Sob a luz das estrelas escrita por Duda Bitar


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Olá, migos.
Aqui venho eu com mais uma oneshot pra vocês! Não me matem, por favor! Apesar de só postar oneshots na maior parte do tempo, agora eu também tenho uma shortfic que está em andamento. E a semelhança entre esta oneshot e a minha shortfic, é que ambas se passam num universo alternativo; diferente de todas as outras historinhas que já postei, que são pós-Mockingjay. (Nem estou fazendo propaganda das minhas outras fics, não é mesmo?)
Enfim... às vezes eu gosto de me inspirar em letras de músicas para fazer minhas estórias, então essa aqui foi só uma ideiazinha boba que cruzou pela minha mente. Resolvi colocá-la em palavras, no entanto, e agora estou compartilhando com vocês... espero que gostem!
Pra finalizar a nota, desejo uma boa leitura.



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Estou sentada no balanço da varanda, com meu marido Gale, quando o carro prateado para em frente à minha casa. O dia estava belo. Era primavera, minha estação favorita, e o sol estava quentinho; o canto dos pássaros era como uma melodia sem fim; as árvores do campo farfalhavam suavemente; as flores começavam a surgir e a lavanda plantada no jardim já difundia seu aroma. Isso trazia-me tanta paz e levava meus pensamentos para tão longe...

Meu marido levantou-se e foi ao encontro de nossa única filha, uma linda mulher de cabelos castanhos e olhos cinzentos – que puxara ambos tanto de mim, quanto de seu pai –, cujo nome era Willow, e de sua família. Seu marido, Matt Shields, era um bom homem, que trabalhava com negócios na cidade; ele seria dono de uma beleza comum, não fosse por seus olhos verdes.

Matt e Gale se aproximaram, carregando algumas malas para dentro de casa – minha filha resolvera passar o final de semana aqui conosco. Antes de entrar, porém, o rapaz parou, cumprimentando-me.

— Boa tarde, Sra. Hawthorne! – Seu tom era simpático e ele possuía um sorriso no rosto.

— Matt, quantas vezes terei de repetir? Me chame apenas de Katniss! – Sorri divertidamente.

— Tudo bem. Desculpe, Dona Katniss – falou, rindo.

“Ah, Deus! Como foi que o tempo passou tão rápido? Eu parecia ter trinta anos ontem mesmo, mas, agora, já sou uma senhora a qual todos chamam de “Dona” Katniss.”, pensei, quase rindo comigo mesma. O tempo realmente havia passado... A vida parecia ter voado diante de meus olhos. A prova disso era minha filha, que ontem mesmo ainda era só uma garota e hoje já é uma mulher casada, formada, mãe. Ela pegava o cão da família, Buster, enquanto minha neta corria em minha direção.

Autumn era uma linda menina de cabelos escuros e olhos cinzentos, tão alegre quanto se possa imaginar. E já estava enorme, mesmo que tivesse apenas nove anos. Ela era a cara do pai também, exceto por seus olhos.

— Vovó Katniss! – Abraçou-me, com um sorriso enorme preenchendo-lhe o rosto.

— Oi, querida. – Sorri-lhe, abraçando-a de volta.

— Oi, mãe! – Willow falou, com seu tom sempre gentil, dando-me um beijo na bochecha.

— Oi, filha – falei, sorrindo-lhe também e dando um breve afago no cachorro, que veio fazer “festa” comigo.

— Vovó? – Autumn chamou, pegando uma de minhas mãos. – Você pode me contar histórias? – pediu. Os olhinhos brilhavam em expectativa.

— Autumn! – minha filha repreendeu. – Mal chegamos e você já vai encher sua avó?

— Tudo bem, Willow – interferi. – Eu não ligo de passar um tempo com minha neta. – Pude ver um sorrisinho se formando no rosto da menina grudada à mim. – Só vamos entrar em casa primeiro, certo? – falei para ambas. Autumn concordou com um sorriso, assentindo vigorosamente, e, assim, entramos em casa.

