Legami Di Amore escrita por Tahii


Capítulo 22
Occhi di Horus


Notas iniciais do capítulo

OLÁ, AMORAS DO MEU CORE ♥ Tudo certo com vocês?
Eu estou bem, fazendo bastante arte e procrastinando bastante — quem me acompanha já deve ter visto no meu perfil — enquanto devia escrever essa linda história. Porém, cá estou; estive lotada de trabalhos da faculdade e trabalhos do meu trabalho (qq), então ficou ruim de entrar no clima para escrever (clima que eu denomino BAD). Vamos focar no importante, que é o que importa, que é que a att saiu graças a Morgana :P

Diferentemente dos outros caps, esse está mais curtinho, mas está uma graxinha. A explicação do nome do cap vai estar junto com a tradução, deem uma olhadinha antes de lerem o cap.

Eu gostaria de agradecer a todos que comentaram, favoritaram, que começaram a acompanhar a história e também àqueles que já acompanham faz tempoooooo. Vocês enchem meu core de alegria ♥ Obrigada pelo carinho!

Espero que gostem do cap, e que comecem a entrar no clima do mistério. Cadê as teorias da conspiração? KKKKKKKKKKKKKKKK

Boa leitura pra vocês ♥

► PLAYLIST
https://www.youtube.com/watch?v=tNx1y8AXZxw&list=PLm_bv0SbG68UdaGyxvje2S6Vyd79Z5tmc

*Occhi di Horus = Olhos de Horus

** Hórus era o deus egípcio do sol nascente e era representado como falcão, é filho de Osíris e Ísis. A lenda diz que, em uma luta, o deus Seth — da desordem e da violência — arrancou o olho esquerdo de Hórus, que acabou sendo substituído por um amuleto, que deu origem então ao que hoje é conhecido como o olho de Hórus: um símbolo de força, vigor e segurança; o olho que tudo vê.



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Scorpius não compareceu no jantar daquela noite. Depois que deitou em sua cama, não conseguiu mais levantar e acabou adormecendo de verdade. Acordou por volta das duas horas da manhã com uma sensação que corroía todos os seus músculos e fazia suas veias arderem. Estava atônito, seus olhos ardiam e suas extremidades estavam incomodamente geladas.

Nas camas ao seu lado, Adam e Alvo dormiam tranquilamente. Scorpius se levantou devagar da cama e torceu o nariz com o seu estômago roncando de fome; foi quando pensou que o mais sensato seria comer algumas das besteiras que Alvo vivia escondendo em sua cômoda. Pegou alguns saquinhos coloridos e foi para o salão comunal comer. Conforme andava, sentia o chão gelado das masmorras e todo o seu corpo tremer. Ele estava, no final das contas, assustado.

Em algum lugar de seu coração sentia-se amedrontado com a possibilidade de perder Rose, ou o bebê. Ele realmente não sabia como lidar com a situação. Como Rose reagiria caso acordasse sabendo que não estava mais grávida? Ela ficaria feliz? Triste? E como ele deveria se sentir? Há algumas semanas, caso perguntassem para ele se queria ser pai, com certeza diria que não, só que já havia uma criança em questão, e para potencializar era parte da garota que ele descobriu amar, e parte de si mesmo também. Como ficaria feliz caso ele não conseguisse sobreviver? Estava temeroso, e triste. Não sabia como contaria ao seu pai, como explicaria tamanha irresponsabilidade, não sabia como enfrentaria Ronald Weasley depois de tudo o que viveram no final do ano, não sabia o que seria de sua vida dali para frente.

E, na verdade, ele não queria saber. A única coisa que importava para Scorpius Malfoy era que Rose e seu filho ficassem bem, para que pudessem resolver posteriormente como seguiriam com suas vidas.

Scorpius olhava para um ponto fixo no chão enquanto levava chips de abóbora à boca e piscava para limpar sua visão embaçada. Não se lembrava de algum dia ter chorado daquele jeito, e algo pesou em seu coração ao pensar que Rose poderia sentir-se assim também.

— Scorpius. — uma voz sonolenta lhe chamou. — Eu não deixei você pegar meus chips. — o rapaz deu ombros, mal educado, e em alguns segundos teve o corpo do Potter fazendo o sofá onde estava balançar. — Como você está?

— Como você acha que eu estou?

