...Qual? escrita por Arisusagi


Capítulo 7
A Rainha de Gelo.


Notas iniciais do capítulo

Olá gente!!
Primeiramente, desculpa pela demora. Acabei demorando mais do que o prazo de 15 dias porque resolvi escrever uma outra fanfic de Free! que acabou nem ficando tão legal assim. Escrevi tudo em cima da hora, deu no que deu. Essa fanfic está diretamente ligada com esse capítulo da história, por um motivo que explicarei nas notas finais.
É isso! Boa leitura!



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Dessa vez, Kaito acordou com uma forte dor nas costas. Ele abriu os olhos e lambeu os lábios extremamente secos, grunhindo ao sentir que seus ombros também estavam doloridos.

Ele estava deitado dentro de um saco de dormir, no chão de uma sala empoeirada e cheia de caixas. Aquela sala tinha o teto um pouco baixo, de um material semelhante a isopor. As paredes estavam mofadas, e tinha teias de aranha por todo lado. Kaito sentiu seu nariz coçar só de imaginar quanto tempo aquele lugar ficou fechado, sem ser limpo.

Havia uma janela em uma das paredes, parcialmente coberta por duas tábuas. O céu alaranjado podia ser visto pelas frestas, e parecia que o sol acabara de nascer.

Kaito coçou os olhos, e tentou deitar de lado, mas aquele saco de dormir apertado atrapalhava seus movimentos.

Havia algo errado, mas ele não sabia dizer o quê.

Depois de alguns minutos, Kaito percebeu que sua perna direita não tocava em nada além do saco de dormir. Onde estava a perna esquerda?

Ele tentou mexer os dedos do pé, mas só sentiu os da direita se mexerem. Nenhum sinal dos esquerdos.

O saco de dormir pareceu ainda mais apertado enquanto ele tentava sair para ver o que estava acontecendo. Depois de encontrar o zíper e abrí-lo totalmente, Kaito se sentou e olhou para os próprios pés. Sua perna direita estava ali, perfeitamente normal, talvez com mais cicatrizes do que ele esperava, mas a esquerda só ia até a altura do joelho.

Ele olhou para onde a perna terminava atônito por alguns minutos, até juntar coragem para tocar o local. A pele era completamente irregular, coberta de cicatrizes, e ele podia sentir seus dedos a tocando. Não era uma ilusão. Ele realmente não tinha parte da perna esquerda.

E aí, ele se lembrou, com horror, de como perdera aquele membro.

Era uma noite escura e fria, muito fria, e ele fugia, correndo sem rumo pelas ruas. Sua respiração estava descompassada, e seus pulmões doíam com o ar gelado. Ele entrou em um beco, encostou-se na parede e prendeu a respiração, prestando atenção nos sons ao seu redor. Depois de ouvir apenas alguns uivos distantes, ele respirou fundo e escorregou até se sentar no chão.

Esse foi o seu pior erro.

Grunhinhos, latas caindo no chão, e um cheiro forte de sangue e cachorro molhado. Kaito congelou. Como ele não percebera que tinha algo ali?!

O ser o atacou sem nenhum escrúpulo, abocanhando sua perna esquerda com vontade. Ele se lembrou claramente de ver aquela figura antropomórfica sobre ele, e da sensação dos dentes afiados cravando em sua panturrilha e de sua pele rasgando.

Kaito berrava a plenos pulmões, sentindo as presas afundando cada vez mais em sua carne e seu sangue empapando o tecido da calça, e ele podia jurar que ouvira o estalo do seu osso se partindo.

Kaito se lembrou se olhar para o céu estrelado, pensando em como ele morreria de um jeito patético, sem nem ter chance de lutar.

E aí, ela apareceu, e arrebentou a cabeça daquele bicho com uma marreta.

Ele não sabia de onde ela viera, nem como chegara ali, só se lembrava de como a lua brilhava sobre a sua cabeça de uma forma quase divina, a luz refletindo em seus cabelos rosados.

