Legami Di Amore escrita por Tahii


Capítulo 21
Scarsamente illuminato


Notas iniciais do capítulo

OLÁ, ANJINHOS DO MEU CORE, tudo bom com vocês?
Eu estou bem (bem enrolada), graças à Merlin. Quero agradecer a todos que comentaram, aos novos leitores e a toda essa nossa família LDA que cresce a cada dia — cresce o amor, a raiva, a desilusão com esses personagens doidos rs.

O capítulo deveria ter saído por volta do dia 25, eu sei, mas a minha vida está corrida (é uma novidade isso?) por causa da faculdade, dos estágios, do trabalho, então acabou dando certo de finalizar hoje e cá estou para postar. Acreditem ou não, eu escrevi um pouco a cada fim de semana kkkkkkkkkkkkkk Lembram que eu disse que esse cap era para ser junto com o cap anterior? Como puderam ver, ficou muito grande, e eu não gosto de capítulos infinitos, então...

Quero relembrar os avisos do cap anterior: mantenham a calma, preparem o coração, esse capítulo está de matar KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK Ah! Tem alguns pequenos detalhes que só quem prestar MUITA atenção vai conseguir pegar... QUEM PEGAR PEGOU QUEM NÃO PEGAR NESSE SÓ PEGA NO ÚLTIMO CAP #pas

Espero que gostem desse capítulo. Eu adorei ele ♥ (qq) Estou planejando que a história tenha por volta de 30 caps, então... Vocês sabem o que isso quer dizer :P (espero que saibam)

Boa leitura ♥

► PLAYLIST
https://www.youtube.com/watch?v=tNx1y8AXZxw&list=PLm_bv0SbG68UdaGyxvje2S6Vyd79Z5tmc

*Scarsamente illuminato = Mal iluminado



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Rose voltou para o salão comunal da grifinória quieta, digerindo tudo que havia acontecido até então. Sentia-se mais pesada e seu corpo tremia de um frio que não condizia com a realidade. Estava amedrontada em todas as esferas possíveis.

Por um lado, ela tinha certeza que estava no céu. Ouvir Scorpius Malfoy dizer que era apaixonado por ela lhe deu asas, ou melhor, lhe fez lembrar de como era a sensação de ter asas. Quando tinha sete anos, Rose costumava subir em uma velha cadeira de madeira que ficava na cozinha de sua casa para sequestrar varinhas de alcaçuz que Hermione escondia dentro do armário. Ela e Hugo se entupiam de doces, o que era por si só prazeroso, mas uma onda de heroísmo ou algo bem próximo a isso lhe enchia por completo. Havia salvado a si própria e ao irmão de uma terrível morte por falta de açúcar no organismo. Encontrar-se com Scorpius, processar suas palavras e — a melhor parte — dizer o que também sentia era como tomar de volta suas asas para voar por um céu, praticamente, sem limites.

Ela havia se estragado por completo ao permitir que uma pessoa tão ignorante como Brian Wood a fizesse desacreditar em seu próprio potencial, havia perdido sua habilidade de ir ao seu próprio paraíso. Por isso não entendia que ela era o seu próprio êxtase, que ela era a única capaz de se proporcionar a felicidade. Rose Weasley achava que as coisas haviam ficado complicadas depois de ter dormido com Scorpius enquanto mantinha um relacionamento complicado com uma pessoa que ela não gostava tanto assim, apenas dependia; era difícil para ela aceitar que tudo estava errado desde o dia em que ela aceitou namorar com um cara que, blargh, não a merecia sob nenhuma hipótese, mesmo nas mais insanas.

Scorpius lhe fez lembrar o gosto de ser. Ser o que bem quiser e fazer o que bem quiser. Naquela noite ela sentiu uma vontade louca de agarrar aquele corpo definido e beijar aquela boca que — nossa! — não imaginava que poderia exercer tamanhos poderes. Foi o que lhe deu força para dar um basta em uma história tóxica. Após isso, considerou estar louca por alguém que provavelmente não gostava dela. Claro, de onde ela arrancaria fundamentos para acreditar que seria amada mesmo com os defeitos que Brian Wood vivia idiotamente listando e lhe apontando? De lugar nenhum! Só que ela conseguiu ver, bem lá no fundo de alguma curva escura de seu coração, que sentia algo forte por Scorpius. Aí ela o viu beijando Georgie Spinnet e percebeu que estava certa, e que o sentimento realmente existia. E poder dizer que  ela estava apaixonada por ele era a mesma coisa de gritar que ela havia conseguido sentir algo de verdade, algo que fazia suas pernas balançarem e seu peito palpitar por “n” emoções. A melhor parte era que esse sentimento lhe fazia acordar para uma pequena lâmpada que insistia em iluminar algum canto do seu labirinto interior, a lâmpada que lhe dizia que ela teria que ser a sua melhor versão, porque o amor ao próximo só é concreto quando o amor próprio é bem estabelecido.

Rose Weasley sabia que a sua missão pessoal era se estabelecer em seus próprios alicerces. A partir de então, nem a sua história, nem as coisas que lhe foram apontadas na cara seriam o suficiente para lhe desviar das suas próprias forças, do seu próprio coração. Porém, ainda estava propensa a sentir-se aterrorizada.

Por outro lado, sua razão não conseguia aceitar a possibilidade de estar realmente grávida. A sua parte superegóica pulsava em suas veias e em um corredor silencioso, como o que se encontrava seguindo seu trajeto, era possível escutar as suas próprias condenações bem ao pé do ouvido. O que diria para o seu pai? Como que criaria uma criança? O que aconteceria com todos os seus projetos? De que forma se olharia no espelho e não se culparia pelo rumo que sua vida teria tomado? Encarar sua própria falha, mediante a todos os seus planos, seria mais angustiante do que lidar com a realidade em si.

— Você é uma ladra! — Dominique ralhou histérica, causando uma gargalhada gostosa em Roxanne, que assistia a torre negra ser completamente destruída.

— Não é culpa minha se você é um pouco óbvia, Dominique. Sem contar que eu jogo xadrez há muito mais tempo do que você, e sou bem melhor também.

— Ladra convencida. — revirou os olhos. — Peão na a5.

— A Rose já ganhou de mim, se te consola.