— Faminto. — Alvo enfiou a mão no saco de chips e levou um punhado à boca. — E pensativo, embora eu desconfiasse dessa sua habilidade. — Scorpius não respondeu, apenas continuou comendo. — Seu pai respondeu a carta?

— Não até onde eu sei.

— Então por que não tenta voltar para a cama? Ele deve estar dormindo, Rose está dormindo, até eu estou dormindo praticamente.

— Se quiser, pode ir. Daqui a pouco eu vou.

— Eu espero você.

Os dois continuaram sentados no salão comunal por um longo tempo, até que Alvo conseguiu convencer Scorpius a voltar a dormir. Ele, de fato, não conseguiu mais pregar o olho e passou a sentir seu corpo inteiro formigar de ansiedade para o amanhecer.

Ele foi o primeiro a levantar, o primeiro a vestir-se e o primeiro a sair do dormitório em direção a Ala Hospitalar. A cada passo que dava, sentia-se mais atordoado. Não queria ver mais a imagem de Rose como no dia anterior, cheia de sangue e sem vida.

O barulho dos sapatos de Scorpius batendo no chão em um ritmo constante ecoava pelos corredores onde passava, e o permitia ficar em seu estado de transe. Ele se sentia um fraco, um estúpido fraco que sentia seu corpo doer de medo pelas coisas que ainda não haviam acontecido, e que talvez nunca aconteceriam. Era fácil, não só para ele, aguardar por um futuro idealizado e perfeito onde as coisas seguiriam seus rumos de uma forma a proporcionar a felicidade eterna, a paz, o amor, e sabe-se lá o que mais que os poetas ilusionistas enfiavam na cabeça das pessoas. Só que seguir um caminho anônimo, que espreitava suas ações metodicamente em busca de uma brecha para colocá-lo em uma armadilha do “destino”, era ansiogênico e amedrontador. Segundo sua consciência e pseudo-inteligência, Scorpius se considerava em um desses caminhos tortos, que poderiam possivelmente levar a algum tipo de precipício.

Ao chegar no corredor da Ala Hospitalar, notou as grandes portas abertas e seu coração voltou ao ritmo normal de uma maneira reconfortante. Diminuiu a velocidade do seu caminhar, e soltou todo o ar dos pulmões quando notou que sentado em um banquinho ao lado da cama onde Rose dormia calmamente, virado de costas para a Madame Pomfrey que cuidava de um aluno com uma perna laranja e mole, seu pai escrevia com uma pena em um pedaço de pergaminho.

Ele não precisou se pronunciar para ser notado.

— Bom dia, filho. — a voz de seu pai era firme e séria. Scorpius não soube bem o que dizer, então preferiu ficar quieto, o que não foi uma boa escolha, visto que Draco Malfoy ergueu seus olhos para checar o quão constrangido seu filho poderia estar, piorando o seu conflito interior.

— Dia. — respondeu baixinho, abaixando a cabeça para se aproximar de onde ele estava. Scorpius costumava ter o mesmo comportamento desde pequeno, a diferença era que seu grande feito era apenas uma extorsão bem elaborada de doces dos empregados da mansão, mesmo contra as expressas ordens opostas de Astoria.

Ele andou até o lado oposto da cama, cruzando os braços antes de preencher seu campo de visão com a imagem tranquila de Rose.

— Sempre odiei pétalas de narciso nas poções. — Draco suspirou melancolicamente depois de alguns instantes de silêncio. — O cheiro nunca me agradou, principalmente depois de uma vez que eu e sua mãe discutimos feio e quase nos separamos. Ela vivia colocando flores na nossa cabeceira.

— Foi ideia do Alvo. — murmurou acariciando o próprio braço. — Eu teria feito a poção da romã.

— Se fosse para ser realmente envenenada, poderia ser até suco de abóbora. — deu ombros enrolando o pergaminho. Draco passou os olhos pelo filho, e deixou a pena em cima da mesinha ao lado de Rose. — O asfódelo causou a tosse, e as presas de cobra tinham partículas de veneno. Não é a melhor forma de matar uma pessoa.

— O que o senhor quer dizer?