Depois de ter certeza de que o bicho estava morto, aquela mulher o levou para um lugar seguro, onde ela cortou fora o que restou de sua perna.

Kaito desmaiou, no mínimo, umas três vezes durante a cirurgia improvisada que ela fizera sem anestesia e com utensílios que, com certeza, não eram esterilizados, em um lugar iluminado apenas por três lâmpadas fluorescentes. Pelo menos, o cheiro de álcool trouxe certa segurança a ele.

Você não sabe que eles ficam mais ativos durante a noite?! — Foi a primeira coisa que ela disse quando que ele acordou, quase dois dias depois da cirurgia.

Ela se referia aos lobisomens.

Ninguém sabe ao certo por que isso aconteceu, mas em uma noite de lua cheia, há cerca de um ano, quase um terço da população mundial se transformou nessas criaturas, e nunca mais voltou à forma humana, nem mesmo durante o dia. Desde então, o mundo se tornou um caos.

Os lobisomens tomaram conta das ruas, matando pessoas e alimentando-se de sua carne, e os humanos tiveram que aprender a lutar para sobreviver.

Kaito perdeu sua perna duas semanas depois de que tudo começou, logo na primeira vez em que ele se aventurou sozinho pelas ruas.

E ele seguiu aquela mulher desde então.

Seu nome era Luka, e ele tinha certeza de que não duraria mais que uma semana se não estivesse junto dela. Ela tinha armas, e sabia técnicas de sobrevivência muito úteis para aquela situação. Kaito nunca seria tão habilidoso quanto ela, ele não sabia por que Luka não o deixara para trás até aquele momento.

E ele tinha uma admiração enorme por ela.

Luka era muito bonita, isso ele não podia negar. Seus cabelos tinham um tom rosa pálido e chegavam até sua cintura, e seus olhos eram azuis claros, quase prateados, tão frios quanto ela mesma. Seu corpo era cheio de curvas, que quase sempre eram escondidas por roupas largas e escuras.

— O que aconteceu? — A porta se abriu de repente, e ela entrou.

Foi aí que Kaito se deu conta da dor que sentia onde sua canela esquerda um dia esteve, e dos gemidos que escapavam de seus lábios.

A dor não era insuportável, mas era bizarro sentir algo em um lugar que não existia mais.

— Dor fantasma?  — Luka perguntou com indiferença, caminhando até a janela para olhar pelas frestas das tábuas.

— É, acho que sim. — Kaito coçou a cabeça, envergonhado por tê-la deixado preocupada.

— Tem um grupo de pessoas aqui por perto, não vai demorar para perceberem que estamos aqui. — Luka parou ao seu lado e lhe estendeu a mão. — Temos que sair logo, se arrume.

Kaito precisou de alguns segundos para perceber que ela estava o oferecendo ajuda para se levantar.

Ele ficou de pé, apoiando-se no ombro de Luka enquanto ela pegava um par de muletas que estava encostado em uma pilha de caixas.

Saindo da salinha, Kaito percebeu que eles estavam dentro de um supermercado abandonado.

Ele lavou o rosto e enxaguou a boca na pia de um banheiro pequeno que tinha ali. A água tinha gosto de ferrugem, e aquele lugar não cheirava nada bem. Entretanto, ele sabia que havia lugares por aí em um estado muito pior que aquele.  

De volta à sala, Kaito separou uma calça preta de sarja e um casaco cinza. Enquanto tirava os shorts verdes que usava, ele parou mais uma vez para olhar as cicatrizes que cobriam o coto. A essa altura, a dor fantasma não passava de uma ardência suportável.

Se aquele mundo não era real, como a Criatura fez a sua perna simplesmente desaparecer? Como Kaito podia sentir seus próprios dedos contornando aqueles quelóides?

De fato, existiam mais coisas naquele universo do que ele imaginava.

