Horror candy - Pesadelos escritos escrita por 0 Ilimitado


Capítulo 4
DA PRÓXIMA VEZ USE AS ESCADAS


Notas iniciais do capítulo

Sugestão de "Sensei Oji Mestre Nyah Fanfic". Envie o seu medo!



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O lençol se transmutava num pano úmido, encharcado pelo pesar, minha pele se arrepiava cada vez mais, não bastou muito para que eu percebesse a minha pior crise de abstinência. Minhas unhas sujas de sangue, as coxas arranhadas, os braços mordidos, os batimentos acelerados correndo rumo à linha do trem.

Endireitei-me para o lado da cama, olhei o chão de madeira com tufos de cabelo. Surgiu como plano de fundo dos meus mais obscuros pensamentos a vontade imparável de arrancar a unha do meu menor dedo. Não me questione por qual motivo tal ação se tornou a mais racional, numa crise, ou você sana, sucumbe ou tenta controlar. Os mais fortes dos homens não sai ileso. Imagine um covarde como eu.

As lágrimas se misturaram ao suor, o negro do quarto parecia tomar o solo repleto de vidros por causa da cólera inexpugnável. Levantei o tronco e parei, por um lapso, de me debater, levantei a mão e utilizando a outra posicionei dois dedos para arrancar a maldita unha.

Não consegui fechar os olhos, meus recônditos sentimentos pareciam me pedir para que eu apreciasse o momento como um aniversário feliz em plena época do funeral dos chacinados.

Puxei levemente, logo admiti que pouca força não ajudaria, precisaria puxar, pungente, enérgico. Pisquei e retomei.

(Ahh, sente? A unha se descolando da carne, o sangue sendo bombeado para fora, manchando sua alma, sua integridade, sua cama)

Arranquei, impiedoso... Ingênuo, estúpido. A dor inexplicável, o alcançar dos astros submersos.

Encolhi a mão, abafei o grito com o travesseiro sanguinolento. O vizinho do apartamento ao lado começou a triturar a minha parede com a sua música intensa, quem dera tivesse um bom gosto.

Literalmente alcancei a minha porta, abri-a, e corri para o elevador, enfrentaria a tempestade e o ciclone de Minnesota por um aspirar violento. Pelo branco se tornando cor natural.

Tintei o corredor de sangue, numa irrupção de dor e desejo soqueei o interruptor chamando o que deveria ser uma porta para o sucesso (ou fracasso) que se tornou um local extremamente previsível para morrer.

Entrei e acionei o botão para me levar ao térreo. As portas se fecharam. Lembre-se disso. Fitei-me no espelho, uma imagem fiel era demonstrada, com todas as imperfeições. A roupa maltratada, empalidecido, o dedo ainda com a marca do anel e os olhos fundos e irreparáveis. Senti meu corpo se entregando a um torpor doentio, meus pais apareceram como fumaça, os dois tocaram meu ombro. Reconheci minha mãe com seus óculos clássicos e a saia bege e perscrutei meu pai com sua barba branca volumosa.

Papai disse:

— Lembra quando eu falei na mesa de jantar que você é e sempre foi o que sempre quis? Recorda da sua reação? A risada tímida levando o garfo a boca, ainda não sei como cortou o septo. — Disferiu três risadas sinceras e sublimes — Queria que aquele tempo voltasse.

Mamãe não recuou:

— Tempos felizes, você nos acordava e dormia entre nossos corpos febris, beijava meu rosto quando o Sol aparecia na janela, pedia desculpas e querendo mostrar independência fazia seu próprio leite. O que aconteceu, filho? Esse é o futuro?

Chorei compulsoriamente, o elevador parecia ter descido o bastante, mas não parava, justifico que nestes momentos não é possível pensar com episteme, você engole seus medos e vai por lá mesmo, esquecendo que as escadarias são melhores para claustrofóbicos.

Meus pais haviam partido, não era algo inesperado.

Um som estridente ecoou, tremeu o espelho... Meu Deus... O elevador havia parado no meio do processo. O suor esfriou. Meus instintos primitivos tomaram conta e acredite, o mais real era o desespero.

As portas não abriam, tudo escureceu, uma luz vermelha acendeu no topo. A trepidação inicial parecia uma garoa comparada àquele apocalipse.

Escárnio: um viciado claustrofóbico preso no sua pior fobia.

Relaxe, desta vez não descreverei a noite horripilante que passei entre as paredes que se encolhiam com o meu débil corpo ali dentro.

Os bombeiros arrombaram as portas com um pé de cabra arcaico, já era manhã. Um deles vomitou. Pergunte-se o motivo. Um corpo jogado num dos cantos, um dos antebraços roído até o osso, no outro canto: dentes incluindo os sisos da infância.

Os vidros rachados. As unhas entre os restos dos cabelos. O ápice da loucura? O abdômen semiaberto combinando com as mãos ensanguentadas como um assassino psicótico depois da caça.

Lágrimas de sangue. Tão poético, tão mordaz.

A polícia encontrou cocaína no meu apartamento... Ainda me pergunto, por qual motivo saí desesperado do quarto quando o que eu precisava estava na cabeceira da cama? Isso não faz sentido. O que me enxotou do quarto tão rapidamente? O que... Não... Quem?!

Ahh. Se eu pudesse não lembrar. Claro, ele. Ele.

FIM

11/01/16


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