Não tão clichê escrita por Apaixonada por palavras


Capítulo 12
Onze.


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente: Eu odeio o nyah. Apagou minhas notas duas vezes seguidas. É a terceira vez que eu escrevo essa bugueda. Ou talvez seja minha internet mas foda-se
E NÃO É QUE QUEM É VIVO SEMPRE APARECE?
Sério gente, se vocês resolverem fazer motim e não comentarem nesse capítulo como vingança eu entendo. Vou me deprimir? Vou. Mas entendo.
Desculpa, desculpa, desculpa pela demora. De verdade.
Gente, então, NTC tá chegando a...RUFEM OS TAMBORES...50 acompanhamentos. É pouco, mas muito pra mim. E quem me conhece de outras fics, sabe que quando ocorrm eventos tipo 50 comentários, 50 acompanhamentos, 5 recomendações e etc, eu faço capítulos especiais. Então vocês podem começar a pensar em que ponto de vista de qual personagem(que não seja a Nina, óbvio) vocês querem o capítulo especial.
EU JURO QUE POSTO EM UMA SEMANA O PRÓXIMO CAPÍTULO.
Espero que vcs gostem
Até os rewiessss
Beijo Beijo ;)



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2 de Setembro de 2011, Sexta-feira, 13:12

De: Elisa

Para:Nina

Nina, eu não consigo achar meu par de botas preto de cano-longo.

De:Nina

Para:Elisa

Não tenho nada a ver com isso

De:Elisa

Para:Nina

Você é a única nessa casa que calça o mesmo número que eu

De:Nina

Para:Elisa

E...?

De:Elisa

Para:Nina

Se minhas botas não estiver em cima da minha cama até a hora do meu encontro, eu vou te matar.

De:Nina

Para:Elisa

Anotado.

De:Nina

Para:Livia

LÍVIAAAA

Pelo amor de Deus

Eu realmente preciso daquele par de botas que eu roubei da Elisa e dei pra você de volta.

Sério.

De verdade.

10 de Novembro de 2015,Terça-feira, 18:02

Quando eu era criança, meu livro favorito era Alice no país das maravilhas. E eu me lembro exatamente o porque.

Antes do acidente,minha tia costumava trabalhar como revisora em alguma editora literária que eu não consigo me lembrar o nome. E ela amava aquele trabalho quase mais que tudo nessa vida, tanto que trabalhou por lá por volta de uns quinze anos.

Será que já que o acidente nunca tinha acontecido, ela ainda trabalhava lá?

Eu não tinha ideia.

Mas Leitor, eu lembro desse dia especifico quando eu ainda tinha uns 5 anos e toda a minha família estava reunida na minha avó por causa de um churrasco e estava quente como no inferno. Meus irmãos e primos( Rodrigo, no caso), não queriam me deixar brincar de sei lá o que eles estavam brincando porque eu “ainda era muito pirralha pra isso”. Então eu fiquei na sala de jantar, um pouco entediada e borbulhando de raiva, pensando quantos dias eu ficaria de castigo se enfiasse uma faca na coxa de cada um deles.

Minha tia estava com um computador no colo, o cabelo arrumado em um coque bagunçado,os óculos de grau meio tortos, jogada no sofá da sala e com um caderno de anotações por perto.

Por vários minutos eu fiquei lá, observando-a fazer um monte de anotações naquele caderno. Era meio entediante, confesso. Depois de uns 3 minutos, eu já estava quase dormindo no chão. E tinha completamente certeza que tia Clara estava tão concentrada no trabalho que nem tinha notado minha presença. Mas ela tinha.

Eu lembro dela me chamando para sentar ao seu lado e ela começar a ler o livro em voz alta enquanto ia fazendo as correções. Foi meu primeiro contato com Alice no País das Maravilhas. Depois daquelas vez, devo ter lido umas outras 300 vezes, em diversas versões diferentes.

Pelo menos três festas de aniversários da minha infância tiveram a Alice como o tema, se bem me lembro. Já fui fantasiada de Alice em tantas festas que nem consigo mais lembrar o número exato de vezes.

 Enfim, Leitor, aonde eu quero chegar com essa história toda é: o coelho branco. Sabe, que a Alice perseguiu até cair no buraco? Foi por causa dele que toda a história no país das maravilhas começou. E por causa disso, ele virou meu personagem favorito e meu animal favorito de todos também.