Roxanne estava com os olhos vidrados no tabuleiro quando falou. Dominique olhou por cima dos ombros da prima e enxergou Rose andando em passos lentos até à mesinha frente à lareira do salão comunal. Ela se arrepiou ao pensar em como Roxanne conseguia ser assustadora às vezes.

Rose se sentou no sofá, bem em frente ao tabuleiro e respirou bem fundo antes de abrir um sorriso trêmulo.

— Estou torcendo para que esse sorriso e essa sua aura não tenha nada a ver com o McLaggen. — disse Roxanne repousando o queixo sobre a mão fechada. — Ele está começando a irritar a minha beleza.

— Não sei o que vocês veem no Ryan para perseguí-lo desse jeito.

— Vocês quem? — Dominique olhou pelo canto dos olhos, prestes a perder a sua rainha por falta de atenção.

— Roxanne e Scorpius. Se o vento for mais para a direita, a culpa é do Ryan.

— Eu não vejo nada, Rosita, eu apenas não curto a vibe dele. E mesmo se você quiser virar defensora dos oprimidos, não vai me convencer de que ele não é uma criatura estranha. Quanto ao Scorpius, não sei, não entendo o que passa naquela cabeça oxigenada.

— Deve ser amor. — suspirou a loira. — Você já reparou como ele fica olhando a Rose nas aulas? Parece que vive sonhando com um mundo onde eles são um casal normal e feliz.

— Talvez não sejamos um casal normal, de fato. — não escondeu seu sorrisinho, causando um quase engasgo fatal em Roxanne. Fitou seus pés inquietos, suspirou e encarou os quatro olhos curiosos que lhe faziam um interrogatório silencioso. — Hm… Eu escrevi um bilhete para ele dizendo que queria conversar em frente à sala precisa sobre algo importante. Depois que acabou o período nos encontramos e… Antes que eu dissesse alguma coisa ele começou a falar sobre a Spinnet, que eles são apenas amigos, fez seus apontamentos sobre o Ryan, lavamos um pouco de roupa suja e no final ele acabou dizendo que não queria me ver mal de forma alguma porque ele é apaixonado por mim.

— Pelos pijamas de seda de Morgana! — exclamou Dominique levando a mão na boca. — E você? O que você disse? Meu Merlin, tomara que não tenha sido nada idiota.

— Eu respondi que eu também… Sou apaixonada por ele. — uma onda de risadas preencheu os lábios das primas, todas incrédulas. — Foi a coisa mais açucarada que eu já vivi.

— Vocês se beijaram? — Rose assentiu. O brilho nos olhos de Dominique era perceptível, e sua emoção parecia querer explodir pelos poros. — Só falta você me dizer que resolveram se assumir para que eu vá atrás do meu vestido de madrinha.

— Dominique, menos. — pediu Roxanne cruzando os braços sobre a mesinha. — Como está se sentindo?

— De um lado, maravilhosamente bem porque… Claro que eu percebi que odiei vê-lo beijar a Spinnet e que, tá, de fato eu desenvolvi sentimentos por ele. Só que quando eu paro para pensar, ou melhor, das vezes que eu parei para pensar, nós nunca daríamos certo. E agora que teríamos tudo para começar algo, não podemos.

— Não podem? Óbvio que podem. Se vocês se amam, vocês já tem quase tudo para começar. — Rose negou com a cabeça, fazendo o sorriso de Dominique murchar. — Do que você está falando?

Rose fixou o olhar na irís de Roxanne antes de fitar o ponto de interrogação que dominava a feição de Dominique. Seu nariz começou a arder, alertando outros possíveis efeitos colaterais de lidar com consequências que ingenuamente nunca haviam passado por sua mente agitada. Roxanne, por sua vez, percebeu o conteúdo denso no ar e em uma corrida por achar a teoria que mais encaixaria na situação, quebrou a conexão entre sua aura e o rosto vermelho da prima.

— Durante o jogo, eu passei mal… — sussurrou escorregando para mais perto das primas, apoiada no tabuleiro de xadrez. — Fui ao banheiro, Alvo me encontrou, conversamos e… E ele perguntou se não haveria a possibilidade de eu estar… Grávida. — sibilou, causando a feição incrédula de Dominique. — Ele fez uma poção e…

— Por Merlin. — Roxanne trincou o maxilar, apoiando o rosto sobre a mão. — O que o Scorpius disse?

— Que vai fazer outra para confirmar.

— E depois disso? — Rose deu ombros, soltando todo o ar dos pulmões.

— Se for verídico, teremos um… — a garota passou os olhos pelos arredores do salão comunal antes de não conseguir segurar uma lágrima.

— Filho. — completou Roxanne passando a mão no ombro da prima e, em seguida, aconchegando o corpo frágil de Rose ao calor do seu. — Não precisa dizer mais nada se não quiser. Quando que essa poção vai ficar pronta?

 

Ela apenas negou com a cabeça enquanto se acabava em um choro ardido e culposo, afinal, estava nos braços da sua prima pondo para fora toda a sua corrupção interna. Embora tivesse a escolha de ficar quieta perante às primas, sua consciência julgava-lhe a cada instante que continuava respirando. O sonho de ter um filho, uma família, casar-se era verídico, mas não naquele momento. Ela não queria aquele filho, ela não queria ter Scorpius daquela maneira, ela não queria partir para o apelo. Só que sua parte humana latejava dentro de seu peito, porque não era mais apenas ela que estava sentindo aquele turbilhão de sentimentos distorcidos e egoístas, um bebê estava se desenvolvendo dentro dela e não deveria estar sentindo-se bem vindo pela sua própria mãe. Uma mãe egocêntrica, irresponsável e tola.

Rose desencostou-se de Roxanne ao sentir seu rosto inteiro molhado e cheio de fios de cabelo grudados. Seu coração batia forte e dolorosamente, sua cabeça pulsava de dor e sua garganta estava fechada por ter que segurar uivos de desespero. O que diria para sua mãe? Para sua família? Para o seu próprio reflexo quando voltasse a se olhar no espelho?

— Você sabe que estaremos aqui para tudo que você precisar, não sabe? — Dominique tentou dizer, passando um dedo por debaixo dos próprios olhos. Rose engoliu o choro, respirando fundo.

— Para tudo que vocês precisarem. — corrigiu Roxanne. — Isso inclui até a doninha oxigenada.

