Revenge Angel escrita por V Giacobbo


Capítulo 5
A lot of truths




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Acordei assustada por berros e estrondos. Arregalei os olhos e olhei em volta, procurando pela fonte de tamanho caos. Então eu percebi que estava sozinha. Ao contrario do que esperava, estava deitada em uma cama, não mais amarrada à cadeira.

“Ainda estou viva.” – constatei o óbvio.

Os berros e estrondos ainda continuavam, vindo de algum ponto além da porta. Eu me sentei no colchão confortável e encarei a porta, tentando imaginar o motivo de toda aquela confusão. Somente alguns segundos depois, com os sons ainda audíveis, foi que “a ficha caiu”.

Eu estudei meu próprio corpo e notei que ainda vestia minha roupa de guerreira. Avistei meu sobretudo sobre a cadeira, onde eu estivera presa, e meus coturnos ao lado da mesma. Eu girei sobre a cama e coloquei os pés descalços no chão frio.

Eu estava confusa. Questionava-me o motivo de estar solta das cordas. Tecnicamente, eu estava livre.

Fiquei de pé e senti a fraqueza das minhas pernas. Consegui ficar de pé e andar alguns passos. Lembrei-me que minha varinha estava sobre a mesinha. Corri na direção do móvel. Porém, minhas pernas estavam fracas e eu cai com um sonoro baque.

Os sons além da porta cessaram imediatamente. Eu ignorei aquilo e me levantei o mais rápido que pude. Dirigi-me até o móvel, caminhando lentamente. Não havia nada ali.

“Claro, né? Snape não é burro a ponto de deixar minha varinha aqui.” – briguei comigo mesma.

Suspirei irritada. Eu sentia os músculos das minhas pernas tremerem pelo exercício que eu fazia. Caminhei em torno do aposento, muito lentamente e apoiando a mão na parede, exercitando os músculos trêmulos e doloridos. Enquanto isto, pensei nos sons que me acordara, os gritos e baques.

“O que será que aconteceu? Foi Snape?” – questionei-me – “Acho que não. Ele sempre foi muito controlado, creio que não faria tamanho estardalhaço por qualquer que fosse o motivo.”

Ao passar pelo armário, vi uma mochila sobre ele. Remexi nela apenas para constatar que era a minha.

Notei então a existência de outra porta além da de entrada. Ela dava para um banheiro simples. Instantaneamente senti a necessidade de tomar banho. Eu não sabia há quantos dias estava presa, mas sabia que não tomava banho a mais de uma semana.

Peguei vestes limpas de dentro da mochila e entrei no banheiro. A chave da porta estava na fechadura e eu a tranquei. Eu sabia que, se Snape quisesse entrar, a porta trancada não o impediria. Contudo, senti-me mais segura e com mais privacidade com aquilo.

Nunca achei que tomar banho seria tão revigorante. A água quente fez meus músculos relaxarem e uma sensação de alívio me tomar. Sob a água era como se nada de ruim jamais tivesse acontecido. Era como se eu estivesse em Hogwarts, o único lugar que considerava como lar, depois de um dia difícil.

Lavei-me com força, tomando cuidado com as cicatrizes. Meu rosto e cabelos ganharam a devida atenção. Usei muito sabão para retirar a sujeira e o cheiro do meu próprio sangue e suor. Depois de me secar e vestir uma bermuda justa e uma regata, ambas negras; olhei para um pequeno espelho acima da pia. Passei a mão por ele e vi meu reflexo.

Minha aparência estava péssima. A palidez entrava em contraste com minha cicatriz, meus cabelos e olhos castanhos. Eu parecia um zumbi. Suspirei conformada. Eu não poderia esperar nada além daquilo depois de semanas dormindo em florestas e não me alimentando direito e, principalmente, depois de ter estado presa, amarrada a uma cadeira por sabe-se lá quantos dias.

