Não consegui falar com Cathy ao término do programa porque ela tinha que estar no aeroporto em menos de uma hora e precisou sair correndo. Ainda que ela estivesse sorrindo, gargalhando, eu vi tristeza nos olhos dela. Tinha algo acontecendo e eu precisava saber. Nas semanas que se passaram tentei ligar para ela, fui até o escritório, fui até a casa dela, mas ela não me atendeu. Mandei inúmeros emails, mas não obtive resposta. Certo dia Lola pediu para vê-la – nesse mesmo dia descobri que as duas ainda se falavam – e eu resolvi levá-la até a casa de Cathy. Claro que sendo Lola ali ela atendeu e as duas se divertiram a beça. Quando Lola dormiu no colo de Cathy eu falei:
–E aí? Como anda a vida?
Ela, mexendo nos cabelos loiros de minha filha, respondeu sem desgrudar os olhos do que estava fazendo:
–Na mesma! E a sua?
Suspirei e ponderei se aquele era o momento certo para despejar tudo o que estava em meu coração.
–Não muito boa Cathy! Preciso ser sincero com você. – ela ergueu o olhar até o meu – Tem alguma coisa aqui dentro – apontei para o meu peito – que não me deixa parar de pensar em você, em como você está, o que você está fazendo, o que você quer... Tem alguma coisa aqui dentro que me prende a você de uma forma tão forte que chega a doer, mas eu sei que essa dor é provocada pela distancia. Eu sempre gostei de você, sempre quis você, desde a primeira vez que te vi, mas você era a namorada do meu melhor amigo... Eu não queria me meter na relação de vocês, por isso eu te tratava daquela maneira grossa. Mas quando ficamos trinta dias juntos não deu mais para disfarçar. Você é tudo que eu sempre sonhei para mim. Você, ainda que furiosa comigo, ainda que grossa, ainda que distante, me faz tão feliz. E eu... Eu consegui o que nem o seu namorado conseguiu... Perceber essa amadura que te prende, que te limita, que eu sei que é o seu método de proteção, mas que só está aí porque você ainda não achou ninguém bom o suficiente para te proteger. Eu posso te proteger, eu quero isso! Basta você permitir. Eu não aguento mais fingir que nada está acontecendo, não aguento ficar tão longe assim de você... Eu não posso mais... Eu...
O peso que foi retirado das minhas costas naquele instante foi tão grande que eu não tinha mais palavras para fazê-la entender que ela tinha que ser minha. Eu fechei os olhos esperando por uma resposta, o coração na mão...
–Olha Gilbert... Eu tomei uma decisão... – ela disse suavemente. – Não quero mais ter um relacionamento com alguém por um bom e longo tempo. Afastei-me de muita gente depois daquilo tudo e... Ainda dói, mas você me conhece, sabe que não fico chorando por qualquer coisa, muito menos por homem. Eu poderia te iludir, poderia dizer que quem sabe um dia nós poderíamos ficar juntos... Mas não quero te deixar preso a mim... Sou muito instável em relação a sentimentos... Então siga sua vida. Arrume alguém que te ame... Eu... Vou passar uma temporada fora daqui então... Esse tempo será perfeito para que você ache alguém que realmente te mereça.
Suspirei. Olhei nos olhos dela e percebi que não ia adiantar contestar. Ela precisava daquele tempo.

