Os 7 Pecados Capitais escrita por Talyssa


Capítulo 27
Do outro lado do caminho


Notas iniciais do capítulo

Desculpinha por não ter postado ontem :$
Mas aí está o capítulo novinho para vocês ♥



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Denise estava em casa com seus pais conversando sobre o futuro de seu tratamento, por mais que continuasse com as quimioterapias no tempo correto, elas não estavam mais funcionando como deveriam, era provável que a menina precisasse do transplante de medula óssea e no dia seguinte os familiares já iriam verificar a compatibilidade.

Infelizmente, Dê piorou naquela noite mesmo e foi levada às pressas para o hospital, lamentava não ter tido tempo de contar tudo a seus amigos, sentia seu corpo muito fraco, não queria desistir, mas era muito difícil e o esforço que empregava naquilo a deixava acabada. Se viu rodeada por máquinas e fios que, provavelmente, lhe ajudariam a manter-se viva, algo que estava entrando em sua veia lhe deixou completamente tonta e a garota acabou dormindo.

Ela achou que não acordaria mais, em algumas horas da noite realmente pediu para que aquele sofrimento todo acabasse, não só por ela, mas já não aguentava ver seus pais com medo e tristes pelos cantos por sua causa. A manhã do dia seguinte chegou e vendo que ainda estava viva, perguntou à enfermeira onde estava sua mãe, a moça respondeu que ela havia passado a noite do lado do leito junto com seu pai, mas tinha ido tomar um café rápido.

Assim que voltaram, Denise pediu-lhes um favor, queria apenas seu celular emprestado, pois esquecera do seu em cima da cama. O pai sorriu e entregou-lhe o celular de capa cor-de-rosa e glitter, a menina sentiu-se agradecida, não perdeu tempo, foi à sua agenda telefônica e ligou primeiro para um número.

LIGAÇÃO ON

XXX: Oi, Dê, como você tá?

Denise: Eu não tenho muito tempo pra conversar, desculpa, na verdade não me sinto bem...

XXX: Onde você tá?

Denise: Eu tô aqui no hospital, pode vir p...

XXX: Já tô chegando!

LIGAÇÃO OFF

Denise fez a segunda ligação daquela manhã.

LIGAÇÃO ON

XXX: E aí, Dê? Sussa?

Denise: Reúne a turma, quero ver todos aqui hoje!

XXX: Na sua casa?

Denise: Não, tô no hospital.

XXX: ...

Denise: Ouviu? Pode fazer isso por mim?

XXX: Você tá bem?

Denise: Só faz isso... Pode ser?

XXX: Até daqui a pouco!

LIGAÇÃO OFF

==

Ramona ligou para o namorado e perguntou se poderia encontra-lo aquela manhã, tinha algo muito importante para contar. Segurava o gravador em suas mãos quase o quebrando de tanto que o apertava. DC respondeu que a esperaria na padoca. Ao chegar, não só ele, mas a turma inteira estava no lugar também, Ramona procurou o namorado e logo o identificou no meio da galera, chegou, cumprimentou a todos e puxou ele um pouquinho de lado.

– Eu tenho que te contar uma coisa...

– Eu já sei, fala logo, porque parece que todo mundo tem alguma coisa pra falar hoje!

– Como assim? – a menina perguntou.

– Outra pessoa marcou com todo mundo aqui, tem alguma coisa pra contar também. – respondeu dando de ombros.

– Bom, melhor assim, o que eu tenho pra falar interessa a todos. – O menino ficou calado. – Você não quer saber o que é?

– Nãn, eu posso esperar.

– Sério? É sobre a minha mãe...

– Ahãm, tô sabendo, mas eu vou esperar.

– Ah esquece, vamos logo lá e...

– Não! Agora eu quero saber. – Falou DC com cara de pidão.

– Você não existe, sabia... – E saiu puxando o namorado de volta para a turma.

A conversa de todos estava animada, todo mundo falando alto e zoando, seu Quinzão estava chateado porque até agora só tinham pedido dois sucos para justificar o uso da mesa, Ramona e DC se aproximaram e garota clareou a garganta se preparando para contar.

– Oi, gente. – falou Ramona, mas poucos lhe deram atenção.

– A Ramona quer contar uma coisa! Alô, Voz do Brasil. – Os garotos pararam de falar e voltaram as cabeças para a mocinha que se encolheu.

– Bom, é sobre as c-coisas estranhas q-que vem acontecendo com a turma ultimamente, na... Hãm... Na verdade, eu descobri que...

– AINDA BEM QUE TODOS JÁ ESTÃO AQUI! – Chegou falando ofegante o Cebola.

– Qual é, Cebola? Deixa de ser mal educado, a Ramona tava falando algo importante! – mandou Mônica que estava curiosa para saber o que a menina queria contar.

– Ah, mas isso é mais importante. CASCÃO, ANINHA, CHEGA MAIS! – Os meninos vieram correndo preocupados com o tom do Cebola. – A gente tá sem tempo, por isso eu explico no caminho, temos que ir para o hospital agora!

– Como assim? Porque?

– É a Denise, gente, só vâmo pra lá logo, okay?

A turma ficou nervosa, mas começaram a se arrumar rapidamente e já foram acompanhando o Cebola. Os funcionários da padaria pediram licença pro seu Quinzão e saíram em disparada atrás dos amigos.

==

– Então era sobre isso que estavam falando aquele dia na praia? – perguntou Mônica sem graça quando iam entrando no hospital.

– Sim, era sobre isso. – respondeu o Cebola com uma expressão preocupada.

– Olha, Cê, me desculpa, eu...

– Esquece isso agora, tá? Acho que temos coisas mais importantes pra resolver.