A risada doce de Dominique preencheu o ambiente, precedendo um abraço coletivo cheio de carinho, amor e coragem para o futuro incerto que aguardava por todos eles, juntos.

Porém, naquele momento, a única coisa incerta era o que haveria para o jantar dali alguns instantes. As primas ficaram juntas por mais um tempo, o suficiente para Rose tentar voltar em si e conseguirem se locomover até o salão. Roxanne desconversou todo o assunto no objetivo de fazer-la sentir-se melhor. Sentaram-se na mesa da grifinória e logo o jantar teve início.

Rose passou os olhos pela mesa da sonserina, mas não viu nem a sombra de Scorpius por lá. Tentou realmente mergulhar no assunto das primas ao endireitar-se no banco, mas não foi possível. Sua voz não queria sair, seus olhos estavam abertos por causa do grande esforço que ela fazia — estavam ardendo e tremendamente pesados —, e ela jurava poder ouvir o eco de sua respiração em sua mente.

Naquela noite, Rose dormiu profundamente, como se fosse uma pedra. No dia seguinte, Rose não viu Scorpius pela manhã, e não teve uma aula sequer com a sonserina. Foi após o fim do primeiro período que ela o encontrou do lado de fora do grande salão.

— Rosie. — ele a saudou, andando em sua direção. Ela tentou sorrir com os cantos da boca, mas sentia-se fraca para tal. Scorpius a envolveu em um abraço, não se importando se havia pessoas olhando ou não, e depositou um beijo em seus lábios gelados. — Como você está?

— Bem. — os olhos de Scorpius sorriram ao ouvir a voz dela, o que fez Rose sentir-se tremendamente mal. Aquele momento que estavam vivendo seria o ideal para começarem um relacionamento ou algo do tipo, mas não, a situação era enraizadamente mais complicada do que apenas sair de mãos dadas por aí.

— Gosto de pensar que posso te beijar quando bem entender agora. — ele deu risada, fazendo-a arquear a sobrancelha divertidamente. — Se você soubesse quanta vontade já passei.

— Imagino, mas… Não sabia que eu havia te dado permissão para isso. — o olhar de Scorpius foi profundo e, de certo modo, apaixonado.

— Depois que duas pessoas dizem estar apaixonadas uma pela outra, elas passam a ter alguns direitos. Ou você se esqueceu que de uma forma louca e inconsequente você é apaixonada por mim? Porque eu não esqueci.

— Sua memória é consideravelmente boa.

— E você é consideravelmente linda. — novamente, Scorpius selou seus lábios, porém com o intuito de um beijo de verdade. Rose sorriu ao sentir o perfume do garoto, e o peso que estava carregando em sua mente parecia ter desaparecido enquanto esteve envolvida pelo abraço dele.

— Você terminou a poção? — perguntou logo o após o beijo ter chegado ao fim, ainda bem próxima dele.

— Alvo insistiu em fazer uma meio demorada, então, só ficou pronta literalmente agora. Quando você quiser, podemos-

— Por que não vamos até a Torre de Astronomia? — sugeriu, recebendo o assentir de Scorpius imediatamente como resposta. Ele estendeu a mão, Rose sorriu ao ver os longos dedos finos (talvez sua avó Molly diria que eram dedos de pianistas) esperando os seus dedos para se entrelaçarem. Como sempre, Scorpius estava quente, e Rose gelada. Scorpius deu um risinho abafado ao realizar sua fantasia de dias, e ao sentir sua mão entrelaçada a de Rose. Concentraram-se inteiramente em sentir a sensação de andar de mãos dadas, e de como ela era prazerosa.

— Como foi sua noite de sono?

— Dormi feito uma pedra, o que não é uma novidade.

— Você ronca quando dorme pesado?

— Ahn, não sei. Acredito que não.

— Naquela noite na sua casa, você roncou bastante, mas era um ronco adorável.

— É mentira sua. — Rose rolou os olhos, causando uma risada escandalosa em Scorpius.

— Você acha que eu não lembro de cada detalhe? Você mesma acabou de dizer que a minha memória é consideravelmente boa!

Rose parou a caminhada para lhe dar mais um beijo. Não sabia em qual momento havia se apaixonado por Scorpius Malfoy, mas tinha certeza que era a melhor coisa que havia acontecido em sua não longa vida até aquele momento. Com Scorpius não sentia-se fraca, inútil e nem estúpida. Sentia tudo que não havia aprendido a sentir por si mesma, mas que estava começando a internalizar. A vida não precisava ser tão dura quanto o seu código moral pregava, poderia ser mais leve; e seu amor próprio tinha que existir, porque seria o único capaz de viabilizar o amor pelo próximo. E Rose Weasley queria amar Scorpius, assim como queria amar-se.

Porém, a razão é capaz de vendar os olhos para os assuntos do coração; e a tragédia começa quando o destino se incumbe de mostrar que a razão erra e que pode nos levar ao nosso próprio precipício.

Ao chegarem na torre, Scorpius tirou da capa um pequeno frasco em forma de gota. Ele era branco e parecia ser denso.

— Você vai tomar e colocar um fio de cabelo no que restar no frasco. O Alvo disse que o gosto é horrível, e que você não precisa tomar tudo, a metade é o suficiente. — explicou tentando analisar a expressão de Rose. — Amarelo é positivo, laranja é negativo.

Rose tentou inspirar todo o oxigênio de Hogwarts antes de pegar o frasco e destampa-lo. Foi inevitável não ficar encarando-o por alguns instantes. Antes de dormir, na noite anterior, e durante as aulas do período o qual acabara de sair, Rose havia considerado a hipótese de sentir-se grávida. Ela sabia que havia algo diferente nela, e que sem dúvidas tinha rastros de Scorpius Malfoy em todo o lugar. Tudo o que havia acontecido entre os dois, tudo o que estava acontecendo consigo mesma havia surgido de uma forma encantadora. Ela sabia que estava apaixonada por Scorpius, sabia que estava começando a gostar um pouco de si mesma, e considerou que talvez fosse porque havia algo dentro dela fazendo essas mudanças. Às vezes colocava a mão em sua barriga, apenas para ver se sentia algum calor estranho ou via um sinal de que realmente carregava uma vida. Não sentia nada além de uma pele gelada de medo.

