Um Passo para o Amor escrita por LeticiaHeinzmann, Emilisluize


Capítulo 14
E Agora?




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Tudo começou muito rápida e calmamente. Em um segundo a multidão estava normal, falando alto e comendo, e no outro tudo o que eu conseguia ouvir eram tiros e gritos exasperados, talheres voando ao chão, pratos quebrando-se contra o linóleo do piso, pessoas deitando-se o mais rápido que podiam em meio ao caos.

Eu mesma fico atordoada demais para me mexer e acabo sendo derrubada por alguém que mais tarde descubro ter sido Ethan. Sinto minha mão direita sendo pisoteada, mas a dor não é ruim, ela me acorda e dou-me conta do pandemônio que havia sido iniciado naquele lugar antes tão pacífico. Em meio aos gritos tanto meus quanto das pessoas ao meu redor tento esgueirar-me para debaixo de uma mesa e localizar nos pensamentos o momento em que tudo aquilo começou a dar errado, mas falho em encontrar o que levou àquilo.

As lágrimas escorrem involuntariamente pelo meu rosto, mesmo que eu nem tenha me dado conta de que estava chorando. Olho para Ethan que parece tão confuso quanto os outros.

Assim que os tiros cessam, vejo alguns pares de perna correndo em direção ao caixa e deduzo que tudo não passa de um assalto violento. Juro que nunca entenderei como pessoas conseguem matar as outras para conseguir um pouco de papel. Também nunca entenderei como esse papel tem um papel tão importante na nossa sociedade ao ponto de levar as pessoas para situações assim de pânico, tumulto e desespero pela vidinha tão miserável que levamos dia após dia mas ainda desejamos tão ardentemente.

Respiro profunda e rapidamente de modo contínuo e parece-me que nunca conseguirei recuperar totalmente o fôlega, mas então eles vão embora.

Depois de todo aquele estardalhaço eles simplesmente se viram com as mochilas cheias de dinheiro nas costas e correm para a saída o mais rápido que podem, deixando para trás um bando de pessoas assustadas e desorientadas.

Durante alguns minutos ninguém se move, apenas gemem, choram ou murmuram preces. Ethan, ao meu lado, treme levemente com o olhar fixo em um ponto qualquer.

Algumas pessoas começaram a levantar devagar, apoiando-se na beirada de qualquer móvel que encontrassem, ainda com aquele olhar perdido pós-traumático. Sigo essas mesmas ações e no momento em que ponho-me de pé sinto o mundo girar de um modo bastante nauseante.

No instante seguinte vejo-me envolvida por Ethan, seus braços ao meu redor como se eu também fosse uma daqueles móveis em que você se apoia para recobrar o equilíbrio. Com tudo aquilo, me senti confortável no seu abraço. Era como se aquele gesto dissesse “Hey, já acabou, vai ficar tudo bem.”. E eu estava quase convencida de que realmente tudo ficaria bem quando vi a pior cena que eu já havia presenciado na vida:

As paredes estavam respingadas de vermelho escuro comicamente parecido com os jogos de videogame em que o objetivo é explodir a cabeça de alguém ou atirar em pessoas aleatoriamente. Algumas pessoas cambaleavam segurando parte do seu corpo que sangrava caminhando para fora. Outras ligavam para alguém em seus telefones, uma delas chamando uma ambulância para socorrer todos aqueles feridos. Continuo olhando para aqueles horrores enquanto Ethan me aperta mais forte.

A primeira pessoa morta que eu vejo está jogada entre duas mesas com aqueles mesmos respingos vermelhos da parede. Ela parece a pessoa mais em paz do local, mesmo que seu corpo esteja encharcado de sangue. A segunda, porém, não revela seu rosto, jogada no chão como em uma cena de filme, com os braços estirados no chão e uma possa de vida líquida ao redor da cabeça.

A terceira é a mais assustadora, muito provavelmente por ser uma das pessoas que eu mais amei na vida. Nunca durante toda a minha existência pensei que chegaria a ver essa cena na minha vida, mas aqui estou eu, envolvida nos braços de outro homem, presenciando meu primeiro amor jogado ao chão.

John, felizmente, estava com um semblante brando, ainda sentado em sua cadeira, com a cabeça inclinada para o lado apoiada na parede e o sangue criando uma trilha pelo seu tronco, manchando uma bela camisa branca que ele costumava vir quase que diariamente para a escola.

Naquele momento eu chorei de verdade, relembrando seus sorrisos, suas brincadeiras e até suas lágrimas e seus momentos de raiva. Chorei por aquele primeiro dia de aula, na casa dele, em que matei as saudades depois de um longo período de férias longe. Relembrei aquele dia do baile onde pela primeira vez o vi, onde pela primeira vez Lucy apresentou-o e onde pela primeira vez nos beijamos. Antes de sairmos do lugar, lembrei ainda daquele último dia que passei ao seu lado, onde ele disse que não podia mais ficar comigo.


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