Dez meses se passam. Dez meses desde que houve o incidente no restaurante. Dez meses depois da morte de John.

Hoje é o último dia do ano letivo. Estou no meu quarto arrumando as malas para voltar da escola e ir direto para o aeroporto e então para casa. Termino de colocar as roupas lá dentro, arrumo a mochila e vou para a escola. Mesmo sendo o último dia, algumas aulas seguem normalmente com conteúdo didático. Já em outras, pelo contrário, temos períodos livres, conversamos, planejamos nossas férias, combinamos jantas de fim de ano aqui ou ali e nos descontraímos um pouco agora que finalmente estamos entrando em férias.

Mais tarde, após todas as aulas, vou encontrar Ethan. Meu estágio na biblioteca já acabara quase um mês antes, pois lá o recesso iniciava antes do que o dos alunos.

Encontro-o sentado em um banco num dos locais rodeados de árvores e ele parece melancólico com um sorriso torto no rosto. Caminho até lá e sento ao seu lado, olhando para frente assim como ele, encarando as paredes beges do outro lado do pátio.

—Como se sente? — Pergunta. Não entendo de imediato ao que ele se refere. — Digo, em relação ao término da escola.

—Cansada, aliviada… Não sei. Acho que vou sentir muita falta de tudo isso. Mas ano que vem tem mais, não é como se nunca mais fôssemos nos ver. — Respondo. Ele fica em silêncio por tempo demais, fazendo até com que seu sorriso desapareça. Por isso, pergunto, já pressentindo más notícias. — Não é?

—Queria falar sobre isso com você. Eu não vou voltar ano que vem.

—Como assim, não vai voltar?

—Consegui uma bolsa integral em uma grande faculdade do outro lado do país. Decidi que seria bom pro meu futuro, então aceitei.

—Você… Você vai embora? Pra sempre?

—Talvez. Um dia quem sabe eu volte, ou vá te visitar seja lá onde você estiver. — Logo meus olhos enchem-se de lágrimas. Ele fala aquilo com tanta naturalidade, como uma criança mostrando um desenho novo aos seus pais. — Não estou dizendo que nunca mais vamos nos encontrar, vai ser só um período que ficaremos afastados.

—Eu sei… Vou sentir a sua falta. — Digo, olhando para ele. Olhando de verdade. Observando cada detalhe do seu rosto, tentando gravá-lo na memória para nunca mais esquecer, mas cada vez que desvio o olhar aquela imagem já fica levemente borrada e sei que esse período longe talvez não tenha mais fim.

—Eu também sentirei a sua, mais do que você imagina.

Mesmo com toda aquela tristeza e sabendo o que aquilo significava, recuso-me a dizer adeus, só respiro fundo.

Deito a cabeça no seu ombro e volto a observar as paredes. Chego a uma conclusão que talvez já me tenha ocorrido antes, mas nunca tinha prestado atenção nela: No fim, a vida é sempre assim; um ciclo vicioso de começos e recomeços, mas todos levando ao mesmo ponto, um inevitável e muitas vezes triste fim.