Passaram-se duas semanas na mais tranquila paz, tudo ia bem, na medida do possível, no bairro do Limoeiro. Com o fim do ano se aproximando rapidamente parece que a turma estava começando a entrar nos eixos de novo, Mônica havia pedido ajuda para o Cascão em relação ao problema da Magá e eles tinham criado um plano para que a menina comesse menos, conversaram com os pais dela, que logo quiseram procurar ajuda psicológica, mas Magali ainda não estava convencida de que precisava dessa ajuda, então eles apenas decidiram arrumar a despensa da casa, nada mais de biscoitos, salgadinho, refrigerantes e frituras, tudo isso deu lugar a alimentos saudáveis e isso já era um avanço para Magá.

Cebola já havia falado direito duas vezes com Mônica, embora como colegas, eles conseguiram acertar termos e conviver em paz pelo bem dos amigos. Denise tinha desaparecido de uma forma que ninguém mais a encontrava em casa e seus pais se recusavam a dar informações sobre a garota. Carmem e Toni ainda esperavam o Feitosa liberar o dinheiro, mas enquanto isso não acontecia ficaram tranquilos na deles.

Mas quando as coisas parecem que estão começando a ir bem, surgem os problemas e o primeiro deles aconteceu naquela manhã, na ONG da família Frufu.

– COMO ASSIM O DINHEIRO SUMIU?! HAVIA MILHÕES EM CAIXA! ESSE ERA O DINHEIRO QUE FARIA O NATAL DE CINCO COMUNIDADES E A REFORMA DE TODOS OS NOSSOS CENTROS SOCIAIS! – gritava com todo mundo o Sr. Frufu, não era possível que o dinheiro tivesse sumido assim, precisa falar com o seu chefe de finanças, mas o telefone dele só caia na caixa postal, o dinheiro havia sumido como mágica, não era possível!

Saiu pisando duro do prédio onde era a cede da ONG, seus funcionários ficaram boquiabertos quando o Sr. Frufu contou-lhes o que o gerente do banco havia dito, ele se quer havia estranhado que toda a quantia fosse tirada daquela forma, afinal, no fim do ano sempre eram feitos os maiores saques para pagamento de obras, compra de presentes, entre outras coisas.

O homem chegou em casa sem acreditar no que tinha acontecido, ao entrar na sala viu Toni sentado na sala conversando com Carmem, eles falavam em voz baixa e rapidamente sem perceber que havia outra pessoa na sala, o pai da menina foi em direção aos dois e pegou o garoto pela gola da camisa.

– ONDE ESTÁ O SEU TIO, GAROTO?! HEIN? ME DIGA! – falou cuspindo, literalmente, no rosto aturdido do menino.

– Como assim onde está? E-ele t-trabalha pro s-senhor, não é?

– Calma, papai! O que está fazendo? – disse Carmem tentando puxar o pai para que este largasse Toni.

O homem jogou o menino sentado no sofá e passou as mãos nos cabelos.

– Desculpa, garoto! É que eu tô muito nervoso com uns problemas da ONG e não encontro seu tio em parte alguma...

Toni e Carmem trocaram olhares exasperados, mas tentaram manter a calma. A menina sentou-se ao lado do pai e perguntou o que estava acontecendo, quando ele começou a contar, a mãe se juntou a eles.

– Um rombo de milhões nos caixas da ONG, ninguém sabe pra onde foi tanto dinheiro de uma só vez! Eu não sei o que fazer... E aquelas pessoas que contavam conosco esse fim de ano? Ai meu Deus! – dizia o homem sem acreditar balançando a cabeça.

– Acalme-se, querido, deve ter uma explicação... Nós vamos conseguir contornar esse problema, calma. – tentava tranquilizar o marido a mãe de Carmem abraçando-o.

Os dois garotos não sabiam o que fazer, acabavam de descobrir que muito provavelmente haviam sido traídos e que não teriam dinheiro nenhum. Achando que não podia ficar pior, eis que a empregada entra com uma caixa na sala.

– Acabaram de deixar essa encomenda lá do lado de fora do portão. O garoto só entregou e saiu correndo, tá endereçado no nome dos senhores.

