Cebola e Denise não ficaram muito mais tempo assistindo o sol brilhar, o garoto levantou e ofereceu a mão para ruiva que sorriu e aceitou, eles caminharam juntos em direção à casa, não havia mais ninguém acordado.

– Quando você pretende contar pro resto da turma? – perguntou o menino coçando a cabeça.

– Não sei, Cê, talvez quando voltarmos, eu acho...

– E como você tá agora?

– Eu tô bem, na medida do possível, mas o tratamento deu mais resultados antes... Bem... Agora os médicos estão achando que eu posso precisar de outra coisa... Mas eu não queria falar mais sobre isso agora, pode ser? – respondeu Denise com cara de cansada.

– Tudo bem... Er... Vai voltar de carro com a gente?

– Sim, o Nimbus volta no carro do Franja e eu pego carona com o Titi.

– No carro em que o Xaveco tá, certo? – falou Cebola rindo.

– Não começa, garoto! Mas pensando bem... Foi ele que pediu para fazer a troca...

– Só você não percebeu, né?

– Fala sério! Se o Xaveco me visse sem essa peruca ele nunca mais ia querer olhar pra mim. – Denise respondeu suspirando.

– Peruc...? Ah tá, tendi... Bom, deixa de ser trouxa e começa a enxergar o que tá bem no teu nariz, se conhecesse mesmo o loiro não ia achar que ele se importaria com isso, mas deixa quieto. Boa noite, opa, quis dizer bom dia. – deu um beijo no rosto da menina e seguiu para seu quarto.

Cebola abriu a porta com cuidado, para não acordar ninguém, mas viu Mônica sentada na janela, olhando para o mar, ela virou o rosto na sua direção ao escutar passos.

– Pensei que todo mundo já estava dormindo... – foi em direção à menina na janela. Pensou ter visto ela se crispar e sua mão fechar, mas deve ter sido só impressão.

– Olha as camas... – apontou para uma delas, Cascão e Magali dormiam de conchinha no lugar que as duas garotas iriam dividir.

– Putz! – disse Cebola fazendo as contas e fingindo não gostar, mas sabia que agora a garota teria que dormir com ele. Mônica entendeu na mesma hora as intenções.

– Nem pense nisso, careca. Prefiro ficar aqui. – respondeu virando o rosto novamente para o mar.

Alguma coisa a incomodava, não, não podia ser, como tinha sido burro! Chegou mais próximo da janela e olhou para fora do mesmo ângulo que a menina, droga!

– Olha, Mô, não é isso...

– Chega, Cê. – interrompeu Mônica sem forças virando o rosto cheio de lágrimas para o garoto. – Eu tô cansada disso tudo, perdida. Mas você não me deve nenhuma explicação, não temos mais nada, lembra?

– Não, Mônica! Chega digo eu! Eu tô cansado, falô? – A garota assustou-se com aquele tom, embora discutindo, os dois falavam num tom baixo para não acordar os amigos, mas esses dormiam tão profundamente que nem se a casa caísse iriam perceber.

– Cebola. Não. Fale. Assim. Comigo! – falou entre dentes, pontuando cada palavra e descendo do parapeito da janela. Ficou de frente para o menino, seu corpo inteiro tremia e ela fazia um esforço enorme para não explodir. – Se não...

– Se não o quê? – respondeu o careca peitando a baixinha, ela cravava as unhas na palma da mão. – Você nunca escuta ninguém, nem sabe o que aconteceu e já tira suas conclusões, tá certo que da última vez foi complicado, mas agora o que eu fiz?

Mônica precisava sair dali e quebrar alguma coisa, mas quando ia fazer isso Cebola colocou o braço em seu peito impedindo que ela continuasse.

– Dorme na droga da cama, eu vou lá pro sofá. – e saiu antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa. A menina socou o travesseiro várias vezes, Cascão acabou acordando e perguntou se tinha acontecido alguma coisa, ela respondeu que só havia sido um pesadelo.

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Era quase meio-dia quando a fome despertou os hóspedes da casa, eles saíram comendo todas as sobras da festa que encontraram, ninguém estava com vontade e disposição para cozinhar, colocaram as roupas de banho e começaram a se animar para um mergulho na praia antes de voltarem para o Bairro do Limoeiro, Denise foi uma das últimas a se reunir com a galera na sala, não demorou muito, Xaveco saiu do mesmo quarto que a menina.

– HUUUUUUUUUUUUUUM. – falaram as meninas juntas, rindo. Denise corou e Xaveco se aproximou dos garotos que lhe davam tapinhas nas costas.

Mônica também estava com as garotas, mas preferiu ficar em silêncio, agora sua cabeça dava voltas de confusão, como assim a Denise dormira com o Xaveco? Ela tinha acreditado que era com ela que Cebola ia ao sair do quarto. Olhou para o menino que estava a observando meio de longe, percebeu pelo seu olhar algo como “Eu disse!” e o rapaz voltou sua atenção para os amigos rindo e brincando com o Xaveco, até mesmo Do Contra participava daquela animação.

Ainda estava na dúvida, mas acabou ficando mais tranquila quando Denise começou a falar sobre o que tinha acontecido entre os dois no quarto, resolveu colocar um sorriso na cara e ir à praia com os amigos, assim que colocaram os pés na areia o tempo começou a fechar e as primeiras gotas de chuva não demoraram a cair, ninguém acreditou na falta de sorte, fizera sol a manhã inteira e logo que resolveram curtir o mar São Pedro zoava com eles.

