Não tão clichê escrita por Apaixonada por palavras


Capítulo 13
Doze.


Notas iniciais do capítulo

Existe um ditado que é assim:
"Quem é vivo, sempre aparece"
Agora todos vocês sabem que ele é verdade.
OIEEEE MEUS AMORES
Por favor, não joguem pedras/ maldições/ pragas na minha pessoa. Joguem no computador. NÃO! Ele acabou de ficar bom depois de ficar 4 meses quebrado.
Gente, sério, mil perdões. O computador quebrou, ficou eras quebrado e não tinha nenhum jeito de escrever novo capítulo para vocês.
Eu twittei, coloquei aviso aqui no nyah, mas não sei se todos vocês viram.
MASSS agora estou de volta e de férias, muitos capítulos virão para vocês, com uma frequência muuuito maior.
Espero que gostem!
Beijoooos
P.S: Se vocês comentarem bastante dizendo que me perdoam, eu prometo que posto na terça.
P.S 2: Gente, agora que eu tenho um twitter, eu quero ter uma interação com vocês lá para ver a reação de vocês do capítulo e conseguir conversar de um jeito mais fácil. @ohdearjuliet



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1 de Outubro de 2015, Quinta-feira, 8:12

 – Eu vou morrer – resmunguei, apoiando minha cabeça na parede.

Nem sei se aquilo era realmente um resmungo. Poderia ser um gemido, ou algo do tipo. Mas era meio difícil de compreender o que eu estava falando, beirando ao impossível.

Naquele dia, eu tinha acordado atrasada. Mas não atrasada 5 minutos, atrasada de verdade. Rodrigo já estava dentro do carro quando fui levantar para checar o horário. Por causa disso, me vesti mais rápido do que já tinha feito antes em qualquer outra ocasião, calcei os sapatos no pé errado – e só fui perceber isso dentro do carro – , tropecei na escada e não tive tempo de realmente parar para analisar se não tinha quebrado nada.

Aquela agitação e pressa toda na manhã tinha me dado uma baita dor de cabeça. Parecia que tinha um homenzinho dentro da minha cabeça batendo com um martelo nas minhas têmporas. Ou que um gato estava arranhando meu cérebro. Ou que algum dos meus irmãos estava quebrando pratos dentro do meu crânio. Ah, Leitor, você entendeu. Estava doendo para caralho.

Quando cheguei na escola, a dor já estava num patamar de “não consigo viver desse jeito”. Então eu respondi os animados “bom dia” de Lívia e Matheus com um sonoro “vão se ferrar”. Eles não mereciam aquilo, claro, tanto que me senti um tiquinho culpada depois, mas a minha dor ainda era mais importante. Parecia que aquela porra ir me matar.

— Por que você não vai pra casa, hein? – Lívia me pergunta. Eu, ela e Matheus estávamos fazendo um projeto de história em trio naquela aula. Na verdade, eles estavam fazendo e eu estava reclamando da minha dor.

 – A gente tem atividade de geografia, lembra?

 – Porque você com certeza vai se sair muito bem – Matheus ironizou, sem nem me olhar.

Revirei os olhos, com dor demais para responder qualquer coisa que me exigisse pensar por mais que três segundos consecutivos.

 – E daí? – Lívia me respondeu – É só falar pra professora que você tava com dor de cabeça. Sua mãe escreve um bilhete. A professora não vai nem se importar.

Ela estava certa. Mas, Leitor, a minha cabeça estava doendo tanto, mas tanto, que nem vontade de levantar a mão para falar com a professora eu tinha. Então apenas resmunguei alguma resposta sem coesão nenhuma e deitei minha cabeça na mesa de novo.

10 de Novembro de 2015,Terça-feira, 20:43

O cenário de um filme é sempre levado em sério em hollywood.

Quando os protagonistas são uma família rica, ainda mais que o normal, eles moram em uma casa de quatro andares, cheios de candelabros de ouro, com uns 20 criados e televisões de 90 polegadas. Mais ou menos.

Esse cenário cria um clima para história. Você consegue presumir que o dinheiro é um dos pilares da família. As vezes, o dinheiro basicamente é a família. Então só observando o cenário, você já imagina que com certeza, naquela família existe A) Algum plano de vingança muito intenso, B) Alguma disputa por herança, C) Algum caso amoroso chocante, proibido e, talvez, imoral.

Observando aquela mesa cheias de pessoas – que tinham um porte de gente rica – naquela casa completamente chique e enorme – é daí que vem a reflexão que eu acabei de ter sobre cenários – eu senti que as opções A, B, C estavam envolvidas na história familiar que, na realidade, eu não conhecia nem um pouco.