Catherine Pov’s

–Você tem o que na cabeça? Titica de galinha? – Sar disse revoltada.
–Essa aí tem probleminha Sar! Tem horas que dá vontade de dar umas alfinetadas nela... – Ana Flávia falou.
Revirei os olhos e mentalmente agradeci a Deus por Marjorie não estar ali também.
–Gente, não adianta. Minha decisão é essa. Gilbert pode até ter me deixado balançada
–Balançada? Minha filha você caiu do balanço de amores por ele... – Ana me interrompeu irônica.
–Tanto faz! Enfim, ele pode até ter feito isso aí que você falou, mas eu estou decidida. Também preciso passar esse tempo fora do país, relacionamentos a distancia não são tão produtivos.
–Para! Não me venha com essa desculpa! Você tem aviões e dinheiro suficientes para ir e vir à hora que quiser. – Sar disse.
–Espera aí! Vocês são minhas amigas ou amigas dele?
–Nós somos suas amigas e é exatamente por isso que estamos te falando... Você deveria estar com o Gilbert! – Sara disse.
Revirei os olhos e suspirei. Eu não poderia ficar com aquele homem, ainda que meu coração necessitasse disso.
–Vem cá! – Sar pediu a me ver com os olhos cheios d’água. – Calma.
Deitei-me no colo dela. Fechei os olhos controlando as lágrimas.
–Ei, relaxa! Estamos só pegando no seu pé. – Ana disse segurando minha mão.
Quando eu ia assumir que elas tinham razão meu celular começou a tocar e eu saí do quarto para atender. Quando voltei já avisei:
–Viagem de ultima hora. Vocês se cuidem e cuidem bem da minha casa tá?
Elas reviraram os olhos e começaram a reclamar... Segundo elas não precisavam mais de ouvir aquilo...

Meses Depois...

–Caramba, você é super humilde em? – Ana constatou assim que entramos em nossa casa nova, em Tóquio.
Olhei ao redor, não estava vendo nada de mais ali.
–Uai, é bem parecida com a nossa casa em New York. – falei me sentando no sofá.
Ela sentou ao meu lado e fechou os olhos. Suspirou e depois de um longo silencio perguntou:
–Você tem certeza que isso é o certo né? Nós não estamos vindo para cá só para fugir de Gilbert, e de Nick, e do Jhon...
Olhei para ela e respondi:
–Menina, vai dormir porque você já está delirando...
Ela me encarou séria por alguns segundos e logo depois caímos na gargalhada. Escolhemos nossos quartos, tomamos banho, comemos e ela foi dormir, eu fui trabalhar. Depois de resolver tudo que tinha que resolver abri meu email e comecei a ler aquela infinidade de emails que estavam ali. Enquanto eu apagava alguns um novo chegou e quando vi o remetente quase caí de costas.

“Minha flor de lótus, espero que tenha chegado bem, que tenha descansado durante o vôo, que sua casa seja exatamente o que você pediu. Espero que esse novo começo esteja à altura do que você merece. Eu ainda acho que você poderia ter ficado aqui, mas vou parar de enrolar e te pedir uma coisa... Preciso ir para Tóquio e não tenho lugar para ficar. Parece que essa semana haverá um festival de não sei o que aí e todos os hotéis que conheço estão lotados... Será que posso ficar aí na sua casa...? Chego quarta-feira e vou ficar no máximo duas semanas para resolver um contrato de um filme novo.
Espero ansioso por sua resposta.
Um abraço, Gilbert.”

MEU DEUS! Coloquei as mãos no rosto e respirei fundo. Não pensei em nada, esvaziei a mente e respondi:

“Boa noite – para você acredito que seja manhã ainda, estou meio perdida no fuso-horário – bom, sobre o seu “espero”, sim está tudo ótimo, tudo certo, tudo do jeito que eu queria. Enfim, venha. Minha casa está de portas abertas para você. Confesso que não nos veremos muito nessas duas semanas, mas você pode vir. Mande beijos para minha pequena Lola.
Grata, Catherine Willows!”