— Vamos, Kaito, se arrume logo. — Luka disse do outro lado da porta, e Kaito se apressou para terminar de se vestir.

Depois de guardar algumas roupas e o saco de dormir em sua mochila, Kaito encaixou sua prótese de perna.

Luka arrumara aquela prótese sabe-se lá onde, ela não estava nas melhores condições, mas dava para o gasto.

Era uma prótese simples, preta com alguns detalhes em branco. O encaixe era de fibra de carbono, com o inteiror forrado de EVA. O pé era de silicone, muito realista, mas Kaito o achava estranho, e quase nunca tirava o tênis que o escondia. O joelho não funcionava muito bem e rangia de forma irritante a cada passo que ele dava. Pelo menos, a meia de silicone, que servia para cobrir seu coto, estava em boas condições.

Kaito ficou de pé, e passou o peso do corpo de uma perna para a outra para ver se estava tudo certo.

Saindo da sala com a mochila nas costas e as muletas em mãos, ele encontrou Luka sentada no corredor, olhando-se em um espelhinho de bolso enquanto passava um batom cor de vinho. Ela ficava dez vezes mais intimidadora quando usava maquiagem, e Kaito achava isso incrível.

— Pronto? — Ela perguntou, fechando o batom e guardando-o junto com o espelho no bolso da mochila.

— Pronto.

— Então vamos.

Eles saíram pelos fundos, carregando suas mochilas pesadas cheias de mantimentos, pouco depois do grupo de pessoas entrar pela porta da frente do supermercado.

Luka caminhava com as mãos enfiadas no bolso de seu casaco preto e o capuz cobrindo sua cabeça, e Kaito andava ao seu lado, seu passo manco o deixando um pouco para trás.

Aquele era um bairro residencial, cheio de casas desbotadas com janelas quebradas. Os dois eram os únicos andando por ali.

Kaito já se acostumara com o cheiro de podridão que cobria as cidades, mas naquelas ruas o fedor estava particularmente forte.

Depois de alguns passos, a origem daquele cheiro apareceu.

Cinco lobisomens mortos, dois em cada calçada e um no meio da rua. Os corpos já estavam parcialmente decompostos, e só era possível ver que não eram humanos por causa da camada rala de pelos cinzentos que cobria sua pele. No meio deles, vários urubus brigavam pela carniça.

Kaito cobriu o nariz e a boca com a mão, lutando contra a ânsia que subia sua garganta.

— Parece que alguém fez uma limpa aqui — Luka murmurou. — Teremos que ir por outro caminho.

Ela passou pelo portão arrebentado de uma das casas e seguiu para o quintal dos fundos. Kaito a seguiu sem questionar, aliviado por sair de perto daqueles cadáveres.

O muro que cercava aquela casa era um pouco baixo,e Luka e Kaito o pularam com facilidade. Eles continuaram atravessando os quintais das casas e pulando os muros e cercas que surgiam pelo caminho.

Kaito não sabia exatamente para onde estavam indo, mas não fazia nenhuma pergunta. Luka sabia o que estava fazendo.

Vez ou outra um vulto passava pelo campo de visão de Kaito, e ele se sentia um pouco desesperado por não saber se aquilo era coisa da Criatura ou se havia algo os seguindo.

Depois de atravessar uns quatro ou cinco quintais, Kaito percebeu que Luka ficara para trás.

Ele parou e esperou que ela o alcançasse.

— O que aconteceu? — Kaito perguntou assim que ela chegou ao seu lado.

— Nada. Vamos.

Não dava certo insistir em perguntas que Luka não respondia, disso Kaito sabia muito bem, então ele só a seguiu calado.

Depois de andarem por quase vinte minutos, Luka parou no quintal de uma casa.

Era uma casa pequena e de paredes amareladas. No quintal havia somente uma mesa e duas cadeiras perdidas no meio da grama alta e uma pequena varanda coberta de azulejos brancos, onde Luka subiu.

