A mentira sempre teve um gosto amargo em minha boca.

Mas isso não se aplicava apenas a mentiras. Quando eu tomava decisões ou tirava conclusões e eu não as contava para ninguém, eu me sentia corroída por dentro. Eu sentia que tudo estava se desfazendo, e que eu precisava urgentemente contar logo a verdade.

As vezes minhas conclusões eram precipitadas, porém mesmo assim eu as contava, para evitar aquela sensação ruim. Às vezes eu magoava pessoas, em várias outras elas se sentiam ofendidas, mas eu não sabia se a sensação de culpa era pior do que a da mentira.

A moral aqui é: Não sou boa em esconder coisas sobre mim.

E outro ponto da história é: Do mesmo jeito que a mentira e a culpa fazem mal, a verdade faz muito bem. É algo inexplicável o quanto é bom por tudo para fora...

Eu ainda estava surpresa pela visita repentina, mas isso não significa que eu estivesse triste, na verdade muito pelo contrário, eu estava muito feliz!

-Aqui. - eu disse estendendo um copo de água para o Sasuke que ainda estava de pé, perto da porta. - Que falta de educação, né? Senta! - eu falei e ele se sentou agradecendo.

-Eu atrapalhei alguma coisa? - ele falou, imagino eu que iniciando uma conversa com toda a classe que ele conseguia em seus dezessete anos, coisa que eu nem conseguiria em meus cento e vinte três anos.

-Não! É só a situação do anel maravilhoso, mas eu já tinha achado de qualquer forma. - eu disse explicando para ele, que parecia estar realmente preocupado.

-Eu queria falar com você. - nesse mesmo momento eu quase deixei escapar algo como: "Nossa! Jurava que você queria tirar uma foto e ir embora.", mas eu me controlei. - Isso é um pouco óbvio, mas eu só queria conversar.

-Oh, quer que eu te mostre mais alguma coisa sobre a organização dos documentos? - eu falei depois de não arranjar absolutamente nenhum assunto para conversar.

-Talvez depois. Eu queria te perguntar se você não estaria interessada em sair outro dia comigo. - ele falou me surpreendendo, imagino que eu tenha feito uma careta um tanto quanto estranha, porque ele logo tratou de se explicar. - É que... Eu me diverti, mas é claro, só se você quiser.

-NÃO! - eu gritei e ele fez uma expressão um tanto quanto decepcionada, e aquilo me partiu o coração. - Quer dizer, eu adoraria! O não, não foi para isso. - eu disse tentando me explicar, a minha confusão fez com que Sasuke desse uma risada discreta.

Nós ficamos um tempo conversando, acertamos o dia, o local e a hora do nosso... Encontro? E ficamos conversando por um tempo, eu mostrava algumas técnicas de separação de documentos enquanto ele também compartilhava suas experiências.

-SAKURAAA! - escutei minha mãe berrar do andar de cima, isso fez com que eu me assustasse, eu segurei o braço do Sasuke que era por acaso a coisa mais próxima que eu tinha para agarrar por impulso.

-Meu Deus do céu, O QUE FOI AGORA?! - eu perguntei depois de um tempo me recuperando do choque.

-O cheiro de suco não sai do anel! - ela falou um pouco mais baixo, talvez ela tivesse ido até a ponta da escada para falar.

-Pelo menos é um suco bom? - eu falei provocando ela.

-Haha. Acho que... - parecia que ela estava cheirando o anel. - Será que é maracujá? Mas... pode ser goiaba.

-Porque com certeza, maracujá e goiaba tem um cheiro bem parecido, não é mesmo? - eu falei em tom irônico.

-Mas pode ser menta também! - minha mãe rebateu como se aquilo fizesse sentido, Sasuke nem tentou controlar a risada para disfarçar.

Eu me levantei do sofá pedindo a ele que esperasse um pouco, foi só aí que percebi que ainda segurava seu braço, ele não fez nenhum comentário sobre isso. Eu subi as escadas para tentar ajudar minha mãe a tirar o incrível odor de maracujá, talvez goiaba, mas que poderia ser menta, do anel maravilha.

-Será que jogar perfume adianta? - perguntei sugerindo a minha mãe, assim que cheguei lá em cima.

-Acho que não Sakura. - ela falou sem pensar muito sobre o assunto.

-Então vamos naquela sala de limpeza, que você desorganizou, a gente passa álcool e vê se o cheiro sai. - falei sugerindo minha última idéia, mas sinceramente eu esperava que a minha mãe já tivesse pensado nisso.