— Que a intenção não era matar a garota, apenas o bebê. Porém, ela vai sentir uma dor de garganta terrível nas próximas semanas, ardência e uma sensação como estivesse rasgando o esôfago. Vai ter que tomar uma poção duas vezes ao dia para ajudar. — estendeu alguns papéis para Scorpius, com a sua familiar letra garranchada das cartas que o fazia franzir o cenho para entender. — Eu injetei o antídoto nela, então não há o que se preocupar. Mas, vai ter que tomar uma outra poção três vezes ao dia para reestruturar o sistema imunológico. — Scorpius assentiu, levantando os olhos para o pai.

— Por que está me dizendo isso?

— Porque em algum momento você se tornou o responsável pela vida dessa garota. De acordo com os meus cálculos, desde após o Natal. — Scorpius dobrou os papéis e enfiou no bolso de sua capa em uma tentativa de desviar da sua obrigação de encarar o pai. — Quer me contar alguma coisa?

— Eu não tinha como adivinhar que isso iria acontecer. — disse na defensiva. — Eu sou e sempre fui prevenido, o senhor sabe disso.

— Há uma margem de erro para tudo nessa vida, e ela mora principalmente nos minutos que você atrasa para tomar sua poção. Precisão é tudo quando falamos de efeitos de poções, Scorpius. — respondeu sem muita expressão. — Mas eu me referia a você me contar sobre o seu relacionamento com a garota — fez um meneio com a cabeça. — Weasley.

Rose Weasley. — frisou o nome que amortecida o fraquejar do seu coração. — Do mesmo jeito que eu poderia me envolver com qualquer outra pessoa, eu me envolvi com ela. E…

— E resolveu fazer isso bem debaixo do nariz daquele idiota do Weasley? — riu de escárnio. — Você e a sua queda por adrenalinas sempre me impressionaram, Scorpius.

— Não foi proposital, papai, só aconteceu.

— Estou vendo. — assentiu olhando para o corpo que repousava. — O que vocês tem de verdade? Além de uma criança.

— Nós nos gostamos, estamos meio que juntos.

— Meio que juntos. — repetiu cerrando os olhos para o filho. Estava ligeiramente incrédulo com a ingenuidade de Scorpius. — Desde quando sabe que ela está grávida?

— Anteontem, eu acho. Não conversamos sobre nada, não planejamos nada, não… Não sabemos de nada. — Draco assentiu, lançando um olhar insatisfeito para o filho. Scorpius colocou as mãos nos bolsos antes de abrir a boca. — Está bravo?

— Por o quê, exatamente?

— Por eu estar com Rose.

— Claro que não, Scorpius. — revirou as orbes cinzas. — O fato do pai dela ser um idiota não quer dizer que ela seja desprezível. Você pode ficar com quem quiser, beijar quem quiser, eu realmente não me importo. Só quero que você seja feliz da melhor forma possível.

— E quanto ao

— Por sorte temos condições de criar essa criança. Você não é como todo mundo, como talvez ela mesmo seja, filho. — Scorpius não entendia a contradição entre o tom de voz sério de seu pai e seus olhos cheios de compaixão. Era uma mistura agridoce, irônica e incomoda. — Rose talvez vai pensar que vai ter que parar a vida por um tempo, abrir mão de algumas coisas, retardar o futuro brilhante. Isso porque o pai não é alguém que vai ter que ralar para sustentar ela e o bebê, imagina se fosse. A minha preocupação é que você desista dos seus sonhos, da sua felicidade, por algo que você fez inconsequentemente. Não quero que você se arrependa.

— Eu não tenho o que escolher, papai. — passou a mão pelos cabelos, encarando os olhos do pai na mesma intensidade que era encarado. — Vou ficar com ela em todos os momentos, vou ajudar ela de todas as formas possíveis e vou amar ela e o nosso filho.

— Scorpius, veja bem… Nós fazemos escolhas todos os dias, mas o essencial é que escolhamos algo capaz de dar sentido a nossa vida. O que deu sentido à minha foi ter me casado com a sua mãe, ter tido um filho, ter conseguido trabalhar com algo que me enche de uma paz que procurei desesperadamente. Se você, hoje, sente que o que quer é ficar com essa garota, tudo bem. Se você a ama, ótimo. Só não se esqueça que você é um dos responsáveis por isso, que você escolheu correr riscos, e que nem ela e nem essa criança irão ter culpa um dia. Então, sim, você teve o que escolher.

