Céu e Mar escrita por ParkBruh


Capítulo 10
Capítulo IX - Caindo em direção a morte (parte II)


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a grande demora!
Desde o dia 3! Meu deus!
Mas aqui esta o capitulo!
Espero que gostem xD
Boa leitura a todos!
Eu tinha esquecido de mencionar: este é o ultimo capitulo ok?
Boa leitura outra vez!


betada por: Ghata Granger



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Capitulo IX - Caindo em direção a morte. (parte II, final)  

 

  Meus olhos ardiam por causa da claridade que começava a bater através da janela. Por mais que doesse, ainda queria ficar deitado. Quando tentei mexer o braço, senti um peso em cima de mim. Abri os olhos com rapidez e dei de cara justo com... Sim, se você pensou na Tálassa, pode acreditar que acertou em cheio. Eu avisei a ela que poderia acontecer o que acreditava ser impossível, mas não! Ela é uma teimosa traiçoeira, e agora o resultado está aqui: ela na minha cama, dormindo como se nada tivesse acontecido. Desgraçada não?

  Como eu havia feito um movimento pra levantar, minha companheira acordou, só que ainda tinha vestígios de sono em seu rosto. Ela piscou algumas vezes, olhando ao redor. Pensei que ela gritaria: o que eu estou fazendo aqui? Mas a reação dela foi muito, muito diferente. Um sorriso de orelha a orelha surgiu com uma rapidez incrível enquanto olhava onde estava. Seus olhos se voltaram para mim, então ela se inclinou e depositou um pequeno beijo em meus lábios, me deixado atônito com esse gesto repentino.

  Ok, ok. Quem diabo é essa garota e o que ela fez com a Tálassa?! Pisquei com força diversas vezes, tentando processar o que havia acontecido, o que está acontecendo e o que ainda vai acontecer. Muito bem, muito bem. Vamos começar: Primeiro ela vem ao meu quarto, vestindo uma... AAAAHHH! Espera ai! É impressão minha ou Tálassa está nua? Não! Ela está mesmo nua. Por Poseidon, o que eu fiz? Eu... Eu... Eu dormi com ela? Eu passei mesmo a noite com ela? Eu vou morrer!

  - Que cara é essa? – perguntou Tálassa, ainda sorrindo. Sinceramente, eu estava começando a ficar tonto. Quando fui me mexer, ela soltou um pequeno gemido de dor, sendo que não entendi nenhum pouco.

  Tirei-a de cima de mim com cuidado. Depois resolvi levantar, mas eu mesmo me sentia dolorido e satisfeito com algo. Como ela estava ali, percebi o motivo de estar como estava. Meu rosto começou a esquentar diante da possibilidade... OU melhor, do que realmente aconteceu essa noite. Muito bem, respire bem fundo Percy Jackson, pois aconteceu aquilo outra vez e outra vez foi com uma deusa. Aaaaaaahhhhh!!! Por quê? Isso tinha mesmo que acontecer? Quero enterrar minha cara em algum lugar!

  Pai! Eu preciso do senhor agora. Sinceramente, meus hormônios estão muito atiçados pro meu gosto. Eu quero me enterrar. Quero me afogar. Nhá...! Por favor, que Hades e Zeus tenham piedade, ainda pretendo estudar pra algo. Lógico que não terei essa vida que levo o tempo todo, pelos deuses.

  - Percy, por favor, mantenha a calma.

  - Manter a calma? – exclamei. Eu estava muito assustado. Isso não fazia parte dos meus planos e muito menos devia estar nos planos da – vadia – Reia. Olha que nem sou o galã das oito e várias garotas se apaixonam assim, do nada, por mim. Ou seja, um pesadelo sem tamanho quando se é perseguido por várias garotas malucas dizendo que me amam sendo que nem mesmo me conhecem direito.

  - Sim, Cabeça de Alga, calma. – disse Tálassa, os olhos começando a se estreitar.