Ali encerrei meus afazeres e contei ansiosamente os dias para que a tal quarta-feira chegasse logo. Eu sentia uma baita falta daqueles olhos azuis sobre mim. E quando finalmente a quarta chegou eu estava no mundo da lua, ou melhor, no mundo Gilbert.
–Eeeei! Terra para Catherine. – Ana disse estalando os dedos.
Coloquei o copo de chocolate quente na mesa e falei:
–Desculpa... Sobre o que você estava falando?
Ela ficou me olhando e balançando a cabeça negativamente.
–Sabe, se você não fosse tão teimosa, tão chata, tão boba você não iria hospedá-lo... Você iria morar com ele. Já pensou nisso?
Estreitei os olhos.
–Vai começar com isso de novo? – falei com aquele tom de voz mortífero.
–Vou! Desculpa, mas eu vou sim. Você está jogando um futuro lindo no lixo com esse seu orgulho e sua teimosia.
Ela tinha razão, mas eu não iria assumir isso NUNCA. Peguei minha pasta, me levantei e saindo falei:
–Bom dia para você também... Provavelmente chegarei tarde. Não me espere para jantar.
–Eu não vou esperar mesmo não. Mas faço questão de fazer o Gilbert esperar.
Revirei os olhos e fui para o escritório. O dia foi tão cansativo e tenso que não tive tempo para pensar em Gilbert e quando cheguei a casa – já de madrugada – me assustei ao ver um homem deitado no meu sofá. O susto foi tanto que gritei e o acordei.
–Cathy? Sou eu Gilbert. – ele disse se levantando.
Parei de gritar e fiquei ali, roxa de vergonha. Sorte a minha que os quartos eram a prova de som e Ana não desceria...
–Desculpa Gilbert... – comecei – Meu dia foi daquele jeito... Eu esqueci que você chegaria hoje... Desculpa.
Ele sorriu e veio em minha direção.
–Só desculpo se ganhar um abraço... – me chantageou...
Sorri e nos abraçamos. Que abraço M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O! Depois disso jantamos – Ramen é claro! – ele me contou umas coisas de Lola e Fiona e assim que vi o horário falei:
–Meu Deus! Gilbert eu preciso dormir. Amanhã nós nos falamos mais. E bem vindo de novo.
Ele sorriu e eu fui para meu quarto. Assim que terminei tudo que tinha que fazer e deitei na minha enorme cama percebi que estava entorpecida... Eu tinha a sensação de estar flutuando... E essa sensação era maravilhosa...
Dois dias depois eu terminei todo o serviço bem cedo e já tinha terminado o da outra semana por sinal – o que era realmente um milagre – e resolvi ir direto para casa. Passei na universidade em que Ana estava e quando chegamos a casa eu quis ser invisível e ficar vendo aquela cena para sempre. Gilbert, sem camisa, com uma leve camada de suor naquele físico de deus grego, correndo com o filho da minha... Hmmm... Ajudante do lar... Eu quase morri. Aquele sorriso branquinho...
–Fecha a boca Cathy, antes que ele veja. – Ana disse.
–Tá! Aproveita e fecha a sua também. – falei sorrindo.
–Se for possível... Porque essa é a visão do paraíso! – ela confessou e logo suspirou.
Voltei a caminhar e assim que entrei no meu quarto retirei os saltos e fiquei observando aquela cena maravilhosa. Ele, sem sombra de dúvidas, era um pai maravilhoso. Aaaaai Alguém me da um clone desse homem? Comecei a me perder no corpo dele e quando já estava delirando notei ele me encarando lá de baixo... Bem que me falaram que aquela parede de vidro iria me ferrar um dia... Dei um tchauzinho só para disfarçar e fui tomar banho. Depois disso eu fiquei assistindo TV até que Ana e Gilbert entraram no meu quarto – ela histérica, louca, gritando que eu era muito sortuda e blá, blá, blá – e sentaram na minha cama.
–Ana... Respira filha. O que está acontecendo? – falei sem entender uma palavra que ela estava falando.
Ela tentou novamente, mas não deu muito certo. Gilbert me entregou uma folha de papel A4 que continha uma espécie de convite informal. Comecei a ler:
“Srta Willows,