Voltei para o quarto e caminhei até a janela ao lado da cama. Grossas e pesadas cortinas negras a cobriam, deixando o quarto naquela penumbra que eu já conhecia. Puxei alguns centímetros do tecido e espiei. Ainda estava escuro lá fora. Não havia rua do outro lado e eu supus que aquela era a visão dos fundos da casa. Escancarei a cortina e abri a janela. A brisa foi fresca, mas carregada de cheiros que fez eu me arrepender de ter aberto a janela. Fechei-a rapidamente, deixando apenas as cortinas puxadas.

Dei as costas para a noite e fitei a porta de saída. Eu desejava imensamente que ela estivesse aberta, destrancada.

“Snape não seria tão descuidado.” – constatei, balançando a cabeça por ter sequer alimentado as esperanças.

Sentei-me na cama, encostando-me à parede lisa, puxei minhas pernas para cima e as abracei, depositando a cabeça sobre os joelhos. Meus cabelos molhados caíram em torno do meu rosto e eu deixei meu olhar oscilar entre qualquer ponto do quarto.

Eu estava apenas esperando que Snape surgisse pela porta.

=.=.=

Eu estava de pé, olhando pela janela, quando ouvi a maçaneta mexer. Respirei fundo e, sem ao menos me virar, esperei que Snape entrasse.

Pelo reflexo no vidro encardido, vi ele abrir completamente a porta e me encarar com seu olhar frio. Permaneci imóvel, fitando seu reflexo. Depois de lançar um rápido olhar pelo quarto, imaginei que era para assimilar se algo estava destruído, Snape deu poucos passos para dentro do aposento e parou.

- Como se sente? – perguntou ele, para minha surpresa.

- Vá pro inferno. – respondi, grosseira, ainda sem me virar.

“Você me manteve presa todos esses dias idiota, como será que estou me sentindo?!” – senti vontade de gritar meu pensamento para ele, mas engoli o maldito sarcasmo sonserino.

Snape balançou a cabeça, recriminando-me.

- Eu te soltei Skywal... – antes que ele terminasse eu reagi à palavra, por puro instinto.

Minha mão direita transfigurou-se, adquirindo curtas, mas afiadas, garras negras. Eu me virei, o rosto marcado pela raiva, e rasguei a parede, criando vincos grossos e longos. Encarei Snape, arfando, os dedos da mão transfigurada flexionados, prontos para um ataque.

Eu vi nos olhos dele uma rápida sombra de espanto. Seu olhar oscilou entre meu rosto, minha mão e a parede danificada. Ele se recompôs logo em seguida, assumindo uma postura firme e uma expressão desdenhosa.

- Então era verdade. – disse ele.

Eu senti um rosnado se formando em minha garganta, um som puramente animal.

- Você e suas amigas, de fato, fizeram isto. – ele apontou com o queixo para minha mão – Animagia.

Eu sorri, arrogante, esticando e flexionando os dedos com garras.

- Percebo que a senhorita ainda está alterada. – sustentou ele, um quê de deboche mesclando sua fala fria – Mais tarde, quando estiver mais calma, volto para conversarmos.

O ímpeto de gritar que não tinha nada para conversar com ele me assaltou. Antes, contudo, que eu o fizesse, Snape ergueu a varinha e, apontando-a para a mesinha, fez surgir um prato cheio de comida.

- Coma devagar. – apesar do tom seco, parecia um conselho.

Meu olhar ficou fixo no conteúdo do prato e meu estômago se contraiu. Quando meu olhar voltou-se para Snape, ele não estava mais ali. Meu estômago roncou sonoramente. A fome e o desejo de saciá-la vieram com força, eu não tinha pensado nos vários dias que ficara sem comer.

Corri para a mesinha e me sentei na cadeira, a boca salivando de desejo. Ao esticar a mão para pegar o talher, vi as garras e fiquei imobilizada. Somente naquele instante eu percebi o que havia feito. Encarei minha mão, assustada tanto pelo meu descontrole quanto pela forma que ela adquirira.

“Depois de tudo o que eu e as garotas tivemos que passar para conseguir isto... como eu pude me esquecer?” – recriminei-me.

