— Ok, então você transou com alguém e alguma coisa deu errado. Não é sua culpa, isso acontece... Eu acho. – Bellamy falou, com a naturalidade de quem fala sobre o clima. Clarke queria que ele falasse mais baixo, já que todos daquela seção do mercado voltavam a atenção para os dois. – Mas isso não muda o fato de que você tem que falar com a Raven.

A ideia dada por Octavia de levar os dois de carro para o mercado já dava indícios que não ia funcionar. Primeiro por que a garota só tinha 16 anos e ainda estava aprendendo a dirigir (isso quase lhes custou um acidente); segundo por que eram Bellamy e Clarke, obviamente não ia dar certo.

Bellamy queria comprar cerveja para o que parecia ser uma festa na casa de um amigo e Clarke queria papinha de bebê, já que, em algumas semanas, Jake já poderia comê-las.

— Por que eu tenho que falar com ela? – a loira falou, franzindo a testa. Não tirava os olhos de Jake, que estava acomodado à cadeirinha presa ao carrinho, preocupada. – Nós nos conhecemos agora e foi você quem disse que ela e o Finn namoram há quase um ano.

Bellamy pareceu se lembrar por que odiava tanto Finn e bufou:

— É, mas nós dois sabemos que ele é um filho da puta e não vai contar por conta própria. Se você quiser, eu posso...

— Não. – Clarke interrompeu, empurrando o carrinho para longe da seção de bebidas, indo em direção a fila do caixa. – Já disse que isso é problema meu.

Clarke não podia deixar que ele resolvesse os problemas por ela. Querendo ou não, a atitude que ele tomou ontem foi uma das melhores que ela poderia esperar, mas, ainda assim, eles não eram bem próximos o suficiente para qualquer coisa. Além disso, aquilo continuava sendo da conta dela, apenas.

— Tive uma ideia. E se eu levasse isso para o garoto? – Bellamy sorriu, apontando com o queixo para Jake, que dormia calmamente na cadeirinha. Clarke viu que o Blake tinha nas mãos uma revista Playboy. – Tão pequeno e o padrinho já ia ensinar todos os prazeres da vida.

— Em primeiro lugar, você não é o padrinho. Segundo, eu não vou levar isso, você tá maluco. – ela falou, pegando a revista das mãos dele e devolvendo as Bellamy revirou os olhos. – E, além disso, se ele seguisse seu exemplo, ia virar um viciado em sexo.

Ele cruzou os braços, dando um sorriso malicioso:

— Como você sabe disso? Eu e você nem transamos ainda.

— Perdão, ainda? – ela arqueou as sobrancelhas. – Não vai acontecer.

— Pelo que eu sei, essa seria a oportunidade da sua vida. – ele falou, quando os dois finalmente chegaram no caixa. Bellamy colocou as compras na esteira, onde uma atendente já sorria pela situação dos dois. De longe, eles pareciam casados há uns 20 anos. – Além de tudo, você me ama.

A loira revirou os olhos, tirando seu bebê do carrinho e o pegando no colo novamente:

— Você é ridículo.

— Sim, você também ama isso.

.

— Ok, vamos domar a fera. – Octavia disse, rindo. Ela segurava Jake por trás, enquanto Clarke tentava fazê-lo comer sem cuspir nada, mas aquilo era quase uma missão impossível. A roupa de ambas e a mesa já estavam sujas, mas ele finalmente conseguiu comer o pote inteiro. – Conseguimos!

— Vou te manter por perto, caso eu precise de ajuda de novo. – Clarke sorriu, balançando a cabeça. – Eu limpo isso, pode deixar.

A loira não acreditava que Octavia tivesse tanto jeito e realmente gostasse de cuidar de Jake. Era como se fosse um irmãozinho que ela nunca teve e a Blake amava isso, mantendo sempre o pequeno no colo.

— Ei, você tá dando conta de tudo isso? – a morena perguntou, franzindo os lábios. Ela geralmente fazia isso quando estava preocupada. Clarke assentiu, passando um pano sobre a mesa. – Isso é bom. Porque... Bem, você vai para a minha escola.

— Isso é sério? – a loira se virou, arregalando os olhos. – Quando?

