Horror candy - Pesadelos escritos escrita por 0 Ilimitado


Capítulo 3
Dormindo sobre os braços


Notas iniciais do capítulo

Sugestão de The New Romantic, "presa num sonho".



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“Ei, acorde, menina, já é tarde e todos estão te olhando”.

Foram palavras que ecoaram em sua cabeça quando o sono se transformou em transtorno após se lembrar de casa, das brigas e de quão manchado o facão está.

Saiu de cima dos braços, olhou para lousa e percebeu a mínima importância que todos davam para seu “descanso” durante a aula.

Sala pacífica, letras perfeitas, todos olhando atenciosos para o professor virado para a lousa. Sentada no fundo, na última cadeira, da última coluna e fileira, uma marca horizontal na testa feita pela capa do caderno que sobrepunha sua pele.

Seres estáticos, a agressividade outrora transmutou-se em uma monotonia silenciosa. Claro, ela já percebeu, como você, astuta persona, era claramente um sonho.

Sonhos onde movimentos são restritos e delimitados, passam a mesma sensação que o destino trás com uma felicidade estonteante, preparando para uma derrocada absoluta, com risadas e tripudiação num desfecho desdenhoso.

Logo, sujeita aos piores pensamentos, percebeu os movimentos mecânicos e automáticos do professor. Tudo já estava escrito na lousa, ele apenas continuava a realçar as letras escuras. Afinal, qual educador era aquele? Uma cartola e bengala no canto da sala.

Hipnotizada na visão indistinta, retomou a atenção com uma aceleração de batimentos cardíacos quando o estranho estagnou seus movimentos e com a mão cerrada bateu três vezes no quadro branco, assemelhado ao sujeito que colide contra a porta esperando ser atendido.

O queixo da magérrima aluna estava num litígio tremendo, moendo os dentes e quase engolindo a língua. Más línguas ditariam que também escapava saliva pelos cantos da boca.

O ar condicionado estava ligado no último, no mais frio, pois neste pesadelo, amigos e amigas, o frio dá mais medo, sente a sua pele transformando-se num líquido viscoso?

Deduziu que o desejo do grande maestro era que as palavras rasuradas e sublinhadas fossem lidas, não havia fervor, nesta realidade, o gelo não congela apenas o corpo, e, sim, também as palavras.

Leu mentalmente: “No jardim murcho, borboletas negras cantam em harmonia, há mais um corpo, almofada dos escaravelhos, ele tem um nome e está acomodado entre cadeiras e monstros obliterados, no canto nulo, vazio de tanta alma. As crianças? Fixaram-se por temor”.

Sua respiração incongruente chamava tamanha atenção, e qualquer movimento fora dos parâmetros esperados pela fobia da solitude, entregá-la-ia para os porcos.

“O corpo, almofada de escaravelhos, acomodado entre monstros e cadeiras”... O que isso te lembra? Pobre menina, talvez soubesse, talvez não, porém as palavras se referiam a ela e se não bastasse, as profecias tem uma tendência de se concretizarem. Por qual motivo ela não saiu correndo pela porta da sala branca? Não havia porta. Nenhuma, nem janelas. Apenas: lousa, cadeiras, uma mesa para o ditador, um computador para pesquisas e só, apenas e só.

Começou a beliscar as costas da mão, anos antes, mamãe a ensinara que é um modo fácil de acordar quando em becos, obviamente sem saídas.

Não sentia fome. Seu corpo com toda liberação de agentes, preparava-se para morrer.

Um colega de classe levantou, sem virar o tronco, suas pernas faziam movimentos esdrúxulos, laterais, sua cabeça e braços estavam imóveis. O profanador só se movia lateralmente, como um maldito caranguejo de duas patas. Andou até o regente e quebrou o silêncio com uma voz ensurdecedora, desafinada, grave, sútil, aterrorizante. Incompreensível.

Os pés da guria se prenderam o chão impedindo-a de levantar por causa do pavor, restou que deitasse novamente sobre os braços, trabalhando com a falácia de que como nos tempos de petiz, o cobertor a protegeria de todos os males, só restara braços, epiderme e ossos triturados pelo que vinha a seguir. O nosso caro vinha na sua direção, lateralmente, virado para frente, cabelo rente, magro, magricelo, raquítico.

Por cálculos medíocres de tempo, ele já tinha que ter chegado próximo do seu corpo, contrariamente, nada. Não se ouvia os passos.

Risadas seguidas, histéricas num borbotão pandemônico ressoaram.

Ouviu uma voz, mais grossa do que as finais que ecoavam pelos cantos, hipoteticamente do professor.

— Clarice... Clarice! Agora não é hora de dormir!

Levantou e sentiu seus pés desprenderem. Forçou a cadeira contra a parede liberando os braços ao ar. “Que endiabrado seja!”, todos se moviam, com roupas hodiernas, risadas naturais e o professor extremamente mais humano. Ahh, sim, ela voltou.

Mr. Green perguntou:

—Então, dormiu bem? Não pensava isso de você, minha aula é assim tão entediante?

Ok, ok, ok... O que havia acabado de acontecer?

Reconheceu pelo cabelo e estatura o mesmo colega que havia levantado no sonho, levantando novamente, veio em direção à porta, agora inscrita na parede.

Deixou um papel na sua mesa, amassado.

Clarice abriu: “Você está presa para sempre aqui”.

Quantas vezes tenho que dizer, o mundo é meu e nenhum que se atreva a entrar aqui, sairá. Não soa exemplarmente poético? A impotência, o descontrole... O sofrimento.

Espere, virá mais. Puxe uma cadeira.

FIM

03/10/2015


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Notas finais do capítulo

Aceito sugestão para os próximos capítulos. Seus medos, por favor.



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