Os 7 Pecados Capitais escrita por Talyssa


Capítulo 20
Sofrimento e Confissões


Notas iniciais do capítulo

Esperando que vocês gostem do capítulo! Beijinhos ♥



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No dia em que recebeu a notícia da doença, quase uma semana atrás, Denise havia saído do consultório do médico devastada. O médico explicou como seria todo o tratamento, de acordo com o tipo de leucemia detectado, provavelmente ela iniciaria imediatamente a quimioterapia, mas é claro que com isso viriam os efeitos colaterais e isso foi o que mais a assustou.

Encontrava-se deitada em sua cama, olhando para o tempo e pensando nas palavras do médico.

“As células cancerígenas se desenvolvem rapidamente e é nisso que a quimioterapia vai agir, ela irá destruir as células com esse comportamento, mas você deve saber que células de divisão rápida, como no caso do cabelo, unhas, pele e outras, também vão ser afetadas. Por isso o tratamento pode causar queda de cabelo, ferimentos na pele e outros efeitos colaterais, como anemia, sangramento e baixa imunidade, ainda assim o tratamento é o mais indicado. Caso isso não seja o suficiente, teremos que optar pelo transplante de medula.”

Sabia que precisava tratar-se, não queria morrer, mas as consequências do tratamento seriam sérias, principalmente quando se tratava do seu cabelo. Não era apenas sua vaidade, mas o cabelo de uma mulher tem muito a ver com sua auto estima e o que sente sobre si mesma, por isso para ela esse seria um dos grandes vilões do tratamento.

Levantou-se e olhou em direção a seu espelho gigante da parede do quarto, tirou suas marias-chiquinhas e acariciou seus cabelos ruivos, eles caiam bem mais longos quando soltos, por quanto tempo depois do tratamento ainda os teria? O médico disse que o tempo de queda variava de pessoa para pessoa, mas que dependendo de como ela reagisse com o tratamento seria melhor optar por cortar as madeixas um pouco mais baixas, assim perceberia menos a queda.

As lágrimas caiam em cascatas pelo seu rosto, já não podia enxergar direito sua imagem distorcida, pegou sua escova na mesa de cabeceira e a atirou contra o espelho que não se espatifou em mil pedaços como desejava, mas rachou no lugar onde a escova o tinha atingido, distribuindo outras rachaduras como se fossem caminhos. Seus pais vieram correndo com o barulho e encontraram a filha ajoelhada no chão do quarto chorando tudo o que podia, eles sabiam que seria difícil para que ela aceitasse, mas entendiam que seria bem pior quando o tratamento iniciasse e isso seria aquela semana.

– Filhinha, por que você não sai com seus amigos para espairecer um pouco? – perguntou a mãe tentando não chorar.

– Que amigos? Eu acho que já fiz tantas besteiras que acabei afastando todo mundo que já se importou comigo...

– Não, filha, para com isso... E a Carmem?

– Carmem? Ela nem sabe o que fiz e já não se importa comigo, imagina se soubesse.

– Claro que ela se importa!

– Então porque não me ligou uma vez se quer desde que sai da casa dela naquele dia?

A mãe ficou sem respostas, era grata à família Frufu, mas havia achado estranho a melhor amiga da filha não ter ligado uma vez para saber como ela estava.

– Meu amor, você quer que nós avisemos a alguém sobre o que está acontecendo? – perguntou seu pai.

– Para as pessoas virem me visitar por pena? Não, obrigada, ainda prefiro manter minha dignidade intacta. – falou ao pai já se levantando do chão e indo para cama sentir mais um pouco de auto piedade por si mesma.

– Você que sabe... Mas tenta não se machucar, filha... Infelizmente quebrar espelhos não trará sua saúde de volta. Precisa da sua família, seus amigos, precisa encontrar sua autoconfiança que é tão forte, ela ainda está dentro de ti, mas você tá a deixando partir. A gente confia em ti, meu amor, só basta você acreditar que é capaz de passar por isso. – com essas palavras os pais deixaram o quarto, a garota ficou pensando naquelas palavras, no fundo no fundo pareciam ter sentido, mas agora estavam muito vagas para serem usadas.

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Magali tinha escapado das perguntas da Mônica a semana toda, cada vez que a amiga tentava entrar no assunto, ela desconversava, estava ficando muito boa em desviar qualquer assunto para o Cebola e isso fazia a dentucinha perder o fio da meada. Mas ficava cada vez mais difícil esconder isso de qualquer um, até mesmo o Cascão já estava ficando preocupado com as constantes idas ao banheiro, só não tinha conseguido associar isso à doença, porém, Mô estava quase lá, Magá sentia!

Há algum tempo Magá tinha optado também por laxantes, chegara a tomar cinco num só dia. A doença já estava lhe provocando problemas no esôfago devido ao ciclo repetitivo de vômitos, acabou pedindo à mãe que a levasse no médico, descobrindo então uma esofagite, grave o suficiente para causar cicatrizes, rasgos e estreitamento da parede do esôfago. Infelizmente não era só isso, estava com gastrite e desidratação.

A menina sabia que aquela não era uma forma saudável de manter-se em seu peso, mas jamais imaginara que chegaria a ter tantas complicações. No início, enganou-se acreditando que não era refém de distúrbio alimentar, assim que quisesse conseguiria parar, mas o problema é que ainda não tinha vontade de parar, mesmo com tudo aquilo acontecendo com ela.

Pensou de verdade em contar para a melhor amiga, mas tinha medo do que ela ia pensar dela, tinha vergonha por ser fraca e sempre ceder aos impulsos de comer de mais e, por isso, colocar tudo para fora depois, pois também não tinha coragem de assumir um corpo mais cheinho. O grande vilão nisso tudo era que Magá se alimentava de tudo, principalmente de coisas que não faziam bem à sua saúde, aí a culpa por comer era ainda maior.