Octavia sorriu, vendo a empolgação dela:

— Olha, pelo que o diretor falou, você teria que ficar mais um mês em casa, pelo menos para ter certeza que está tudo bem e tudo mais. Mas acho que não deve demorar muito até que você possa se matricular, só precisamos de um maior de idade.

Clarke se apressou para agradecer a amiga, porém o silêncio da sala foi cortado pelo som da porta sendo escancarada. E, segundos depois, Bellamy entrou.

Ele passou direito pelas duas garotas, sem nem cumprimentar a irmã. Estava completamente suado, ofegante e parecia furioso por alguma coisa. Como Octavia já estava acostumada com essa visão do irmão, nem ligou muito, diferente de Clarke.

— O que deu nele? – a dos olhos azuis perguntou e Octavia deu de ombros. Clarke se voltou para a mesa, passando o pano sobre a madeira e limpando toda a bagunça que elas fizeram. – De qualquer jeito, obrigada. Nem precisa se preocupar com a questão do pagamento da escola, eu posso trabalhar e estudar ao mesmo tempo.

E elas entraram em uma leve discussão. Octavia disse que ela não precisava esquentar tanto a cabeça com as despesas dela, já que dinheiro não era realmente um problema para eles. Porém, Clarke nunca gostou de dar trabalho para ninguém e não ia começar agora.

— Hey. – a voz de Raven se fez presente, entrando pelos fundos da casa, o que também era normal para Octavia. Ela se sentou junto às duas garotas na mesa, entrando em um assunto qualquer.

(X)

Minutos depois, Raven estava trocando mensagens no celular, com a maior cara de preocupada. Clarke e Octavia se entreolharam, considerando se tinha alguma coisa a ver com Finn e se deviam perguntar ou não.

— Tudo bem, Raven? – a loira tomou à frente, franzindo os lábios.

— Tá, é só que... Finn se meteu em uma briga. Eu preciso ir, gente. – Raven vestiu seu habitual casaco vermelho e saiu da casa, tão rápida quanto o tornado que era.

Clarke parou para pensar sobre aquilo por um tempo. Não era estranho demais que Bellamy tivesse chegado daquele jeito e, de repente, Finn diz para Raven que ele se meteu em uma briga? A mente da loira não conseguiu resistir a fazer aquela ligação.

E aquela ideia de Bellamy batendo em Finn não saiu da cabeça de Clarke, durante o resto da a noite. Octavia fala sobre algum assunto aleatório com a garota e ela mal prestava atenção.

Assim que a Blake foi para o quarto e o Jake foi posto na cama, ela não aguentou ir dormir com aquela dúvida e foi até o quarto de Bellamy. Ela mal tinha uma conversa planejada em mente, apenas queria perguntá-lo.

— Foi você. – perguntou, assim que ele abriu a porta. Não foi um bom jeito de começar uma conversa. – Você brigou com o Finn, não foi?

Ela procurou algum sinal físico de que ele realmente havia feito aquilo e, enquanto olhava para o seu rosto, o moreno olhava em seus olhos. Bellamy cruzou os braços, sua postura tão rígida quanto uma haste de metal:

— O que te faz pensar que eu perderia meu tempo com aquele cara?

— Seu rosto. – ela disse, apontando para uma pequena área mais vermelha do rosto dele. Nem se deu conta que sua mão se moveu para tocar o rosto do garoto. – Você tá bem? Se machucou?

Foi um momento estranho, levando em consideração que essa foi a primeira vez que Clarke demonstrou o mínimo de preocupação por ele.

— Eu estou bem. – ele disse, enquanto ela afastou um pouco a mão de seu rosto. Olhou para ela mais uma vez, se sentindo um idiota por quer que ela continuasse o breve contato entre eles. – Espero que saiba que não fiz isso por você, fiz pela Raven e pelo que você tem pra falar com ela.

— É. Eu vou... Vou falar. – ela disse, com o olhar distante. Pensava na hipótese de Finn devolver aquilo de algum jeito e, por um motivo em particular, ela sentiu medo. Não era a primeira vez que ela sentia aquilo em relação ao ex. – Ele disse alguma coisa?

— Se você considerar cuspir sangue como alguma coisa, então, disse e muito. – o moreno respondeu, com um pequeno esboço de sorriso no rosto.