Após todos se estabelecerem, ofereci o almoço, já que nenhum dos três recém-chegados tivera essa refeição. Enquanto Willow e Matt comiam na sala de jantar, conversando com Gale, Autumn e eu fomos para a varanda do quintal da casa. A menina sentou-se ao chão mesmo, com seu prato de comida sobre as perninhas finas esticadas, e pediu-me para contar histórias. Esse era um costume que começou quando minha neta era bem pequena; eu sempre lhe contei histórias inventadas ou de meu passado.

— Que tipo de história você gostaria de ouvir desta vez, Autumn? – perguntei. Já havia contado-lhe tantas coisas que não sabia mais sobre o que falar.

Ela pareceu pensar, mas respondeu-me com outra pergunta.

— O vovô é o amor da sua vida, vovó?

Me surpreendi com tal questionamento, mas pude perceber que a pequenina estava realmente interessada. Seus olhinhos me encaravam abelhudos.

— Sim, querida – falei, simplesmente, sorrindo levemente.

Autumn pareceu me avaliar por um momento.

— Tem certeza? – questionou. O tom risonho.

Suspirei, rindo e dando-me por vencida.

“Afinal, eu minto tão mal que não consigo esconder as coisas nem de minha neta, que é apenas uma criança?”, pensei.

— Bom, se eu te contar sobre o amor de minha vida terá de ser nosso segredinho. – Dei uma piscadela e falei em tom confidencial, mas ao mesmo tempo jocoso.

— Tudo bem! Juro de mindinho que nunca vou contar pra ninguém, vovó! – ela falou, ansiosa, estendendo-me seu dedinho. Selamos o juramento, então, falei:

— Eu amo muito ao seu avô, Autumn, mas, quando eu era mais nova, teve um rapaz que eu amei mais do que já amei qualquer outra pessoa. Ele foi o amor de minha vida.

Os olhinhos dela brilharam de excitação.

— Quem era ele? O que aconteceu?

Respirando fundo, comecei a contar-lhe alguns fatos selecionados, conforme a memória retornava à minha mente. É claro que esta não seria uma boa história para crianças, devido a seu fim tão trágico, mas essa garotinha sempre foi muito esperta para sua idade, de modo que sei que minha pequena ouvinte vai gostar e vai entender tudo que eu lhe disser.

Era verão de 1947 quando realmente o conheci no cais da cidade em que morávamos. Peeta Mellark era um rapaz loiro bem apessoado, filho do padeiro, que estudava na mesma turma que eu. Ele tinha magníficos olhos azuis, dos quais nunca me esquecerei.

Tínhamos 17 anos, éramos jovens em busca de aventuras. Eu nunca havia me apaixonado antes, mas quando coloquei meus olhos nele, algo pareceu mudar. Eu sempre me negara a acreditar no tão clichê e famoso “amor à primeira vista”, mas não consigo encontrar um termo que melhor defina o que aconteceu entre nós.

Eu estava sentada nas docas olhando o oceano e o horizonte, com os pés balançando no ar, afastada dos outros adolescentes e de minhas amigas, que tentavam jogar charme para uns rapazes bonitos do time de esportes do colégio. O penteado que minha mãe fizera em meu cabelo já estava se desfazendo com a constante brisa marítima, meus sapatos estavam jogados a meu lado e meu vestido rodado encontrava-se espalhado de qualquer jeito ao meu redor.

Festas não eram para mim. Não queria estar ali, não estava me divertindo. Todos estavam comemorando o aniversário de Hanna Undersee, filha do prefeito e irmã de minha melhor amiga, Madge, numa reunião que a garota resolvera fazer com todos os colegas de classe.

As irmãs eram gêmeas idênticas e eram loiras, e isso é tudo que consigo me recordar de suas aparências após tanto tempo. Mas as suas personalidades eram bem diferentes, disso eu me lembro perfeitamente bem. Enquanto Hanna gostava de aparecer e fazia jus à condição de “filha do prefeito”, esnobando tudo o que podia e até o que não podia às vezes, Madge era humilde e detestava ser o centro das atenções. Infelizmente, naquele dia, Madge deveria ficar ao lado da irmã e garantir que ninguém bagunçasse o coreto*, por isso, eu estava sozinha.

Divagava em meus pensamentos, até que alguém sentou-se ao meu lado. Era Peeta Mellark, o garoto que estudava comigo desde o primário, mas com o qual eu nunca falara.