  Ótimo! Bem vinda ao clube ‘chame o Percy de Cabeça de Alga’. Comecei a puxar meus cabelos. Quando faço isso é sinal que estou nervoso, o que é o caso aqui; afinal, quem não estaria nessas horas? Só um perturbado, talvez. Mas isso não vem ao caso. Percebi que estava quicando. Um punhado de cabelo estava na minha mão. Eu vou pirar desse jeito! Alguém pode me ajudar? Por favor!!! Eu não quero enlouquecer!

  As mãos de Tálassa impediram que eu fizesse algo que continuasse a machucar-me desse jeito. Seus olhos eram solidários, pois ontem ela havia agido quase da mesma maneira (ainda bem que eu não estava quebrando pratos com a mão). Olhei-a com raiva e desespero. Isso com certeza estava fora de cogitação. Engoli em seco. Com delicadeza ela fez com que eu a encarasse, e a intensidade daqueles olhos azuis fizeram que meu corpo se paralisasse de uma maneira surpreendente. Eu fiquei hipnotizado; olhar para Tálassa me deixava assim, meio tonto e idiota. Quando tinha certeza que não voltaria a me machucar sozinho, ela me soltou ainda com o olhar cheio de preocupação. Eu não queria ficar perto dela por enquanto, então me dirigi ao banheiro, onde sabia que poderia relaxar. Um banho de água bem frio me ajudaria com certeza.

oooOooo

  Quando terminei de tomar um relaxante banho, senti aquele delicioso aroma do café-da-manhã que somente Tálassa sabe preparar. Confortei-me com isso embora ainda estivesse meio hesitante em me aproximar dela novamente, só que preferi não arriscar a perder um bom e velho café. Fui para cozinha só pra encontrá-la vazia com a mesa pronta. A mesa estava como sempre: tudo quanto é coisa boa para um estômago grande e faminto como o meu.

  Eu tomei café-da-manhã sozinho. Agora que estou de barriga cheia... Onde aquela maluca se meteu? Já faz um tempinho que não a vejo por aqui. Eu demorei no banho e demorei agora, mas ela não estava por ali e não ouvi nenhum barulho enquanto isso. Devo dizer que isso estava ficando bem sinistro.

  Como não sou tão mal educado assim, deixei comida o suficiente para Tálassa. Limpei os pratos e talheres que sujei, pois seria grosseria da minha parte deixar esse tipo de coisa para minha adorada amiga fazer. Sabe... O que a Tálassa é pra mim? Eu nunca pensei muito nisso... Acho que deve ser minha tia ou prima... Ah! Ela é minha tia! Isso mesmo, ela é minha tia. Viu como essa relação dos deuses é tão complicada?

  Ei! Espera um minuto! Tálassa não é mãe da Dione, a deusa das ninfas? Se eu não me engano ela é sim... Bah! Dane-se! Isso não é importante no momento. Tenho que achar essa louca pra depois pensar no que ela é!

  Quando me virei para a saída, vi que não precisava mais buscar ninguém. Tálassa estava parada na porta, com alguma coisa nas mãos. Parecia estar relaxada, talvez até sonolenta, mas ainda sim tranqüila demais. Veio em minha direção e estendeu o que tinhas nas mãos, me fazendo ver o que era aquilo. Era um bracelete bem legal. Tinha desenhos dos deuses sentados nos tronos; cheguei até a reconhecer Poseidon. Isso é muito generoso da parte dela.

  Dei um sorriso e peguei o bracelete. Notei como as mãos dela soltaram aquilo com relutância, como se temesse que eu quebrasse o bracelete ou que o bracelete me ferisse.

  Então me lembrei que foi uma ordem do meu pai. Aquela carta falava disso aqui? Apenas de um bracelete antigo? Não poderia ser um escudo ou uma espada? Poxa, os deuses são uns mão de vaca.

  - Use isso apenas quando mais precisar! – aconselhou ela, parecendo realmente preocupada. – Isso foi feito pelos Telquines, então é melhor ter muito cuidado. Esses bichinhos são muito traiçoeiros.

