Surpresas podem variar de forma, tamanho, e em diversas aparições.
Algumas são de fato algo inestimável.
Outras simplesmente memoráveis.

O fato é que toda surpresa que fornece boas lembranças, é algo a ser estimado.

-CHEGUEI! - eu gritei assim que fechei a porta.

Eu joguei a minha mochila no sofá, eu fui a escola e depois direto para o consultório. Eu fui para a cozinha e peguei um copo de água.
Esse meio tempo foi mais do que suficiente para eu repassar toda a noite em que eu saí com o Sasuke.

-SAKURAAA! - escutei um berro da minha mãe, do andar de cima, fiquei surpresa e acabei derrubando um pouco de água na minha roupa.
-Ai. Meu. Deus. - eu falei desesperada enquanto subia as escadas o mais rápido possível.

Eu cheguei no andar superior e comecei a procurar pelo quarto dela, mas tudo o que eu vi foram as portas do guarda-roupas escancaradas, tudo revirado. Senti o desespero crescer no meu peito.

-SAKURAAAA! - escutei outro grito.
-Cadê você?! - eu falei abrindo várias portas ao mesmo tempo.
-Na varanda do quarto de limpezas! - escutei ela falar.
-O quê você estaria fazendo aqui? - eu falei entrando no local indicado, estava mais calma.
-Não acho a aliança! - ela falou com uma cara de pânico, eu senti o pânico crescendo em mim com aquele comentário, não pelo mesmo motivo que ela.
-Eu vou ter que procurar aquele "troço"? - eu falei tentando imitar as feições dela.
-Por favor! - ela falou ficando um pouco brava, eu fiquei surpresa com um pequeno detalhe.
-Por favor? - eu perguntei para confirmar.
-É! Eu quero achar! - ela falou voltando a revirar alguns produtos de limpeza.
-Claro! - eu falei ainda em choque. - Mas eu não vejo motivo para você sequer ter mexido nos produtos de limpeza para perder ela por aqui.

Minha mãe bufou e saiu andando, eu olhei por um tempo, ela fez uma bagunça assustadora por toda a casa procurando esse anel. É incrível como procuramos em lugares onde está óbvio que o objeto não está lá, mas nós consideramos tudo no momento de desespero.

-Procura aqui em cima, eu vou descer e ver lá embaixo. - eu disse e comecei a descer as escadas.
-Se achar me avise!
-Na verdade eu prefiro guardar segredo e deixar você procurando... - falei com ironia, minha mãe deu risada, mas não respondeu nada.

Ficamos procurando a tarde inteira, mas não encontramos. Nenhuma das empregadas tinha visto aquele bendito anel. Eu estava descabelada de tanto correr de um lado para o outro, e de deitar no chão olhando embaixo dos sofás.
Eu só não dizia que eu desistia de procurar aquele negócio porque minha mãe tinha chorado algumas vezes no meio da busca, então imagina quando ela tiver ainda menos chances sozinha.
Decidi fazer uma pausa para beber qualquer coisa, e acabei encontrando um jarro de suco na geladeira, peguei ele e assim que abri eu percebi uma pequena coisa que não deveria estar ali.

-Achei essa merd... maravilha! Eu achei essa maravilha! - eu falei brava por não ter tomado suco antes e feliz por ter encontrado aquela maravilha. Sinceramente acho que minha mãe surtaria se eu chamasse ele de outra coisa.
-CADÊ?! - escutei passos apressados descendo a escada.
-Aqui! - falei enfiando a mão no suco para pegar o anel assim que minha mãe desceu.
-OBRIGADA! - ela grirou colocando aquela coisa maravilhosa e lambuzada no dedo anelar.
-De nada! - eu falei supresa por ela me agradecer e também por não ter limpado aquele negócio antes.

Minha mãe subiu as escadas como um furacão e pegou o celular, acho que ela tinha apelado até para o meu pai, e agora eles vão comemorar o fato de terem encontrado o anel maravilhoso.

Juntei minhas coisas e coloquei a mochila nas costas. No mesmo instante lembrei que estava com o uniforme da escola ainda vestido. Assim que subi o segundo degrau para ir ao meu quarto a campainha tocou e eu decidi não atender.

Uma das moças que trabalha aqui em casa surgiu de sei-lá-onde e foi atender a porta. Eu nem tinha terminado de subir as escadas quando eu escutei a moça me chamar.

-Srta. Sakura? - ela me chamou sem esperar resposta. - Tem visita para você!
-Não estou esperando ninguém! - falei e continuei meu caminho. - Mande ir embora.
-Nossa, Sakura! - escutei uma voz familiar pronunciar o meu nome depois de algum tempo que eu não o ouvia daquela boca. - Não passe seu endereço quando for mandar as pessoas embora!
-Sasuke? - eu disse e larguei a mochila no corredor para voltar a descer correndo as escadas. - Obrigada, Yuuki. - falei para a moça que logo se retirou.
-Ainda preciso ir embora? - ele perguntou sorrindo.
-Claro que não! - eu falei ainda surpresa. Esse dia não está sendo comum, e o meu psicológico está sendo abalado. - Entre!
-Obrigado. - ele falou passando assim que eu abri espaço. Fechei a porta e vi ele se sentar no sofá.
-Tudo bem? - eu perguntei assim que percebi que não teria nenhuma pergunta melhor para fazer.
-Sim, e com você? - ele falou de uma forma muito educada como sempre.
-Descabelada, por causa do anel maravilha que gosta de sucos. - eu falei ao me lembrar do estado deplorável em que eu me encontrava.
-Não sei o que isso significa, mas foi engraçado! - ele disse abrindo um sorriso ainda maior.
-Isso significa que eu até iria te oferecer suco, porém eu enfiei minha mão dentro dele para pegar um anel, e eu acho que talvez o suco não fique com um gosto muito bom... - eu falei um pouco envergonhada.
-Oh! Tudo bem! - ele disse se divertindo. - O que o anel fez de tão especial para ser chamado de maravilha?
-Na verdade, eu ia xingar o anel e me contive no meio... Mentira, no final da palavra. - eu disse um pouco orgulhosa de mim. - Esses são os hábitos que você acabou me fazendo adquirir.
-Isso é ruim? - ele perguntou ainda com um sorriso brincando nos lábios.
-Na verdade não.

Eu disse e fui para a cozinha buscar um copo de água, eu trouxe e o entreguei. Ele me agradeceu e ficamos em silêncio por um tempo.

Acho que definitivamente aquele garoto foi uma surpresa um tanto quanto incrível, memorável, agradável e especial.

Acho que ele conseguiu ser várias coisas de uma vez.

Utilizar coisas ou pessoas como válvula de escape não é saudável, mas quando elas te acalmam, mantê-las por perto te faz bem.

Sequências e mais sequências de surpresas senseguiram na minha vida, durante anos, mas se você me pedisse para citar apenas uma, eu citaria ele e me esqueceria das outras.