— Pelo jeito não sou só eu que estou entediado – ele falou, com um sorriso simpático nos lábios. Lembro-me até hoje de como sua voz era suave. – Você também não é da fuzarca*, não é?

— Hoje estou tirando a prova que não – respondi, com um sorriso reservado.

— Posso me sentar? – perguntou, erguendo uma sobrancelha e apontando para o espaço ao meu lado. Eu nunca havia reparado, mas o loiro era um tipão*.

— Pode – respondi, simplesmente, e tornei a fitar o horizonte.

— Seu nome é Katniss, não é? – questionou, observando-me.

— Isso. – Assenti. – Katniss Everdeen, muito prazer. O seu nome é Peeta, certo?

— Peeta Mellark, sim. E o prazer é meu, boneca*.

Eu ri, um tanto sem graça. Aquela era uma das poucas vezes em que um rapaz bacana* dava em cima de mim. É claro que o ético seria não dar-lhe atenção, mas eu queria saber como era ter alguém, já que não era como minhas amigas e não atraía nenhum rapaz, nem tinha namoricos de uma semana. Na verdade, eu até atraía alguns moços; entretanto nunca fui de dar-lhes atenção.

— Que pretensioso. – Ergui uma sobrancelha, sorrindo divertida.

— Talvez um pouco. – Ele riu. – A verdade é que eu tenho te observado há um tempo, mas não sabia como me aproximar. Então, lá vai... o que você acha de sair comigo qualquer dia desses?

Fiquei estática, sem saber qual resposta dar. O loiro me pegara de surpresa, sendo tão sucinto. Por fim, falei:

— Mas nós mal nos conhecemos, Peeta Mellark.

— Exato; por isso mesmo. Não quero marcar touca*, porque você parece ser uma garota que vale à pena – falou, sorrindo. E, pela primeira vez, senti as bochechas queimarem, acompanhadas de uma vergonha boa de sentir, devido a elogios de alguém.

— Tudo bem. Acho que podemos sair juntos – eu disse, por fim, com um sorriso estampando meu rosto.

Apesar de ser uma decisão precipitada aceitar sair com aquele rapaz, o que eu tinha a perder? Um simples encontro não seria assim tão mau e, afinal, eu gostaria de poder ter uma ou duas experiências na minha adolescência das quais pudesse me recordar no futuro.

...

Na primeira sexta-feira depois daquele dia, nós saímos. Fomos ao cinema ver uma comédia e depois paramos para comer numa lanchonete – ele bancou tudo e agiu como um cavalheiro, com uma gentileza que era difícil de se ver por aí; e isso me conquistou num piscar de olhos. Nós dois conversamos tanto e nos demos tão bem naquela noite, que eu me sentia como se conhecesse Peeta Mellark desde sempre. A amizade que surgiu foi inevitável, assim como o romance que veio a seguir, mesmo que fosse um tipo de “amor proibido”.

Meu pai dizia que eu não deveria perder tempo com namoricos, pois em breve ele iria arrumar-me um noivo boa-pinta*. Minha mãe dizia que eu não deveria ficar de namoricos também, pois ficaria com má fama antes do casamento. Já os pais de Peeta não se importavam muito com o que o filho fazia, mas queriam escolher uma esposa para ele, de modo que o rapaz não devia se envolver em relacionamentos sérios. Todavia, nós éramos jovens e estávamos apaixonados, não demos ouvido a ninguém, senão um ao outro e a nossos próprios corações.

Então, quando nos envolvemos, era tudo um segredo. Ninguém sabia que Peeta e eu estávamos juntos, exceto por nossos melhores amigos. Devido a isso, nós vivíamos a nos encontrar às escondidas... depois das aulas, fugindo de casa no meio da noite, fingindo ir para casa de algum bom amigo que nos acobertasse, fingindo ir à biblioteca para estudar ou qualquer coisa desse tipo. Mas houve uma noite, em especial, da qual eu jamais me esqueceria.

Era um sábado à noite e estava acontecendo uma festa importantíssima no clube de iate da cidade; só para os mais ricos da região. Eu estava lendo um romance em meu quarto, encontrava-me totalmente envolvida no livro. Meus pais já haviam ido dormir, pois passava das nove da noite e, em casa, todos costumávamos dormir cedo.

