Lápide [Poemas] escrita por KenFantasma


Capítulo 2
Minha volta ao trono




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Em estrofes tortas, submersas em olhar incógnito, transcrevo os fragmentos dos meus sentimentos. Não que façam sentido, mas esses são tudo que sei. Fragmentos errantes que de forma espectral andam perdidos, confusos, sussurrantes em minha mente. 

A rua sem cor torna-se assombrada pelos fantasmas da consciência. Mas existe consciência para os sentimentos?
“Impere sobre as trevas e jamais esqueça: Você já morreu”
“Você tem a vida ao alcance de seu coração, tente encontrá-la... tente amá-la”
Ajoelho-me estridente, tampando os ouvidos. São falácias fracas que em coral tornam-se os rugidos da confusão. Atormentado, não consigo escutar o que existe no porão do meu peito.

As dores que proveem do despertar do coração me confrontam como inimigos incansáveis.
O ar funesto que me sopra quando trancafio-me ao porão mais obscuro da alma me revela o quanto minha existência nada vale.

Em montanhas celestes, onde os múrmuros não me alcançam, eu medito. Então abro os olhos, que antes nebulosos e distraídos pelo distúrbio da confusão, armam-se de lâminas agressivas, eles fitam o absoluto nada, mas veem no horizonte a resposta para tudo.

Volto à rua infestada de contradições errantes, mas eu grito ordenando que se calem, e elas me obedecem. Sigo em passos firmes até ordenar que seja criada a sua imagem, e diante de mim a neblina me trás sua forma corpórea, sei que não és tu, mas isso me servirá...

—A este tormento eu declaro fim, calo de uma vez a inquietude... – Seu avatar não se abala, me escuta tal qual um boneco inanimado – Soquei o coração dos meus valores, desafiei o abismo da compreensão e me aventurei pela profundeza oceânica de sua alma na procura de seus segredos. Em balbucios de meus músculos fui perdendo as esperanças. Talvez sua pandora não deseje ser aberta, talvez ela sequer exista. De qualquer forma, não sou nenhum ferreiro para forjar essa chave, nem algum navegador para perseguir lendas. Sou algo que você não compreende, sou um espectro, um fantasma... e quase me esqueci disso.

Sim, pois agora clareia-me a mente. O pesar deste destino ao seu lado, nunca realmente dependeu de minhas pernas ou braços.

Sabendo disso, eu desisto. Desisto de você. Volto o olhar apático, sento-me em meu trono, aqueço-me no inverno.

Ali, por toda eternidade, evito pensar sobre isso, mas ainda residem estalactites de amor que escoem em pingos ao longo dos anos, e enquanto eles desenham sua linda e traiçoeira forma, ainda existe resposta em meus pulsos toda vez que os pingos na poça repetem seu nome.


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