Estava tentando concentrar em não comer muito aquela tarde, ficou repetindo o mantra na sua cabeça durante horas “Eu vou me controlar, eu vou me controlar”, mas sabia que seria difícil quando Mônica chegasse e elas fossem lanchar.

A campainha tocou e era a amiga que tinha chegado para bater papo, a amizade das duas sempre fora assim, uma vivia na casa da outra e esperavam que num futuro próximo elas acabassem morando juntas por um tempo, esse era o plano.

Depois de quase duas semanas, Mônica já estava mais tranquila com o término do namoro, é claro que ainda sofria, mas sabia reagir com calma ao escutar seu nome ou até mesmo vê-lo. Tinha se obrigado a ir à lugares onde o ex estava, pois, Magali não cedera a suas chantagens emocionais de não convidá-lo para o seu aniversário, além disso, todos estavam planejando essa viagem a meses. Mô até tentou jogar Cascuda na história, perguntando se Magá se importava que ela fosse, afinal, a menina tinha sido convidada a meses, falava imitando a anfitriã da festa. Por sorte Magá estava vacinada contra essas jogadas.

– O ex dela é o Cascão, não eu. Portanto, quem tem que se importar se ela vai ou não é ele! Eu não vou desconvidá-la e nem o Cê. – respondia irritando a amiga que tentava uma última cartada.

– Mas a Denise você...

– Não começa! Ela também irá se quiser, embora tenha dado uma sumida, ela sempre aparece na hora da festa.

Mônica fechava a cara, mas acabava aceitando, o aniversário era da Magá e não dela. Passando desse assunto outro tópico se repetia, a alimentação da Magali, além de seus constantes mal-estares. Estava ficando enjoativo e repetitivo, mas a baixinha tinha que tentar descobrir o que estava acontecendo.

Magali se retirou para pegar pipoca, suco, chocolates e outros aperitivos para as duas, mas quando retornou tinha uma pilha bem menor, Mônica até se surpreendeu achando que a amiga tinha decidido comer menos, não tinha percebido que Magá voltava para a sala mastigando. Na cozinha havia ficado os restos das embalagens de chocolate devoradas.

Como era de costume e já estava esperando, assim que Magali se retirou da sala para ir ao banheiro, Mô seguiu a amiga sorrateiramente. Entrou no quarto pé ante pé e ao invés de apenas escutar atrás da porta, decidiu olhar pela fechadura. O que viu a deixou perplexa, Magali estava com a escova de dente na boca, forçando um vômito que se recusava a vir, mas a menina não desistia, continuava tentando, até que conseguiu. A baixinha não podia mais olhar, havia pesquisado os sintomas da estranheza da amiga e o resultado não tinha sido diferente, a comilona precisava de ajuda médica e psicológica.

Sentou na cama e ficou esperando Magá sair do banheiro, não tinha muita certeza de como iria abordá-la, mas precisava fazer alguma coisa, não podia deixar a amiga se prejudicar daquele jeito. Magali abriu a porta e tomou um baita susto ao ver que Mônica a esperava no quarto.

– Ai meu Deus, amiga! – disse levando a mão ao peito. – Que susto! Pensei que estivesse lá em baixo...

– Já faz quanto tempo, Magá? – perguntou séria a baixinha.

– Q-quanto t-tempo o que? – Magali começou a suar frio e ficar nervosa, não sabia mentir muito bem.

– Eu já sei o que tá acontecendo, amiga, não precisa mais esconder de mim... Você precisa de ajuda.

– N-não, amiga... Você... Er... Bom, você deve ter entendido errado. É sério! Eu tô bem. – falou forçando um sorriso amarelo.

– Chega, Magali! Não posso deixar você ir se matando aos poucos desse jeito, se é isso que quer, morrer, me pede que eu te adianto isso muito mais rápido com um soco! – disse exasperada Mônica, não conseguia suportar a amiga mentindo descaradamente para ela.

Magali ficou de cabeça baixa e foi sentar na cama ao lado da amiga.

– É horrível, amiga, é constrangedor e difícil admitir que a gente tá doente... Já sofro com isso há quase quatro anos e nunca parei para pensar que esse era um problema sério, eu me iludi com minha aparência comum, mesmo comendo sem parar continuava magra e bonita, e isso iludiu todo mundo também. De uns tempos pra cá eu deixei de duvidar que isso é uma estupidez, me sinto um lixo quando vomito, meu coração acelera e acabo achando que vou morrer ali mesmo... Não entendo o porquê de não conseguir me alimentar como todo mundo e... – não conseguiu mais completar, Mônica abraçou a amiga e elas ficaram assim, as duas chorando baixinho.

– Olha, Magá, você não está sozinha, tem um montão de gente que te ama e quer te ver bem. Você só precisa pedir ajuda que iremos te ajudar, eu juro.

– Eu sei, só não sei se estou preparada.

– Não se preocupe, conta comigo, eu vou sempre te dar forças pra você estar preparada pros problemas que vai enfrentar. Não esquece que você também tem sua família... E agora também tem o Cascão.

– Não, amiga, ele não pode saber disso, me promete, por favor... Eu morreria de vergonha. – disse implorando Magali.

– Você é quem decide, Magá... Mas acho que o Cas nunca te deixaria na mão e seria uma ótima pessoa com quem contar nesse momento difícil.

– ...

– Posso entender isso como um sim?

– Não sei... – Mas Mô já sabia, Magali teria um amigo a mais para contar nessa jornada.


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Notas finais do capítulo

Obrigada de verdade, e como sempre, pelos comentários, visualizações, favoritos, por tudo mesmo *-*
Beijão!



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