Ela nunca foi e nunca seria uma má pessoa. É claro que amaria aquele bebê, já era parte dela — se ele estivesse realmente ali. Só que queria ter algumas certezas antes de dar um passo dessa proporção. Queria ser estruturada em seus próprios alicerces, queria desenvolver seu relacionamento com Scorpius, queria estabelecer-se profissionalmente. Ver que de repente tudo estava acontecendo dentro de um emaranhado de sentimentos era angustiante e amedrontador para uma adolescente. Um lado seu torcia para que não houvesse bebê nenhum a fim de que conseguisse seguir com sua própria vida; o outro desejava que o melhor acontecesse para ela e Scorpius.

Aproximou o frasco do nariz e sentiu um revirar no estômago com o cheiro, mas não enrolou em virar meio frasco garganta abaixo e estendê-lo para Scorpius enquanto fechava os olhos em uma careta de desgosto.

— Independentemente do resultado, saiba que eu vou estar com você.

Foi a melhor coisa que Scorpius conseguiu pensar em dizer. Não queria, sob hipótese alguma, que Rose pensasse que ele a abandonaria. Pensar na possibilidade de ficar distante de Rose outra vez, era a mesma coisa de pensar em um inverno sem fim no meio do nada.

Rose não lhe respondeu. Levou sua mão ao cabelo, selecionou um fio e o puxou. Olhou bem para aquele frasco esbranquiçado antes de colocar o fio ruivo sobre a sua entrada. Scorpius o segurava com força, e Rose percebeu que ao soltar o fio, também havia deixado ir a sua couraça de ligeira coragem de enfrentar o mundo. Sentia-se ingênua, e indefesa.

Scorpius balançou o frasco por alguns instantes, bem em frente aos seus olhos cinzas, e estendeu sua mão para pegar na de Rose, que estava mais fria do que o normal. Sentiu unhas cravarem em sua pele quando a cor branca foi dando lugar a um leve amarelado, que se intensificava gradativamente.

— O que faremos? — Scorpius puxou a garota para si ao ouvir sua voz em um sussurro, envolvendo-a em um abraço que considerava ser protetor. Não ouviu o choro de Rose, apenas sentiu algumas partículas de água ao acariciar seu rosto.

— O que você quer fazer? — a pergunta ficou perdida na vastidão da paisagem que encaravam lá do alto. Após alguns instantes, Rose ergueu o rosto para tentar entender o que Scorpius lhe dizia.

— Do que está falando?

— Ontem eu estava na sala de Poções com Alvo e ele disse que estava aliviado por eu não ter pedido uma poção para abortar. E, sendo sincero, Rose, eu não tomaria essa atitude, até mesmo porque nesse contexto, você quem tem que decidir se quer ter um filho ou se não quer. Eu não vejo grandes problemas em ter um filho, digo… — Scorpius colocou uma mecha atrás da orelha da garota. — Eu sei que não é o momento ideal. Agora que estamos entendendo os nossos sentimentos, as nossas identidades, você tem seus sonhos, eu tenho os meus… Por mim, teremos esse bebê e daremos um jeito de continuarmos as nossas vidas. Só que se você disser que-

— Eu não quero abortar, Scorpius. — respondeu encostando-se de novo ao peito dele. — Eu concordo com você, que não é o momento, mas… Eu não me vejo fazendo isso, não é algo que eu queira. Prefiro lidar com o que eu fiz.

— Com o que nós fizemos. — corrigiu beijando sua testa. — Eu vou estar com você, em todas as circunstâncias. Inclusive em contar para os seus pais, nas horas de trocar fralda e dar mamadeira.

— Por que devo acreditar em você?

— Porque é uma promessa, e eu aprendi a cumprí-las. — Rose apertou mais seus braços em volta do corpo do rapaz, queria continuar aconchegada ali pelo resto do dia. — É claro que para cumprir eu tenho que continuar vivo, o que eu não garanto tanto depois de contar para a sua família.

— Não vamos falar disso, pelo menos não por agora. — ele assentiu, guardando o frasco que segurava no bolso de sua calça.

[...]

O dia seguiu em uma atmosfera melancólica, com o céu nublando cada vez mais. Rose não comentou sobre o resultado da poção com ninguém, apenas disse para Roxanne e Dominique que tinha algo para contar depois que o período da tarde acabasse. Scorpius fez o mesmo com Adam e Alvo.

Era por volta das quinze para cinco da tarde, perto do fim do último tempo. A sonserina estava na aula de Transfiguração, e a grifinória na de Herbologia. Rose, Dominique e Roxanne estavam atrás de uma bancada com algumas plantas. Rose escrevia em um pergaminho o seu esquema de pensamento mediante a explicação do professor Longbottom, enquanto que as primas praticamente estavam em outro mundo. O único barulho além da voz do professor era o dos ponteiros do pequeno relógio em cima da porta de entrada.

A estufa, devido ao clima, estava com uma iluminação levemente incômoda, e o cheiro daquelas plantas Alagasianas estavam deixando Rose atordoada. Ao desviar o olhar de seu pergaminho pela primeira vez notou sua visão embaçada, piscou algumas vezes antes de se apoiar na bancada com a mão. Deveria ser o cansaço, seu dia havia sido bem cheio, tanto de matéria quanto de emoções. Respirou fundo antes de focar sua visão no relógio, que já se aproximava do horário do fim da aula. Aproximadamente dois minutos.

— Rose, você está bem? — ouviu Roxanne perguntar. Ela assentiu, respirando mais fundo do que da vez anterior. Abaixou a cabeça e fechou os olhos com força na tentativa de parar com o desfocar de sua vista. — Rose?

Seu estômago parecia corroer-se em ácido, e um leve borbulho fez sua garganta coçar. Ao tossir, sua visão focou novamente e conseguiu enxergar a bancada. A tosse era profunda, sentia sua garganta sendo rasgada. Seu pergaminho caiu da mesa junto com sua pena, e Rose teve que se apoiar com as duas mãos para deixar a incessável tosse parar. Não tinha forças para sequer ir tossir do lado de fora da estufa.

— Senhorita Weasley?

Em meio a uma respiração pesada e olhos cheios de lágrima devido ao esforço dos pulmões, Rose ergueu a cabeça para encarar o professor. Seu rosto estava grudento de suor e sua boca entreaberta esperando o momento incerto da próxima tosse, que sentia estar por vir. Viu o professor deixar o livro na mesa para andar em sua direção, e colocou a mão fechada em frente a boca para tentar conter a tosse que fez todo seu esôfago arder. Ao abrir os olhos, sentiu seu corpo congelar ao ver sua mão coberta de sangue.