De repente, pude ouvir barulhos bem distintos e reparei que alguém fazia uma das coisas mais clichês do mundo: jogava pedrinhas em minha janela. Só podia ser Peeta.

— Hey, Kat! – ele disse, quando coloquei a cabeça para fora e deu-me um selinho.

O rapaz estava vestido com um terno preto extravagante e tinha os cabelos loiros, que à luz da Lua tinham um brilho prateado, penteados com gel. Usava até mesmo sapatos lustrados e uma gravata borboleta de um azul escuro.

— Por que todo esse figurino? – Eu ri, olhando-o de cima a baixo e admitindo em pensamento o quão maravilhoso meu namorado estava.

— Não há tempo para conversas, boneca. Se você quiser ter a melhor noite da sua vida, troque de roupa e vista seu melhor vestido formal. O mais caro de todos. Arrume o cabelo e pinte seu rosto. Nós vamos à festa do clube de iate.

Eu ri.

— Você está biruta*, Peeta.

— Talvez eu esteja. Mesmo assim, se arrume, porque nós vamos àquela festa – ele falou, determinado.

— Tudo bem. – Dei de ombros, cedendo.

Era loucura, sim, mas eu estava convencida de que seria de que seria uma ótima aventura e eu gostava de colecionar momentos inesquecíveis. Então eu me arrumei, vestindo meu vestido mais caro e pondo minhas joias. Ajeitei meu cabelo do melhor jeito que pude em tão pouco tempo e pulei a janela, que, por sorte, era no primeiro andar.

— Meu Deus, você está maravilhosa, meu amor. – Lembro-me de Peeta dizendo um tanto embasbacado.

Eu apenas sorri, sentindo a face esquentar e agradecendo silenciosamente por ele não me ver corar, devido à escuridão, e fui com ele até seu carro.

O rapaz me avisou que, se fôssemos pegos, precisaríamos correr, mas não me importei. Nós estávamos indo para uma festa de verdade! Estávamos indo de penetras, com sabe-se lá qual esquema louco para entrar que passasse pela cabeça de meu jovem amante... Mas nós conseguimos.

Entramos escondidos naquela festa e, quando nos pegaram, não precisamos correr. Fingimos ser um duque e uma princesa e nos deixaram ficar. Eu mal podia acreditar que estava funcionando; era tão louco que não duvidassem de dois adolescentes! Ou talvez os seguranças só não estivessem a fim de causar uma confusão. De qualquer modo, era maluquice estarmos lá, mas eu não me arrependia.

Todo o local estava vestido elegantemente e eu não lembro qual era a música que tocava quando entramos. Apenas sei que eu disse ou pensei “Minha nossa, que música maravilhosa!” e Peeta me tirou para dançar. Foi a melhor noite da minha vida e eu jamais esqueceria de como nós nos movemos naquele gazebo, ao lado de onde a banda que tocava música ao vivo estava. Nós dançávamos sob a luz das estrelas como se fôssemos feitos de tal coisa.

Embora eu nunca tivesse dançado numa festa, ainda mais numa de tanta classe quanto essa, Peeta e eu tínhamos uma harmonia tão boa que era fácil executar qualquer passo, em qualquer ritmo, após os primeiros cinco minutos confusos e cheios de pisões no pé um do outro, acompanhados de pedidos de desculpas e selinhos. O garoto não precisava mais guiar-me. Era fácil girar e rodopiar, mover meus pés em sincronia com os dele e fazer passos que se completavam aos passos dele, como se fôssemos um.

E nós conversamos e continuamos dançando com todo o tipo de música que veio por horas. Horas que passaram rapidamente, devo dizer; quase que num piscar de olhos, mas, ao mesmo tempo, num piscar de olhos que continha uma pequena eternidade dentro de si. Nossa pequena eternidade, cheia de música, palavras doces e beijos sob a luz das estrelas.