  - Obrigado, eu adorei.

  Ela sorriu, e sentou-se à mesa para poder tomar logo o café-da-manhã. Fiquei observando ela comer com tranqüilidade, só eu podia ver um brilho de preocupação nos olhos dela. Fiquei me perguntando como me sairia na batalha de hoje. É... Hoje terei que voltar para enfim lutar contra meu primo imbecil. Finalmente darei um belo chute no traseiro dele! Estou até empolgado, ainda mais porque farei isso na frente de todos os deuses. É hoje! Nossa...

 

  Estávamos indo para área de treinamento, pois lá era o melhor lugar para ir, mas eu me pergunto como se lá não tem saída. Tálassa pediu para eu ir enquanto ela buscaria uma coisa. Fui à frente, dando de cara com aquela imensa área. Era realmente um bom lugar para treinar, tinha tudo que precisávamos para fazer um treinamento completo de sobrevivência. Fiquei olhando em volta. Teria saudades de tudo aqui, principalmente da dona da casa. Será que ela não poderia ir comigo?...

  Ouvi passos. Olhei sobre o ombro, vendo que Tálassa estava vindo com passos apressados. Ela veio em minha direção e estendeu a mão quando estava próximo o suficiente. Minha curiosidade só tinha ficado grande para ter uma decepção. Nas mãos dela tinha duas pérolas conhecidas. Mas... Não seria só Poseidon que as tinha?

  - Seu pai não é o único que tem uma relação com o mar – ela falou como se estivesse lendo meus pensamentos.

  Não sei por que, mas às vezes tenho impressão que os deuses podem ler pensamentos quando querem. Isso já aconteceu com vários, já perdi até a conta.

  Bufei irritado, pegando uma pérola. Mas essas pérolas não nos levariam ao mar? Qual era aquela frase mesmo? Ah! “o que pertence ao mar sempre retornará ao mar” ou algo parecido. Então por que ela estava me dando isso? Será que precisaria de algo assim? Acho que não entrarei em apuros toda hora...

  - Quebre logo Cabeça de Alga! – ordenou ela irritada. – Não tenho o dia todo para ficar vendo sua cara de idiota.

  Essa doeu! Isso ofende sabia? Respirei fundo. Coloquei a pérola no chão e pisei em cima com força. Na mesma hora aquela coisa frágil quebrou; uma bolha se formou em minha volta, e começou a me levar para algum lugar que nem faço idéia de onde seria. Começamos a descer. Tálassa também estava em uma bolha. Fico até feliz, não queria ir sozinho nessa, e seria bem legal ela me ver dando um chute no traseiro daquele deus da guerra metido.

  Ah, como a vingança é doce! Daquela vez Ares me fez passar vergonha na frente de Afrodite, agora eu o farei passar vergonha na frente de todos. Papai ficaria muito orgulhoso não? Tenho até vontade de gargalhar. Nossa, estou enxergando a cara furiosa de Ares. Vê-lo me olhar com um ódio infinito e dizer que um dia me matará... Acho que bati minha cabeça, estou ficando sádico demais. Acho melhor pensar nisso depois... Mas estava tão bom...

  Hum... Será que Zeus já me perdoou pelo incidente com Hera? Por falar nisso, quanto tempo eu fiquei na casa da Tálassa? Ai, ai... Até perdi a conta agora. Devo estar lá há muito tempo, pois foram dias que fiquei treinando. Lembro que às vezes virávamos o dia treinando embora eu dormisse o dia inteiro por isso.

  - PERCY!

  Olhei assustado para Tálassa e vi que já estávamos em outro lugar. Era uma praia. Mas eu nunca havia ido para lá; deve ser um lugar novo. Fiquei tentando decifrar onde estávamos, mas fui puxado por aquela maluca. Quase caí pelos tropeços que estava dando. Então ela parou e se virou para mim. Não sei da onde ou como, só que uma venda apareceu magicamente nas mãos dela e esse maldito pedaço de pano foi colocado em meus olhos.