A opção A, que envolve algum plano de vingança muito intenso, provavelmente é de Elisa com direção a mim. Por causa daquele negócio todo do casamento, beijar o noivo e etc. A opção B, que envolvia a herança, provavelmente era de Elisa contra aquela garota que falou em inglês mais cedo com a mesma; ambas querendo a minha cabeça numa bandeja. A opção C era minha e do Henry que, pelo jeito, nos amávamos e queríamos fugir juntos para Paris.

Resumindo: A minha situação ali não era muito segura.

Última observação: Geralmente, quando uma família rica é protagonista de alguma novela das 9 na Globo, sempre tem uma filha vadia. Que, pelo jeito, era eu.

Na ponta da mesa direita, estava sentada minha mãe. Na esquerda, por um segundo, esperei encontrar meu pai. Então lembrei que, na realidade, meus pais estavam separados e ele estava em algum lugar da Europa, casado com alguma grávida mulher europeia. Perdi meu fôlego por um terço de segundo.

 Na parte esquerda da mesa, se encontravam, respectivamente, Tia Clara; Tio Fernando;um lugar vazio – imaginei sendo de Rodrigo; Henry; a garota que falou em inglês mais cedo e Gustavo.  Na parte direita: Lucas,Augusto, Elisa, Mariana, Áurea e um lugar vazio – provavelmente meu .

 – Vocês estão atrasados – minha mãe falou, cortando o silêncio do ar.

 – É uma casa grande e eu não sou nenhum atleta – Rodrigo rebateu. Estranhei o tom de voz que ele usou. Um tom de voz que ele nunca tinha usado antes com a minha mãe, um tom de voz de ataque. Achei que ela ficaria ofendida, mas apenas revirou os olhos, como se estivesse acostumada com aquele tipo de coisa e tomou mais uma colher de sopa.

Odeio sopa.

Rodrigo apertou minha mão com uma quantidade não muito significativa de força e me lança um olhar significativo antes de ir sentar do lado de seu pai. Um olhar de “ boa sorte” e também de “okay, você pode fazer isso”. E eu posso. Eu sei que posso.

Posso?

 – Não vai sentar? – minha mãe cortou o silêncio novamente. Percebi que a pergunta é para mim quando vejo que sou a única de pé e todos estão me olhando.

Olhares. Nunca, na minha vida, eu atraía tantos olhares daquele jeito. Sempre fui aquela garota que os olhares nunca chegavam e, quando chegavam, iam embora rápido. E , naquela hora, todos eles estavam dirigidos a mim. Os olhares. Era uma sensação estranha.

Praticamente corri em direção a minha cadeira vazia. Não era a única naquela mesa. Mas a outra pertencia ao meu pai, e isso era óbvio, e ele não estava lá. E aquela cadeira era uma lembrança, um lembrete para cada um na casa que ele não estava lá, dia após dia, e eu sabia disso. E era um lembrete doloroso. Que ele havia seguido em frente? Que ele havia nos abandonado? Eu não sabia dizer. Mas, mesmo não sabendo, meu coração se apertou de uma forma indescritível por causa daquela cadeira. Eu queria jogar ela pela janela.

Era bom que eu sempre soube disfarçar minhas emoções, então.

Corri em direção a minha cadeira, fazendo um barulho nada educado ou discreto ao me sentar. Eu sentia toda a expectativa, toda a raiva, todos os sentimentos acumulados no ar. E eles não me deixavam nada a vontade naquela espaçosa mesa de jantar.

Abaixei meu olhar apenas para encontrar uma tigela de sopa, uma taça de alguma coisa vermelha ( vinho? Minha mãe nunca tinha me deixado comer nem trufa de licor), umas três colheres em tamanhos diferentes e um garfo. Refleti por alguns segundos o porque raios ter um garfo na mesa se o jantar era sopa, mas então decidi que simplesmente não valia a pena gastar tempo pensando nisso.

Peguei um dos garfos, o segundo maior, e tomei uma colherada de sopa. Era boa. Ainda mais que, olhando diretamente para a tigela, eu tinha uma desculpa para não levantar meu olhar para qualquer uma das outras pessoas naquela mesa.

 – Severina? – minha mãe me chamou.

Levantei a cabeça. Ainda estavam todos olhando para mim.

 – Que foi? – Soltei uma risadinha nervosa.