Concentrei-me e vi as garras desaparecerem e minha mão voltar ao normal. Snape estava certo, de fato, eu e minhas amigas éramos animagas. Todas nós éramos fãs dos gêmeos Fred e Jorge Weasley e havíamos descoberto, através deles, sobre os Marotos. Depois de alguma pesquisa e um bocado de tempo, descobrimos que os Marotos eram quatro amigos inseparáveis e animagos.

Nós, por unanimidade, escolhemos ser tão inseparáveis e fieis umas às outras quanto aqueles garotos e, nas ultimas férias de natal, nos tornamos animagas. Layla era uma tigresa siberiana branca, Glenda era uma pantera negra, Gaby era uma leoa e eu era uma loba branca. Nossa amizade seria eterna, nós havíamos prometido.

Eu, contudo, rompera com aquela promessa e me engajara naquela vingança suicida.

Balancei a cabeça, mandando aquelas lembranças para o fundo da minha mente e ataquei a comida. Eu tive que admitir que, mesmo sabendo da possibilidade de Snape ter cozinhado aquilo, estava maravilhosamente bom.

“A fome é o melhor tempero, como dizem os trouxas.” – pensei e ri.

Limpei o prato, depressa. Quando ele ficou vazio, eu o fitei com irritação. Eu queria mais, meu estômago reclamava por mais. Aguardei algum tempo, na esperança de que ele se enchesse de comida tal como os pratos de Hogwarts. Depois que percebi que ele não faria aquilo, levantei-me, bufando e comecei a caminhar pelo quarto.

Eu fiquei irritada, queria comer e não tinha comida. Meu corpo exigia mais alimento. Eu sabia que aquele gosto ruim que sentira na minha boca era de alguma poção que restabelecera minhas forças. Porém, aquilo era muito superficial e fraco. Eu precisava me alimentar, sentia que aquilo era mais necessário que qualquer outra coisa.

Caminhei pelo quarto, bufando e xingando mentalmente de tempos em tempos. Com o passar dos minutos, senti meu estômago se remexer. Presumi que era a necessidade de mais comida que me causava incômodo e dor. Contudo, depois de algum tempo, comecei a ficar zonza e sentir náuseas. Meu estômago se contraiu e eu senti dor e o gosto ruim em minha boca que alertou-me o que estava por vir.

Corri para o banheiro, uma das mãos pressionando minha boca e outra o meu estômago revoltado. A porta bateu com força na parede e o estrondo, eu tive certeza, poderia ser ouvido por qualquer cômodo da casa. Tive tempo de apenas me ajoelhar ao lado do vaso sanitário, no instante seguinte, toda a comida que eu ingerira foi colocada para fora.

Tossi, erguendo a cabeça, os olhos fechados. O gosto era horrível. Meu estômago ainda doía e fazia movimentos que eu nunca sentira antes. Ele se contraiu dolorosamente pela segunda vez e eu inclinei a cabeça, meus cabelos caindo no meu rosto.

Depois da segunda golfada eu me senti muito fraca, tanto física quanto mentalmente. O pouco que eu conseguia assimilar permitiu-me concluir que eu já vomitara mais do que comera. Aquilo já havia passado dos limites, entretanto, eu sentia, principalmente pelo meu estômago se revirando, que aquilo ainda não havia terminado.

Quando eu inclinei a cabeça pela terceira vez, meus cabelos não caíram em torno do meu rosto e eu senti algo quente tocando meu ombro direito e segurando meus cabelos para trás. Naquele instante eu já me sentia tão fraca que sequer conseguia pensar. Eu sabia que algo me tocava e segurava meus cabelos, mas era uma compreensão tão fraca e superficial que não ocupou minha mente por algo além de alguns segundos.

Parecia que eu estava a várias horas naquela horrível situação, ainda que meu inconsciente dissesse que havia se passado apenas alguns minutos. Eu estava muito fraca, meu corpo estava mole e eu não o controlava mais. Minha respiração era arfante e, de tempos em tempos, eu tossia um pouco descontrolada.