E uma das características mais conhecidas do coelho é sua capacidade gigantesca para reprodução. Gigantesca mesmo.

E teve uma hora naquele dia, em que pareciam que as horas se multiplicavam feito coelhos e cada hora surgiam mais e mais e mais. Eu já estava completamente cansada daquele dia. E ainda era 18:00.

Eu estava tão, mas tão cansada, que a única metáfora que meu cérebro conseguia pensar era:

Horas que não passavam = coelhos.

Claramente, eu não estava totalmente bem.Mas isso já não era novidade mesmo.Eu nunca estava totalmente bem há muito tempo. Até antes dos pedidos.

Depois que Mariana me deixou plantada no meu quarto, com meu queixo caído, resolvi tomar um banho. Eu tinha tomado um havia pouquíssimo tempo, mas eu simplesmente precisava pensar. E meus melhores pensamentos sempre vinham durante banhos. Longos e longos banhos.

Eu entrei no banheiro do meu quarto decidida a traçar um plano coerente sobre minha vida. O que eu ia fazer, como eu ia agir com todo mundo, se eu daria uma de louca e iria atrás do Matheus e se contava para Lívia a verdade sobre os desejos. É. Esse eram os tópicos para o que mais tarde eu chamaria de O banho.

Mas é óbvio que eu pensei em coisas completamente diferentes no momento que eu parei para prestar atenção  de verdade naquele banheiro e vi que eu tinha uma banheira.

Uma banheira.

Banheira.

Perto da janela. Igualzinha aquelas vitorianas antigas.

Quase desmaiei naquele chão frio no momento em que vi. Eu sempre quis ter uma banheira daquelas!

A banheira ficava no canto oposto da porta, encostada em uma parede com uma janela de vidro enorme.  O parapeito da janela estava acolchoado com tecido preto.

A pia era de mármore, cheia de gavetas anexadas em baixo, completamente cheias de toalhas e diversos produtos de beleza: maquiagens, cremes, xampus, condicionadores,escovas...era muita coisa!

E atrás da porta, havia um roupão branco pendurado. E o roupão tinha as minhas iniciais!

O banheiro era imenso. Eu poderia dar umas estrelas lá dentro, se soubesse dar estrelas sem quase quebrar minha coluna. Lá era tão diferente do meu banheiro no antigo quarto, que eu mal podia me mexer que já esbarrava em alguma coisa e ficava com algum roxo pelo corpo.

Tudo aquilo era tão como...um sonho.

Então, Leitor, eu enchi a banheira com água, joguei alguns sais com cheiro de fruta que achei na pia e fiquei na banheira por umas duas horas. Só olhando pela janela: uma paisagem calma, repleta de verde, e o céu azul clarinho se tornando escuro.

(...)

Sabe aquele medo de morrer pelado que todo mundo tem?

É claro que é um medo completamente estupido, já que você vai estar muito morto para se importar com quem viu o que do seu corpo. Mas ainda é um medo. Que fica lá, batucando no fundo da sua cabeça de vez em quando enquanto você se troca ou toma banho.

Eu, como qualquer ser humano normal, tenho esse medo também.

Então, Leitor, imagine a minha reação quando eu saí do meu banho, completamente pelada ( não conseguia achar minha toalha) e encontrei uma menina no meu quarto?

Uma menina que não era minha mãe, nem minhas irmãs e nem Lívia.

Uma menina que eu tinha conhecido há algumas horas atrás, quando ela deu um tapa no namorado e depois ficou chorando por muito tempo. Aimee.

Ela estava arrumando minha cama( não sei porque) e levantou a cabeça quando eu abri a porta do banheiro. Foi tudo tão rápido, Leitor, que eu mal tive tempo de pensar : “ meu Deus, essa completa desconhecida está me vendo sem roupa. Caralho.”

Não.

Mas nós gritamos ao mesmo tempo. Ela girou e mesmo estando de costas, cobriu os olhos. Eu tentei, inutilmente, cobrir o máximo possível do meu corpo com as mãos.

— Eu não precisava ter visto isso.

—O que você está fazendo aqui? – Falamos ao mesmo tempo.

Sendo mais honesta, ela falou e eu gritei.

 – Arrumando sua cama, é lógico!

Esse “é lógico” teve o mesmo sentido para mim que “estou grávida de um ursinho de pelúcia vindo da China”.