— Ninguém entrou nessa casa ainda — ela explicou, apontando para as janelas e para a porta, que estavam intactas. — Deve ter bastante comida e roupas aí dentro.

A porta dos fundos estava destrancada, para a surpresa dos dois. Luka entrou primeiro, empunhando seu revólver e olhando para cada canto daquele lugar.

Era uma cozinha bem simples, com um fogão, uma geladeira e um armário. O piso de azulejos brancos, iguais aos da varanda, e a pia de granito estavam cobertos por uma camada de poeira.

— Fique aí, vou ver se não tem outros aqui dentro. — Ela colocou sua mochila no chão e saiu pela outra porta.

Kaito também tirou a mochila das costas e deixou as muletas encostadas na parede. Ele apoiou o quadril na beirada da pia, passando todo o peso de seu corpo para a perna direita. A prótese estava começando a incomodá-lo, era melhor tirá-la assim que Luka voltasse.

No instante em que Kaito pensou sobre isso, algo passou pela porta da cozinha. Luka já havia voltado? Que rápido.

— Luka?

Mas aí, Kaito percebeu que a figura parada na porta era alta demais para ser ela.

— Ora, Kaito, como pôde me confundir com ela? — A voz áspera fez ele se arrepiar.

A visão da Criatura ficava ainda mais sinistra quando se estava dentro de uma casa abandonada. E para piorar, a luz da cozinha começou a piscar. Não havia mais energia elétrica naquela cidade! Como a luz acendeu?!

Tudo começou a girar e Kaito não se deu conta de que estava caindo até sentir o piso frio contra sua bochecha e uma dor forte na têmpora.

Antes que ele pudesse gritar por ajuda, tudo escureceu.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam da Luka toda pica grossa? AUEHAUE
Não me perguntem como a Luka sabia fazer uma amputação, nem como o Kaito sobreviveu (Isso nem a Luka deve saber). Sou muito sensível a gore, então quase não faço pesquisas dessa parte, deixo pra perguntar pros meus amiguinhos das biológicas que pesquisam isso sem medo de ver imagens. Se bem que eu li a página da Wikipédia sobre amputações, mas anyways.

Curiosidades sobre esse capítulo:
—Como eu disse, li a página da Wikipédia sobre amputações e também sobre dor no membro fantasma, que é a dorzinha que o Kaito sente lá no começo. Também achei um site que vende próteses e me baseei nele pra descrever a prótese do Kaito.
—Quando pensei na Luka nessa fanfic, queria fazer ela toda fodona e séria pra caramba. Aí, assisti Full Metal Alchemist Brotherhood, e achei que seria legal me inspirar na Olivier Mira Armstrong pra escrever a Luka. Por isso, o título do capítulo é A Rainha do Gelo, um dos apelidos da Mira.
—Esse capítulo ficou diretamente ligado com a minha fanfic de Free na cena em que a Luka fica pra trás. No capítulo 2 de Sem Rumo, duas pessoas passam pelo quintal da casa onde Rei e Nagisa estão, acho que deu pra entender. Primeira vez que faço um crossover entre minhas fanfics auaheuhe.
—Imaginei os lobisomens tipo os de Harry Potter, que são mais feiosos e não tão parecidos com um lobo.

Ah sim, agora tenho um tumblr para minhas fanfics, dá uma olhada http://arisusagifanfics.tumblr.com/ . Reblogo vários posts falando sobre fanfics e às vezes falo sobre o andamento das minhas. Os posts sobre essa fanfic estão na tag Qual ( [link do tumblr]/tagged/qual). Se vocês quiserem saber como anda a escrita dos capítulos, é só dar uma olhadinha lá.
Talvez eu demore de novo para atualizar porque preciso trabalhar em uma one-shot pra uma amigo secreto de Haikyuu e ainda nem comecei a escrever o próximo capítulo dessa aqui. Sejam pacientes!
Obrigada por ler s2



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