Denise acabou inventando que estava um pouco gripada e que iria ficar dentro da casa, Xaveco, obviamente a acompanhou, resolveram assistir um filme; DC e Ramona também não curtiram a ideia de tomar banho de mar na chuva, então foram jogar um pouco de xadrez. Os demais decidiram curtir a praia assim mesmo, pularam na água que estava quentinha e lá ficaram até o corpo começar a enrugar, como começou a trovejar, acharam mais seguro se abrigarem e começarem a arrumar as bagagens.

Mônica percebeu que não usou quase nada do que tinha levado, além disso, era a maior mala de todas. Os amigos tinham levado apenas mochilas, mas ela, como sempre, exagerara na dose, “Parece que não é a única coisa que tenho exagerado no momento!”, pensou lembrando na cena com o Cebola.

Titi, Franja e Cebola estavam conversando sobre como pegariam a estrada com aquela chuva, poderia ser perigoso, resolveram que seria melhor adiar a saída para um pouco mais tarde. Como tudo já estava arrumado, sentaram na sala para acompanhar Denise e Xaveco em mais um filme, mas as horas passavam e nada da aguaceira parar de cair, todos já estavam impacientes.

– Amor, vamos logo pra casa, essa chuva não vai passar e daqui a pouco anoitece e é pior. – pediu Marina ao Franja, que logo lhe atendeu e convenceu os demais.

Não demorou muito e as coisas já estavam todas guardadas nos porta-malas e os passageiros estavam confortáveis nos carros. Cebola saiu novamente sendo o último da fila, os meninos dirigiam devagar, por causa da pista molhada e as gotas de chuva que atrapalhavam a visão dos motoristas, a chuva só aumentou durante a viagem, quase não conseguia enxergar o carro de Titi que estava a sua frente, de repente, um barulho muito alto assustou os quatro garotos, o veículo dançou na pista, mas o careca conseguiu controlar a direção antes que algo grave acontecesse.

– Dloga! Dloga, dloga, dloga, mil vezes dloga! Estão todos bem? – falou dando socos no volante.

– O que aconteceu, Cê? – perguntou Magali com cara de choro, Cascão abraçou-a.

– A polcalia do pneu fulou! Só pode ser.

– Caraca, velho, tem step, né? Bora trocar logo e seguir viagem, a chuva tá tão forte que os meninos não vão perceber que não estamos mais atrás deles. Espero que parem no próximo posto para esperar essa chuva passar um pouco. – disse Cascão já pensando na chuva que teria que pegar, mais um banho, fazer o que!

Todos saíram do carro embaixo da chuva mesmo, os meninos fizeram a troca e as garotas ficaram encharcadas sob as toalhas que pegaram para se proteger, assim que acabaram, a chuva diminuiu e logo passou.

– Tá de sacanagem, né? – Mônica resmungou olhando para o céu. Como estavam parados numa parte deserta da estrada, resolveram pegar novas roupas da mochila e trocaram-se ali mesmo, primeiro as meninas dentro do carro e depois os rapazes, assim que estavam quentinhos novamente, Cebola deu a partida, mas...

– Eu. Não. Acledito! Que azar, velho!

– O que foi agora? – perguntaram os outros três meninos.

– Gasolina, velho! Liga pra Aninha, Magá, o Titi ficou com gasolina extra no carro.

– Caraca, Cebola, porque a gente não trouxe aqui também? – falou Mônica chateada.

– Porque uma certa pessoa achou de trazer a casa inteira no porta-malas e não deixou espaço pra mais nada ali!

– Opa, opa, opa, casal. Chega, olha ali quem tá vindo. – falou Cascão interrompendo a briga que ia começar e apontando para o caminho a frente, os carros dos amigos estavam voltando.

Disseram que haviam parado no posto de gasolina a frente e quando perceberam que o terceiro carro não chegava resolveram voltar já que os telefones estavam fora de área. Abasteceram o carro e finalmente seguiram viagem, só parando no Bairro do Limoeiro.

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Ramona chegou em casa e sua mãe estava de ótimo humor sentada na sala.

– E aí, querida, seus amigos ganharam o presente que eu enviei? – falou rindo.

– Presente? – respondeu a menina com cara de dúvida.

– Não achou estranho a chuva não passar? Usei um feitiço básico do tempo e mandei uma nuvem, só fiz passar porque me preocupei de você não chegar bem.

– Eu não acredito! Quando você vai deixar a turma em paz? Você disse que eles deveriam se livrar sozinhos dos pec... – levou a mão à boca se interrompendo.

– Diga, Ramona! Diga! Você sabe de tudo não é? Deveria saber que uma bruxa realmente forte acaba lembrando-se quando é confundida mais tarde. E ter um gato falante em que a filha praticou feitiços também é uma ótima saída. – Acrescentou a última parte em pensamento.

– E-eu...

– Ah, deixa pra lá! Eu também já tô cansada desse joguinho, prometo a você que vou dar um tempo nisso, okay?

A menina foi para o quarto com a certeza tremenda de que sua mãe não iria deixar de interferir na vida dos amigos, até tinha parado, mas agora voltara novamente. Ela não podia mais fingir que não sabia de nada, contaria aos amigos, já tinha adiado muito tempo, era o único jeito de ajuda-los, assim saberiam de tudo e decidiriam o que fazer com a Viviane.