 – Porque porra você tá arrumando minha cama? – pergunto. Eu precisava arrumar uma toalha.

Ela riu, baixinho.

 – Você fala “porra” engraçado.

 – Oi?

 – Porra. Você fala engraçado. Sabe, alonga o “o” e força o “r”. Você é mineira?

Eu encarei suas costas incrédula.

 – Eu to pelada aqui!

 – Eu sei – ela me respondeu – Eu só não entendo porque, já que tem um roupão de seda caro em perfeito estado no seu banheiro. E eu sei disso porque fui eu que coloquei lá hoje de manhã!

Bati a mão na minha cabeça. O roupão! Eu tinha esquecido completamente dele.

Entrei no banheiro e vesti o roupão em questão de milésimos de segundos. Eu não  acreditava que tinha passado por uma situação daquelas. Nem as minhas irmãs eu deixava me verem sem roupa, imagina uma estranha.

Tomei coragem e saí do banheiro. Com a cabeça um pouco baixa, as bochechas vermelhas, eu não sabia onde enfiar toda a vergonha que eu estava sentindo naquele momento.

Aimee, percebendo meu estado, riu. Riu. Aquela menina não tinha muito juízo na cabeça.

 – Não precisa ficar com vergonha desse jeito. Relaxa. Já vi muita gente pelada na minha vida.

Levantei minha cabeça e depois arqueei as sobrancelhas. Ela, entendendo o quão estranha aquela fala tinha saído, ficou completamente vermelha de vergonha, que nem eu anteriormente.

 – Não que eu seja uma puta ou qualquer coisa assim. Não que quem vê muita gente pelada é puta. E não que eu ache que ser puta é uma ofensa, afinal cada um sabe como se vira no mundo. E...eu não vejo tanta gente pelada assim, tá bom? Eu sou bem puritana. De verdade. Minha família inteira é católica. E eu sou virgem, juro por Deus. E olha que namorei o mesmo cara por dois anos.

 – Ah...tá bom?

Ela suspira.

 – Você realmente não se importa, né?

 – Não.

 – Desculpa pelo falatório. Eu falo quando eu fico nervosa, mesmo com estranhos. Não que você seja estranha, afinal eu trabalho pra você há tipo uns 3 anos, o que devem ser  uns mil...mil e noventa e cinco? É, mil e noventa e cinto dias. Mais ou menos. Nenhum dos anos anteriores foi bissexto, né?

 – Pera um pouco – falo – volta a fita. O que você estava dizendo sobre trabalhar pra mim...

Ela virou a cabeça um pouco de lado e estreitou os olhos, como se estranhasse a minha pergunta. Todo mundo estranhava as minhas perguntas ultimamente, então foda-se.

 – É. Eu trabalho. Há 3 anos. Na verdade, legalmente, quem trabalha é a minha mãe, mas eu ajudo no que posso, já que toda a sua família ta aqui e ela não consegue fazer tudo sozinha porque...ah, que família grande você tem, né?

Apertei o roupão no meu corpo. Eu queria que ela fosse embora para poder me trocar logo, mas precisava saciar minha curiosidade sobre a minha própria vida antes disso.

 – Você trabalha pra mim, então?

 – Hãn...sim. Você sabe. A minha mãe, na verdade. Há três anos.

 – Três anos?

 – É.Três anos. Você tá se sentindo legal? – ela perguntou, ficando com uma cara preocupada.

 – Ótima. Mas sabe, esses dias foram...agitados. Eu só estou um pouco...confusa? É, confusa esses dias. Não estranhe as perguntas estranhas – Sorrio.

Ela parece engolir a desculpa. Era uma desculpa meio esfarrapada, mas todo mundo naquela casa já me achava louca mesmo, então eu poderia tirar uma pequena vantagem disso.

— Mais alguma pergunta, então?

 – Sim – respondo – Aquelas pessoas que estavam no lago com você no outro dia...

 – Vivian, Breno, Enzo, Gabi e Gio?

Eram muitos nomes e muitos rostos. Todos uns filhos da puta. Mas a Aimee parecia legal. Mesmo tendo me visto pelada. Meu Jesus, que horror.

 – Esses mesmos – confirmei – Eles são todos filhos de funcionários também, né?

 – Hãn...sim. Só o Enzo que não. Ele simplesmente era meu namorado e vivia aqui porque minha mãe e eu trabalhamos aqui.

