B. A. D -Hiatus escrita por mazu


Capítulo 7
Descobertas




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Estamos a quase a um dia presos nesse lugar, não vemos ninguém, não comemos, só ficamos conversando esperando alguma coisa acontecer.
—Como é a sua cela? -Pergunto ao A.
—Pequena, vazia e cinza.
—A minha também. -Respondo.
—Você se lembra de alguma coisa? Digo... Da sua outra vida.
—Nada, às vezes acho que nem tive outra vida. Parece que nasci aqui. E você?
—Eu lembro de uma música e de uma voz feminina. Acho que era a voz da minha mãe.
—Jura? E como é a música?
—Ela fala de um gatinho que ficava perdido e com medo, mas depois ele reencontra sua dona.
—Espero que sejamos esse gatinho.
—Eu também.
Escuto a porta abrir e olho pra frente. O Diretor estava entrando na minha cela. Ele fecha a porta atrás dele e se senta ao meu lado no chão.
—Fala... Pode falar. -Ele diz.
—Certo, eu odeio esse lugar, odeio os instrutores, odeio as roupas, os corredores, as aulas, os malditos presentes, odeio você... Odeio tudo.
—E porquê tanto ódio?
—Você... Você ainda pergunta? Não temos liberdade! Não podemos fazer nada. Somos machucados e forçados a machucar uns aos outros.
—Sabe, eu queria que fosse diferente. Queria poder mudar tudo aqui, mas não posso.
—Claro que pode, você é o Diretor... Você pode, só não quer.
—Sou o Diretor mas não mando em tudo. Quem manda em mim é o Presidente, e você sabe, se eu não obedecer...
—Te matam.
—Isso.
Ficamos um bom tempo em silêncio.
—Kate está na sela ao lado conversando com o A. Eu não relatei a fuga de vocês pro Presidente e nem pretendo. Você vai querer uma segunda chance?
—Vou. -Respondo, é isso ou morrer.
—Ótimo, vou mandar te soltarem.
—Uma pergunta.
—Fale.
—O D está mesmo morto?
—Eu sinto muito. -Ele responde e as lágrimas voltam a descer pelo meu rosto.
—Venha comigo, eu quero te mostrar uma coisa. -Ele diz, se levanta e sai da cela. Eu faço o mesmo e o sigo pelos corredores até chegarmos numa sala que eu nunca tinha vindo antes.
—Esse aqui é o meu escritório. -Ele diz, destranca a porta e entramos. As paredes, o piso e todos os móveis eram feitos madeira, a sala dele cheirava à café. Ele se senta na mesa, abre uma das gavetas e tira um papel de lá.
—Sente-se e... leia. -Ele diz e me entrega o papel.
Eu me sento e começo a lê-lo, nele diz:

"Barbara D.
14 anos.
Tipo sanguíneo: O-
Habilidades: Força, técnicas de combate, raciocínio rápido.
Categoria: A+
Ameaça: Alta/Preocupante. "