Draco Malfoy estava certo em cada vírgula que havia dito, embora elas tivessem colocado um peso sobre os ombros de Scorpius que ainda não havia sido sentido totalmente. Como sempre, ele não soube o que responder. Seu silêncio era o seu grito para o mundo, que dizia que a única solução que considerava ser cabível era lidar com tudo de uma forma intensa e sincera. Iria ficar com Rose, com o bebê e com a sua felicidade.

— Quando vai contar para o Weasley? — perguntou para quebrar o gelo. — Se a minha opinião serve de algo, eu acho que deve contar se o bebê continuar vivo ou não.

— Se ele continuar vivo?

— Como eu disse, essa poção não era para matar a Rose. Era para ter acontecido um aborto, sem dúvidas, o que significa que ainda pode ocorrer. — Scorpius sentiu um aperto com uma fala tão fria, e procurou algo que lhe pudesse aquecer na feição de Rose. — Vou seguir com a gravidez dela daqui por diante.

— Tudo bem.

— Talvez seria bom você escrever uma carta à sua mãe, vou garantir estar perto dela quando ela ler. E quanto ao Weasley, você deveria chamar ele e a esposa para conversarem com você e Rose.

— Farei isso. — assentiu prontamente, respirando aliviado. — Obrigado, papai.

— Não há o que agradecer, é o meu dever estar com você em todos os momentos, inclusive nos que você faz besteiras. Você provavelmente vai entender do que eu estou falando logo em breve, com o seu filho.

Scorpius permitiu que seu medo descansasse um pouco nos olhos de seu pai. Sentia-se menos sozinho, menos estúpido, menos desesperado. Os dois se encararam por longos minutos, como se buscassem a compreensão da situação de uma forma mais intensa. O que quebrou o clima foi a sobrancelha de Draco se arqueando enquanto precedia um sorriso nostálgico, e raro.

— Quando eu percebi que a sua mãe poderia estar grávida, a primeira coisa que quis fazer, antes que ela mesma descobrisse, foi pensar no nome do meu filho. Eu sabia, do mesmo jeito que o meu pai soube e que meu avô soube, que seria um menino. — ele ajeitou o jaleco, cruzando os braços de uma forma que trazia um reconforto à Scorpius. — O primeiro encontro meu e da sua mãe foi no mês de outubro, perto do dia das bruxas, e lembro bem de quando ela me mostrou a constelação de escorpião. Eu te chamei de Scorpius desde o dia em que ela me contou.

— Não tenho a sua convicção. — Scorpius encostou suas pernas na cama em sua frente. Estendeu os dedos para tocar o lençol branco e contornar o braço de Rose. — Talvez seja melhor eu pensar nisso, antes que ela venha com um nome estranho… Joshua, Robert, Elizabeth.

— Isso seria tenebroso. — Draco levantou-se do banquinho e fitou a jovem por alguns instantes antes de recompor sua expressão séria. — Vou conversar com a diretora Mcgonagall para explicar a situação, então talvez ela irá querer falar com vocês dois em breve. O meu conselho, Scorpius, é que vocês não deixem escapar nada aqui dentro. Já tem alguém muito interessado nessa criança. Entendeu?

— Sim, papai.

[...]

— Deixe-me ver se entendi direito. — disse Adam andando de um lado para o outro na frente de Alvo e Scorpius, que estavam à beira do lago negro. — A Rose está grávida de você, ela tomou uma poção que estava adulterada para causar um aborto e os dois sobreviveram? — franziu o cenho enquanto acariciava o queixo. — Isso está muito estranho, cara.

— Por que alguém faria isso com a Rose? Ela não é uma pessoa cheia de inimizades ou coisa parecida. E antes que cogitemos a hipótese do Wood, devemos lembrar que ele é um trasgo em poções.

— Ele pode ter pago para alguém fazer para ele. — sugeriu o garoto moreno, enfiando as mãos nos bolsos.

— Hum, não. — Alvo negou cruzando os braços. — Ele não é tão inteligente assim. O máximo que faria para afetar Rose seria aparecer com uma garota, sei lá. Além do mais, ele pode ser um bobão, mas não é do mal. Precisa ser mais ardiloso para conseguir. — deu ombros. — Com quanto tempo Rose estará na formatura?