 – A sua mãe é tipo...camareira?

Ela assentiu. Não parecia ofendida nem nada do tipo. Me senti aliviada, pois eu realmente estava só tentando entender tudo.

 – E a dos outros?

 – Ah bem...o pai do Breno e da Vivian é motorista. A mãe da Gabi é camareira também. E o pai do Gio trabalha com a sua mãe.

Trabalha com a minha mãe. Quase perguntei para Aimee com o que minha mãe trabalha, já que eu duvidava que a mesma ainda mantinha o seu emprego como enfermeira em um hospital público, mas não consigo. Aimee colocou alguns lençóis nos braços e disse:

— Eu preciso ir. Minha mãe vai me matar se eu demorar muito a levar isso lá pra baixo.

Assenti com a cabeça e ofereci ajuda. Aimee negou. Ela disse que precisa ser rápida e eu não podia simplesmente sair da casa desfilando no meu roupão. Ela estava certa.

Aimee já estava quase saindo quando me disse:

 – Eu já tava me esquecendo. O jantar vai atrasar um pouco, então você só precisa descer umas 20:30 e o seu primo pediu para você se encontrar com ele na biblioteca as 20. Ele disse que quer falar com você e pediu pra eu dar o recado.

 – O Rodrigo? – perguntei, um pouco surpresa.

 – E você por acaso tem outro primo? – ela respondeu.

E era verdade, afinal de contas.

(...)

Eu tinha um closet. É, um closet. Enorme. Que nem naqueles hollywood filmes com as meninas ricas que não fazem mais nada da vida além de falar sobre garotos e evitarem comer chocolate.

Eu estava virando uma dessas garotas. Jesus, me ajude. Eu não queria ser daquele jeito.

Eu queria ter passado alguns bons minutos remexendo nas roupas, bolsas, sapatos e todas essas coisas no closet, mas eu estava atrasada para me encontrar com Rodrigo e nem sabia onde a biblioteca era. E eu tinha certeza que meu senso de direção não iria me ajudar em nada a encontrar.

Com algum esforço, achei um jeans e uma camiseta branca lisa e os vesti. Fiz um rabo-de-cavalo meio solto no cabelo, vesti uma rasteirinha e estava pronta para ir pra guerra.

Ou lidar com a minha família. É, tanto faz.

Conto os passos que levam meu caminho do closet ( que é razoavelmente perto da porta de entrada) até a porta. Vinte passos. Sinto alguma coisa no meu peito. Não sei se é felicidade por tanto espaço ou insatisfação por não conseguir pensar em aquilo tudo como meu.

Paro em frente da porta e, com a minha mão direta na maçaneta, digo baixinho para mim mesma:

 – Vai dar tudo certo.

Mas não daria.Porque eu sempre fui horrível em mentir, Leitor. Especialmente para mim mesma.

(...)

 – De tirar o fôlego, não?

Rodrigo estava sentado em uma poltrona de couro perto das janelas, mas eu simplesmente não consegui processar ele ou qualquer coisa que dizia. Minha mente estava admirando uma coisa completamente diferente.

 – Eu não imaginei que a sua mãe fosse realmente recriar a biblioteca de A Bela e a Fera na casa de vocês só porque você pediu. Mas o que ganhar alguns milhões na loteria não pode fazer?

Levei minha mão até a boca, surpresa.

Eu estava na biblioteca mais bonita que já tinha visto em toda a minha vida naquele momento. O lugar que eu sonho desde criança.

Aquele biblioteca...era idêntica a de A Bela e a Fera. Pelo menos, muito parecida.

Eu não conseguiria descrever em palavras. Eu nunca tinha estado realmente em um lugar tão bonito quanto aquele ou com tantos livros...vi fotos, é claro. Mas nunca tinha presenciado na vida real.

Ri, boba.

 – Você ficou assim toda vez que entrou nessa biblioteca nos últimos três anos. É bonito de ver.

Deve ser bonito de ver eu agindo como retardada. Ainda mais que o normal.

Ainda rindo, começo a correr pela biblioteca de braços abertos. Não sei porque fiz isso, mas na hora, eu apenas tive muita vontade mesmo de fazer. Eu conseguia correr livremente, sem freadas repentinas. Eu me sentia...correndo nas nuvens.