Então ela levantou a colher dela. A maior de todas. Demorei dois segundos para perceber que aquele gesto era só para indiciar que eu estava usando a  colher errada. Ah, ótimo.Então a Nina rica sabe a diferença de todos os talheres. Uma coisa que eu ia ter que pesquisar no Google mais tarde.

 – Pathetic – a menina britânica sussurrou. Ou pelo menos, fingiu sussurrar. Eu tenho certeza que todos na mesa ouviram.

Ela era britância. O sotaque. Não tinha percebido antes. E, por Deus, aquele sotaque fazia ela parecer ainda mais maldosa que realmente era.

Troquei de colher sem responder, mesmo que três respostas diferentes tenham passado na minha cabeça.

 – Pelo amor de Deus, Violet. Você já sabe falar português. Dá para abaixar o nariz e falar na mesma língua que as outras pessoas na mesa? Muito obrigado – Rodrigo falou.

Violet era o nome dela. Violet.

 – Rodrigo! – Tia Clara o repreendeu. Ele apenas deu de ombros. Vi Mariana tentar esconder o sorrisinho de satisfação enquanto todos os outros não tentavam nem um pouco tentar esconder o olhar de desgosto (a não ser Áurea, é claro. Ela parecia completamente indiferente a situação toda).

Sorri sem tentar esconder o sorriso. Pelo menos eu sabia que eu tinha Rodrigo e Mariana do meu lado.

 – Eu só falei em voz alta o que todo mundo aqui está pensando – ele falou.

 – Enfim – minha mãe elevou a voz antes que minha tia respondesse – Como vocês já sabem, Áurea,Mariana, Elisa e Severina irão no baile do pai delas na sexta-feira. Nenhum de nós iría, mas para...amenizar a situação...as meninas agora vão.

 – Baita situação que elas vão ter que amenizar – Augusto comentou.

Todos o ignoram.

 – Eu ainda não entendi porque os meninos não vão com a gente também – Mariana comentou.

 – Lucas tem escola ... – minha mãe começa, mas Mariana a interrompe.

 – A Nina também.

 – Não por essa semana.

 – Como assim? – perguntei. Minha voz até saiu um pouco rouca devido ao todo tempo que eu tinha passado sem falar uma única palavra.

 – Eu cheguei a conclusão de que a melhor coisa para a senhorita fazer essa semana é ficar longe de tudo, pelo menos até sexta. Então você ficará em casa.

Não respondi. Talvez isso fosse bom. Eu poderia usar essa semana para recolher informações de como minha vida realmente era agora.

 – Augusto e Gustavo precisam me ajudar a acalmar as coisas por aqui.

 – Por aqui? – perguntei.

 – O Brasil, Severina.

Assenti com a cabeça.

 – Por isso, Mariana – minha mãe terminou – apenas você e suas irmãs irão para o baile do seu pai na sexta.

 – Bem claras – Elisa falou amargamente.

Engoli em seco. Aquele baile seria muito menos agradável que aquele próprio jantar, eu podia sentir.

A mesa ficou em silêncio por alguns minutos. Ninguém alfinetava ninguém ou me encara fixamente, mas eu conseguia notar os olhares passando entre mim, Elisa e Henry, como se todos estivessem esperando a explosão de uma bomba que estava prestes a explodir.

Não posso culpa-los. Eu mesma estava me perguntando quando ela explodiria.

Então eu olhei para Henry. E ele olhou para mim na mesma hora. E alguma coisa naquele olhar me tirou o fôlego. Me tirou o fôlego de um jeito tão repentino e forte que eu me perguntei se, afinal, tinha uma outra parte da história. Uma parte onde eu e Henry nos apaixonamos primeiro e eu não tinha sido uma vadia. Uma parte onde a vida tinha sido, simplesmente, cruel comigo.

Ele tinha os olhos verdes mais lindos que eu tinha visto na vida.

E aqueles olhos verdes me fizeram desejar, como nunca antes, que tivesse outra parte da história.

— Henry – minha mãe falou em voz alta, interrompendo nossa troca de olhares – está tudo certo para sua volta para Londres amanhã?

Volta para Londres?

 – Sim, senhora – ele falou. Então me olhou – Tudo certo.

A pronúncia dele era carregada de sotaque. Mas não me importei. Porque, naquele momento, eu senti algo no meu coração que eu nunca senti antes. Algo que eu não sabia se era dor ou algo do tipo. Mas não era bom.

E pelo olhar do Henry, eu poderia dizer que ele estava sentindo exatamente o mesmo.

(...)