Não muitos segundos depois, outro rompante de tosse fez o sangue Weasley voar sobre a bancada e uma instantânea fraqueza lhe atingir as pernas.

— Professor, temos que levá-la a Ala Hospitalar.

— Todos dispensados! — a voz do professor coincidiu com o barulho do último sinal do dia, que fez com que todos começassem a se movimentar para fora da estufa forçosamente. Rose continuava a tossir e a ver cada vez mais seu sangue. Apoiou-se em Roxanne ao ver o professor se aproximar para pegá-la no colo. — Fique calma.

Os nervos de Rose estremeceram após a sensação de uma agulhada no ventre, e a tosse se misturou com um choro agoniado. Neville Longbottom saiu correndo com a garota em seus braços da Estufa de Herbologia em direção à enfermaria, sendo seguido por Roxanne e Dominique. Rose sentia suas mãos escorregadias de suor e sangue, sentia sua garganta arder com a força que tinha que fazer para tossir, sentia sua cabeça latejando e algo em sua barriga dando-lhe a sensação de constantes agulhadas.

Quando chegaram à Ala Hospitalar, Neville a deitou em uma das macas. Rose, automaticamente, encolheu-se em posição fetal e chorou ainda mais ao ver as mãos do professor cheias de sangue.

— O que houve?

— Tosse, sangue.

— Ela está tendo uma hemorragia, Madame Pomfrey. — Rose ouvia a voz de seu professor misturada com a da enfermeira. Sentiu o cheiro de Dominique ao seu lado, mas não era o suficiente para acalmar-se. Sentia seu corpo latejar, seus olhos arderem e um desespero descomunal tomar conta de todo o seu interior.

— Isso não seria alergia das Alagasianas, professor?

— Elas não são venenosas, Dominique — interviu Roxanne —, pode ser intoxicação. 

— Que tipo de intoxicação dá hemorragia?

— Eu não sei.

— Ela tomou alguma coisa suspeita?

— Não, Madame Pomfrey, Rose mal anda comendo.

— Senhorita Weasley. — a enfermeira idosa se aproximou da maca, tirando a capa e afrouxando a gravata de Rose, agitada. — Eu vou te dar uma poção anestésica, a senhorita dormirá por algumas horas até que consigamos estabilizar sua situação. Não se assuste caso acorde no St. Mungus.

— Scorpius. — Rose tentou falar, apertando a mão de Dominique, mas tinha certeza que nada havia saído de sua boca. A última coisa que enxergou foi a imagem da Madame Pomfrey forçando-a a engolir uma poção.

[...]

— Pensei que esse dia não ia acabar nunca. — resmungou Adam bocejando ao sair da sala de aula. Scorpius assentiu em concordância. — Estou precisando urgentemente de um banho relaxante, de férias, de paz e sossego.

— Todos nós estamos. — disse Alvo coçando a nuca. — Acho que vou atrás da Alice. Nos encontramos mais tarde no dormitório?

— Claro, Alvinho. Vê se não faz merda. — o sorriso cínico de Adam Zabini fez o Potter revirar os olhos antes de sair em direção ao seu usual lugar de encontro com a namorada, algum corredor vazio do terceiro andar. — Inacreditável como a Alice ainda atura ele.

— Não é porque você não acha ninguém para te aguentar que as outras pessoas não tenham direito.

— Scorpius Malfoy defensor dos oprimidos, novo lifestyle?

— Talvez.

— O que você tem para nos contar?

— Não adianta, Adam. — Scorpius riu, ajeitando sua bolsa de couro no ombro. — Só vou falar quando vocês dois estiverem juntos e prestando atenção.

— Detesto a sua política da boa vizinhança.

— E eu detesto a sua curiosidade. — deu ombros. — Como vão as coisas com a Lily?

— Ah, a mesma coisa de sempre. Ela fingindo que não sou o amor da vida dela e tudo mais.

— Você sabe que ela tem sérios motivos para não admitir isso. Um dos primeiros é que ela dizendo que gosta consideravelmente de você, está colocando em jogo a veracidade da sanidade mental dela. — Scorpius riu ao levar um tapa no braço.

— Olha quem fala. — zombou. — Você sabe que de sanidade mental você não tem é nada, certo?

— Vá a merda, Adam.

Os dois amigos riram empurrando um ao outro com o ombro. Ao virarem o corredor em busca do trajeto até o salão comunal da sonserina, uma garota loira apareceu como se tivesse visto o sinistro. Dominique Weasley estava pálida, e ao ver os dois praticamente correu até eles.

— Scorpius, você precisa vir comigo. É urgente. — disse afobada, tocando o braço do rapaz. Ele fez uma cara de desentendido e trocou um olhar com o amigo.

— O que houve? — impediu-se de dar mais um passo, causando um bufar de Dominique.

— É sobre a Rose. Ela está na Ala Hospitalar com hemorragia.

— Hemorragia?

— Por Merlin, Malfoy, precisamos correr. A Madame Pomfrey sedou ela, mas não sabe sobre… Precisamos contar, você precisa contar, você precisa estar lá. — foi o suficiente para Scorpius sentir seus batimentos cardíacos aumentarem instantaneamente. Engoliu a seco, olhou para Adam e não soube o que dizer, apenas saiu quase que correndo com a garota.

— EI! O que está acontecendo?

— VÁ ATRÁS DO ALVO PARA IREM PARA A ALA HOSPITALAR! — o Malfoy gritou do fim do corredor, deixando apenas um grande ponto de interrogação na feição de Adam.

O percurso até a Ala Hospitalar foi terrível, principalmente porque sua cabeça funcionava a mil enquanto sentia seu coração pular para fora do peito. De fato ele não entendia a partir de qual momento Rose Weasley havia se tornado tão importante para ele, mas sabia que seria incapaz de deixá-la desde o dia em que fora embora da Toca e percebeu que não conseguiria esquecê-la em alguma curva da vida. Ela fazia parte não só apenas de sua história, mas da totalidade daquilo que pensava ser sua esfera emocional. Para potencializar a situação, sua extensão estava com aquela garota, um bebê que ele deveria amar como havia sido amado pelos seus pais. Amar para Scorpius Malfoy era cuidar, proteger e escolher. Fazer escolhas em prol daqueles que realmente amava.