  Senti-me humilhado. Parecia até que eu era cego, e pior que eu era obrigado a usar aquele trapo velho nos olhos. Tálassa dizia onde eu devia pisar e onde eu não devia, ficava gritando toda hora que não era ali que eu deveria pisar, e que só estava a deixando a estressada. Não foi ela que colocou esse maldito pedaço de pano em meus olhos? Se ela fez isso, ela que agüente as conseqüências agora, pois eu estava parecendo um cego por culpa dela. Isso é humilhação demais! Eu exijo...

  Recebi um soco na cabeça, escutando varias maldições vindas de Tálassa. Isso é complicado. Não estou a fim de pegar outro soco, ainda mais porque um soco dela é mil vezes pior que os socos da Annabeth; e acreditem, os da Annabeth são muito dolorosos. Bom, é melhor nem me lembrar desses malditos socos...

oooOooo

  Fui arrastado por mais alguns quilômetros até que finalmente paramos. A venda foi tirada e vi o local que estávamos, mas o que me surpreendeu foi saber que estávamos mesmo ali. Localizei aquele imbecil do meu primo alguns metros à frente, só que ainda estou muito surpreso por estarmos aqui. O lugar é antigo, mas irei descrevê-lo.

  É uma arena grande, feita de um mármore antigo. O modo que é feito é circular e tinha pedaço no topo quebrado. A arquibancada é grande, daria mais ou menos... Quer saber? Não sei nem quanto daria, mas uma coisa eu sei:

  Eu estava no coliseu.

  Por mais que eu tentasse ver que não estava naquele lugar antigo e histórico, um lugar do qual já tinha ouvido falar muito pelos livros de história e latim. Santo Poseidon! Eu, Percy Jackson, estava no coliseu em Roma. Estou na Itália! Cara, isso é demais. Eu...

  - Seja bem vindo, pivete – Ares falou com arrogância.

  Fiz uma careta, mas o olhei. Nem tinha percebido só que Tálassa já estava na arquibancada e nos olhava com expectativa e preocupação (devo dizer que a preocupação era dirigida a mim). Ares estava se achando, aquela cara dele estava cheia de superioridade. Idiota! Quero ver se ainda irá se esnobar quando eu chutar o traseiro dele com bastante força! Haha, eu já ganhei há muito tempo.

  Reia parecia preocupada, só que eu não a perdoei por aquilo. Lembrar daquela cara dela... Acho que depois dessa luta com meu primo idiota darei uma bela surra nessa vadia loira só pra ela aprender a nunca mais me subestimar e ficar me chamando de inútil. Que gosto bom tem a vingança...

  Percebi que todos os deuses estavam ali. Os deuses menores estavam mais próximos e nos olhavam com muita excitação, principalmente Nêmesis, que me olhava de forma curiosa. Acho que ela sentia meu desejo de vingança e olha que ela é expert nesse assunto. Quando olhei para cima, vi que no lugar onde sentavam os antigos imperadores de Roma estava Zeus e ao seu lado estava sua esposa Hera. Meus olhos se estreitaram quando notei aquele sorriso de modelo no rosto de Reia. Se eu pudesse ao menos dar um soco...

  - Comecem a luta – ordenou Zeus. Sua voz estava ansiosa, eu só não sabia se era pra me ver sendo esmagado ou se era pra ver o filhote dele ser pisoteado. Eu prefiro a segunda opção, se querem saber.

  O chão era de areia e somente agora eu vim notar isso?! Eu sou um burro.

  Ares deu um sorriso de vitória, então um porco horrível surgiu. Eu já me encontrei com esse porco uma vez e sobrevivi, porque não sobreviveria agora? Resposta: da primeira vez eu estava na praia e agora estou muito longe de estar em uma praia.