Quando finalmente paramos de dançar, meus pés estavam um tanto doloridos e eu não me aguentava em meus sapatos altos. Fomos, então, para perto do mar; para longe de todos as senhoras superficiais e exibicionistas e para longe de todos os seus maridos ricos e bêbados. Me permiti tirar meus sapatos, sem me importar com o fato de sujar meus pés, e Peeta foi recolhendo pedrinhas pelo caminho. Finalmente, chegamos às docas.

Nós descansávamos à beira d'água e conversávamos sobre assumir nosso relacionamento, já que ambos sabíamos que não teríamos a aprovação de nossas famílias tão facilmente. Apesar de saber disso, Peeta recusava-se a acreditar que seria tão ruim como eu achava que seria. Então nós ficamos de pé, sobre o cais de madeira, enquanto o loiro fazia pedras pularem no oceano.

— Eu queria poder fazer algo, sabe? – eu falava. – Para que nossas famílias não se importassem tanto, não quisessem escolher com quem vamos ficar. Isso é fogo na roupa*— continuei, suspirando, com um tom de frustração.

— Olhe só para você, se preocupando com coisas que não pode mudar. – Peeta sorriu e balançou a cabeça. – Nós sabemos que eles não vão reagir tão bem quanto queremos, mas nós vamos passar por cima disso se ficarmos juntos, meu bem. Não há muito mais que possamos fazer.

— Ué – lembro-me de falar, desafiadoramente. – Não era você mesmo que estava dizendo que “talvez eles possam aceitar sem problemas, talvez eles nem se importem”?

— Kat, você não sonha com coisas impossíveis? – ele falou com um ar distante, olhando as estrelas após fazer uma pedra saltar por vários metros.

— Por que eu faria isso, Mellark? – Ri, debochada. – Prefiro ser realista ao invés de sonhar com coisas que não podem acontecer.

Peeta olhou-me novamente. Suas pedras haviam acabado.

— Por que não? – questionou.

Dei de ombros.

— Eu não gosto de me iludir.

O rapaz sorriu, de forma doce. Seus olhos azuis cintilavam de uma forma linda à luz da lua.

— Certas ilusões não fazem mal.

Então, ele abraçou-me e deu-me um selinho, acompanhado de um leve afago no rosto.

— Venha – disse, por fim, estendendo-me sua mão –, vamos voltar para o baile.

Assim, voltamos para a festa e dançamos mais, devo dizer que de forma graciosa. Eu estava amando aquela noite e lembrar-me da alegria que me preenchia ao passar tanto tempo com meu amado chega a ser um tanto doloroso agora, pois nunca tive a chance de sentir a mesma coisa novamente.

Lembro-me que todos nos olhavam. Alguns pareciam invejar nossa felicidade; outros pareciam felizes ao nos ver juntos, dançando e sorrindo; aproveitando nossa vida e o momento e aproveitando o auge de nossa juventude. Uma senhora simpática chegou até mesmo a se aproximar. Ela disse que parecia haver um brilho sobre nós, disse que nós parecíamos ser feitos da luz das estrelas e que éramos um belo casal.

Logo depois de agradecermos e ela se afastar, lembro dos lábios suaves e gentis de Peeta sobre os meus, fazendo meu coração derreter como manteiga. Depois sua língua ia de encontro à minha e eu mal consigo descrever a sensação de poder beijá-lo. No entanto, eu ainda me lembro daquela sensação quente e feliz no meu peito; lembro dos olhos azuis dele brilhando como nunca antes e lembro de todas as coisas loucas que ele dizia enquanto tornávamos a dançar um balanço lento e suave, que em nada combinava com a música agitada.

— Depois que nós contarmos tudo ao mundo, podemos nos casar. Nós faremos nossos pais aceitarem e, se não aceitarem, nos casaremos e viveremos juntos do mesmo jeito. Eu farei questão de que o nosso casamento seja perfeito – ele dizia.

— Eu mal posso esperar por isso. – Lembro de responder-lhe, enquanto transbordava de felicidade com esses planos improváveis de se realizarem, mas tão agradáveis de serem imaginados. Não que eu não quisesse casar-me com o rapaz, mas quem poderia garantir que nossas famílias deixariam tal união acontecer?

— E sabe o que mais? Nós podemos ter dez filhos e ensiná-los a sonhar – ele completava.

— Como você? – Eu questionei, com um tom de deboche e um sorriso preenchendo meu rosto.