Quando chegaram em frente às grandes portas fechadas da Ala Hospitalar, Scorpius sentiu um arrepio da cabeça aos pés, sentiu medo do que veria ao abri-las. Dominique fez isso por ele, revelando um lugar cheio de camas vazias, brancas e sem vida. Apenas três pessoas estavam ali.

Na segunda maca perto da porta os lençóis estavam encharcados de sangue, com uma garota que mais parecia estar desmaiada do que sedada. Seu rosto estava com sangue, sua boca e suas mãos. Ao seu lado, Roxanne estava em pé observando o que Madame Pomfrey fazia.

— Madame Pomfrey, precisamos contar uma coisa. — disse Roxanne olhando Scorpius de canto. Ele se aproximou lentamente da maca. — Rose está  grávida.

— Grávida? — a senhora rapidamente ergueu os olhos para fitar a dona da voz. Seus olhos exprimiam espanto, e um pouco de dor. Não levou dois segundos para ela perceber a presença do rapaz. — O senhor é o pai, senhor Malfoy?

— Sim, senhora. — sua respiração fraquejou ao dizer. Apesar de ter dado o suporte moral que pensou ser necessário para Rose, não havia tido tempo de processar o que toda aquela situação significava. Não havia usado a palavra pai, não havia falado em alto e bom som que logo em breve seria realmente pai. — Por que ela está assim? — o silêncio preencheu o lugar. Madame Pomfrey não havia considerado a hipótese em suas teorias.

— Conversei com o professor Neville sobre as plantas da estufa, mas nenhuma delas era tóxica ou com potencial alérgico. Consideramos ser intoxicação alimentar, mas a senhorita Roxanne e eu não achamos uma possível causa. O senhor sabe se ela tomou algo diferente nas últimas vinte e quatro horas?

— Apenas uma poção para confirmar a gravidez.

— O senhor sabe me dizer quais ingredientes foram usados?

— Casca de Wiggentree, muco de verme gosmento, ditamno, pétalas de narciso, vagem soporífera. — a enfermeira pareceu analisar cuidadosamente o que lhe fora dito enquanto agitava a varinha para limpar os lugares sujos de sangue.

— Não. — negou com a cabeça. — Não foi a poção, mas a tosse parecia ser de algo tóxico. No ar, na água, na comida... Quanto a hemorragia, levando em consideração que ela está grávida… Um aborto espontâneo. De quanto tempo ela está grávida?

— Poucas semanas. — Scorpius quase gaguejou sob o olhar da senhora. Era, no mínimo, constrangedor. — Cinco, seis.

— Por que vocês não aguardam lá fora enquanto eu faço alguns exames? Talvez teremos que levá-la ao St. Mungus.

— St. Mungus? — replicou Scorpius, sentindo uma corrente gelada na espinha. Ele sabia bem quem era o médico do hospital, e a senhora enfermeira suspirou melancolicamente com sua pergunta.

— Talvez, senhor Malfoy.

— A senhora poderia nos avisar sobre o bebê assim que possível? — pediu Roxanne olhando a prima ternamente, a enfermeira assentiu. — E, Madame Pomfrey, se não for pedir muito…

— Contarei apenas se for preciso.

Madame Pomfrey estendeu o braço em direção à porta enquanto passava a mão por cima de toda a extensão do corpo de Rose, trocando-lhe as roupas. Os três saíram em passos lentos, e fecharam as grandes portas quando do lado de fora.

Distanciaram-se do lugar, e pararam bem à beira da virada do corredor. Os três atônitos, sem reação alguma.

— O que vamos fazer se ela for para o St. Mungus? — perguntou Dominique colocando o rosto entre as mãos. Scorpius deu ombros, olhando para o teto.

— Vou ter que mandar uma coruja para o meu pai, mas quanto aos pais da Rose… Eu não sei. Não sei nem como explicar para o irmão dela.

— Podemos dizer que ela teve uma intoxicação alimentar e que espetou o dedo em um espinho de Acônito sem querer. — Scorpius assentiu com a ideia de Roxanne. — E se for mesmo um aborto?

— Roxanne. — repreendeu Dominique, com o cenho franzido. — Vamos esperar antes de fazer suposições.

— Esperar o quê? Pra mim isso tem cara de envenenamento.

— Envenenamento? Quem envenenaria ela?

— Ela mesma? — supôs Roxanne com um tom de voz agudo e irritante. — Em momento algum ouvi ela dizendo algo sobre essa gravidez. Pode ter passado pela cabeça dela e-

— No horário do almoço eu perguntei se ela queria abortar. — comentou Scorpius, chamando a atenção das garotas. — E ela disse que não.

— Você queria que ela fizesse isso?

— Eu queria que ela fizesse o que é melhor para ela, Roxanne, e não acho que ela tenha se envenenado. Pode ter sido uma reação adversa a algum ingrediente da poção, não sei.

Nada mais disseram.

Cada um olhava para um ângulo, cada um preenchia o pensamento com uma teoria, cada um sentia sua própria angústia. Decisões a serem tomadas, comunicados, sentimentos, impulsos, destino.

Era confuso demais para um corpo adolescente lidar. Scorpius estava em um quase estado de choque; as coisas haviam acontecido rápido demais. Se tivesse que contar para o seu pai, como o faria? Como Rose se sentiria caso acordasse e descobrisse que não estava mais grávida? O que aconteceria se ele tivesse que se mostrar como substância tóxica para toda a família dela? E se…

— SCORPIUS! — a voz de Alvo acordou os três nos respectivos devaneios. — O que aconteceu?

— Não sabemos. — respondeu simplesmente, passando a mão pelo rosto. — Hemorragia, possível aborto, envenenamento. Não sei.

— Aborto? — Adam perguntou praticamente para si mesmo.

— Ela começou a tossir sangue, depois começou a sangrar e a Madame Pomfrey está considerando levá-la ao St. Mungus. — explicou Roxanne. — Ela não comeu nada diferente, não tomou nada diferente, as plantas na estufa não eram tóxicas.

— Pode ser reação à poção para testar a gravidez? — Alvo encarou Dominique por alguns instantes antes de responder.

