“Ninguém cruza nosso caminho por acaso e nós não entramos na vida de alguém sem nenhuma razão.”

—Letícia Thompson

14 de junho de 2016

Hosgmeade- Reino Unido

  River se espreguiçou e começou a se alongar, ela sempre corria de manhã,mas nos últimos dias havia se descuidado. Correr é bom para pensar nas coisas,refletir sobre as merdas que fez e tentar ter alguma ideia para concertar os erros que cometeu.

  River gostava de correr simplesmente para ter um tempo sozinha. Ou seja,sem nenhuma garotinha mimada,ou um louca psicopata,ou uma família sem noção. Só ela e a natureza. Pelo menos era isso que ela queria.

—Bom dia raio de sol.-um voz rouca e sexy se faz ouvir. A morena revirou os olhos.-O que faz acordada tão cedo?

  Ela podia xingar,ignorar ou responder de forma grosseira,mas ela apenas o encara,sorrindo e sussurra.

—Bom dia James.-ele sorriu para ela,aquele sorriso estilo cafajeste,aquele sorriso que fazia varias garotas suspirarem,aquele sorriso que não fazia o menor efeito em River.-Vai correr?

—Vou,-ele a analisa da cabeça ao pés.-parece que você também.Posso te acompanhar?

  River sorri de canto.

—Se conseguir.-ela correu rápido,deixando James abobalhado para trás.

  River gostava de corre pelo simples fato de se sentir livre. Ela começou a correr aos quinze,apenas para se desestressar,depois para se livrar de tomar café da manhã com o pai,e só depois para paquerar os corredores e corredoras.

—Você é rápida.-James comentou,River correu mais rápido,o ignorando.-Hey!-ele a puxa pelo braço,fazendo a parar.-Você tá bem?

—Como assim?-River ofegou cansada,colocou a mãos na cintura e respirou fundo.

—Você parece meio distante.

—Você nem me conhece,para dizer como estou.-a resposta foi acida.James levantou as mãos em sinal de rendição.

—Uou,alguém acordou estressada hoje.

—Desculpa,-ela pediu,sincera.-mas ontem a noite foi muito estressante.-James apontou com a cabeça para frente,eles voltaram a caminhar. -Não sei como consegui sair de lá sem ter arrancado fio por fio do cabelo loiro oxigenado da sua noiva e daquela vadia que ela chama de prima.

  James sorriu.

—Foi meio pesado o que elas falaram ontem.-River o encarou,prevendo a pergunta que se seguiria.-Mas é verdade?

—Sobre Lexi não ser filha do meu irmão?Sim.-ela respondeu e logo emendou.-E não,eu não sei quem é o pai dela.

  James pendeu a cabeça para o lado.

—Ela nunca te contou?

—Existem certas coisas que Rose não gosta de comentar com ninguém,nem mesmo comigo.-River explicou.

Ela só havia perguntado um vez quem era o pai de Alexia,mas a resposta havia sido mais grossa que o necessário,então ela desistiu.

—Então,Rose nunca me contou muito sobre você.-ela mudou de assunto.

—É deve ser pelo fato dela me odiar.-James comentou rindo.

—Por que ela te odeia?-ela perguntou,mas logo percebe o desconforto dele.-O que você fez para ela?

O Potter passou a mão pelo cabelo despenteando-o ainda mais,River prendeu a respiração por um segundo.

—Digamos que a historia de dois,não é um tanto romântica.-ele explicou sem jeito.

—Você ferrou com a vida dela,não ferro?

James confirmo com a cabeça.

—Você é um idiota.

—Com certeza.-ele sorriu sem jeito.

O vento balançou a copa das arvores ao redor,eles estavam em uma distancia considerável da casa.River fechou os olhos sentindo a brisa em seu rosto.

—Então,-James começou tentando puxar assunto.-Da onde você conhece a Rose?Claro,além de você ser irmã do marido dela.

—A gente se conheceu na faculdade.Tentei dar em cima dela.

—Você tentou o que?-ele perguntou ,incrédulo.