— Acho que quase cinco meses. — suspirou Scorpius passando a mão pelo rosto gelado. — Temos pouco tempo para contar para os pais dela, decidir o que vai acontecer depois da formatura, depois que esse bebê nascer.

— Como foi com o seu pai?

— Eu pensei que seria pior, mas ele só ficou me olhando bem sério. Acho que ele sabe que será pior com o seu tio, Al, por isso não pegou tão pesado. E disse que vai acompanhar a gravidez.

— Tio Ron não vai matar você, Scorpius, talvez só irá quebrar algum osso. — o Potter sorriu com a ideia, fazendo o amigo revirar os olhos. — Claro, tudo isso depois de um surto e da tia Hermione tentar controlar ele. Nada de excepcional.

— Quem sabe ele não endireita esse seu nariz na tentativa de quebrá-lo, hum? — Adam e Alvo gargalharam com isso, e Scorpius permitiu-se soltar todo o ar dos pulmões, relaxando.

Enquanto olhava para as águas do lago negro sentia que seus ombros ficavam menos tensos. Não sabia exatamente o que aconteceria a partir daquele momento, mas algo palpitava em seu coração intensamente e um frio na barriga o fazia querer sentar-se no chão e não levantar até que tudo passasse.

A sua razão estava tomada por uma nuvem escura e por um vendaval que o confundia por completo, talvez cegando-o para o que aparecia bem na frente de seus olhos. Só que Scorpius não tinha muito o que fazer; o que lhe cabia era esperar pela vontade do tempo, para que as peças do quebra-cabeça aparecessem e ele começasse a tomar sua forma e mostrasse a sua imagem, a qual Scorpius desconhecia.

Foi por isso que não ficou ansioso para que Rose acordasse logo. Naquele mesmo dia terminou seus afazeres, jantou com Adam e Alvo, passou pela enfermaria para ver como ela estava. Sentou-se na beirada da cama, entrelaçou seus dedos aos dela, e acariciou sua mão com o polegar. Ela estava linda, como sempre, apesar de tudo. Seus cabelos estavam mais escuros que o normal, e contornavam o formato de sua cabeça perfeitamente. De imediato Scorpius pensou se seu filho teria o mesmo tom de cabelo que Rose.

— Ele poderia ter seus olhos. Ou ela. — sussurrou, intimamente esperando que algo pudesse mudar. Depois de alguns minutos de um silêncio profundo, que trazia um tipo de paz, aproximando-se do horário de se recolher, os olhos de Rose se abriram lentamente. Scorpius só foi perceber quando parou de encarar as mãos entrelaçadas, sentindo que alguém o observava.

— Scorpius. — sua voz soava embarganhada, e embora sua expressão era de quem cairia no sono em breve, sua boca tentou sorrir. — O que está fazendo aqui?

— Companhia. — ele inclinou-se para depositar um beijo em sua testa. — Como está se sentindo? — ela fez uma careta, ajeitando a cabeça para o outro lado, sonolenta.

— Com sono… Obrigada por vir me ver… De novo.

Scorpius sentiu seu coração latejar ao ver seus olhos se fecharem. Apertou sua mão com um pouco de força e beijou novamente sua testa antes de lhe desejar boa noite e sair da enfermaria.

Durante o seu percurso até o dormitório, viu sua visão embaçar e sentiu seu nariz arder. Parou em um determinado lugar, apoiou sua mão na parede e respirou fundo para tentar evitar o que já havia se iniciado dentro de sua mente confusa. Enquanto olhava desesperadamente para o teto, engoliu a seco antes de curvar-se com suas lágrimas pesadas. Levou sua mão à boca enquanto tentava chorar silenciosamente, e o que lhe consumia por dentro, toda a incerteza, medo e culpa por ter colocado Rose e a si mesmo em tal situação, pesavam cada vez mais sobre os seus ombros. Fechou os olhos com força e quando os abriu, limpou os vestígios de seu rosto enquanto apressava-se em direção às masmorras. Às vezes, uma gotinha ainda umedecia sua camisa branca.

Scorpius só foi ter uma trégua do que sentia quando chegou ao seu dormitório, afrouxou a gravata, tirou os sapatos e o cinto, e jogou-se em sua cama, enfiando o rosto por debaixo do travesseiro para que pudesse chorar e dormir em paz.

[...]