— A poção tinha casca de Wiggentree, muco de verme gosmento, ditamno, pétalas de narciso, vagem soporífera, nada que dê reação alérgica, muito menos que seja tóxico.

— Então o que explica tudo isso, Al?

— Tem cara de envenamento, mas… — algo pareceu permear o pensamento lógico de Alvo. — Você guardou o frasco da poção com o fio de cabelo? — Scorpius assentiu, apalpando a capa em busca da gota de vidro. — Vamos na sala de poções ver, então. Eu deixei ela descansando lá durante à noite, pode ter acontecido algo ou…

— Ficaremos esperando notícias da Madame Pomfrey. — disse Roxanne, tendo um assentir de cabeça como resposta do primo.

Scorpius se desencostou da parede e ficou entre os dois amigos no trajeto até a sala de Poções, nas masmorras. Eles ficaram em silêncio até estarem isolados pelas portas pesadas da sala, porque sabiam que as paredes tinham ouvidos e que os fantasmas eram fofoqueiros.

Alvo imediatamente pegou um caldeirão e despejou o líquido lá dentro. Sem fogo, sem gelo, sem nada, apenas uma varinha apontada e olhos brilhantes por trás das lentes semi límpidas. Adam estava de braços cruzados, observando cuidadosamente as ações do Potter.

— Rose está grávida, então? Era isso que tinha para me contar? — perguntou o Zabini quase que em um sussurro carregado de julgamentos. Scorpius assentiu. — Por Merlin.

— Eu não entendi nada do que aconteceu. — suspirou cansado. — Quando cheguei na enfermaria ela estava na maca com sangue nas mãos, no rosto, nas vestes. E se ela for para o St. Mungus, talvez eu devesse mandar uma carta para o meu pai literalmente agora.

— O que você diria?

— Que a Rose está grávida, que eu sou o pai e que ela está mal, talvez perdendo o bebê e que ninguém sabe a causa. — Scorpius sentiu a ponta do nariz arder. — Por que não fizemos a poção da romã, Alvo?

— Se ela foi alterada, poderia ser até de pó de nuvem, Scorpius. Só que eu lembro muito bem de ter trancado a sala e de ter checado se tinha alguém por perto. Sem contar que ficou dentro do armário, na minha prateleira. Eu sempre deixo poções ali, e nunca são alteradas.

— Como você vai descobrir se foi? — perguntou Adam esticando o corpo sobre a bancada.

— Voltando à forma original dos ingredientes para misturá-los de novo. — o Potter apontou para dentro do caldeirão, onde o pouco volume do líquido se dissipava em partes, tomando formas distintas. — Cinco ingredientes. — ele enfiou a mão no caldeirão para pegar as pétalas de narciso e colocando-as em cima da bancada. — Não parece ter sido adulterada.

— Talvez tenha sido mesmo aquelas plantas fedorentas do professor Longbottom. — resmungou Adam sentando-se em um banquinho.

Scorpius ficou, literalmente, do lado de Alvo, acompanhando passo a passo da poção novamente. Ele havia prestado atenção no modo como Alvo fez na noite anterior, e sabia que estava seguindo tudo normalmente. A única coisa possível de ser ouvida na sala era a respiração nervosa do Malfoy e o constante pigarrear de Zabini para limpar a garganta.

Passado todas as etapas, Alvo chegou na última: adicionar as pétalas brancas de narciso. O Potter respirou bem fundo, em busca de sentir algum cheiro diferente, e olhou novamente o líquido. Não vendo nada de errado, soltou uma pétala lá dentro. Conforme se imergia, a pétala começou a adquirir uma cor de musgo. Seu coração apertou.

— Foi alterada. — ele tocou a próxima pétala em cima da bancada. Havia despertado, enfim, a atenção dos dois rapazes. — Mas eu não... — ele tocou a pétala com o dedo indicador e o polegar, em busca de uma textura diferente. Alvo aproximou a pétala da boca e a soprou, foi quando percebeu partículas de pó grudando nas lentes de seu óculos. — Asfódelo e provavelmente presas de cobra em pó.

— Hã? — Adam franziu o cenho, desentendido.

— São da poção do morto vivo. — analisou Scorpius, também tocando a pétala.

— Alguém adulterou, e deve ter enfeitiçado para mexer em sentido anti-horário durante a noite. Não sei se dá para matar uma pessoa, ou melhor, duas com isso, mas… Foi uma mistura engenhosa. — Alvo tomou a pétala da mão de Scorpius e jogou-a dentro. Com o cenho franzido, Alvo ficou observando a mistura. — Scorpius, vá contar para a Madame Pomfrey, vou colocar dentro de um frasco.

Scorpius assentiu e prontamente deu meia volta. A situação estava começando a lhe embrulhar o estômago, principalmente por conta do cheiro incessante de canela que fazia seu nariz coçar e, de certa forma, lhe ajudava a esquentar o corpo.

Tentou andar o mais rápido que pôde até onde as garotas estavam, mas não queria mostrar tanto desespero para os outros estudantes que encontrou nos corredores, tampouco para os fantasmas. A única conclusão que formulou durante o percurso foi que deveria mandar uma carta ao seu pai, de qualquer jeito, porque se a vida de Rose estivesse em risco, Draco Malfoy seria a pessoa mais apta a cuidar dela, evitando possíveis escândalos e situações mais comprometedoras.

Ao chegar no corredor da Ala Hospitalar, viu a porta semi-aberta. Cautelosamente entrou, fechou-a e aproximou-se de onde a enfermeira conversava com Dominique e Roxanne.

— Alguma notícia da poção? — perguntou Roxanne com uma voz arrastada.

— Foi adulterada. O Alvo encontrou asfódelo e presas de cobra em pó ao reverter o que sobrou no frasco. — disse em voz baixa, encarando a garota deitada na maca. Ainda estava adormecida, mas parecia estar menos pior.

— Eu estava dizendo para elas, senhor Malfoy, que o bebê ainda está vivo. E agora, com suas informações… As presas de cobra podem gerar hemorragia, e a hemorragia pode ser um princípio de aborto. O asfódelo pode gerar obstrução das vias respiratórias, o que explica a tosse sangrenta. — Madame Pomfrey o encarou com olhos compreensíveis. — O certo seria que um medibruxo a examinasse, assim como o feto.

