Arya tinha resisto aos convites do rei Gendry para uma dança por quase metade da noite, até que desistiu de dizer não e foi com ele. Sansa estava sentada encima do elevado, ao lado de Mya, observando Gendry rodopiar sua irmã com suas mãos largas.

                - Eles formam um casal bonito. – Mya comentou. – Se ao menos sua irmã aceitasse os pedidos de Gendry.

                - Arya nunca quis um casamento, falava isso para quem quisesse ouvir quando éramos pequenas.

                Mya riu.

                - Mas os dois claramente gostam um do outro, eu tenho esperanças que nessa viagem Gendry consiga convencê-la. – uma criada passou e encheu a taça das duas de vinho da árvore trazido pelos Baratheon. – Sabe, um rei precisa de herdeiros e cada pessoa de Ponta Tempestade gosta de lembrá-lo disso. Existem dezenas de ofertas, moças bonitas que suspiram quando ele passa e pais loucos para as transformarem em rainha.

                - Ele recusou todas? – disse voltando a olhar o casal dançando. Arya estava rindo de algo que ele dizia e Gendry a olhava como se ela fosse a coisa mais preciosa desse mundo.

                - Nenhuma nunca teve chance, mas eu temo que ele acabe dizendo sim quando perder as esperanças com Arya. – respondeu.

                - Conversarei com ela. – prometeu. – Será uma pena se ficarem separados.

                - Certamente. – ela concordou. – Mas falemos sobre outra coisa – Sansa assentiu e ela continuou. – Myranda prometeu que iria nos encontrar em Correrrio para o dia do nome do príncipe Edmyn. Será bom vê-la novamente e as crianças poderão se conhecer.

                Sua mente soltou um grande alerta. Sansa havia decidido contar sua condição para Mya, mas não tinha tido a oportunidade ainda. Príncipe Edmyn? Ela tinha ouvido aquele nome, mas onde? Tentou se lembrar dos relatos de sua irmã... Mya falou sobre Correrrio e quem governava as Terras Fluviais como rei era seu tio Edmure, ele tinha três filhos... Oh sim, Edmyn Tully, filho do seu tio com Roslin Frey.

                - Creio que deve ter recebido uma carta de vosso tio.

                Talvez Winterfell tivesse recebido, mas Sansa não tinha ficado sabendo. Suspirou, ela precisava quebrar essa imagem de fragilidade, não poderia ser deixada de lado no que dizia respeitos ás noticias por causa do seu esquecimento. Tenho que me adaptar a essa vida, não tenho? Falaria com a irmã mais tarde.

                - Sim, claro. – respondeu. – Será adorável ver Myranda depois de tanto tempo.

                Alla Tyrell, que dançava com Edric, juntou-se a elas se sentando ao lado de Mya. Suas bochechas estavam coradas e o sorriso largo.

                - A senhora ainda não dançou Sansa. – a Tyrell disse. Ela acabou corando um pouco, era verdade que seus pés tinham batido no ritmo da musica debaixo da mesa, mas ninguém realmente a tinha chamado para dançar e ela estava confortável sentada ao lado de Mya.

                - Isso é verdade, mesmo Arya está dançando.

                - Bem...

                - Onde está Jon? Da ultima vez que acompanhei vocês dois em um festejo ele mal a deixava ficar sentada. – Sansa teria arrumado uma desculpa convincente se Mya não tivesse acenado para seu marido e o feito caminhar até elas. Deuses, ela queria ser capaz de cavar um buraco e esconder-se nele para toda eternidade. – Sansa está batendo os pés aqui querendo dançar.

                Ele olhou para ela arqueando a sobrancelha.

                - Vamos dançar Sansa? – pergunta ele.

                - Seria ótimo.

                Junto dos outros casais eles dançaram. Jon a guiava com uma habilidade surpreendente, não se lembrava dele dançar tão bem assim. Vocês provavelmente já dançaram muitas vezes antes, o pensamento a fez desviar o olhar para onde Arya e Gendry continuavam a dançar. Soltou um sorriso involuntário. Depois se voltou aos olhos cinzentos de Jon e pensou no que dizer.

                - Mya me disse que temos uma viagem para Correrrio.

                Ele assentiu com a cabeça antes de responder.

                - Se você ainda achar que deve ir.

                - Eu quero ir.

                Jon a ergueu do chão e rodopiou. Por alguns instantes foi como se o mundo ao seu redor perdesse a importância e apenas eles dois existissem. A onda de calor que subiu pelo seu pescoço fez com que ela estremecesse. O que é isso?