Era um bosque cheio de árvores laranjas, que deixavam suas folhas voarem deliberadamente pelo vento que corria debaixo do céu cinza que guiava os passos calmos de Rose por uma rua vazia de pessoas, de carros, de alma. Ela trajava um vestido longo e negro, que cobria seus braços e seu pescoço.

Rose não sabia onde estava, nem o que estava fazendo; apenas andava enquanto observava e admirava a paisagem ao seu redor. Todas as vezes que olhava para o céu, sentia-se mais envolvida por uma sensação de aconchego e por uma vontade de continuar andando, mesmo que não soubesse bem para onde estava indo. Segurava bem perto do colo um buquê amarelo, cujo interior das flores era de um laranja vivo; talvez fossem narcisos.

Ao olhar novamente para o céu, sorriu, sentindo um frio na barriga.

— Scorpius! — ela chamou alto, dando uma leve risada. Ouviu imediatamente o eco de sua voz. — Eu sei que você está por aqui. — sua voz era sua própria resposta. Pigarreou por instinto ao sentir os efeitos colaterais da solidão naquele lugar, e apertou o passo pela rua de asfalto.

Olhava para os lados atentamente, procurando algum sinal de que Scorpius realmente estivesse por ali. Mas só havia árvores, árvores e mais árvores, alinhadas perfeitamente em linhas diagonais.

Depois de mais alguns passos, cerrou os olhos para enxergar o que estava a alguns metros. Parecia ser o fim da rua, indicado por um poste com duas placas. Uma delas era vermelha e apontava para um caminho de pedras, a outra era amarela e apontava para o nada, pois não havia mais asfalto pela direita. Não havia nada escrito em ambas. Ao pé do poste, porém, havia alguém sentado, que Rose reconheceu como sendo Scorpius.

— Scorpius!

Ela gritou, segurando o vestido para que a barra não a fizesse cair. Scorpius, então, ergueu o rosto. Seus braços e pernas estavam amarrados, seus olhos estavam vendados por um pano preto e sua boca fechada, como se estivesse colada. O coração de Rose batia de forma escandalizava, e apesar de um sentimento ruim que passou a lhe apertar a alma, sentiu-se mais segura ao encontrá-lo.

— Por que está aqui?

Ele não respondeu, nem fez gesto algum.

— Scorpius?  

Rose olhou para os lados, mas não havia nada e nem ninguém. A única coisa que estava ao seu dispor era o eco de sua voz. Ao fitar o rapaz, levou seus dedos gelados a boca imóvel. Estava seca, levemente rachada e não se abria. Recuou sua mão ao perceber, e engoliu a seco de medo. Tentou encontrar alguém naquela vastidão vazia novamente, mas não foi bem sucedida.

Deixou as flores ao lado dos pés amarrados, e levantou-se para conseguir tirar a venda negra. Ao olhar para o rosto de Scorpius, sentiu como se tivesse sido atingida por uma maldição imperdoável, e deu as costas a ele, correndo sem rumo para o único caminho que lhe restava.

Scorpius estava sem olhos.

Rose remexeu-se na cama lentamente antes de ter a enfermaria em seu campo de visão. Sua respiração estava ofegante e as batidas do seu coração completamente aceleradas. Não ousou abrir a boca para chamar por Madame Pomfrey, mas, por sorte, fora notada pela velha enfermeira.

— Finalmente! — a senhora disse um pouco distante. Rose respirou fundo antes de tentar se ajeitar na cama. — Estava mesmo na hora de você acordar para comer alguma coisa.

— Sinto um buraco negro no meu estômago. — comentou ao ver uma bandeja ser conjurada em cima de seu corpo. Com um pouco de esforço, sentou-se na cama. Madame Pomfrey ajeitou os travesseiros em suas costas.

— Essa sopa de legumes vai ajudar a amortecer sua fome.

— Obrigada, Madame Pomfrey. — Rose pegou a colher, e sentiu um alívio após começar a comer. A senhora observava Rose ao lado da cama, com uma expressão de algo que poderia ser bem próxima de felicidade.

— Você se lembra de algo que aconteceu, querida?

— Passei mal na aula de herbologia. — a senhora assentiu. — Faz quanto tempo que estou aqui?