— Sim. – Ele sorriu, alegre, exibindo seus dentes. Seus olhos tinham um ar maroto. – A vida deles não terá a menor graça se forem como a mãe, que só sabe ser pessimista. – E riu. Uma risada tão alegre, tão jovial, que me fez rir junto, apesar da piada de mau gosto.

— Eu sou realista, tem diferença – comentei, ainda com um sorriso no rosto.

— Você realmente deveria aprender a sonhar, meu amor – ele disse, por fim, e me rodopiou.

...

Depois daquela noite inesquecível Peeta Mellark levou-me até em casa e no outro dia em fingi que nada acontecera, apesar de sorrir a toa, como a menina boba apaixonada que eu era.

Um mês depois, conversamos com nossas famílias. A família de Peeta, apesar de levar um choque inicial, acabou apoiando o filho. Sua mãe dizia que "se seu filho estava realmente apaixonado, deveria ficar comigo e ser verdadeiramente feliz". Minha família, por outro lado, demorou a digerir que eu queria ficar com o filho do padeiro. “Por que ele? Há tantos outros rapazes, de famílias mais influentes!”, meu pai vivia a dizer. Contudo, eu não ligava para o dinheiro ou a beleza de nenhum desses rapazes que ele citava; nenhum deles se comparava a Peeta.

Enfim, após meses de discussões comigo, de muita teimosia e de várias conversas com meu namorado, minha mãe passou a aceitar. "Deixe a menina seguir seu coração. Talvez ela nunca encontre essa felicidade novamente e eu não quero ver minha filha infeliz, mesmo que esteja unida a um homem rico.", ela dizia para convencer meu pai. "Afinal, a família do padeiro é burguesa. Katniss não vai ser nenhuma ricaça, mas viverá bem e acho que é com isso que deveríamos nos preocupar. O bem-estar e a felicidade de nossa filha.", "Peeta Mellark é um bom rapaz.", a mulher também dizia. Finalmente, chegou um momento em que meu pai aceitou.

Devo dizer que tudo melhorou imensamente depois de ter o apoio da minha família. E foi quando eu aprendi a sonhar com coisas impossíveis. Pois, de fato, acontecera o impossível quando meu pai deixou que eu seguisse minha vida ao lado de quem eu amava.

Numa época tão machista como aquela, filhas deveriam aceitar caladas o que seus pais impunham. Mas eu me rebelei. Se meu amado pai fosse outro, só isso já seria motivo suficiente para eu ir parar na rua ou para que ele nunca permitisse que eu seguisse minha vida de acordo com minha própria vontade.

...

Fiquei noiva de Peeta aos dezenove. Lembro-me que o pedido de casamento foi no meio de um parque, à noite. Foi um momento tão perfeito quanto poderia ser; com as estrelas, a lua cheia, sua declaração tão linda – que agora me escapa à memória, mas, que lembro-me bem, tinha vários "eu te amo" –, com a brisa suave de verão e nossos beijos tão cheios de amor e paixão. Começamos a fazer planos após isso. Planejávamos ter uma grande família juntos e sonhávamos que ficaríamos casados até bem velhinhos, administrando o negócio da família dele depois que ele saísse da carreira militar.

No entanto, pouco depois que ambos já tínhamos vinte anos, em 1950, veio uma guerra do outro lado do mundo onde nosso país interferiu e Peeta foi recrutado; apesar disso, nós dois tínhamos esperança de que nos veríamos outra vez. Vivíamos a nos comunicar por cartas, contando o quanto sentíamos falta um do outro e falando de todos os nossos planos para quando meu amor voltasse para casa, além de contar ao outro tudo que vinha acontecendo em nossas vidas.

Não obstante, o destino pode ser uma coisinha que prega peças bem cruéis... Quase ao final da guerra, quando eu já estava ansiosa e feliz por ter certeza de que ele voltaria para casa, a família de Peeta Mellark recebeu a carta dizendo que o corpo do rapaz seria mandando de volta para o nosso país. A carta também dizia que haveria uma cerimônia de homenagem, que fariam aos soldados que morreram em combate e haveria um devido enterro, por conta do governo. Ele morrera e todos meus planos e sonhos se foram junto com seus olhos azuis, os quais nunca mais tive a chance de ver, exceto em minhas memórias.