— Eu dei em cima dela,mas ela estava tão ocupada com o…-de repente ela parou.

—Com o que?-James perguntou incentivando-a.

—Com...com...a viagem,ela estava extremante cansada.- River se enrolou com as palavras,por um misero segundo ela iria falar bebê. Se falasse,Rose a mataria.-Não tinha onde ficar,estava sozinha,não tinha ninguém. Era como se ela fosse um pequeno cachorrinho abandonado,aquele que você acha na rua e se apaixona de cara. Eu me apaixonei por ela,mas não foi aquele amor,amor carnal,foi um amor fraterno,ela é a irmã que eu nunca tive. Rose me entende,me compreende,ela sabe lidar com as minhas crises e loucura. Nós somos uma família.

—Entende.-ele sorriu sem jeito. Havia alguma coisa ali,uma coisa que James e Rose escondiam ,e ela iria descobrir o que é.-Então você fez faculdade de que ?

—Administração.

James sorriu abertamente.

—O que foi?

—Você não tem cara de quem faz administração.-a Green revirou os olhos,mas sorriu.

Era engraçado,porque a única coisa que River se lembra dos seus três dias na faculdade de administração,era…

—Patos.

—Patos?-James a encarou confuso.

—Patos,coloridos e inflados.Ah,-ela pulou no mesmo lugar.-e tinta comestível.

—O que?

—É a única coisa que eu me lembro dos meus três dias na faculdade.

—Você só ficou três dias na faculdade?-questionou  incrédulo.-O que seus pais falaram?

—Nada,papai me chamou de irresponsável e mamãe me disse para tentar algo novo.-ela deu os ombros.

—Se eu fizesse isso,meus pais me matariam.

—Eu acho que não,eu conhece sua mãe ontem,ela parece um doce.-eles pararam e se sentaram em um tronco caído jogado no canto da estrada.

—Sabe aqueles cachorrinhos que são fofos perto dos donos,mas quando ficam sozinhos com a visita,mas parece o capeta encarnado?

—Sei.

—Minha mãe é isso.Mas eu não posso culpa-la,minha família é completamente louca.

—Ah,meu bem.Sua família não chega nem aos pés da minha.

—Sério?

—James,meu irmão era um completo idiota, minha nora tem um parafuso a menos, minha irmã tem sérios problemas com relacionamentos, minha mãe se casa pelo menos duas vezes por ano, minha afilhada tem uma queda/penhasco pelo meu irmão mais novo,que no caso tem uma mãe sem noção. Então,se você disser que tem problemas familiares maiores que os meus,por favor,se mata.

James jogou a cabeça para trás gargalhando alto.

—Sabe,-ele pegou em sua mão,River sentiu um frio estranho subindo pela espinha até a nuca.-você é meio exagerada,mas é uma pessoa legal.

River sorriu sem mostrar os dentes,um sorriso tímido ,o que não era do feitio de uma Green.

De repente seus olhos se encontraram,os sorrisos se desmancharam,ela se inclinou para frente,ele também. Os lábios se chocaram com uma força desnecessária,um gemido fora arrancado do fundo de sua garganta,ele a puxou para o colo meio sem jeito. River enrolou as pernas em volta de James,ele se levantou tentando achar o apoio necessário.

  Os dedos delas enrolavam nos cachos bagunçados dele,quando o madeira fria e dura da arvore encostou contra a pele de River ela logo se arrepiou. As mãos dele passeavam por toda a extensão do seu corpo,a cada troca de olhares,a cada beijo,um suspirou era arrancado.

  River podia notar a tensão e luxuria no ar. A necessidade excessiva de...

—River.River.-a Green balançou a cabeça de um lado para outro,saindo do seu pequeno mundo,James estralava os dedos em sua cara.-Você está bem?

—Sim.O que?Por que?

—Você parecia no mundo da lua.-ela passo a mão pela nuca,nervosa.

—Ah...é?Eu..eu não notei.-as palavras engasgaram na garganta da morena.River sentiu seu rosto ficar vermelho.-É melhor a gente voltar.