  Aquela besta selvagem é horrível, além de ser mais horrível do que aquela cabeça pendurada na porta do chalé dos filhos dele lá no acampamento. Mas voltando ao assunto, aquela coisa em forma de porco veio em minha direção, os olhos negros brilhando. Acho que ser afogado no mar lhe deixou um gosto amargo. Só sei que o porco é enorme e vinha com rapidez em minha direção. Esquivei-me da primeira investida, mas o que eu não esperava era que ele se virasse com rapidez; ele me acertou em cheio e eu devo ter voado uns dez metros. Minha sorte que estávamos em uma areia. Ah sim, esqueci de mencionar o tamanho das presas daquela coisa, parecia as de um mamute ou presas do Pumba de Rei Leão. Então vocês já sabem né? Ainda bem que não furou. Só que dói muito voar e cair de mau jeito; o pior é que o porco vinha pra cima de mim com a intenção bem assassina.

  Quando fui levantar, o porco outra vez me acertou e de novo voei, só que dessa vez foi menos que antes. O ruim da coisa foi que acertou meu estômago em cheio, fazendo assim eu cuspir sangue. Sem dizer que foi bastante sangue. A gargalhada do deus da guerra ecoou por todo Coliseu. Ouvi os risinhos dos deuses menores, ouvi um riso de satisfação de Zeus. Minha cabeça rodopiava, pois as duas quedas me fizeram ficar tonto. Ofeguei um pouco, e quase fui acertado pelo porco de novo se não fosse por meus pés tropeçarem um no outro e eu cair para o lado, vendo a besta passar com rapidez bem do meu lado. Graças a Hades não me acertou e, para meu azar, ele voltou da mesma forma que foi. Joguei-me para esquerda a tempo de não ter varias costelas quebradas.

  Então um plano maluco veio a minha cabeça, mas ainda sim era um plano. Mesmo estando meio tonto e com minhas pernas doloridas, eu ainda podia correr e foi isso o que eu fiz. E adivinha em qual direção? Se vocês pensaram “ele foi em direção a Ares” acertaram. Eu fui em direção ao meu primo e tudo saiu como planejei. O porco vinha atrás de mim, então quando cheguei bem perto do deus, eu me joguei para o lado. A besta deu um pulo e ia acertar a cara de seu mestre, mas como Ares não é besta, ele já estava com as espadas prontas e com um golpe acertou o próprio animal, fazendo uma cara de desgosto pelo próprio ato.

  Engatinhei pra longe com tempo de sobra, e foi isso que impediu aquela espada do meu primo me acertar em cheio. A expressão dele era furiosa e eu podia ver o ódio declarado ali nos olhos de orbitas explosivas dele. Os óculos que ele costuma usar já tinham virado pó, pois as chamas dos próprios olhos derreteram tudo. Tenho pena da loja que vende esses   óculos.

  Ares deu uns passos a frente e fez uma nova tentativa de me acertar, mas eu joguei meu corpo pra trás, sendo que a lamina passou de raspão no meu rosto. Nessa hora ouvi alguém prender a respiração, e soltar com alivio quando ele não me acertou. Acho que foi Tálassa ou Hera, mas isso não importa agora, minha cabeça podia sair do lugar a qualquer hora.

  Fiz uma coisa estúpida. Ainda bem que Contra Corrente estava comigo, e ela já estava pronta para uso e usei-a para tentar acertar meu primo idiota, o que só resultou nele dar um chute bem nas minhas costelas e devo dizer que foi um chute bem forte; juro que ouvi ossos trincarem. Soltei um berro de dor horrível. Eu tinha caído a alguns metros de distancia, e estava impossível me mexer. A dor das minhas costelas estava piorando, minha visão começava a ficar embaçada... Meus deuses, a situação está muito critica!

  - Onde está toda aquela vitória de agora a pouco, pivete? – debochou Ares, dando uma gargalhada de triunfo ao ver um jorro de sangue sair da minha boca. – Parece que o grande Percy Jackson não é tão grande assim.

  - Cale a boca – rosnei.