Depois do jantar, eu sentia que o peso do mundo estava nas minhas costas.  Então, Leitor, tudo que eu mais queria era colocar um dos pijamas felpudos que eu tinha achado no meu closet mais cedo e dormir. Dormir profundamente. Até o mundo acabar, alguém achar que eu estava morta ou a minha vida antiga retornasse embrulhada num papel de presente.

Leitor, imagina como eu me senti quando, ao chegar no meu quarto, encontrei uma cabeleira ruiva mexendo na minha lareira – eu comentei que tinha uma lareira nesse quarto?

 – Ah, oi Nina. Desculpa a intromissão. Eu estou apenas arrumando as coisas antes de ir embora – Aimee fala.

 – Pelo menos eu não estou pelada dessa vez – comentei.

 – Isso definitivamente é um ponto positivo.

Ela continuou mexendo na lareira sem me olhar. Então eu dei uns passos para trás, tomei impulso e corri em direção à cama larga e alta no meio do quarto e dei um pulo fenomenal, me jogando em cima dela. Era macia.

Coloquei meu braço em frente aos olhos, tampando minha visão.

Comecei a me perguntar como as coisas seriam de lá para frente. Como eu faria. Como eu disfarçaria.  Me perguntei como as coisas tinham ficado tão malucas tão rapidamente.

Me perguntei o que Mateus estaria fazendo aquela noite.

Me perguntei que porcaria eu deveria fazer.

Eu não tinha nenhuma resposta, Leitor.

Mas eu era forte. Poderia sobreviver a toda aquela viva e situação maluca. Certo?

 – Sabe, eu sinto que amanhã vai ser um dia bem melhor.

Tirei o braço de cima dos meus olhos. Aimee estava apoiada no batente da porta, me encarando com esperança.

 – Para nós duas – ela completou.

 – Eu espero – respondi.

Então ela foi embora.

(...)

Lívia (22:58) : Então, quão horrível foi?

Lívia (22:58) : A Elisa jogou comida no seu cabelo?

Lívia (22:58) : Arranhou seu rosto com as  unhas de bruxa?

Lívia (22:58) : Tacou a vassoura em você?

Nina (23:00): Nope

Nina ( 23:01): Mas ela parecia estar querendo fazer exatamente isso

Nina (23:01): Talvez pior

Lívia(23:02): Bem

Lívia(23:02): Se ninguém saiu morto

Lívia(23:02): Então não foi tão ruim, foi?

Nina(23:03):  Se você olhar por esse lado

Nina(23:03): Não

Nina(23:32): O Henry tá indo embora amanhã

Lívia(23:32): Sinto muito, Nina

(...)

Leitor, primeiro eu imaginei que era coisa da minha cabeça.

Era meia-noite e eu comecei a ouvir barulho de alguma coisa batendo na janela. Mas era meia noite, então eu presumi que eu estava simplesmente sonhando. Então, virei para o outro lado.

O barulho continuou. E continuou por alguns minutos. Um barulho pequeno, insistente e incomodativo.

Levantei da cama relutante. Eu só queria dormir. Mas aquele barulho era completamente irritante e eu não fazia ideia da onde vinha.

Abri a porta da sacada. O vento frio parecia milhares de penas facas arranhando minha pele. Me abracei e esfreguei os braços. Não que isso ajudasse muito.

A lua era cheia e eu conseguia ver toda a extensão da propriedade. O lago, a extensão de grama sem fim, o acumulo de arvores do lado direito que parecia formar um bosque.

E um garoto vestido de xadrez, lá em baixo, com os pés na grama, olhando para mim.

Ainda bem que meu quarto não ficava tão no alto assim.

Mas a situação ainda me deixou surpresa do mesmo jeito.

 – Quem é você?Romeu? – sussurrei/ gritei.

Ele abriu os braços, como se realmente estivesse numa peça, interpretando Romeu.

 – Eu só queria pedir desculpas – Breno sussurrou/ gritou de volta.

Fiquei confusa.

 – Pelo quê?

Ele me olhou como se eu fosse retardada ou algo do tipo.

 – Pelo negócio do lago.

Ah.

 – O pedido de desculpas não poderia ser amanhã não?

 – Eu tenho consciência pesada.

 – Ah e isso explica completamente jogar pedras na minha janela quase uma hora da manhã?

Eu não conseguia observar direito, mas eu achava que ele tinha revirado os olhos para mim.

Idiota.

 – Você me desculpa ou não? – insistiu.

 – A gente não pode discutir isso amanhã, não?

 – Não!

 – Então a resposta é não.

Fechei a janelas, voltei para cama e caí no sono.

Dessa vez, nenhuma pedrinha foi atirada em direção a minha janela.


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