-Tudo bem. - ela disse se dirigindo à porta do quarto de limpeza. Não, ela não tinha pensado nisto.

Nós demoramos um pouco até achar o que buscávamos, mas conseguimos. Depois de esfregar um pouco o cheiro finalmente saiu. Minha mãe me agradeceu. AGRADECEU! Eu não sei se fico feliz ou se me preocupo e começo a imaginar se o Apocalipse está começando.

-Sua relação com a sua mãe melhorou, pelo que parece. - Sasuke comentou assim que eu terminei de descer as escadas.

-É... Mas eu não sei bem o que aconteceu. - eu admiti para ele.

-Depois, talvez você devesse perguntar. E conversar com ela um pouco. - ele falou aquilo com tanta tranquilidade, imaginei que fizesse aquilo com frequência. - Talvez seja só o que falta: comunicação. - ele disse e eu fiz uma careta, ele deu uma risada, mas afirmou que era sério.

-Aff... - eu disse e assim que percebi me corrigi - Quer dizer... Que horror! - falei tentando fazer uma pose teatral falha com as mãos sobre o peito para dramatizar o máximo possível.

-Aff... - ele repetiu sorrindo, parecia uma coisa ao mesmo tempo estranha e normal saindo de sua boca, e eu não imaginava por quê eu estava olhando para ela, assim que percebi desviei o olhar.

-Nunca falou uma coisa como essa? - eu perguntei e ele fez um sinal negativo com a cabeça. - Para trocar mensagens? Nunca? - eu perguntei com um pouco de receio, pois nas mensagens eu já conseguia escrever mais do que eu digo gírias, e às vezes eram até abreviações de gírias.

-Por que eu faria isso? Realmente não vejo motivo. - ele disse rindo.

-Pode falar "Aff" de novo? - eu perguntei de repente, ele ficou confuso e eu expliquei - Talvez eu nunca mais veja você falando algo deste tipo!

-Talvez. - ele falou sorrindo, a boca dele a todo momento me chamava atenção, eu estava precisando começar a me policiar.

-Quer dar uma volta lá fora? O jardim é muito bonito! - eu falei tentando sugerir algo que tirasse minha atenção dele de alguma forma.

Nunca me vi fazendo isso tantas vezes, e o pior, de forma inconsciente.

-Pode ser! - ele falou ainda sorrindo, e eu evitei ao máximo olhar para o rosto dele.

Nós fomos para o jardim, as flores mais bonitas ficavam na parte de frente da casa, como decoração, mas a parte de trás também era linda, tinha várias flores e árvores. Elas não estavam dispostas de uma forma proporcional, mas ainda sim era uma grande mistura de cores que ficava encantadora durante o dia e a noite.

-Aqui é muito bonito! - Sasuke falou um pouco empolgado.

-Eu não venho muito aqui, mas eu também acho lindo. - eu disse ainda evitando olhar para o rosto dele.

-Eu fiz alguma coisa? - ele perguntou me surpreendendo.

-Como assim? Você não fez nada! - eu disse um pouco espantada com a suposição. - Na verdade está sendo agradável até demais. Por que a pergunta?

-Você não olha para mim. - ele falou simplesmente.

-Ah... - eu falei simplesmente, eu não consegui negar e aquilo por si só, já afirmava que era verdade o que ele supôs.

-Por quê? - ele fez uma pergunta que eu realmente esperava que fosse retórica, mas eu sabia que não era.

-Para de sorrir. - eu falei e ele se surpreendeu virando para me encarar, eu vi um sorriso de canto brotar em seus lábios, aquilo me irritou um pouco. - É sério "mano", para de sorrir!

-O meu sorriso é tão feio assim? - ele perguntou fingindo tristeza.

-Na verdade muito pelo contrário. - eu murmurei sabendo que ele escutou.

-Ah... Obrigada. - ele falou abrindo um grande sorriso. - O seu também. - ele falou fazendo meu coração palpitar.

Naquele momento, mesmo que eu ainda estivesse em dúvida, eu soube que não teria como esconder.

Eu sabia que estava me apaixonando pela sua gentileza, pelo seu carisma, e principalmente pelo sorriso.

E como talvez eu não conseguisse esconder por muito tempo, eu logo peguei meu calendário e marquei o dia que eu iria contar tudo. Não acho justo eu guardar tudo para mim, acredito que as pessoas merecem saber quem gosta delas ou não, mesmo quando elas não vão corresponder ao sentimento.

Eu só realmente espero, que mesmo se nada der certo, que eu ainda tenha a presença dele ao meu lado...

A moral aqui é: É bem estranho descobrir que você gosta de alguém.