                - Nós dois somos os que mais viajamos da família. Você sempre foi melhor em diplomacia do que Rickon ou Arya. – ela teve que se esforçar para prestar atenção no que ele dizia. – O rei Edmure está planejando uma festa de grandes proporções para o dia do nome do seu herdeiro Edmyn. Ele mandou convite para todas as famílias reais, esses tipos de eventos costumam ocorrer de tempos em tempos, é bom para manter laços amistosos com os outros reinos.

                - Então todas as famílias reais estarão lá?

                - Não sei se todos os reis compareceram em pessoa, certamente nossa família inteira vai. – nossa família, ele tinha dito despreocupado. Nossa família, a palavra pairou pela sua cabeça alguns segundos. – Os Baratheon irão conosco, Asha Greyjoy deve ir no lugar do irmão...

                - Será que Jeyne vai?

                - Eu diria que as chances são grandes.

                Encontrou-se animada. Seria tão bom ver Jeyne Poole, abraçá-la e fazê-la contar tudo o que aconteceu.

                - Será realmente grande.

                - Seu tio foi bem claro ao dizer o quão grande seria a comemoração. Bailes, torneios, banquetes...

                Uma euforia que ela não sentia desde menina cresceu no seu peito. Por um momento foi como se ela voltasse a ser a Sansa que sonhava, acima de tudo, com todas aquelas coisas. Cavaleiros duelando, donzelas dançando em grandes salões, música, comida...

                - As crianças vão gostar.

                - Elas todas parecem com você nesse quesito.

                Suas bochechas coraram.

                Foi então que percebeu que tinha acabado de ter a primeira conversa de verdade com Jon. Eu posso fazer isso mais vezes, não era assim tão difícil. Sansa sorriu e respondeu:

                - Agora estou bastante ansiosa.

A primeira reação de Mya foi olhá-la como se ela tivesse enlouquecido. Sansa quase sentiu vontade de correr para fora e se esconder em algum quarto. Ela poderia pedir para o Cão, Sandor, não permitir a entrada de ninguém. Contudo, permaneceu onde estava e esperou até que a mulher processasse tudo.

                - Nenhuma lembrança?

                - Apenas da época do Ninho ou de parte dela.

                Mya voltou a ficar em silêncio, parecia pensar em algo para dizer. Depois de alguns minutos ela finalmente falou:

                - Isso deve ser horrível, acordar der repente sem lembrar-se de nada.

                - É bem difícil mesmo. – respondeu.

                Ela pegou sua mão e sorriu.

                - Eu posso responder suas perguntas se você quiser. Qualquer coisa relacionada ao Ninho pelo menos.

                - Eu adoraria isso. Arya me conta aos poucos, mas estou longe de saber como tudo funciona agora e o que nos trouxe até aqui. – pensou em sua ultima lembrança, uma conversa com Mindinho sobre o futuro que ele planejava para ela. Os presentes que ele disse que lhe daria; o Harry, o Vale e Winterfell. – Às vezes, quando durmo, algumas imagens surgem na minha cabeça e eu nunca sei dizer se são sonhos ou memórias. Dragões espirrando fogo no céu do Ninho é algo que aconteceu?

                - Daenerys Targaeryen teve uma chegada memorável. Ela voou com seus três dragões e pediu a rendição do Vale. Muitos cavaleiros queriam lutar contra ela, defender a honra do Ninho, mas o Lorde protetor era esperto demais para entrar em uma briga que não poderia vencer.

                Mya deu uma pausa e então prosseguiu.

                - Ele dobrou os joelhos assim como todos nós. Foi depois disso que ele revelou para todo mundo quem você era de verdade. Sansa Stark de Winterfell.

                - Ele falava... Ele falava sobre um suposto casamento entre mim e Harry.          

                - Sim, esse casamento era parte do seu plano, mas ele nunca teve tempo para fazer isso seguir em frente. O pequeno Robert morreu pouco tempo depois que Daenerys conquistou no Vale. – o rosto de Mya se tornou sombrio. – O garoto não era exatamente o menino mais amável do reino, mas não passava de uma criança. Mindinho tratou de apressar a doença e então ele morreu.

                - Então Petyr o matou mesmo.

                - Foi você quem contou para a rainha Daenerys. – respondeu a outra. – Ele foi sentenciado ao fogo, morreu gritando no pátio.

                Sansa sentiu um arrepio subir pelo seu corpo.

                - Logo depois nós fomos separadas. Myranda continuou no Vale com sua família, Harry se tornou o senhor do Vale e dobrou os joelhos para a rainha. Os dois se casaram pouco tempo depois. – ela sorri. – Eu fui reconhecida pela rainha como filha de Robert Baratheon e ela me mandou para Ponta Tempestade onde pude conhecer meus irmãos. Lothor insistiu em vir comigo e nós nos aproximamos durante a viagem, mas é bem verdade que o fiz esperar um tempo considerável.

                Sansa riu.

