Bellamy ficou olhando a loira subir as escadas, parecendo prestes a chorar.

Uma parte dele se sentia culpada, por pegar tão pesado com a garota, mas a outra sabia que isso era necessário. Com o tempo que ela passaria aqui, ele, inevitavelmente, se apegaria à ela. E Bellamy não podia se dar ao luxo de fazer isso, não depois de tudo. Não depois de Lily.

Uma batida na porta fez seus pensamentos irem embora por um tempo e ele caminhou até a entrada da casa. Assim que abriu a porta, um furacão moreno e quase bêbado passou por ele.

— Idiota! – Raven exclamou, pisando firme e bufando. Ela tinha uma garrafa de tequila nas mãos e Bellamy já sacou: problemas de gente que namora.

Raven e Bellamy eram melhores amigos desde o ensino médio, o que obviamente significava que Raven poderia aparecer na casa dele a qualquer momento. E, sim, ela levava isso ao pé da letra.

— Hã, oi pra você também. Posso ajudar? – ele falou, fechando a porta. Se virou para ela, revirando os olhos. – Finn, de novo?

Ela assentiu, se sentando no sofá.

Raven namorava um cara há um ano e Bellamy não sabia nada sobre ele, exceto seu nome. Ela dizia que não queria apresentar o tal namorado porque não queria que as coisas ficassem sérias entres eles. Mas essa regra era meio inválida, quando já se tinham um ano de namoro.

— Sabe qual é o problema? Você namora. Quer coisa pior que isso? – Bellamy disse, se sentando ao lado dela.

O Blake sempre dizia isso. Se envolver com pessoas nunca daria certo, um dos dois lados sempre ia ceder e o mais fraco sofreria todas as consequências. Era a lei básica da vida.

— Tanto faz. Não acho que esse namoro vá durar mais que um mês, do jeito que está. – ela resmungou, virando a garrafa da bebida que ela carregava nas mãos. Fez uma careta e percorreu a mão pela boca. – Posso dormir aqui hoje? Não quero voltar para o apartamento sozinha.

Ela sempre dizia isso, que nunca mais queria ver o cara e que havia cansado de tudo, mas eles sempre acabavam voltando. E Bellamy tinha vontade de matar os dois, por todas as vezes que ele ficou escutando a reclamação dela sobre o assunto.

Ele deu de ombros:

— Vai ter que dormir no meu quarto.

Os dois se levantaram e começaram a caminhar até as escadas.

Raven era a única que mulher, exceto sua irmã, que Bellamy realmente gostava de ver todos os dias, diferentes das outras, com as quais ele mantinha a relação "duradoura" de apenas uma noite. Mesmo que eles já tivessem transado uma vez (uma longa história...), eles não tinham nada um pelo outro, que não fosse amizade.

— E o quarto de hóspedes? Tem alguém aqui? – ela franziu a testa, quando eles chegaram no segundo andar. Bellamy apenas disse que uma garota nova estava dormindo lá, poupando detalhes. – E ela é alguma coisa sua? Ex-namorada?

— Por que? Com ciúmes, Reyes? – ele perguntou, colocando as mãos na cintura dela.

— Cala a boca. – ela sorriu, afastando o amigo. – Mas, é sério, quem é ela?

— Uma amiga da minha irmã, que acabou de ter um filho. Ela vai passar um tempo morando aqui.

Ainda levaria um tempo para ele se acostumar com a ideia.

— Ah, isso é legal da parte de vocês dois. – ela disse. Logo depois que percebeu a cara de culpado dele, Raven estreitou os olhos. – Espera... Você fez merda, não fez?

— Talvez... – ele desviou o olhar e a morena deu um tapa em seu braço. – Ok, ok, eu fiz! Mas não foi nada demais, a gente só discutiu. E, além disso, eu não disse nada que não fosse verdade.

Raven balançou a cabeça. Aquele era o Bellamy, ela já deveria esperar uma atitude daquele tipo vinda dele. Por mais que eles fossem melhores amigos, ela tinha que admitir que ele conseguia ser bem mimado, às vezes.

Ela pegou o pulso de Bellamy, arrastando o moreno pelo corredor:

— Nada demais? Ah, não, você vai se desculpar com ela agora.

Ele puxou o braço de volta, bufando:

— E o que te faz pensar que a culpa foi minha? Eu não preciso pedir desculpas, não fiz nada de errado!

(X)

Clarke se deitou na cama, exausta.

Ela tentava manter o pensamento "Hoje o dia foi ruim, mas isso não quer dizer que amanhã vai ser pior", porém aquilo se tornava cada vez mais difícil. Bellamy era o menor de seus problemas, e quanto a todo o resto?

Quando criança, ela sempre sonhou que seus filhos teriam quartos gigantescos, cheios de brinquedos e qualquer coisa que pudesse fazê-los sorrir. Mas, ao em vez disso, os dois estavam morando num quarto, numa casa com alguém que obviamente não os queria ali.