  Ele gargalhou outra vez. Esses risos estavam me dando náuseas só de ouvir. Eu acabei caindo no chão quando tentei me levantar outra vez. Fui pego pelo colarinho, meus pés nem tocavam o chão. Ares me jogou no chão, e sua espada foi erguida pronta para dar o ultimo golpe; pior que eu não tinha como escapar, minha vida acaba aqui não? Eu devia agradecer aos meus pais por me amarem e cuidarem de mim apesar da minha rebeldia e teimosia... Será que é assim que as pessoas se sentem quando estão à beira da morte? Acho que sim.

  Meus dedos escorregaram para o bracelete que Tálassa havia me dado antes de virmos para cá. Quem sabe ainda estaríamos sorrindo caso eu tivesse escolhido ficar lá naquela confortável casa, naquela segurança. Mas não, sou tão teimoso que o resultado é esse: a morte. Do nada o som das ondas chegou a minha audição, e parecia tão perto. É bom ouvir essa sensação das águas quebrando quando batem nas pedras, de sentir o calor e fragrância do mar passar por meu olfato... Isso é tão bom! Queria estar no mar agora.

  Um arfar veio por parte de Ares, então abri meus olhos e vi algo que nem tinha percebido. Acho que devo ter ficado viajando mesmo. Em minhas mãos, feito de um material que nunca sequer tinha ouvido falar, um tridente idêntico ao de Poseidon jazia de modo protetor. Tudo era exatamente da mesma forma, só mudava a cor e o jeito dos desenhos que nele tinha. Se tirar isso, acho que poderia dizer que é a mesma arma do papai. Os nós dos meus dedos apertavam aquilo com tanta força que senti a dormência chegando. Digo logo: era uma sensação extraordinária e surpreendente.

  De inicio minha visão estava turva, mas passei a enxergar melhor rapidamente. E então percebi a cara de bobo que meu primo fazia. Foi uma imensa surpresa – talvez um choque – para ele, pois ele nunca foi pego desprevenido e agora estava assim: desprevenido e surpreso. Eu queria rir da cara dele, mas temia que tirasse o momento de desconcentração que ele estava. Para ser sincero, a cara que ele estava fazendo era muito cômica que poderia até sair nos jornais.

  - Como... Quando... – balbuciou o idiota, tentando raciocinar como eu havia conseguido esse tridente. Como eu sei disso? Fácil, apenas olhe a cara de Mané que ele tem!

  Já que ele começou, não consegui segurar mais. Soltei o riso, sendo que estava MUITO escandaloso. Céus, isso devia ser humilhante, mas eu estava me divertindo muito com essa cara de bobo do famoso deus da guerra. Tava mais pra deus dos idiotas!

  Meu riso ainda deixou Ares no estado de choque, então fiz a primeira coisa que qualquer outro já devia ter feito há minutos atrás. Taquei a lamina do tridente do rosto dele. Mas nem tudo é como desejamos, e foi nessa hora que ele jogou o corpo para o chão, mas mesmo assim a lâmina fez um corte fundo naquele rosto asqueroso. Ares caiu no chão, mas foi tão rápido que poderiam dizer que eu estava mentindo. Ele levantou-se na velocidade da luz, colocando uma boa distancia entre nós. Olhei como os olhos sem órbitas dele começaram a ficar mais explosivos, e na bochecha dele escorreu icor, o sangue dourado dos deuses, sendo que só fez piorar as mini explosões. Acho que o certo deveria ser eu ficar com medo, mas eu estava longe de sentir isso. O tridente me fez recuperar a confiança, só que o que aconteceu no momento seguinte foi muito rápido para ser processado.