O pai de Carmem pegou a caixa e leu: “Curiosos para descobrir onde está o dinheiro? Assistam o DVD.”. A menina sentiu um frio repentino na barriga, mas não via como tirar o cd das mãos do pai que já corria para o computador para assistir a gravação.

DVD ON

O cenário era desconhecido ao Sr. Frufu, mas parecia muito com uma daquelas salinhas de dentro dos quartos de hotel. A câmera focava no sofá em frente, mas não captava nenhum movimento, até que foram ouvidas vozes.

“- Estava aguardando vocês, vamos entrem” – disse um homem com uma voz familiar.

De repente a sala estava sendo ocupada por três pessoas que o Sr. e a Sra. Frufu conheciam muito bem.

“- Não acha que eu tentaria envenenar vocês, certo, Toni?” – disse o Sr. Feitosa oferecendo bebidas aos garotos.

“- O melhor remédio será sempre a prevenção. Mas vamos aos negócios que é o que interessa. Você dará sua sugestão e nós faremos a contraproposta.”

“- Tudo bem, tudo bem, se vocês não querem bater papo com o titio e salvador dessa donzela em perigo, eu aceito. Bem, proponho que a divisão fique em 50% pra mim e 25% para cada um de vocês.”

“- Are you kidding me? Por acaso temos cara de idiotas? O pai é meu, a ONG é minha e você ainda quer sair levando a melhor?”

“- Olha só cara, distribui pelo menos 40%, 30% e 30%, afinal, eu que fiz todo o plano, tive a ideia do assalto e tudo mais, além disso, ainda vou ter que pagar os dois caras que passaram por bandidos!”

“- Então fique feliz, pois não serão mais dois pra você pagar, cuidei do idiota que atirou em mim ontem, então esqueça-o. Mas para vocês verem que eu não sou tão mal, aceito a divisão proposta. Assim que conseguir desviar dinheiro suficiente da ONG, a divisão será feita.”

“- Você não pensa em nos passar pra trás, não é?”

“- Eu até poderia se quisesse, mas vocês me ofereceram uma grande oportunidade e eu sei agradecer a quem me ajuda.”

A imagem foi cortada e quando voltou o Feitosa arrumava a câmera e se afastava para aparecer na tela.

– Espero que estejam todos os Frufuzinhos reunidos me assistindo, vocês bem que podiam chamar o Toni pra ver o filminho. Enfim, acho que não preciso explicar muita coisa, né? A Carmem queria o dinheiro da ONG, chamou o Toni pra ajudar, ele criou o plano, me colocou na empresa, eles enganaram vocês e eu enganei eles, ladrão que rouba ladrão... Pois é! Quando assistirem o dvd estarei longe, então obrigada pela grana, trouxas.

DVD OFF

O Sr. e a Sra. Frufu olharam para os dois garotos cheios de lágrimas nos olhos, a decepção escancarada em seus rostos. Toni e Carmem ficaram estáticos olhando para a tela do computador, além de ficarem sem dinheiro nenhum, ainda tinham sido descobertos.

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Cascão acordou em cima da hora para ir à faculdade, tinha que correr, pois, hoje tinha duas provas super importantes, pensou em pular o banho, para se arrumar mais rápido, mas desde que começara a ficar mais próximo de Magali preferia andar sempre cheirosinho, então tomou uma chuveirada rápida e saiu.

No caminho ainda pensava na Magá, ele e Mônica estavam tentando de todas as formas convencê-la a procurar ajuda psicológica, mas a amiga se recusava, até tinha melhorado, mas de vez em quando tinha umas recaídas por isso era importante a intervenção de um profissional.

Chegou na primeira prova em cima da hora, entrou na sala correndo e viu o professor distribuindo as provas para os amigos, alguns o olharam estranhamente, como se nunca tivessem o visto, era normal, pois, o menino faltava um pouco além da conta. Pediu licença ao mestre e sentou em uma cadeira vaga, recebeu sua prova e ficou com preguiça só de pensar em começar, mas teria que fazer, claro, era o último teste do semestre e suas notas no anterior não tinham sido excelentes.