Não que ela estivesse reclamando daquilo, claro que não, mas ainda assim...

Octavia disse que elas iriam comprar o berço de Jake no dia seguinte. Então, por enquanto, ele tinha que dormir na cama com a mãe. Isso não era um problema para ela, tudo que a garota mais queria agora era ficar próxima de seu filho.

Como aquilo era possível? Independente de tudo, ela o amava. O amava tanto que chegava a doer.

— Amanhã é outro dia. – a loira disse, percorrendo a mão pelo frágil braço do bebê. Ele havia chorado muito minutos antes, o que significava que ela teria que passar um bom tempo com ele no colo. – E vamos ficar bem.

...

Bellamy teve que obedecer Raven. Ele, mesmo contra a sua vontade, foi até o quarto de Clarke.

Percebeu que a garota já estava dormindo, assim que entrou. Ela estava deitada, com um dos braços envolvendo o pequeno corpo do bebê ao seu lado e uma expressão calma no rosto.

"Ela parece bem melhor quando está dormindo", Bellamy pensou, mas sabia que não era verdade. Por mais que não quisesse, tinha que admitir que a loira era realmente linda.

— Vai ficar aí me encarando ou ainda tem alguma coisa para me dizer que esqueceu? – ela falou, com os olhos fechados.

Só pode estar brincando, Bellamy balançou a cabeça. Agora ela era mutante também?

Ele ficou meio decepcionado, porque queria continuar vendo a garota "dormir" sem que os dois começassem uma pequena guerra. Mas também ficou nervoso, porque ela estava fingindo dormir e sabia que ele estava olhando.

Clarke sentiu seus músculos ficarem tensos. O que Bellamy estava fazendo no seu quarto, em plena madrugada? Sua expressão estava suave e ele também parecia mais calmo, mas isso não deixava a loira menos desconfiada.

Ela subiu o cobertor à altura da cintura. Vai saber o que Bellamy queria com ela, àquela hora, que não podia esperar até o dia seguinte.

Os dois manteram uma distância constrangedora. Ele continuava na porta, de braços cruzados, porém Clarke se recusava a sair do lado de Jake.

— Sério mesmo? Acha que eu faria isso? – ele percebeu o movimento dela e acrescentou. – Acha que eu sou um estuprador ou o quê?

Clarke vivia na casa há apenas algumas horas, mas já sabia as regras básicas de convivência com Bellamy Blake: Abaixar a cabeça era submissão, sustentar o olhar era desafio.

E, não importava o que fosse acontecer, ela não iria abaixar a cabeça para ele, nem para ninguém.

— O que você quer, afinal?

—Só quero saber quem é você. – ele observou a expressão confusa no rosto da garota e sorriu. – Então, Clarke, conte-me mais sobre de onde você saiu.

Ela franziu a testa. Sabia o que Bellamy estava fazendo. Ele achava que, se perturbasse a garota o suficiente, faria a mesma mudar de ideia sobre ficar ali e provavelmente iria embora. Mas ele estava prestes a descobrir que estava totalmente errado.

—Ok, se você quer tanto saber, eu sou a filha de Abby e Jake Griffin. Caso você se lembre daquela garotinha... Sim, era eu. – ela se levantou da cama, com cuidado para não acordar Jake. A loira se aproximou de Bellamy, cruzando os braços sobre o peito. – E, olha, desculpa se eu tenho problemas maiores que um mimadinho que me odeia.

Ele estava surpreso por Clarke ser filha da Abby, a história da família dele com a dela era realmente longa. Talvez os dois estivessem destinados a dar uma cara nova ao futuro; talvez estragar tudo.

— É isso que você acha que eu sou? – ele revirou os olhos, chegando perto dela também. Eles estavam muito próximos e aquilo fazia parecer que a raiva estava emanava dos dois.

—É só o que você me deixou ver. – ela deu de ombros. – Eu preciso dormir. Amanhã eu tenho muita coisa para fazer, provavelmente bem diferente de você. Então, se veio aqui só pra continuar dizendo tudo aquilo, não precisa nem começar, eu já entendi.

Bellamy pareceu pensar sobre o que ela disse por um tempo. Clarke não tirava os olhos do moreno nem por um segundo, imaginando qual seria a reação dele sobre isso.

— Eu só subi aqui na sua torre, princesa, para saber se você estava bem e pedir desculpas.

Qualquer pessoa, sã e normal, que tentasse conviver com Bellamy ficaria louca. Ele era completamente bipolar e Clarke começara a ficar confusa sobre aquilo. O rapaz não parecia ser do tipo que pedia desculpas, então... Por que ele estava fazendo isso, principalmente com ela?

— Enfim, acho que eu já tenho minha resposta mesmo.

Ele saiu do quarto, batendo a porta, mas isso não diminuiu a voz gritante na cabeça dos dois, que dizia: “Que diabos acabou de acontecer aqui?!”