Todos se dirigiram ao apartamento que Denise estava internada, viram seus pais conversando com o médico do lado de fora, pediram licença e entraram. Qual não foi a surpresa de todos quando encontraram Xaveco segurando a mão da menina e acariciando seu rosto .

– Xaveco? – perguntou Titi surpreso.

– Eu nem percebi tua falta na padoca... – falou envergonhada Magali.

– Estão claramente me avacalhando. – respondeu Xaveco revirando os olhos e a turma riu um pouco. Daí voltaram a atenção para o que ninguém estava querendo acreditar, Denise na cama do hospital, cheia de intravenosas e equipamentos monitorando seus sinais vitais. Quem começou a falar foi a menina.

– Bom, eu chamei vocês aqui porque eu finalmente achei que estava na hora de vocês saberem que...

– AI MEU DEUS, AMIGA! – Carmem entrou junto com Toni na sala, a loira estava chorando.

– Caramba! Não imaginava que vocês poderiam vir me ver...

– O diretor do presídio devia um favorzinho pro meu pai e a causa é justa, não é? – falou Carmem meio sem graça.

– Fico feliz por vocês poderem me ver... Bom, como eu dizia, já tava na hora de todos saberem, acho que o Cebola já contou, né? – os garotos assentiram – Pois é, então eu não queria que acontecesse nada comigo antes de falar com vocês.

– Para com isso, Dê, você ainda vai ter muito tempo pra falar muita coisa. – disse Marina com um sorriso encorajador.

– Não sei quanto tempo vou ter, mas acho que coloquei nas mãos de Deus... De todo o jeito, eu queria pedir desculpas a vocês por coisas que fiz e me arrependo. Primeiro, Mônica, eu não fiquei com o Cebola, eu juro, eu juro que não era ele, não entendi nada e...

– Ei, Dê, eu sei, não precisa... Er... Eu sei! – deu-se por convencida a dentucinha.

– Certo, Carmem, eu coloquei... – E foi confessando tudo o que tinha feito com os amigos, cada coisa, e um a um eles foram perdoando a garota, parece que o leito de um convalescente é o que basta para perceber que quando se perde um amigo de verdade, poucas coisas do passado importam.

Denise foi ficando calada e fechou os olhos, parece que podia descansar tirando tudo o que tinha feito de ruim de dentro de si, tinha uma expressão aliviada e as lágrimas dos amigos passaram a cair ao ouvir o som contínuo da máquina de batimentos cardíacos.

A morte não é nada.

Eu somente passei para

O outro lado do caminho.

Os enfermeiros e médicos entraram na sala e afastaram os garotos que se apoiavam uns nos outros sentindo o primeiro baque da morte que abraçava a jovem amiga.

Eu sou eu, vocês são vocês.

O que eu era para vocês,

Continuarei sendo.

Os pais da menina entraram na sala em seguida, sua mãe chorando em desespero por perder a única filha, o pai tentando amparar a mulher, mas também não se aguentava. Quem os chamaria de ‘mamãe’ e ‘papai’ agora? Perder os pais é a ordem natural da vida, mas perder um filho é uma dor sem tamanho.

Me deem o nome

Que vocês sempre me deram,

Falem comigo

Como vocês sempre fizeram.

Ninguém esperava que a menina se fosse, todos tinham a esperança de que fosse mentira, Carmem chorava ajoelhada pedindo que a amiga voltasse, implorava que, por favor, ela parasse de brincar e voltasse sorrindo, a amiga não podia abandoná-la daquela maneira.

Vocês continuarão vivendo

No mundo das criaturas,

Eu estou vivendo

No mundo do Criador.

Do Contra consolava os amigos que alcançava, mesmo não acreditando que ele mesmo poderia se consolar, mas tentava dizer-lhes que agora Denise não mais sentia as dores do mundo, que estava num lugar melhor.

Não utilizem um tom solene

Ou triste, continuem a rir

Daquilo que nos fazia rir juntos.

Rezem, sorriam, pensem em mim

Rezem por mim.

Todos lembravam dos momentos em que a ruiva tinha lhes feito sorrir, das horas em que estavam para baixo e ela levantara o humor e o astral de todos. Dos “Alokas”, “Bate cabelos” e inúmeras vezes que tinham se divertindo juntos, abraçados na alegria, assim como agora estavam abraçados na dor.

Que meu nome seja pronunciado

Como sempre foi,

Sem ênfase de nenhum tipo.

Sem nenhum traço de sombra

Ou tristeza.

Já não mais importava a ninguém naquela sala o que Denise tinha feito para aprontar com eles, viveriam tudo de novo se pudessem ter a amiga de volta.

A vida significa tudo o que ela sempre significou,

O fio não foi cortado.

Porque eu estaria fora dos seus pensamentos,

Agora que estou apenas fora de suas vistas?

Eu não estou longe,

Apenas estou do outro lado do caminho.

Mesmo tendo partido, cada um ainda sentia a ruiva próxima, ela tinha ganhado um lugar no coração de todos, estava distante em corpo, mas sua amizade, sua essência, sua alegria, ficou com cada pessoa que a conhecia.

Os enfermeiros tentaram uma última reanimação, mas já não podiam fazer nada, Denise atravessara o véu e fizera sua viagem final, com o fantasma do último sorriso em seus lábios.

E você aí que ficou, siga em frente,

A vida continua, linda e bela como sempre foi.”

Santo Agostinho, A morte não é nada.


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Notas finais do capítulo

Sim, eu sei que é triste, iremos sentir falta dela, eu sei... Mas espero que confiem em mim, sei o que estou fazendo, então não me acabem nos coments rsrs
Obrigada pelos comentários, favoritos, visualizações, por tudo, vocês são muito 10