— Vou mandar uma carta para o meu pai e pedir para que venha à Hogwarts vê-la. — Scorpius engoliu a seco, estendendo o braço para tocar os dedos quentes de Rose. — Mas, talvez, seria melhor dizermos que ela apenas espetou o dedo em um espinho de Acônito.

— E para os pais?

— Também, Madame Pomfrey. — determinou incerto. Depois de uma breve resistência, a enfermeira assentiu. — A senhora acha que ela vai acordar até a hora do jantar?

— Provavelmente.

Scorpius tentou respirar fundo e manter a calma, recebeu até as mãos de Roxanne em seu ombro como uma tentativa de apoio moral.

Não muito tempo depois, Scorpius foi escrever a carta para o seu pai e Dominique foi procurar Hugo para contar, por volta da hora do jantar, o que havia acontecido com Rose. Alvo e Adam continuaram na sala de Poções, e a atmosfera melancólica persistiu em toda a Hogwarts até que o sol desaparecesse por completo. Não sabiam quem tinha adulterado a poção, tampouco como imaginava que Rose estava grávida; não conseguiam processar o que havia acontecido em menos de uma hora, nem tinham perspectivas do futuro.

Já diria algum sábio que a visão do futuro nunca pertenceria aos meros mortais, porque a humanidade não seria capaz de viver com a ansiedade de saber que, talvez, morreriam na próxima hora. As únicas coisas que sempre estariam nas mãos dos homens seriam: pequenos lapsos de visões através de xícaras de chá, bolas de cristal, cartas, nunca concreto, nunca totalmente certo; e o amor, a arma mais poderosa do mundo.

Que pena seria se ele não fosse usado corretamente.

“Papai,

Preciso que venha a Hogwarts imediatamente. Rose Weasley está na enfermaria, sedada, e ninguém sabe exatamente o porquê. Se foi infecção, intoxicação, envenenamento… A única coisa que sei é que ela está grávida, que eu sou o pai e que ela quase perdeu o bebê. Ela estava de cinco semanas, ou seis. A única coisa diferente que tomou foi uma poção, hoje, na hora do almoço para confirmar a gravidez. Segue os ingredientes:

— Casca de Wiggentree;

— Muco de verme gosmento;

— Ditamno;

— Pétalas de narciso;

— Vagem soporífera;

Alvo reverteu a poção e achou asfódelo e pó de presas de cobra. Madame Pomfrey disse que, então, essas seriam as causas da tosse e da hemorragia, e que um medibruxo deveria examiná-la para confirmar seu estado, e o do bebê. Ela está sedada, e a Madame Pomfrey disse que ela vai acordar por volta da hora do jantar.

Por favor, pai, venha.

Seu filho,

S.M.”

Scorpius colocou a carta no bico de sua coruja e torceu para que seu pai a lesse o mais rápido possível. Deitou em sua cama, colocou o travesseiro sobre o rosto e tentou organizar seus pensamentos. A única coisa que sentia era o seu corpo inteiro pulsando de medo, tanto por si mesmo quanto por Rose. Por isso, não conseguiu sequer sair da cama para ir ver como ela estava na Ala Hospitalar. Fora a sua vez de ter os olhos ardendo em um desespero interior.

Ela, no entanto, continuava em um sono profundo. A enfermaria estava vazia, apenas Madame Pomfrey e ela ocupavam espaço ali. Depois de estarem sozinhas, a enfermeira conseguiu estabilizar a sua situação e estava decidida que só esperaria até as nove da noite para mandá-la ao St. Mungus. Rose, de fato, conseguiria aguentar até a essa hora.

Com o céu já escuro, e sem estrela alguma, Madame Pomfrey tratou de fechar as janelas e concentrar-se na leitura de um livro de Poções, olhando para a garota a todo instante. Roxanne não demorou em sua estada, pelo menos até perceber que poderia deixar Rose por algum tempo.

Ela foi diretamente até o dormitório, em busca de seu baralho. Sentou-se em sua cama com as pernas cruzadas e começou a embaralhar as cartas. Enquanto isso, na enfermaria, a porta se abriu bem devagar. Um rapaz sentou-se ao lado de Rose na cama e passou a mão por toda a extensão de seu braço.

Quase que como um milagre, os olhos de Rose abriram-se. Sua visão estava embaçada, e não conseguiu mantê-los abertos por muito tempo.

Roxanne colocou as cartas em cima do seu cobertor da grifinória, três cartas. Dois, sete, valete. As três de espada. Conflito, mau agouro, rapaz possivelmente perturbado. A garota tentou embaralhar mais duas vezes, mas os significados continuaram, o que lhe rendeu um mau pressentimento sobre a situação da prima.

Guardou o baralho debaixo de sua cama e dirigiu-se à Ala Hospitalar, não queria deixar Rose à mercê de um destino cruel.

— Não se preocupe, Rosie, você vai ficar bem. — uma voz baixa sussurrou para o corpo imóvel da Weasley, a ponto que nem a própria enfermeira foi capaz de escutar.

Ao ouvir isso, seus olhos fecharam novamente.

 


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Notas finais do capítulo

Primeiramente gostaria de dizer que vocês tem que SEMPRE levar em conta que nessa história os personagens são expostos à luz da verdade, ou seja, eles apresentam várias faces/comportamentos/sentimentos mediante a um único fato. De um lado é y e do outro é x. Nós, seres humanos, somos assim: conflitantes. O lance é que às vezes nos damos conta disso, às vezes não. Aqui, eles são como nós... Eles vivem, apenas, quem vê o que está passando na mente deles somos nós. E, sinto em dizer, nós temos vários ângulos, vários lados. Somos variáveis.

Agora, falando sério, até eu achei muito suspeito esse Rosie. Até onde eu sei, apenas o Scorpius chama ela assim... Que estranho, eu heim!

KKKKKKKKKKKKKK Espero que tenham gostado desse capítulo. Ele está com o desfecho da história inteira, um mistério que acabou de sair do forno para vocês. Como eu disse, quem pegar pegou quem não pegar só pega no último cap. Me contem o que acharam, quais são as teorias de vocês, estarei esperando ansiosamente :D

Por causa da minha vida enrolada, o próximo cap vai demorar um pouco mais para sair, mas antes de 45 dias eu prometo que vai ter atualização ♥

Um beijão no core de vocês ♥
Ps. Podem até ver que eu adicionei "mistério" no gênero da fanfic :P