POV VIVIANE

É claro que eles não vão lembrar-se do que aconteceu aqui, estão tão fora de si! Droga, Viviane! Porque eu não escolhi um dia em que todos estivessem sóbrios?... Tá bom, isso é piada, nunca vi todos sóbrios de uma vez. Mas na verdade quem não vai esquecer-se de hoje sou eu. Pensei que o dia seria marcado porque finalmente teria minha vingança, é certo que eu quase desisto quando vi os pestinhas feito anjos no berço, mas aquela Xabeu me fez ver o outro lado da moeda, ela marcou o meu dia! E de quebra ainda me fez decidir pelo meio termo da questão.

Eu os queria envolvidos nisso até sua morte, mas colocarei uma cláusula de livre arbítrio para esses sete. Quero que eles sintam-se livres, porque realmente tudo isso lhes dará essa sensação; mas na verdade apenas ficarão cada vez mais e mais presos. Tudo isso já está dentro de cada um deles, eu só preciso proporcionar um encontro com tudo àquilo que eles mesmos irão desejar. Como eu não quero ninguém achando que sou tão má assim, todos poderão tirar suas cordas quando tiverem vontade, o que acho difícil mesmo é que algum deles queira isso, mas ai já não é problema meu.

POV NARRADOR

Todos tinham sua atenção voltada para onde estavam a Bruxa Viviane e as crianças, mesmo os embriagados não podiam deixar de notar a aura de poder sombrio que emanava da mulher, ela começava a provocar calafrios e terror nos presentes, que, enfim, perceberam que não era seguro deixar os bebês tão próximos, afinal, o que ela poderia fazer a eles? Ela tinha falado em um plano não tinha?

A feiticeira finalmente havia conseguido a atenção que desejara e estava em êxtase por isso. Seus longos cabelos negros ondulavam como se estivessem recebendo rajadas de vento, emoldurando seu rosto que um dia fora belo, mas que hoje se resumia a uma expressão teatral, sinistra e com ares de vitória. Olhava a todos de cima de seus saltos altos, de cabeça erguida e olhos baixos, imaginando o quão eram pequenos e indefesos diante de seu poder. Até que finalmente acabou com o suspense e falou:

– Enfim vocês compreenderam que eu não vim aqui para brincar, (embora o tenha feito de um jeito muito bom lá atrás...) é hora de dar o que vocês merecem descontando naquilo que mais amam, seus preciosos filhos!

Nesse momento, os pais ali presentes finalmente se deram conta de que precisavam fazer alguma coisa além de ficarem parados e correram todos ao encontro da bruxa para contê-la; mas é claro que ela estava preparada e nem piscou ao jogar um campo de força protetor que jogou todos violentamente para trás.

– Porque você está fazendo isso? – questionou Luíza com a mão na testa apalpando um galo que tinha surgido bem ali.

– Depois de todo esse tempo vocês ainda perguntam? Sempre a turma perfeita, afastando-me quando tentava me aproximar e agora convidam o bairro inteiro pra uma festa e não tiveram a menor consideração para me chamar!

– Mas no colégio você sempre estava afastada de todo mundo, na maior parte do tempo falando sozinha sobre poções e... e... e sapos, sei lá! Ainda assim, é claro que lhe convidamos pra festa! – respondeu a mãe da menina Mônica.

– Ora CHEGA! Ninguém vai me confundir, ninguém mais irá me esquecer!

E dizendo isso se voltou para os berços e proferiu sua maldição:

– Há muito tempo Adão e Eva quiseram ser como deuses e sua soberba foi o pecado original. Expulsos do Paraíso todos os homens passaram a levar o bem e o mal dentro de si. Isso não é diferente para essas crianças, portanto, usarei essa característica do ser humano, porém, potencializando cada um para um pecado específico. São sete crianças para sete pecados, os 7 Pecados Capitais!

Proferindo essas últimas palavras, de suas mãos saíram raios coloridos que rumaram diretamente para cada bebê.

O primeiro, de cor vermelha como sangue, levava o pecado da luxúria, o desejo passional e egoísta por todo o prazer sensual e material, prazeres carnais e sexualidade extrema. Esse atingiu em cheio o menino Cebola.

O segundo raio, de cor rosa bem claro, mas com brilho intenso, foi direto para a Magali, ele transmitia o pecado gula, um desejo insaciável por comida e bebida, mas também relacionado ao egoísmo humano de querer sempre mais e não se contentar com o que se tem.

O terceiro raio, com a cor azul celeste, foi direcionado ao Cascão, era a transgressão da preguiça, que o deixaria em estado de falta de capricho, negligência, desleixo, aversão ao trabalho e estudos, associados ao ócio e à vadiagem.

O quarto raio, amarelo, atingiu Carmem, que seria levada constantemente à avareza, se apegando excessivamente ao dinheiro e bens materiais.

O quinto raio entrou em Toni, esverdeado indicava o perigo do pecado da inveja, o desejo exagerado por posses, status, habilidades e tudo o que outra pessoa tem e consegue.

O sexto raio, roxo e um dos mais perigosos, atingiu Denise, a vaidade, também tratada como soberba, um dia levou o homem a querer ser maior que Deus, - Eu já disse isso! Não repita, pois o leitor ficará entediado, narrador! – (Que mulher insuportável!) - ela estaria associada ao orgulho excessivo, à arrogância e à falta de humildade.

O último raio atingiu Mônica no centro de sua força, o que a deixaria mais perigosa, pois, além de forte, ela teria que aprender um dia a controlar sua ira para não trazer consequências mais graves. O intenso e descontrolado sentimento de raiva e fúria, gerado pelo pecado, traria o desejo de destruir o que quer que a tenha provocado.

Tendo concluído seu plano maligno, a Bruxa Viviane deixou o salão acreditando que daí em diante tudo estaria nas mãos do destino e das próprias crianças. Seu trabalho estava feito, não havia mais nada que pudesse fazer para voltar atrás, o plano não deixava espaços para arrependimentos.