Através desse convite informal venho adiantar que... Ah, vamos parar com esse blá, blá, blá! Desde que te vi naquele “filme” com Gilbert estou com a ideia de ter vocês dois no meu próximo filme que, quando for anunciado, será sucesso. Vocês têm uma química que eu nunca vi antes, até mesmo em casais que são realmente casais... Então, se você aceitar, ou cogitar essa hipótese, procure-me junto com Gilbert. Ele também te passara o roteiro e eu espero, ansiosamente, que você aceite e me ajude a fazer desse filme um sucesso.
Um grande abraço.”
Quando terminei não acreditei naquilo... Era lorota né?
–Você vai aceitar né? Você vai! Pelo amor de Deus! Diz que sim. – Ana disse...
–Mas... Eu não me vejo sendo uma atriz. – falei.
Fechei os olhos me imaginando contracenando.
–Você leu tudo? Acho que não né? Eles A-M-A-R-A-M o dia a dia de vocês que aquele programa fez. É recorde de visualizações...
Ela foi falando e eu só olhei para Gilbert que me abriu aquele sorriso maravilhoso enquanto assentia.
–Ta bem, Ana! Acalme-se... Vou pensar.
Ela me abraçou fortemente porque sabia bem que eu falava “Vou pensar” era quase um sim. Gilbert me contou os detalhes e no fim, quando Ana saiu do quarto, ele começou a me contar todo o enredo e achei bem a minha cara mesmo. E nossa conversa estava agradabilíssima até ele comentar:
–Então quer dizer que a carrasca Willows estava observando meu corpithio pela janela, né?
Senti minhas bochechas queimarem. Como ele podia ser tão idiota daquele jeito em?
–Talvez... Quem sabe! – falei olhando bem nos olhos dele desafiadoramente.
Ele sorriu e falou:
–Eu estava com saudades desse seu olhar mortífero...
Soltei uma gargalhada e falei:
–Cuidado em? Daqui a pouco você morre e vão culpar meus pobres e lindos olhos por isso...
Claro que me arrependi depois né? Às vezes eu fazia uns comentários desnecessários que dava vontade de morrer...
–Não corro o risco de morrer... Pelo contrário... São eles que geram minha vida.
Caraca! Que cantada foi essa? Eu fiquei sem saber onde enfiar minha cara, o que fazer, se ria, se saia dali...
–Você é sempre palhaçinho assim ou é só quando está comigo? – perguntei rindo.
Ele riu e deixou a resposta no ar. Olhei para meu mini lago de flor de lótus e suspirei.
–Achei legal isso que você fez viu? Tem um monte de você naquele lago... – ele disse.
Continuei olhando para o lago rindo e só respondi:
–Obrigado... Agora... Vai lá fazer aquele espaguete maravilhoso para jantarmos, por favor... Antes que a Ana comece a comer as paredes...
Ambos caímos na gargalhada e ele foi para a cozinha enquanto eu ligava para Sar. Ela logo conseguiria férias e viria ficar uma temporada comigo e Ana. Quando contei para ela da proposta para ser atriz ela me deu o maior apoio e também achou o personagem a minha cara. Quando Gilbert terminou o jantar veio me chamar para comer e claro que Ana fez questão de fazê-lo sentar ao meu lado na mesa. Eu sempre ficava na ponta, ao passo que eles ficavam de frente um para o outro dois lugares de distancia de mim... Mas naquele dia ela montou a mesa estrategicamente para que ambos estivessem coladinhos em mim. Olhei para ela por quase um minuto daquele jeito... E ela apenas sorriu. Durante o jantar eu não conversei nada – não gostava nem um pouco – mas eles mais falaram que comeram. Tomei mais vinho que o normal naquele dia, mais de cinco taças. Ana tinha que ir ao hospital ver a filha de uma amiga então enquanto eu tomava todo aquele vinho Gilbert ficava me observando... Quando eu já estava começando a ficar confusa ele disse:
–Cathy, vai para o quarto... Você já tomou vinho demais... Amanhã a ressaca vai te derrubar.
Levantei-me, mas mal conseguia parar em pé. Virei a ultima taça de vinho e daí para frente...

No outro dia eu acordei com uma baita dor de cabeça, estomago ruim e todos aqueles sintomas de ressaca... Fiquei horas na cama e quando a porta se abriu e vi Gilbert com uma bandeja com algumas frutas e alguma outra coisa saí correndo para o banheiro...