  Eu estava preste a atacar Ares quando Reia apareceu, interrompendo nossa batalha; meu primo ia protestar quando foi apunhalado pelas costas e ficou ferido. Quando minha boca se abriu dois centímetros eu senti algo bater em minha cabeça com muita força e foi assim que eu perdi a consciência.

oooOooo

  Minha cabeça rodopiava, e aquela claridade estava fazendo meus olhos arderem. Como a teimosia está no sangue, eu resisti àquela dor de cabeça do cão infernal e abri os olhos, vendo que a meu lado estavam muitos deuses olhando tudo sem entender. Devo dizer que também estou incluído no grupo “não entendo porra nenhuma aqui”. O que diabos está acontecendo? Porque estou amarrado? E porque a Tálassa está com a boca cheia de sangue... O que? Pêra aí! Eu disse mesmo boca cheia de sangue? 

  Meus olhos se focaram naquela visão horrenda da minha (e é mesmo minha hein!) deusa machucada, quando a vadia... Digo, quando minha avó apareceu sorrindo de modo perverso e com seu punho com um pouco de... Sangue? E porque eu estou ferido desse jeito mesmo? Ah é! Eu lutei contra Ares! Disfarça!

  - Você, Tálassa, teve a coragem de apaixonar-se por ele? – berrou Reia, furiosa. Os olhinhos dela brilhavam de forma macabra. Cruzes! Alguém pode dar um help?

  Pensando bem, eu tive a nítida sensação que meu nome estava no meio dessa gritaria. Então fiz a besteira de dizer que estava acordado: dei um pigarro.

  Todos voltaram seus olhares para mim, uns achando que eu era idiota e outros dizendo com os olhos “era pra ter ficado calado”. Estranhei um pouco, mas ignorei isso e fiquei encarando a vadia.

  - Querido, você acordou – falou minha avó com meiguice.

  Quando eu ia falar, Hera disse com arrogância:

  - Quem te deu o direito de chamá-lo assim?

  De certa forma eu até agradeço pela forma como ela falou, mas era Tálassa quem deveria ter falado não? Não pega muito bem a titia me defender. Ainda estou com a barra suja por causa daquela bendita confusão na qual quase fui morto pelo tio dos céus.  Dei um sorriso nervoso. Olhando de um lado para outro, vendo que maioria dos deuses estavam amarrados. Zeus permanecia solto, mas parecia fraco para manter-se em pé, só sua própria força o fazia resistir.

  Um riso de desdém surgiu nos lábios da querida Reia, então ela andou até Hera e quando chegou aonde queria sua mão acertou em cheio o rosto da filha. O tapa ecoou, e foi quando notei que estávamos perto de um precipício.

  - Você está aqui por aquela profecia, Reia? – foi quando notei a presença de Afrodite, que também estava amordaçada, mas suas feridas eram poucas.

  Pois bem... DE QUÊ ESSAS ÉGUAS ESTÃO FALANDO?! Realmente odeio estar por fora do assunto, olha que essas coisas nem deveriam importar. Vou cortar o pescoço de cada uma, talvez elas me falem depois que eu fizer isso!

  - Curioso, querido? – indagou Reia, me olhando de modo super macabro.

  Meneei um sim com a cabeça, imaginado até minha cara de bobo. Sabe, eu devia ganhar o prêmio de maior bobo da terra. Acho que um Oscar também seria legal...

  Reia pigarreou, chamando minha atenção e eu nem tinha percebido que estava no mundo da lua. A olhei, mostrando que minha atenção estava focada nela e, creio eu, isso aumentou seu ego, fazendo que ficasse meio presunçosa por chamar mais atenção do que Afrodite.

  - Meu pai, Urano, fez uma profecia milênios atrás – começou ela, mostrando empolgação em ser o centro das atenções. Acho que um soco acabaria rapidinho com essa cara de modelo internacional dela. – Nela dizia que um meio-sangue faria uma deusa ter filhos, e esses filhos seriam mais fortes que um meio-sangue normal. O sangue do pai seria forte e daria os poderes que foi herdado seja pelo pai ou mãe imortal.