— Uns três dias. Suas primas vieram te ver em todos eles. Contavam todas as trapalhadas que haviam feito durante o dia e até lavavam um pouco de roupa suja, foi bem engraçado. E o seu namorado também veio bastante, mas diferente das duas tagarelas, apenas sentava ao seu lado e ficava fazendo carinho em sua mão. — suspirou sonhadora. — Você tem a recomendação de tomar algumas poções por dia. Tanto para a garganta, quanto para garantir que tudo fique bem com…

— Eu estou mesmo…?

— Está. Devo te dizer que para um feto tão pequeno, ele se saiu bem sobrevivendo.

— Meu irmão…

— Ele veio aqui durante a manhã. Talvez seria uma boa ideia você conversar com suas primas para que elas te contem tudo o que aconteceu, o que está acontecendo e o que vai acontecer. Se comer toda essa sopa, posso mandar chamá-las.

— Chame o Scorpius também. — pediu apressando-se em comer. A enfermeira acariciou seus cabelos e assentiu, dirigindo-se a sua mesa.

Até que não houvesse mais uma gota da sopa, Madame Pomfrey não chamou ninguém. Depois de checar que Rose estava bem o suficiente para conversar, pediu para que um fantasma trouxesse Dominique, Roxanne e Scorpius até a enfermaria.

Demorou alguns minutos para que eles chegassem, o que proporcionou a Rose um momento bom para tentar acordar para a sua verdadeira realidade. Algo agulhava seu coração e fechava sua garganta, mas não conseguia entender o que era. Perdida, e um pouco atônita, levou uma das mãos à barriga, procurando algum tipo de tranquilidade.

— Graças a Morgana! — uma estrondosa Dominique entrou pela porta, precedendo Roxanne, que andava atrás tranquilamente. Ela correu em direção à prima com os braços abertos, e abraçou-a pelos ombros quando tocou seu corpo. — Não aguentava mais a Roxanne.

— Graças a Morgana que você está bem, Rosinha. — Roxanne fuzilou a garota loira pelo canto do olho, e a afastou para que pudesse abraçá-la também. — Como você está?

— Um pouco pesada, mas consideravelmente bem.

— Antes que pergunte, não achamos o Scorpius. Segundo o Alvo, ele provavelmente deve estar dormindo. As aulas acabaram faz um tempo. — Roxanne apossou-se de uma beirada da cama perto dos pés de Rose. Houve um silêncio confortável enquanto as três se encaravam, juntas novamente.

— Quando acordei, conversei um pouco com a Madame Pomfrey e ela disse que vocês explicariam tudo o que aconteceu. Então, por favor, estou agoniada. — pediu encostando sua cabeça na cama. Dominique e Roxanne trocaram um olhar significativo antes de começarem a falar.

— Você passou mal na aula de Herbologia, e te trouxemos para cá. Você teve uma hemorragia e praticamente desmaiou depois que a Madame Pomfrey te deu uma poção. Pelo o que descobrimos, a poção de gravidez foi adulterada com asfódelo e presas de cobra em pó, então… Era para você ter abortado, mas…  — explicou a loira passando as unhas levemente sobre o braço da prima. — Isso não aconteceu.

— Nós mandamos uma carta para a tia Hermione dizendo que você teve uma reação alérgica grave na aula de Herbologia, e o professor Longbottom ficou de confirmar a história para eles e para toda a escola. O que inclui os nossos primos, o Hugo, e todo o resto. — Roxanne mexia o pé sem parar, em prol de transmitir alguma confiança. — Só que o Scorpius mandou uma carta para o pai dele, contando o que aconteceu, e aí ele veio aqui te examinar. Ou seja, ele já está sabendo e contou para a McGonagall, o que significa que logo em breve vocês terão uma conversa com ela.

— Hm. — foi o que conseguiu dizer. — Por que alguém adulteraria uma poção?

— O coração é uma terra que, verdadeiramente, ninguém que não seja o dono pisa. — Roxanne respondeu. — Scorpius disse que o pai dele disse que seria melhor não darmos alarde da sua gravidez justamente por isso, por não sabermos quem fez.

— Você não consegue ver nas cartas? — a prima negou com a cabeça, desviando o olhar da expressão esperançosa de Rose. — Tem certeza?

— Da última vez que joguei, Rose, só saiu um valete. Pode ser qualquer pessoa.