Ele simplesmente me deixou. E eu nunca mais ouviria sua voz, sentiria seu cheiro, riria de sua risada tão gostosa. Eu nunca mais poderia receber o seu amor. E nós nem chegamos a nos casar ou ter um dos filhos que planejamos. A dor da perda permaneceu em mim por anos e, até hoje, é como se ainda faltasse uma parte de mim. Uma parte que deixou este mundo junto com ele e seus sonhos, sua gentileza, sua bondade...

Eu nunca sofri tanto por perder alguém e até hoje confesso que sinto falta dele, Autumn... Até hoje sonho em como seria se estivéssemos juntos, se sua mãe fosse nossa filha. Mas apesar disso tudo, eu aprendi a amar de novo e aprendi a ser feliz disse, finalizando a longa história com um peso de saudade em meu peito. Nem se eu quisesse eu conseguiria esquecer o único e verdadeiro amor de minha vida.

— Poxa. Eu sinto muito, vovó – Autumn disse, após manter-se em silêncio por uns minutos.

— Não sinta, meu bem – falei, com um sorriso doce. – Apesar de tê-lo perdido, quando estava com ele fui feliz; mais feliz até do que pessoas que estão juntas pela vida toda. Eu não me arrependo de nenhum segundo que passei ao lado dele.

— Então você não sente falta dele? – ela perguntou confusa.

— Pelo contrário, querida. Não tem um dia do qual eu não sinta falta de Peeta. Mas as pessoas que nos amam de verdade e que nós também amamos, nunca nos deixam. Elas ficam sempre aqui – falei, colocando uma mão sobre o peito, indicando o coração.

Por fim, após algum tempo refletindo, Autumn sorriu.

— Que bom que você tenha sido feliz ao lado dele e que você seja feliz com o vovô agora.

Então a menina entrou alegre na casa e eu fiquei ali sentada encarando meu quintal, sentindo o cheiro da lavanda no jardim. Por fim, olhei o céu, tão azul quanto os olhos de Peeta Mellark, porém nunca tão profundo, brilhante e lindo quanto os mesmos. Eu não tinha dúvidas de que, se ele estivesse aqui, ainda estaríamos juntos, assim como não tinha dúvidas de que uma parte dele nunca me deixaria; pois eu nunca deixaria de sonhar com coisas impossíveis e foi esse o legado que ele me deixou.

Afinal, quem sabe o que há depois da vida? Quem sabe se ainda não o veria novamente? Talvez nós ainda possamos ter outro momento sob a luz das estrelas, como aquela noite perfeita e inesquecível de anos atrás.


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Notas finais do capítulo

* - Vocabulário inspirado nos anos 50. Confira abaixo os significados das gírias e expressões por ordem de aparecimento.
1. Bagunçar o coreto - significa acabar com uma festa na base da confusão;
2. Fuzarca - significa bagunça, farra;
3. Tipão - é um homem atraente;
4. Boneca - garota bonita;
5. Bacana - neste contexto, se trata de um garoto bonito;
6. Marcar touca - significa perder uma oportunidade, geralmente boa;
7. Boa-pinta - modo de dizer que é uma pessoa boa, legal;
8. Biruta - significa maluco, doido;
9. Fogo na roupa - quer dizer que algo é difícil, complicado.
...
E então, como foi? O que acharam? Quero opiniões desde já! Aceito reviews criticando, elogiando, de uma palavra apenas, enormes like resenhas de livro, de tudo quer jeito... apenas me digam o que acharam da fic, da minha escrita, do enredo e etc. Enfim. A opinião de vocês é uma coisinha preciosa que me motiva muito, mas muito mesmo, a escrever mais. Além disso, eu amo responder reviews dkfjdl
Bem, chega dessa mendigagem toda.
Muuuiito obrigada meeesmo a quem leu! Espero que vocês tenham gostado e espero que não tenham considerado uma perda de tempo. Desculpem-me por eventuais erros, mesmo com minhas revisões, e/ou por qualquer outra coisa incômoda durante a leitura.
Beijão ♡



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