomava mais intimidade, mas antes disso precisava encarar uma garota extremamente desconfiada e com comentários bem afiados. No entanto, nos demos bem. O porquê, eu nunca soube dizer.

—Vá com calma, Gina! Ou vai acabar derrubando o castelo inteiro!- comentei na brincadeira, mas pude ver que estava uma pilha de nervos.- O que houve?

—O Harry está na enfermaria. Todos já foram para lá, eu demorei para sair da multidão.- disse com as mãos esfregando-se uma na outra.

—Acalme-se, Harry ficará bem.

—É... Eu estou meio... Nervosa de aparecer por lá.

—Ué, por quê?

—Talvez fique muito... Óbvio.- eu prendi o riso.

Ela era completamente apaixonada pelo moreno. Tinha um medo absurdo que ele descobrisse. O que me impressionava era o fato de que ele realmente não desconfiava de nada. Além do mais, eu achava fofo o jeito que ela se preocupava com ele, mas era envergonhada demais para tentar se aproximar.

—Todos estarão lá. Ninguém vai reparar.

—Vem comigo?

—O quê?

—Por favor, Oli. Me sentirei melhor. Digo a verdade: que esbarrei contigo e que te levei junto.

—Talvez isso fique óbvio.- eu comentei.

—Por favor!- ela implorou, juntando as mãos e fazendo um beicinho.

—Ah, está bem! Mas rápido, tenho que terminar umas tarefas.

Ela pulou de alegria e me puxou pelo pulso até a enfermaria. Quando chegamos lá, a cama mais perto da entrada estava sendo desocupada pelo apanhador da Sonserina, o menino de cabelos platinados que eu esbarrei por cima na loja. Ele se apoiava em um dos colegas grandes e gordos e a outra mão estava em seu estômago. Ele estava um pouco pálido e com os cabelos bagunçados, mas parecia melhor do que seus gemidos demonstravam.

—Que está olhando, sua lufana?- eu abaixei a cabeça e segui Gina que já estava perto da cama de Harry.

Esta estava rodeada por vários da Grifinória. Quatro do time e mais cinco alunos conversavam com o moreno, que parecia um pouco zonzo com tantas vozes. Segurava um copo pela metade com uma bebida transparente, mas eu tinha certeza que não era água. Na mesa ao lado, tinha um garrafa em formato de caveira com o nome “Cresce ossos”. Imaginei que o gosto não devia ser bom. Gina apenas ficou ali, certificando-se de que ele estava bem. Não fez muitas perguntas. Ela era assim: falava pouco com vários ao redor, mas quando se aproximava... Sua boca parecia não fechar mais. Eu fiquei um pouco mais atrás dela, sem querer aparecer muito. Estava ali apenas porque ela havia insistido. Me sentia um intrusa no meio de tantos grifinos. Apenas queria sair logo dali sem nem me perceberem. Mas é claro que isso não foi possível.

—Quem é você?

Era um dos gêmeos, irmão da Gina, que perguntou. Eu abri a boca para responder, mas estava tão nervosa e surpresa com a pergunta, que nada saiu. A ruiva, felizmente, me salvou.

—Ah sim. Esta é Olivia. Dividimos algumas aulas. Encontrei ela no caminho sozinha e a convidei para me acompanhar.- explicou, passando um dos braços pelos meus ombros.- Olivia, estes são da Grifinória: Wood, Angelina, Fred, George, Colin, Dino, Simas, Hermione e Ron. Pessoal, esta é a Olivia.

Todos me cumprimentaram com um aceno de cabeça e uns “olá” soltos no ar. Eu só fiz um movimento com a mão e sorri com os lábios apertados.

—Ah, oi Olivia. Parabéns por ter ido para a Lufa-lufa.- disse Ron.

—Ah é. Parabéns. Gosta de lá?- perguntou Harry.

Me surpreendi com o fato deles lembrarem de mim. Achava que seria o contrário. De qualquer forma, foi uma surpresa boa.

—Ah sim. Me dou bem lá.- foi somente isso que disse.

Depois, Gina se despediu, dizendo que tinha alguns deveres para completar. Mandou melhoras para Harry e saímos da enfermaria.

—Você pareceu surpresa quando falaram contigo.- comentou Gina aos risos enquanto caminhávamos.

—Admito que sim. Não achei que lembrassem de mim.

—Lembram sim. Na primeira semana quando chegaram, ficavam se perguntando toda hora para que casa você teria ido.

—Mas a mesa de Lufa-lufa fica do lado da Grifinória.- observei.

—São meninos. São lerdos para isso.- eu ri.- Bem, eu tenho que ir. Vou escrever.

—Ainda escreve naquele diário?

—Ah sim. Me faz muito bem.

—Ah... Gina, não quero parecer chata, mas... Você sabe.

—Sim, eu sei. Diminuir um pouco.

—É para seu bem. Às vezes você fica tão fisurada em escrever que deixa de fazer outras coisas. Isso pode te prejudicar. Parece até que está em outro mundo!

—Eu sei. Não se preocupe. Vou fazer meus deveres hoje também.

—Espero que sim. Bem, até mais.

Nos despedimos e ela subiu as escadas enquanto eu as descia. Seu salão era em uma das torres e o meu, tecnicamente, no porão do castelo. Eu não reclamava: ficava do lado da cozinha.

***


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