Resolveu ler as perguntas, provavelmente saberia alguma coisa, mesmo faltando as aulas, sempre dava um jeito de se dar bem, mas aquela prova de neuroanatomia estava ridícula.

PROVA ON

1 – Qual trato é o responsável pela motricidade voluntária no homem?

2 – Qual estrutura apresenta íntima relação com a condução da motricidade voluntária no humano?

3 – A decussão das fibras motoras ocorre a que nível?

4 – Onde se localiza o 2º neurônio do trato corticoespinal?

5 – Qual o músculo abaixo não é inervado pelo oculomotor?

PROVA OFF

Cascão olhou para os colegas de classe e todos estavam concentrados e escrevendo alguma coisa nas suas provas, mas o menino não tinha a mínima ideia da resposta de absolutamente nada. Para seu desespero todos começaram a entregar o teste e saíram sorridentes, conversando, agradecendo ao professor pelo presente de natal adiantado, pois, aquelas questões não poderiam ter sido mais fáceis. “Mais fáceis?”, pensou Cascão, com toda certeza iria levar uma bomba naquela disciplina.

Entregou a prova em branco, o professor olhou o garoto e balançou a cabeça, quando Cascão abriria a boca para tentar ganhar alguma coisinha ali, desistiu só de ver a expressão do mestre. Decidiu sair para comer algo e se preparar para a próxima prova, não podia levar bomba em mais nenhuma matéria, do contrário ia acabar reprovando no semestre.

O horário do teste de fisiologia aplicada à educação física e esportes chegou, e assim, como a primeira prova do dia, Cas não conseguiu fazer nenhuma das questões. O professor ainda se recusou a ajuda-lo, disse que infelizmente o menino já estava reprovado até mesmo por falta, acabou lhe dando um conselho:

– Filho, desculpa esse velho lhe aconselhar, mas se permite dizer, pelo menos venha pras aulas, talvez consiga se dar melhor no ano que vem, mas agora não posso fazer nada por você.

O sujinho, opa, quer dizer, limpinho, foi para casa imaginando como daria essa notícia aos seus pais. Os dois faziam de tudo para pagar a faculdade, desistiram de muitas coisas pelo “sonho” do filho e agora ele havia jogado tudo no lixo.

Ao chegar em casa Cas preferiu esperar o pai chegar do trabalho para dar a notícia ruim para os dois ao mesmo tempo, estava muito nervoso, felizmente tinha a Magá, ela era tão doce que não conseguiu dizer nem o famoso “Eu te avisei”, passou a tarde dando apoio ao amigo pelo telefone, recentemente eles passavam a maior parte do tempo pendurados no celular, ficavam conversando até um dos dois pegar no sono.

A noite chegou mais rápido do que Cascão queria, mas assim que ouviu seu pai chegar do trabalho resolveu ir ao encontro da confissão. Chamou os pais na sala e começou a falar.

– COMO ASSIM, CÁSSIO MARQUES?! REPROVADO? PENSA QUE O DINHEIRO DO SEU PAI É CAPIM? – disse sua mãe exasperada.

– Meu filho... Eu me esforço tanto pra pagar esse curso... Mas faz tempo que vi que você se quer se importa. Infelizmente gritar não muda nada, mas não pense que isso não vai ter consequência, não vou ficar pagando algo para o qual você não dá o menor valor. Você vai sair da faculdade e tratar de arranjar um trabalho.

Cascão viu seus pais saindo da sala cabisbaixos, sentia a decepção que pairou sobre os três, viu a tristeza de sua mãe, ela era a mais empolgada e feliz quando o filho passara na prova de admissão da faculdade de educação física, agora só enxergava em seus pais a frustração. Seria melhor que a mãe tivesse continuado a gritar e que o pai seguisse o mesmo ritmo, há alguns dias teria torcido mesmo para chegar a hora de largar a facul, mas agora tudo o que queria era voltar no tempo e fazer diferente. Prometeu a si mesmo que, pelos pais, mas por ele mesmo também, arrumaria o jeito de continuar pagando as mensalidades e não abandonar seu curso, se formaria e traria alegria para a família novamente.