E abaixo disso tudo havia uma foto minha. Depois que leio aquilo eu encaro o Diretor.
—Seus pais eram muito novos, Barbara. Eles mal sabiam cuidar deles mesmos... Então te deixaram aqui. Você cresceu nos corredores de Muda Agen, chamava o Lay de "titio" e a Kate de "mama". Só que você não deve se lembrar já que com 10 anos você caiu e bateu a cabeça, depois disso não se lembrava mais das coisas, se afastou de nós.
—Isso é sério?
—Sério, eu jamais mentiria pra você.
—Você conheceu os meus pais?
—Sim, eles eram tão jovens, coitados. Sua mãe estava desesperada, foi uma gravidez imprevista e a família dela era muito rígida. Seu pai só tinha 18 anos, não estudou muito, parou na 8° série. Ele não tinha um bom emprego e nem casa, morava com os amigos. Eles acharam que deixá-la com alguém seria a melhor opção.
—Entendo. -Respondo e devolvo o papel pra ele.
—Que bom. Não quero que fique triste nem nada, eu só queria que você soubesse. Seus pais te amavam muito, ainda te amam, devem pensar em você toda hora. Eles queriam muito ter ficado com você, mas não teriam como cuidar de você, pagar uma boa escola, educá-la.
—Eu... Eu entendo.
—Certo. Aqui, pegue. -Ele diz e me entrega uma foto, nela há um bebê enrolado numa toalha rosa enquanto brinca com uma escova.
—Sou eu?
—Sim, seus pais me pediram pra te entregar. Eles queriam muito que você tivesse essa foto.
—Eu vou guardar, prometo. -Digo e guardo a foto no bolso.
—Olha... Eu sei que aqui não é o melhor lugar do mundo pra se morar mas eu te peço paciência. Quando o programa acabar vai ser bem melhor. Você vai ter paciência?
—Vou, vou sim.
—Ótimo. Agora você pode voltar para o dormitório, mas antes... Aqui, um café pra você. -O Diretor diz e me entrega um copo.
—Obrigada Diretor.
—Pode me chamar de Jared, agora vá.
Ele diz e eu saio da sala. O Senhor Lay estava me esperando do lado de fora.
—Então... fujona, onde você vai? Estou sendo pago pra te seguir pra tudo quanto é canto pra impedir que você fuja de novo. -Ele diz enquanto bagunça o cabelo branco.
—Vou ao salão de beleza, pintar meu cabelo pra ver se ele fica tão estilo quanto o seu.
—Fica quieta que foi uma luta pra descolorir isso.
—Tá bom, titio. -Digo e os olhos acinzentados dele chegam a brilhar.
—Você lembrou?
—Um pouco, agora sai da frente titio, eu tenho que voltar pro dormitório.
—Não vai se livrar de mim tão fácil, fujona.
Ele diz e enquanto eu andava em direção ao dormitório ele me seguia. Termino de tomar o café e quando passo por uma lixeira eu jogo o copo nela.
—O chefe te deu café? O assunto foi sério...
—Quantos anos você tem? -Pergunto curiosa, ele não parece ser muito velho pra chamarem ele de Senhor.
—Tenho 22... não, 21 ainda, 22 só semana que vem.
—Então porquê diabos te chamam de Senhor?
—Também queria saber, mas quem começou isso foi o I, acho que foi pela educação mesmo ai pegou.
—Que seja... Eu só vou te chamar de titio agora.
—Impressão minha ou você está mais feliz?
—Não, eu ainda odeio tudo e todos. Até mais. -Digo e entro no dormitório.
Ele parecia vazio mas depois que eu ando um pouco percebo que há alguém num dos cantos.
—Quem tá ai? -Pergunto e a pessoa se vira. É o A.
Ando até ele e vejo que está segurando uma folha de papel.
—Hey, o que é isso? -Pergunto mas ele fica apenas me encarando.
Do nada, ele dispara na minha direção e me empurra até eu me chocar contra a parede.
—Calma A, o que...
Ele me interrompe com um beijo. A põe as mãos na minha cintura e com as minhas eu faço carinho na cabeça dele. Depois de um tempinho eu sinto algo pingando em mim e percebo que ele está chorando. Ele para o beijo, me abraça e esconde o rosto no meu cabelo.
—Eu... Eu matei eles, os 3... Eu matei a minha família, B.
—O quê? Calma... Como você descobriu?
—A Kate, ela me contou... Eu matei eles B.
—Calma, tá tudo bem. Respira... Vem. -Digo e o puxo comigo até a minha cama. Me sento encostada na cabeceira, ele faz o mesmo mas segura a minha mão como se fosse uma criança assustada, tremia e soluçava.
—Eu sou um monstro, eu os matei... Sempre os culpei por terem me abandonado mas a culpa foi minha, B.
—Barbara.
—... O quê? -Ele pergunta confuso.
—Barbara, meu nome é Barbara.
—O meu é Alan.
—Então... Alan. Pare de chorar, eu sei que as coisas estão difíceis, e pioraram depois de você ter descoberto isso mas... Eu tô aqui, estou com você. Vamos passar por isso juntos viu?
—Promete? Eu... Eu não quero ficar sozinho, eu não quero morrer aqui.
—Você não vai! E eu prometo.
Ele aperta a minha mão mais forte e deita a cabeça no meu ombro.
Nem a mais forte das armaduras aguenta o impacto de uma verdade bem dita.

Continua...


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