Scream 2016 escrita por S Nostromo


Capítulo 3
Real Woodsboro




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Finalmente fui liberado, ia voltar para casa. Na verdade ia voltar para a república para pegar minhas coisas e passar algum tempo na casa da minha avó. Meus pais morreram alguns anos atrás, e era ela quem cuidava de mim. A república estava vazia, todos estavam mortos. Emily também ia voltar para a casa dos pais, pois se recusava a morar em uma casa onde ocorreu uma série e assassinatos. Uma ambulância ia me levar de volta para a república. O hospital em que fiquei era de a uma cidade vizinha, pois o que pertencia à cidade onde eu morava estava em reformas.

Segui um homem de branco que me explicou ser um dos motoristas.

– Meu nome é Claudius. Vamos transferir um paciente para outro hospital e deixar você no meio do caminho. Não vai nos atrapalhar de forma alguma. Espero que não tenha problema para você.

– Não, problema nenhum – respondi.

Não dei atenção ao caminho, estava mais focado em andar e sentir minhas pernas, andando de verdade. Também ansiava por ir embora logo, hospitais eram realmente entediantes. Encontramos uma pequena multidão na sala de espera no primeiro andar. O motorista perguntou o motivo do alvoroço para uma mulher, aparentemente também funcionária do hospital.

– O noticiário alertando sobre um imprevisível furacão que se formou. Está indo para o Oeste, mas parece que não vai ter grandes estragos.

– Isso não é nada bom – comentou Claudius para si mesmo.

Continuamos seguindo, alguns corredores mais vazios.

– Por que não é bom? – interroguei. – O furacão está indo para o mesmo lado que nós, não é?

– Exatamente.

– Podemos esperar – sugeri.

– Você pode, mas o paciente que deve ser transferido, não. Espere aqui, eu já volto. Vou falar com o médico-chefe sobre isso.

O cara me deixou em um corredor aleatório. Sentei em uma cadeira. Podia ouvir o vento assoviando lá fora. Um homem de trajes sociais sentou do meu lado. Pensei de onde ele tinha saído, assim, de repente. Perguntou meu nome e há quanto tempo estava no hospital. Respondi numa boa. Demorei um pouco para entender do que se tratava.

– Qual foi sua influência no massacre de Real Woodsboro?

– Como é? – perguntei.

– Massacre de Real Woodsboro. O caso dos universitários assassinados na festa de Emily, inspirado na quadrilogia de filmes. Você foi a primeira vítima, recebeu a ligação de César o assassino. O que ele lhe disse?

Assisti três mulheres se aproximarem, e uma delas sentar também ao meu lado. Colocou seu celular diante do meu rosto no modo de gravação de voz. As outras fizeram o mesmo com seus microfones.

– Abel, então quer dizer que você também foi o responsável indiretamente pelo massacre de Woodsboro, uma vez que você foi um dos adolescentes que atormentou César?

– Segundo informações, César ainda pode estar vivo, as autoridades apenas tentaram encobertar o assassino para descobrir suas intenções longe da mídia. Se estiver mesmo vivo, acha que ele seria capaz de continuar o Real Woodsboro?

Um grupo de repórteres já estava em volta de mim, tirando fotos e fazendo perguntas que eu não estava a fim de responder. Vi o motorista ao fundo da bagunça, acenando com o braço. Levantei e empurrei todos pelo caminho. Segui-o às pressas e entrei em uma pequena sala. Ele trancou a porta, nos separando dos desesperados pela atualidade.

– Obrigado – eu disse.

– Por nada. Esse pessoal do jornal não tem limites, deviam estar fazendo plantão aqui há dias, esperando você ser liberado. Vem, vamos sair pelos fundos do hospital. O paciente já está na ambulância.

Seguimos por outra porta na pequena sala e depois um corredor. Chegamos a um estacionamento somente para ambulâncias. O vento ali era mais forte e mais fresco. Finalmente pude respirar algum oxigênio que não fosse misturado com cheiro de remédios e roupas de hospital.

– Pode entrar pelos fundos, um auxiliar de enfermagem vai conosco, ele já deve estar aí dentro.

Contornei o veículo distraidamente. De repente um maluco me abre as portas de trás e pula da ambulância usando a mesma máscara que César usou naquele dia. O susto foi suficiente para dar um soco em seu roso e chutar o sujeito no estômago, derrubando-o. Enchi-o de chutes, e só parei quando ele começou a pedir por ajuda, e notei que algo estava errado. Puxei sua máscara e me preparei para o pior. Podia ser César, a repórter tinha dito sobre ele estar vivo. Ou seriam rumores? Enfim, não o reconheci. O motorista veio desesperado em nossa direção.