Após algum tempo, meu estômago parou de se contrair e eu suspirei, aliviada. Estava tão fraca que poderia dormir ali mesmo, fechei os olhos e esperei que o vazio da inconsciência me tomasse.

Contudo, antes que isso acontecesse, o que segurava meus cabelos e meu ombro me puxou, suavemente, para trás. Eu senti algo quente cruzar minhas costas, enquanto era deitada, e amparar minha cabeça. Abri os meus olhos, ainda sem conseguir formular qualquer pensamento e, ainda assim, curiosa. Eu vi um rosto. Pisquei algumas vezes, forçando-me a sair daquele torpor maldito. Consegui, por alguns segundos, ficar lúcida.

Eu encarava o rosto de Snape. Sua expressão era acusadora e possuía uma raiva que eu nunca vira antes. Contudo, em seus olhos negros eu distingui aquele brilho estranho da noite que Dumbledore e Allison haviam sido mortos. O brilho de algum sentimento que eu não conseguia compreender ou classificar.

Em seguida tudo ficou escuro.

=.=.=

Acordei sobre a cama, meu rosto virado para a parede encardida. Eu sentia meu corpo tão fraco como nunca antes, nem mesmo depois de horas de treinamento com Luke. O gosto ruim no fundo da minha garganta obrigou-me a lembrar do que havia acontecido, dos minutos, que pareceram horas, de sofrimento.

Pensei em tudo aquilo. Eu passara mal por causa do que havia comido, estava muito claro para mim. Questionei-me se fora obra de Snape, se ele havia colocado algo na comida com a intenção de me fazer passar mal. Senti uma pontada de raiva e minha garganta ficou seca, o que me fez tossir.

Em seguida, senti uma ardência na cabeça, algo que eu sempre sentia quando alguém me encarava. Fiquei imóvel. Eu sabia que ele estava ali, Snape. A raiva aumentou e uma pequena chama se acendeu em meu peito. Entretanto, eu estava tão fraca física e mentalmente que ela se apagou em seguida, deixando-me ainda mais exausta.

Suspirei, assim que decidi encará-lo. Sabendo que meu corpo não me obedeceria caso eu quisesse me sentar, apenas virei o rosto. Meus olhos castanhos encararam os negros. Ele estava sentado sobre a cadeira, perto da mesinha, os braços cruzados sobre o peito e as pernas esticadas e cruzadas. Não me surpreendi por ele estar ali, mas pela posição relaxada dele.

- O que você fez comigo? – perguntei, minha voz saiu baixa e rouca.

A expressão dele mudou. Outrora vazia, agora era pura raiva. Vi seus braços apertarem-se ainda mais, como que para controlar o ímpeto de movê-los de alguma maneira.

- Eu não fiz nada, você o fez. – respondeu ele seco – Eu disse para comer devagar.

Eu fiz uma expressão cética e, se estivesse mais forte, teria rido dele.

- Quer mesmo que eu acredite nisso? Que eu fui a culpada?! – mesmo minha voz estando fraca, ela soou um pouco raivosa.

- Fazer a senhorita passar mal não me traria benefícios, pelo contrario, apenas problemas. – disse ele convicto, o rosto suavizando – A senhorita passou mal, pois seu organismo estava impregnado da Poção Wiggenweld. Lembra-se dela?

Antes de procurar nas minhas lembranças aquele nome, assimilei outra coisa:

“Senhorita? O desgraçado traidor me mantém presa todo esse tempo e ainda usa de cordialidade comigo?!”

Ainda o encarando, tentei buscar na memória qualquer referência àquela poção. Pouco depois me lembrei, o próprio Snape falara dela no meu terceiro ano letivo. Senti-me uma idiota. Eu sabia, afinal, porque passara mal. Minha antiga amiga Glenda era a melhor em poções do nosso grupo de amigos e ela me explicara sobre a poção.

A Poção Wiggenweld era uma poção de cura muito conhecida. Além de curar, ela dava forças à pessoa que a ingeria. Para “gravar” aquela poção na minha memória, na época, eu fizera uma relação com um soro que os trouxas usavam em alguns casos nos seus hospitais. O soro ajudava o organismo a se recuperar, mas somente até um determinado estágio. Então, o paciente devia retomar a ingestão de líquidos e, somente depois, de comida sólida. Caso contrário, o organismo entraria em colapso por ter que digerir mais do que conseguia.