—É ‘tó morto de fome.-James sorriu,isso fez River sorrir.

[...]

—Acorda,acorda,acorda.-Alexia empurrou de leve a sua mãe,Rose se virou para o outro lado e enterrou a cara no travesseiro.-Mãe!-a garota exclamou indignada.-Levanta o café já está na mesa,tio Fred veio chamar.

A mulher resmungou contra o travesseiro,Alexia revirou os olhos,mania herdada da mãe.

—Olha,eu sei que você está morrendo de vergonha,e provavelmente nem queria pisar os pés para fora desse quarto,mas eu também passei vergonha mamãe. E também fui humilhada por elas,diretamente e indiretamente.-ela suspirou.-Eu sei que as vezes as coisas ficam difíceis,mas você sabe que eu sempre vou estar aqui,do seu lado.

Alexia passou a mão sobre o cabelo embaraçado de Rose,a mulher pela primeira vez em meses se permitiu chorar. De repente Rose se coloca de pé,com as mãos na cintura respira fundo,o coração palpita no peito.

—Por anos eu tentei fugir.-ela começa a explicar,Alexia senta de pernas cruzadas na cama.-Me esconder de tudo e de todos que faziam parte do meu passado,mas parece que foi em vão. O passado é como uma arma engatilhada apontada para a cabeça,quando menos se espera ela atira e acaba com tudo o que você construiu.

—Isso não é verdade.-Alex contrapões.

—É sim,mio cara.—sussurrou virada para a janela.

A garota abriu a boca para retrucar,mas logo foi impedida pelo barulho da porta se abrindo.

River entrou como um furacão,se jogou na cama e começou a resmungar em italiano,alemão e francês.

—O que houve?-Alexia perguntou.

—Só estou cansada.

—Não parece.-Rose comentou,ainda olhando para o campo pela janela.

—’Ta legal,aconteceu uma coisa,mas já é passado.

Alexia revirou os olhos.

—Não acredito que vamos passar o dia todo na porra desse quarto!- a garota exclamou revoltada.

—Sem esse tipo de palavreado na minha frente Alexia.-Rose a repreendeu.

—Mãe,a vida é preciosa de mais para ficar enfurnada dentro de um quarto se reclamando,-Alex gesticulou energeticamente,enquanto as palavras pairavam pelo ar.-a vida é sua e precisa ser vivida!

Isso finalmente prendeu a atenção das duas mulheres. Cada uma com seus problemas, lamurias, perdas, erros e deslizes. 

—Se vocês não forem fazer nada,eu vou.-e saiu pela porta,batendo-a com força.

Caminhou alguns passos pelo corredor e parou, esperando ansiosamente as vozes dentro do quarto. De repente a porta se escancarou, River saiu bufando com Rose atrás.

—Um dia eu ainda te mato.-River ameaçou olhando nos olhos de Alexia.Rose abraçou a filha de lado e falou.

—Você está certa.E tenho que encarar isso,é a minha vida,pode não ser tão extravagante,- River encarou a cunhada com a sobrancelha erguida em descrença.-mas é preciosa.E eu também não posso ficar dentro de um quarto para sempre,mamãe me arrancaria de lá a força.

As três riram juntas.

—Agora vamos que eu estou morrendo de fome.

Alexia puxou a mãe e a tia pelas escadas, barulhos vindos da cozinha fizeram-na engolir seco. Ela tinha um plano, tirar a sua mãe do quarto, mas não sabia o que fazer depois.

—Vamos ficar aqui paradas,ou enfrentar a cachorrada?-River riu da própria piada. Mesmo completamente nervosa,então acrescentou com uma certa ironia.-Que Coco Chanel nos proteja.

[...]

Rose sabia que havia uma luz no fim do túnel, e essa luz, provavelmente, era um trem vindo atropelará.