– Quem é esse? – perguntei indignado.

Claudius ganhou uma expressão de revolta, ao mesmo tempo ajudou o desconhecido, para mim, a se levantar.

– Ah pelo amor Deus! Esse é Igor, o auxiliar que eu te falei.

Revirei os olhos.

– Era para ter assustado você Claudius – retrucou o tal Igor. – Nem me avisou que ia trazer ele agora – ele no caso seria eu. – Puta merda hein, que mão pesada a sua – agora fala comigo.

– O último cara que apareceu na minha frente com essa porcaria de máscara tentou me matar. Queria que eu fizesse o que?

Começamos a seguir para nossos lugares na ambulância.

– Sei lá – respondeu Igor, massageando o maxilar. – Um gritinho feito uma moça. Ou uma cara de susto já estaria de bom tamanho.

– Eu assustei na primeira vez e deu tempo do cara enfiar uma faca no meu ombro.

– Também vou estar preparado quando for fazer alguma brincadeira.

– Aparece de Leatherface da próxima vez, talvez tenha mais sorte – rebati com aspereza.

Claudius tomou posse do volante nos levando pela estrada em grande velocidade. Pude ver pela janela alguns repórteres chegando tarde demais no estacionamento. Outros nitidamente nos xingando muito.

– O furacão não vai nos atrapalhar? – questionei para Claudius.

– Comuniquei o médico-chefe do hospital, pedi para esperarmos um pouco, mas ele negou. O furacão vai atravessar parte da estrada que estamos seguindo. Mas se eu for rápido nós vamos apenas sentir o forte vento. O alerta de perigo foi dado somente para os moradores nos fins da sua cidade, na zona rural. Não terá problemas na república com relação a isso.

– Parece que os caipiras vão invadir a urbanização para fugir da mãe natureza – zombou Igor.

Um denso campo de árvores a nossa esquerda foi se tornando mais baixo até surgir um campo possível de se ver até onde os olhos alcançavam. O céu arroxeado com relâmpagos cortando as nuvens deixava um clima meio apocalíptico. No fim do horizonte estava o furacão. Gigantesco e negro, pouco iluminado pela luz da lua. Tinha aquele típico formato de cone invertido, e quando mais alto maior era. Um pouco assustador.

– Isso não é nada – disse Igor que parecia ter lido meus pensamentos, - comparado ao terremoto no Haiti. Eu estive lá ajudando o país.

– O que você fez lá exatamente? – perguntei.

– É mais fácil perguntar o que eu não fiz. Fui desde médico, engenheiro e carregador até testemunha e vítima. Vi pessoas morrendo e vi coisas desabando em cima de mim. O país estava um caos, uma lástima. A natureza é poderosa.

– Muitas vezes é ela quem julga quem deve viver ou não – acrescentou Claudius sem tirar os olhos da estrada.

“Ou algum maníaco com uma faca” pensei ironicamente.

Os dois continuaram conversando, não dei atenção, assunto aleatório e chato. Havia uma quarta pessoa ali: o paciente. Estava deitado em uma maca, com aparelhos respiratórios ligados. Vez ou outra Igor ia verificar o funcionamento do cara e dos aparelhos. Não me interessei em saber o que ele tinha.

Os ventos foram ficando piores. Folhas e pedaços de galhos que vinham de algum lugar batiam contra a lataria, do lado de fora. Começou a chuviscar, mas as gotas eram espessas, era possível ouvir cada uma acertando a ambulância, pareciam bolinhas de gude. Claudius acelerou mais.

– Não é perigoso ir mais rápido com o tempo que está lá fora?

Igor acertou seu cotovelo em mim, chamando minha atenção para ele. Disse alguma coisa em voz baixa para não dizer esse tipo de coisa ou deixaria o paciente nervoso e que não era nada bom para ele.

– Se ele continuar nessa velocidade o cara doente não vai ser o único a ter um ataque cardíaco aqui – retruquei.

Um repentino movimento brusco derrubou a mim e Igor. O paciente só não foi para o chão porque estava amarrado. Os pneus não cantaram porque o asfalto estava molhado. Senti que estávamos sendo puxados. O vento urrava do lado de fora. A ambulância foi de encontro a alguma coisa. Meu corpo voou contra a parede metálica, ouvi vidros se quebrando, e quando me dei conta da situação, já estava apagando, e mais uma vez veria a morte bem de perto. Sequer tivemos tempo de cultivar o sentimento de saudade.


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