— Mas iremos descobrir, mais cedo ou mais tarde. — Dominique interviu. — Por hora, você tem que pensar que está com uma sementinha dentro de você, e que você tem que cuidar de si mesma para poder cuidar dela. Tem que conversar com seus pais, se alimentar bem, começar a comprar as coisinhas.

— Dominique, menos. — pediu Roxanne, rolando os olhos.

— Temos que ver o lado bom das coisas! — argumentou sorrindo. — Você já acordou, o bebê está bem, você vai ficar bem logo. Por que ignorar o fato de que eu logo mais terei uma afilhada?

— Porque você não será a madrinha, é óbvio. — Roxanne retrucou, causando uma quase risada de Rose. — Mas, se você quiser, podemos tentar descobrir o sexo pelas cartas.

— Pode ser. — respondeu um pouco indiferente. — E como o Scorpius está?

— Ele está bem. — uma voz destoante soou da porta, trazendo os olhares para si. Scorpius estava com o uniforme, um pouco descabelado, com o rosto e os olhos inchados. Olhar suas orbes cinzas tranquilizou Rose de alguma forma, embora não tivesse encontrado toda a energia viva que elas costumavam conter. Apenas um cinza normal, sem brilho, sem nada. Ela franziu o cenho ao perceber que, de uma forma louca, era quase como em seu pesadelo: os olhos de Scorpius pareciam não estar ali. — E você?

— Bem.  — respondeu sem jeito, acompanhando seus passos com ânsia. Dominique se afastou, fazendo companhia à Roxanne do outro lado da cama, e Scorpius tomou seu lugar, inclinando-se para abraçar a garota. Ao sentir seu perfume, ela tentou aninhar-se mais em seus braços, embora um leve desconforto tomasse conta da boca de seu estômago. Alguns minutos de silêncio preencheu a enfermaria enquanto se abraçavam. — O que vamos fazer?

— Seguir com as nossas vidas, e com a do nosso bebê. — Scorpius respondeu ao tê-la se afastando. — Vou mandar uma carta para a minha mãe ainda hoje, e perguntar a opinião dela sobre o que seria mais sensato fazer. Depois disso… Conversaremos com a diretora e… Com os seus pais.

Rose soltou o ar pelas narinas, e encarou o lençol que cobria as suas pernas com uma expressão séria. Sentia cada vez mais algo embrulhar seu estômago, e precisou fechar os olhos por alguns instantes para poder encarar os três que a fitavam atentamente. Seu corpo inteiro estava estremecido, e algo pulsante lhe tirava o fôlego.

Não estava entendendo o que havia acontecido ou o que aconteceria, sentia algo parecido com os efeitos colaterais pós-anestesia. Ergueu o olhar para Scorpius em uma tentativa de achar o que costumava lhe guiar, e acabou sendo baqueada por todas as emoções do pesadelo que tivera.

Talvez houvesse perdido seu norte.

— O que foi? — ele perguntou, despertando-a da bolha em que a sua mente insistia em lhe colocar.

Ela negou com a cabeça e passou a mão pelo rosto. A resposta imediata de Scorpius foi abraçá-la novamente. Na posição em que estava, Rose conseguia ouvir as batidas do coração do rapaz, o que lhe trouxe uma dose de paz.


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Notas finais do capítulo

Aiai, tem tanta coisa para vocês pegarem nesse cap... Mas tem que colocar os neurônios para funcionar, hehehe. Pulando para a parte boa, vocês acham que vai ser menino ou menina — se é que vai nascer, cof cof — ? E qual nome vocês dariam?

Espero que tenham gostado desse capítulo. Me contem o que acharam, quais são as teorias de vocês, estarei esperando ansiosamente!

Vamos torcer para que o próximo cap saia logo, sim? Talvez daqui uns vinte dias mais ou menos, ou vinte e cinco... ♥

Ah, e eu postei duas fanfics novíssimas scorose nesses dois meses sem att kkkkkkkk Uma é uma one — Rainy — MUITO AMORZINHO que vocês deveriam ler para tirar a tensão de LDA. E a outra é uma short fic — Carpe Diem — bem leve e divertida. Vou deixar os links. Ficarei feliz em ver vocês por lá ♥

https://fanfiction.com.br/historia/769914/Carpe_Diem/

https://fanfiction.com.br/historia/768071/Rainy/


Um beijão no core de vocês ♥