Ela queria ser como Dan, ele sempre via o bom das pessoas, pensava positivo,sorria para qualquer, era difícil ver o Green mais velho de mal humor. Esse era um dos motivos pelo qual Rose se apaixonou por ele. As vezes Dan brincava e dizia que eles eram como gelo e fogo, só ele conseguia faze-la sorrir, só ele a acalmava quando ela brigava com o pai dele, só ele a beijava de um jeito calmo e único, e só ele conseguiu colocar um anel no dedo dela e fazer com que ela prometesse nunca abandona-lo.

E ela nunca abandonou.

—Deveríamos ir a cidade hoje.-River comentou,trazendo Rose de volta a realidade.-Fazer algumas compras, conhecer a cidade,…

—Pegar alguns gatinhos.-Alexia completou.

—E gatinhas.-River concluiu.Rose riu.

—Vocês duas não prestam.

—Mãe se os meus tios são assim,imagine os garotos dessa cidade?

—River você levou a minha filha para o mal caminho.

—Quem é que está no mal caminhou?

Rose revirou os olhos ao reconhecer a voz.

—Ninguém,James.-respondeu grossa ao primo.

—Rose,não seja mau educada.-River a repreendeu.-Ele só fez uma pergunta.

—Obrigada.-James disse e olhou para ela com uma certa admiração,enquanto Rose a encarou com descrença.

—Vamos.-ela puxou a cunhada em direção a cozinha,Alexia acenou para James,como se deseja-se um bom dia.-O que deu em você?

—Qual é o problema?

—Por que você está defendendo ele?

—Porque ele é legal.-ela falou como se fosse obvio.

—É verdade,mãe.

Rose cruzou os braços sobre o peito e se afastou em direção a cozinha. Alice e Molly se encontravam na mesa conversando,Rose sorriu assim que as viu.

—Bom dia.-ela desejou,beijando a cabeça das duas.

—Bom dia,pensava que não ia sair daquele quarto.-Alice falou.

—É se não fosse por mim ela não teria saído mesmo.-Alexia disse e caminhou até a geladeira,pegando o suco.-Então,agradeça a mim.

—Nossa.-Molly sussurrou,então se virou para Rose perguntou.-Ela é realmente a sua filha?

A ruiva riu,já Alexia revirou os olha.

—Certeza absoluta.-Rose abraçou a filha com força.Alexia revirou os olhos,mesmo sorrindo.

—Deveríamos fazer alguma coisa.-River colocou um mexa do cabelo atrás da orelha.-Sair para algum lugar.Estou cansada de ficar em casa.

—Podemos ir dar um volta na cidade.-Alice opinou.-Os turistas estão chegando,vai ser a maior algazarra.

—Ou,-Molly sorriu faceira,como se soubesse um segredo.-podemos ir ver o concurso .

—Que concurso?-Alexia perguntou realmente interessada.

—Princesa das boas-vindas.

River jogou a cabeça para o lado,confusa,quando Molly respondeu e então perguntou.

—Que merda é essa?

—É um concurso idiota que eleger a garota mais bonita da cidade,para ela se aparecer para todos os turistas.-Rose explicou.

—Como se você não quisesse ter participado.-a ruiva revirou os olhos ao ouvir a declaração de Alice. A morena apenas mostrou a língua para a amiga,Rose continuou a falar.

—A questão é: Eles apenas julgam a beleza...

—...nada de caráter ou habilidades.-Alexia completou.-Eu sei.

Ela sorriu para a filha.

—As coisas mudaram,Rose,agora eles não julgam só a beleza.Mas também a inteligencia e o talento.-Alice encarou a amiga.-Acho que Alexia deveria participar.

—Eu?Por que?

—Você é bonita e se tiver metade do senso de humor negro da sua mãe,-Molly apontou discretamente para Rose.-se divertira muito.

—O que você acha,mãe?

—Você sabe a minha opinião,mas se você quiser.A escolha é sua.

A garota respirou fundo e olhou para a madrinha,River deu os ombros e sorriu.

—Eu vou participar.

—Ótimo!-Alice exclamou e bateu palminha.

—Você vai se divertir muito,Alexia.

—Tomara que sim.-a garota respirou fundo e vendo que sua mãe e suas tias engataram um conversa animada,sussurrou para si mesma.-Que Gucci me proteja.