Foi o que acontecera comigo.

Eu suspirei e virei o rosto, encarando o teto. Ouvi um ruído baixinho que classifiquei como uma risada abafada. Fiquei com raiva de novo, raiva de Snape pelo seu jeito sonserino e de mim mesma por ter sido, de fato, minha culpa tudo aquilo.

- Quem fez isto com a senhorita? – perguntou ele, de repente.

O choque da pergunta fez a minha raiva desaparecer e eu fiquei ainda mais cansada. Aquelas mudanças de humor estavam me desgastando, algo que nunca acontecera antes em toda a minha vida.

- Ninguém. – respondi seca.

- Ninguém? – ele repetiu cético – Então a senhorita é masoquista?

Fiquei com raiva de novo, mais do que antes. Um sentimento que beirou o ódio. Meu peito inchou, as chamas queimando tudo. Minhas mãos, por mais inacreditável que me pareceu, fecharam-se em punhos.

- Essas cicatrizes... – começou ele com um tom de voz que eu nunca ouvira antes, o que obrigou-e a olhá-lo – o que aconteceu?

Snape permanecia na mesma posição negligenciada e sua expressão era vazia. Porém, em seus olhos, eu vi novamente aquele brilho estranho. Perceber aquilo e dirigir toda a minha atenção para ele fez a minha raiva ceder, as chamas apagando-se rapidamente. Minha respiração se tornou pesada, tal como meus olhos. Eu senti o vazio da inconsciência avançando sobre mim.

- Você. – respondi.

Então eu apaguei.

=.=.=

Quando acordei, senti meu corpo mais forte. Não havia nenhum gosto estranho em minha boca ou garganta, denunciando que eu não ingerira nenhuma poção ou alimento. Olhando para o lado encontrei Snape sentado na mesma cadeira. Ele parecia estar dormindo, pois a cabeça estava inclinada.

“Está desconfortável? Que ótimo!” – pensei, rindo mentalmente do seu infortúnio.

Com um pouco de esforço eu consegui sentar na cama, encostando-me na cabeceira de madeira. Flexionei e estiquei os dedos da mão e fiz o mesmo com o braço. Eu ainda não estava totalmente recuperada, sentia que precisava apenas me alimentar e então ficaria cem por cento bem.

Encarei Snape. Por um instante, o ímpeto de entendê-lo me tomou. As atitudes que ele estava tendo não eram compatíveis com o perfil de um sonserino, de um traidor e de um comensal da morte.

Balancei a cabeça, voltando-me para o ponto onde eu devia ficar firme. Na minha vingança, no meu desejo de matá-lo.

- Snape! – chamei, ficando feliz pela minha voz também ter ficado mais forte.

Ele ergueu a cabeça, os olhos entreabertos. Estava com uma aparência horrível, parecia não ter uma noite de sono descente há vários dias.

- Quero comer. – fui direto ao ponto.

Snape fingiu não ter ouvido, apenas levantou-se e colocou uma das mãos nas costas. Eu sorri, imaginando o quão dolorido estava. Ele andou alguns passos sem sequer levar em consideração minha existência.

- Snape! – chamei de novo, bufando.

Ele não falou nada, apenas saiu, deixando a porta escancarada. Meu queixo caiu. Eu não conseguia acreditar no que via. A porta aberta, alguns passos me separando da minha liberdade. Rapidamente tentei mover minhas pernas, avaliar se conseguiria andar ou até mesmo correr.

“Merda!”

Minhas pernas ainda não estavam fortes o suficiente para sequer me sustentar de pé. Fiquei com raiva de Snape.

“É claro que ele fez de propósito, desgraçado maldito.”