Depois que essa crise de loucura passou, subi a escada direita que levava ao “segundo andar” da biblioteca de dois em dois degraus. Se você já viu A Bela e a Fera, ou ao menos consegue abrir a imagem na Internet, sabe exatamente como era a estrutura daquele lugar. Era tão maravilhoso e complexo para a minha cabeça que eu não conseguiria descrever corretamente.

Mas estava lá. Aquela biblioteca. Eu estava correndo nela.

Peguei um livro de uma das instantes e meu sorriso murchou quando olhei a capa. O livro era Alice no País das Maravilhas. Uma das edições que eu tinha lido.

 – Eu que te dei, se lembra? – Rodrigo falou, aparecendo do meu lado do nada. Se eu não estivesse tão concentrada no livro, teria levado um susto gigante.

Abri a primeira página e, assim como me lembrava, as palavras ainda estavam lá, escritas em caneta azul e uma letra desleixada:

Para Nina,

Espero que você consiga sorrir um pouco lendo esse livro, pirralha. Não que eu entenda o porque de tanta felicidade com essa história. É meio doida, não? Sempre achei que a Alice estivesse chapada. Mas também, eu só vi o filme.

Da melhor pessoa da sua vida,

Rodrigo

P.S: Com amor.

P.S.S: FELIZ ANIVERSÁRIO.A propósito.

 – Foi no seu aniversário. Não consigo me lembrar quantos anos – Rodrigo falou.

 – Doze anos – falei baixinho.

Uma das melhores festas da minha vida. Todos os meus irmãos e irmãs conseguiram ir lá em casa, minha mãe tirou uma folga do hospital e meu pai tinha acabado de vencer um caso importante. Lívia e Matheus foram direto da escola para minha casa e passaram o dia inteiro comigo. Minha mãe fez algum bolo que eu não me lembro o sabor, mas estava muito bom. Ganhei um ingresso  pro show            que todos meus irmãos e meus pais fizeram uma vaquinha para comprar. E Rodrigo tinha me dado aquele livro.

 – Foi um bom dia aquele – sussurrei, sentindo as lágrimas brotarem nos meus olhos.

Deus, eu estava tão cansada de chorar. Já estava na hora de parar. Mas meu coração acelerava de raiva toda vez que eu pensava no que o Rodrigo tinha dito para mim.

 – Me desculpa, Nina – ele falou, como se lesse mentes.

Mandei ele ir se foder mentalmente.

 – Vai se foder – mandei em voz alta também, depois de avaliar que valia muito a pena fazer isso.

Ele bufou. Eu não era a única começando a ficar irritada por ali.

 – Nina, coopera vai. Eu tô pedindo desculpa.

 – Vai. Se. Foder. Você me chamou de vadia, Rodrigo. Vadia. Porra. E você espera vir aqui, fazer um climinha legal com esse papo sobre a biblioteca e sei lá mais o que, pedir uma desculpinha e pronto? Eu já esqueci?

 – Tenta entender meu lado também, Nina!

 – Que lado? – Gritei. Okay, leitor, eu não deveria te gritado. Eu estava numa biblioteca. Mas eu também estava bem nervosa. E só tinha a gente mesmo naquela biblioteca, foda-se então.

 – Você beijou o Henry no meio do casamento, Nina. Eu estava puto da vida com você, porque eu te perguntei 500 mil vezes se você tinha certeza que aguentava o trampo e você disse que sim. Aí você vai lá e beija ele. Porra. Você disse que ia aguentar.

Sabe aquela constante situação na minha vida que eu paro de entender o que as pessoas tão dizendo? Então, era aquele momento.

O que eu faria? Ele já estava puto o suficiente para eu perguntar de que porra ele estava falando. E por mais puta que eu estivesse também, queria fazer as pazes logo com ele. Eu não precisava de ainda mais bagunça na minha vida do que eu já tinha.

 – Eu achei que aguentaria, Rodrigo! Mas me desculpe se eu sou humana e não aguentei.

A única coisa que eu pensava era:

“Meu Deus, que eu não tenha falado merda, que eu não tenha falado merda, que eu não tenha falado merda, porque eu não tenho noção do que eu tô dizendo”.

Rodrigo passou a mão no rosto, como se estivesse carregando a culpa do mundo nas costas. Ele virou de costas para mim e disse:

 – Eu não te chamei de vadia por causa do casamento, Nina. A Elisa mereceu aquilo.

Levantei uma sobrancelha.