                - Vocês são adoráveis juntos.

                - Ele é um bom homem, não posso me queixar quanto a isso. – Mya então voltou a falar sobre ela – você veio para o Norte assim que eu parti. Nós trocamos cartas sempre que podemos. A época da Grande Noite foi difícil e incerta, eu temia todos os dias pelo o que viria acontecer com você aqui, tão perto da Muralha.

                - Nós ficamos bem. – respondeu colocando as mãos sobre as dela.

                - Todas nós ficamos. – e então Mya a puxou por um abraço e as duas ficaram um tempo assim, juntas e em silêncio. Sansa fechou os olhos e apreciou aquele momento de familiaridade e segurança, era quase como se o tempo tivesse voltado.

                Depois de se separarem, Mya falou:

                - Nós veremos Randa na comemoração em Correrrio e ela vai trazer as crianças.

                - Deuses, as crianças, eu não me lembro de nenhuma delas.

                Mya riu alto da sua cara de medo.

                - Jasper tem sete anos, Rowena tem seis, Artys tem quatro e o pequeno Elbert tem apenas dois. – Sansa tentou lembrar algo dos nomes, mas novamente, não veio absolutamente nada a sua cabeça. – Também tem Alys, a bastarda de Harry. Ela nasceu antes mesmo de nós o conhecermos, é uma donzela de treze anos.

                - Eu lembro que havia boatos que ele já tinha tido uma filha.

                - Sim, ele teve. Harry a levou com ele para o Ninho, mesmo sob os protestos de sua tia. Randa contou que a senhora Anya queria colocar a garota o mais longe possível, mas Harry se recusou. Muito nobre da parte dele, o homem pode não ser perfeito, mas são poucos que fazem isso.

                Sansa deu um sorriso com o olhar nostálgico de Mya. Certamente ela lembrava de si mesma quando pensava na garota.

                - Myranda foi bastante gentil com a menina, da ultima vez em que a visitei, Alys a seguia como um cachorrinho e Randa adorava. – ela pegou sua mão. – Você vai contar a ela sobre... Sobre isso.

                - Eu acho melhor não, poucas pessoas sabem e eu prefiro deixar dessa maneira.

                - Eu entendo. – ela se remexeu desconfortável e deu uma longa pausa antes de perguntar. – Você está bem?

                - Como assim?

                - Uma década é bastante tempo. Você perdeu muita coisa Sansa, guerras, mortos caminhando entre os vivos, seu casamento, o nascimento dos seus filhos. Com quatorze anos você achava que Jon era seu...

                Mya hesitou em continuar e Sansa terminou por ela.

                - Irmão.

                - Sim.

                - Não vou mentir, é estranho e assustador. Estou melhor agora do que estive nos primeiros dias, já me adaptei com as crianças e mesmo que eu não me lembre delas ou me sinta como uma mãe de verdade, eu as amo com todo meu coração. Com Jon é... É mais complicado, mas nós estamos nos dando bem sabe, ninguém desconfiou de nada ainda e eu acho que podemos ser amigos.

                - Amigos?

                Amigos é tudo o que posso dar agora.

                - Por enquanto, sim.

                E então deu um sorriso falso que enganou Mya. Aparentemente ela tinha ficado muito boa em fingir.

                - Mas eu quero saber sobre você. – Sansa falou ávida por se tirar do foco da conversa. – Fale-me sobre o casamento com Lothor.

Eu já sou casada. Respondeu para a outra mulher que observava as costureiras acertarem os últimos pontos no seu vestido. Fizemos nossos votos diante do represeiro em Winterfell.

                Eu sei, mas é importante que você se case novamente no Septo. Sansa sorriu como resposta. Margaery ficou satisfeita. Ela tinha uma coroa em sua cabeça, no passado ela havia usado outra que formava a galhada de um cervo com pequenas rosas, a coroa atual tinha a forma de um dragão. Será uma festa bonita.

                Obrigada por tomar conta de tudo.

                Tudo para fazê-la feliz. Ela andou na sua direção e lhe deu dois beijos em ambas as bochechas. Nós seremos irmãs querida Sansa.

                Ela se lembrava de como sonhava em ter uma irmã como Margaery. Uma mulher entrou carregado um bebê. Os cabelos eram cheios dos cachos de Margaery e os olhos lilases como os do pai.

                Elia, meu amor. Margaery pegou a filha nos braços. A garotinha estendeu as mãos na direção de Sansa. Tia Sansa não está linda?

                Sansa sorriu. Margaery colocou a mão em sua barriga.

                Em breve você terá um primo ou uma prima Elia. As lagrimas encheram os olhos dela. Deuses, estava sendo uma boba de novo. Espero que eles sejam amigos como nós duas somos.

                Eu também.