Ele voltou logo depois, a varinha na mão direita. Com um aceno dela, uma bandeja materializou-se à minha frente com um prato de comida e um copo de suco. Meu estômago roncou. Eu encarei o alimento, a boca salivando. Ao pegar nos talheres, porém, respirei fundo.

Comi devagar, mastigando mais do que o suficiente cada garfada que levava à boca. Snape saiu novamente, dessa vez, fechando a porta. Não me importei com a lentidão dos meus movimentos. A comida estava com um gosto maravilhoso, mesmo não estando tão salgada quanto eu preferia.

Depois de limpar o prato e beber o suco, empurrei a bandeja até o pé da cama. Entrelacei os dedos das mãos e pousei-as sobre a barriga, encostando a cabeça na cabeceira e fechando os olhos.

A cada minuto que se passava eu sentia minhas forças voltando, deixando meus músculos mais fortes e preparados para o uso.

Enquanto estava ali, um pensamento me abateu:

“Há quanto tempo estou aqui?”

Fiquei intrigada. No estado que as coisas estavam, quando eu me encaminhei para a Mansão Malfoy no intuito de montar guarda, não demoraria muito para que grandes mudanças acontecessem.

Pensei no Potter. Eu não era sua amiga, mas também não era contra ele, pelo contrário, eu lutaria ao seu lado, contra Voldemort, se fosse necessário. Como eu visitara a mente dele várias vezes durante os anos anteriores em Hogwarts, eu sabia de todos os seus grandes feitos. Contudo, eu era “neutra” o suficiente para perceber que, além das grandes habilidades que ele possuía, a sorte, várias vezes, estivera do seu lado.  E ele precisaria dela novamente para vencer Voldemort, eu sentia isso.

Provavelmente eu tirei um cochilo, pois quando abri os olhos Snape estava no quarto novamente, sentado na cadeira, me encarando. Meu primeiro sentimento foi o susto, que não consegui ocultar na minha expressão. Quando ele sorriu desdenhoso eu recobrei o controle das minhas ações e montei uma expressão vazia, quase fria.

- O que você quer? – perguntei.

- Informações. – respondeu ele, seu tom era tão arrogante que, instantaneamente, eu temi por algo que me escapara anteriormente.

Lembrei-me do suco que havia tomado e, com o que Snape acabara de declarar, concluí:

“Veritasserum.”

Antes da morte de Allison eu conseguia quebrar o efeito daquela poção, contorná-la e responder, se quisesse, até mesmo as mentiras mais absurdamente falsas. Naquele instante, porém, eu não sabia se poderia ou não realizar aquele feito.

- Quem foi o responsável pelas suas cicatrizes? – perguntou ele.

A resposta verdadeira se formulou na minha mente, pronta para ser pronunciada, embora eu não conseguisse saber qual era. Tentei lutar, empurrar os pensamentos para longe da minha mente e calar as palavras que estavam para serem pronunciadas. Eu sentia meu rosto vazio de sentimentos, uma expressão que não correspondia ao meu conflito interno.

- Você. – respondi, surpresa com minha própria resposta.

O rosto de Snape se contraiu em irritação. Ele enfiou a mão no bolso de suas vestes negras e retirou uma varinha. Ele a ergueu, mostrando-me ela. Reconheci-a imediatamente, era minha.

- Você consegue pegá-la com seus poderes especiais? – perguntou, o tom de voz desafiador.

- Não. – não combati aquela resposta, eu já havia dito aquilo para ele mais de uma vez, quando ainda estava presa àquela cadeira.

- Então, como conseguiu pegar a adaga? – ele guardou minha varinha novamente.

- Com o feitiço convocatório. – respondi sem me importar.

- Sem a varinha? – ele pareceu surpreso.

- Sim. – respondi simplesmente.

Snape me encarou, analisando minha expressão, provavelmente estudando se eu estava ou não sob o efeito da poção da verdade.

- Quem foi o responsável pelas suas cicatrizes? – ele repetiu a pergunta, duvidando da poção.

- Você. – respondi prontamente, não havia problema em repetir a resposta.

- Por que eu? – questionou ele, a duvida ainda maior em seu tom de voz.