 – Não?

 – Não – ele disse – Eu te chamei por causa do que você estava pretendendo fazer depois. O negócio da lua-de-mel. Isso ia te fazer uma vadia. Eu sempre achei que você ia sair superior de tudo isso, ao contrário da Elisa e...porra...quando o Henry me contou o que vocês estavam planejando fazer...eu fiquei muito bravo, Nina. E eu tinha o direito de ficar.

Negócio da lua-de-mel?

Comecei a pensar até me lembrar da discussão com o Henry mais cedo, antes de discutir com o Rodrigo, que o Henry me disse que eu ia pegar um voo pra França com a Áurea ,só pra depois ir procurar ele no meio da lua-de-mel com a Elisa.

O Rodrigo estava certo. Isso ia me fazer uma vadia mesmo. Eu concordava completamente com ele, então como poderia me defender?

Usando  tática mais antiga da humanidade?

 – Mas é a minha vida, Rô.

 – E obviamente você não sabe o que fazer com ela.

Eu não sabia mesmo. Era tão óbvio assim?

 – Ok, então. Você tá certo. Mas e agora, o que você vai fazer? Me deixar de castigo? Você continua não sendo meu pai.

Ele riu. Tipo, ironicamente. Como se soubesse algum segredo de estado que eu não fazia nem ideia.

 – Não sou mesmo. Mas seu papai tá bem puto com você, Nina e você sabe disso. Ele não conseguiu ir no casamento por causa do bebê e...

 – Bebê? – perguntei.

Rodrigo me olhou com aquela cara de “as vezes eu tenho vontade de te jogar num poço” que ele fazia as vezes.

 – Sim. Que mundo você tá, pirralha?

Leitor, naquele momento, a única coisa que eu fazia internamente era rezar para Deus para que aquilo não fosse o que eu estava pensando que era.

 – Rodrigo, espera. Que bebê?

 – O que tá na barriga da sua madrasta. Sua irmã. Ou meia-irmã. Tanto faz.

 – A minha madrasta,tá grávida? Eu vou ter mais uma irmã?

 – Sério, Nina, você bebeu? Ou isso tudo ainda é a ressaca de ontem?

Eu ia ter outra irmã.

Mais uma.

E ainda era de uma mulher que eu não fazia a menor ideia de quem era.

Eu sempre achei que meus pais tinham tantos filhos porque tinham um problema com camisinhas. Eu estava errada, pelo jeito. Só o meu pai tinha um sério problema com camisinhas: Ele não usava. Com mulher nenhuma.

Pelo amor de Deus.

(...)

Eu e o Rodrigo tínhamos feito às pazes. Mais ou menos. Depois de alguns minutos, a gente simplesmente tinha parado de discutir sobre o assunto “casamento/ lua-de-mel da Elisa”. Ele meio que já tinha um pensamento concreto na cabeça dele que eu era uma vadia, mas continuava meu primo mesmo assim. E como ele mesmo disse: “ fazer o que?”. Exatamente, Rodrigo.

 Então começamos a falar sobre o fato dele estudar em Harvard. Harvard!

Ele comentou que ia ter que voltar para lá em dois dias, já que tinha perdido matéria o suficiente por causa do casamento. Rodrigo falou “voltar para Harvard” tão naturalmente como se tivesse falado que tinha que ir comprar pão de forma ali na esquina. Eu fiquei simplesmente chocada!

Começamos a conversar sobre a faculdade dele e o mesmo se mostrou surpreso, afirmando que eu nunca tinha me importado com isso antes. Fiquei surpresa comigo mesma. Harvard é Harvard!

Ficamos conversando sobre o curso de medicina por uns 10 minutos, até que alguma empregada ( eu me sentia errada usando esse termo, mas eu não sabia o nome da moça e sabia que ela trabalhava pra minha mãe) veio nos avisar que todos estavam nos esperando na mesa de jantar há alguns minutos já.

A biblioteca ficava mais ou menos perto da sala de jantar. Deram só uns dois minutos de um a outro lugar andando. E, considerando o tamanho daquela casa, dois minutos era pouco. Bem pouco.

Ao chegarmos na sala de jantar, eu vi que tinha muita gente naquela mesa. Incluindo Elisa, que parecia estar prestes a matar alguém e Henry, que parecia estar morrendo de medo de ser morto.

Ah, aquele jantar seria espetacular.


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