  VADIA, DESGRAÇADA! É isso que deseja de mim? Apenas um garoto de uso para lhe dar um filho e, com toda certeza, libertar Cronos não e? Sua vadia! Vem aqui para eu lhe dar uma boa surra. Gaia não lhe ensinou nada? Mas eu não sou trouxa e vou lhe dar a educação que merece, e como vou dar, só me deixe sair dessas cordas. Meus olhos deviam estar em chamas. Acho que Ares notou isso, pois o riso dele foi de deboche e, devo estar meio enganado, alegria nem um pouco contida.

  Lancei um olhar bem homicida. Meu humor estava negro. Essa maluca despertou minha fúria e eu estava prestes a me soltar dessas cordas e pular nessa garganta de bruxa que minha avó tem. Eu definitivamente a odeio mais do que a própria morte.

  Mas o que ela fez agora foi mais imperdoável ainda. A bofetada que ela deu na Tálassa fez meu sangue ferver de puro ódio. Eu vou matá-la igualzinho como Zeus fez com o próprio pai, a se vou.

  - Vadia! – gritei furioso.

  Todos me olharam surpresos, inclusive Poseidon; acho que eles nunca imaginaram que eu falaria palavras desse tipo. A gargalhada de Ares saiu alta, e vi que ele estava mesmo se divertindo com tudo isso. Não vejo motivos para piada, só que essa passa somente porque quero socar essa vadia da Reia agora.

  - Me respeite moleque! – sibilou ela. Agora sou ‘moleque’? Pra onde foi o ‘querido’? – A vadia aqui é essa maldita! Ela estragou tudo, e você já estava na palma da minha mão!

  - Na palma da sua mão? – desdenhei. – Eu jamais estive ai! Você me enoja, Reia!

  Outra vez Ares deu uma gargalhada e essa lhe rendeu um olhar nada amigável por parte de Reia. Ela estava furiosa por minhas palavras. Acho que não era bom deixá-la irritada, mas ouvir a voz tão irritante que ela tinha fez meu sangue ferver mais ainda. Sinceramente, essa voz é pra deixar qualquer um irritado.

  Senti meus dentes trincarem. Mas o que mais doeu foi ver o soco que Reia deu em Tálassa, que não estava nas melhores das situações. Tentei me soltar a todo custo para poder ajudar, isso pode matar Tálassa e eu não quero que isso aconteça.

  Então vi a única chance que eu tinha de como acabar com isso. Reia estava próxima do precipício, o que podia facilitar meu serviço. Se eu ao menos pudesse empurrá-la... Acho que o jeito é fazer isso. Eu teria que sacrificar minha vida, mas conseguiria poupar Tálassa de mais feridas. Eu faria algo descente pelo menos agora. Olhei para minha deusa, vendo que ela já entendera o que eu planejava. Sua cabeça balançava freneticamente, dizendo claramente pra eu não ousar fazer isso. Pena que eu não ligava. Era preciso. Respirei fundo e esperei o momento certo.

  Não me importava com mais nada, pois isso não teria importância para o sacrifício que eu faria agora. Senti lágrimas virem, mas contive o choro. Chorar não adiantava, e minha decisão não podia voltar atrás. Lembrei-me dos dias que passei ao lado de Tálassa, dos dias que sorri ao lado dos meus irmãos e amigos. Não sei como, só que as balidos de Grover vieram a minha mente e eu os aceitei de bom grado. Sorri.

  Estava na hora. Reia chegou ao ponto onde eu queria. Então me levantei com rapidez e a empurrei com tudo. Como eu previra, ela me puxou junto, mas já imaginava que isso aconteceria.

  Ouvi o berro de Tálassa, e apenas quis dizer uma ultima coisa.

  Meus sentimentos falaram alto, mas consegui a tempo. Os olhos dela com certeza leram meus lábios, e tive a certeza que ela leu a mensagem.

  O que eu disse foi uma frase conhecida e boa, e fiquei feliz em dizê-la.

  Meus lábios disseram ‘eu te amo.’ 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Então? Como ficou?
Agradeço a todos por lerem!
Beijão ;*



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