Eu tentei lutar contra a poção, meu rosto ainda sem expressão nenhuma. Mesmo não conseguindo saber o que iria responder, eu já suspeitava qual seria a resposta. Se eu estivesse certa quanto ao meu palpite, Snape usaria dela para chegar ao fundo de todos os meus segredos.

- Porque você acordou Allison. – não consegui impedir a resposta.

- Quem é Allison? – ele estava curioso.

- Minha antiga segunda personalidade. – a resposta já estava pronta e eu não tive tempo de sequer lutar contra ela.

- Por que antiga?

Eu fiquei desesperada. Sentia como se estivesse presa, dentro da minha mente, enquanto outra pessoa controlava meu corpo e respondia com verdades, as perguntas dele, sem pensar nas consequências. Lutei contra a poção. Snape já sabia demais sobre mim. Eu não podia revelar mais nada.

- Quando a Maldição da Morte me atingiu, não era eu quem estava no comando. Era Allison. Ela morreu, não eu. – minha voz não sofria nenhuma alteração, alheia aos meus sentimentos, tal como minha expressão.

- Qual a relação entre a morte de Allison e suas cicatrizes? – a expressão dele também não sofrera nenhuma alteração, mas eu via em seus olhos a surpresa pelo que eu já havia falado e algo mais, que eu não consegui captar por estar lutando contra a verdade que avançava.

- Com a morte de Allison eu perdi meus poderes jedis. Luke Skywalker, o homem que me gerou, venerava Allison. Para ele, ela era sua verdadeira filha. Ao descobrir o que aconteceu, fez isto comigo.

Eu amaldiçoei Snape, desejando que sua morte fosse lenta e dolorosa. Ele estava me matando com aquilo. A cada verdade que eu pronunciava, a cada segredo revelado, eu sentia que o que restava da antiga Vitória, tudo o que a V possuía, era despedaçado, desmontado e estudado como um quebra-cabeça.

- Não são cicatrizes comuns, são? – eu vi o choque em seus olhos por alguns segundos antes de perguntar.

- Não. – por mais que eu lutasse, a verdade saía.

- O que elas tem de diferente?

Eu gritei dentro da minha mente. Se aquilo fosse revelado eu estaria perdida, Snape teria em suas mãos a arma contra mim, a mais confiável e letal. Continuei gritando, tentando me livrar da poção, superar o medonho poder que agia sobre mim.

- Elas ainda me machucam. Sempre que sofrem algum impacto, elas ardem cada vez mais intensamente.

Desisti. Abandonei qualquer resistência. Deixei meu corpo e mente livre para que a poção agisse. Eu me encolhi, dentro da prisão na minha mente, escondi o rosto entre os joelhos e chorei, silenciosamente.

Snape não perguntou nada por algum tempo. Eu não quis erguer o rosto e ver o que ele estava fazendo ou sua expressão. Nada mais importava. Ele já tinha o suficiente para transformar a minha vida em um inferno pior que o que eu já habitava.

- Por que veio atrás de mim? – a voz dele estava diferente.

Eu ignorei a mudança dele e não lutei contra a verdade, continuei chorando, dentro da minha mente.

- Porque fiz uma promessa.

- Que promessa? – ainda com aquele tom diferente, ele soou curioso.

- Que você pagaria pela morte de Dumbledore.

- Desista dela, eu não morrerei pelas suas mãos. – o tom de Snape era quase uma ordem.

Eu não falei nada, a poção permitia apenas que eu respondesse às perguntas que me fizessem.

- Vai desistir? – ele abandonou o autoritarismo e a curiosidade, sua voz era totalmente aquele tom diferente, pelo qual não me importava.

- Não.

- Por quê?! – pela primeira vez, Snape ficou irritado.

- Não é possível desistir da promessa.

- Por quê? – ele abandonou o tom irritado, era quase curioso.

- Uma Promessa de Sangue não pode ser cancelada, ela é eterna.

Eu me perguntava, chorando desesperada e silenciosa, dentro da minha mente, quando aquela tortura iria terminar, quando Snape decidiria que as informações que possuía eram o suficiente.

- Nunca ouvi falar dessa Promessa de Sangue. O que é isso? – a voz de Snape era completamente curiosa.

- É uma promessa que apenas jedis podem fazer.

- Você disse que não é mais jedi, como conseguiu fazer? – perguntou ele, acusador, pois havia encontrado uma contradição.

- Não sei, apenas consegui.

Então eu senti uma abertura, uma falha na pressão que a poção fazia sobre mim. Logo em seguida, outra surgiu e depois outra. Com o passar dos segundos a força da poção começou a rachar, a se desfazer.

Eu me levantei, dentro da minha mente, erguendo o rosto marcado pelas lágrimas. Então eu vi Snape. Ele estava se pondo de pé, sua expressão ainda era vazia. Quando ele olhou para mim, me surpreendi. Seus olhos negros novamente possuíam aquele brilho estranho e estava mais intenso do que nunca antes.

Ele se virou e caminhou até a porta. A cada passo que ele dava, mais liberta da poção eu ficava. A chama negra do ódio ascendeu e se alastrou pelo meu corpo, um incêndio que me deu forças.

Quando ele chegou à saída, eu fiquei completamente livre e agi rapidamente. Pulei da cama, encarando-o com ódio. Corri até ele. Não me importei com a possibilidade dele sacar a varinha e me atacar, eu apenas queria tentar, chegar o mais perto possível de feri-lo.

Ele saiu e fechou a porta antes que eu chegasse. Segurei a maçaneta e tentei girá-la. Um estalo anunciou que a porta estava trancada. Eu dei um grito de ódio e soquei a porta.

- Desgraçado! Maldito! – berrei contra a porta, colocando toda a minha força nos socos que desferia na madeira.

Eu queria ser forte o suficiente para quebrar a madeira da porta, rachá-la ao meio e alcançar Snape. Eu não sabia se ele estava ali ainda ou se já estava fazendo outras coisas. Contudo, o ódio que incendiava dentro de mim não ligava para aquele misero detalhe. Se ele não estivesse do outro lado da porta, eu continuaria gritando com toda a minha força para que ele me ouvisse de qualquer parte da casa.

- Veritasserum, seu covarde dos infernos! Veritasserum!

Apesar de tudo o que ele já tinha feito, o crime que ele acabara de cometer não estava na minha lista de possibilidades, mesmo para alguém como ele. Era uma covardia sem proporções, algo que eu nunca imaginara Snape fazendo, apesar das ameaças que ele já havia me feito em Hogwarts.

- Ousa bem minhas palavras, traidor! Você vai pagar por tudo isso, pela morte de Dumbledore e por tudo o que eu passei desde então. É tudo culpa sua! Você vai pagar, seu filho de uma puta! – berrei o xingamento o mais alto que pude, pouco me importando com qualquer consequência que pudesse causar.

Os nós dos meus dedos começaram a sangrar. A dor apaziguou o ódio e minha força desapareceu conforme o incêndio apagou. Minha respiração estava arfante e eu ouvia o fluxo sanguíneo pulsando em meus ouvidos.

Fui para o banheiro, bufando, lá me sentia mais segura do que no quarto. Fechei a porta e a tranquei. Encostei-me na porta e suspirei longamente. Tentei controlar os batimentos cardíacos. Eu estava forte o suficiente apenas para me mover normalmente. Caso ficasse irritada ou sobressaltada, eu tinha certeza, faria algo idiota e teria uma consequência nada agradável. A única coisa que eu desejava era não desmaiar ou ficar debilitada enquanto estivesse sobre o poder de Snape.

Parei na frente do espelho e levei um susto. Meu rosto estava marcado de lágrimas. Eu toquei-me com os dedos, esquecendo-me do sangue e sujando meu rosto.

“Eu chorei de verdade?” – questionei-me sem acreditar “Mas... meu corpo não reagia ao que se passava dentro da minha mente e... eu chorei lá dentro!”

Fiquei confusa. Enquanto lavava o rosto e as mãos, lembrei-me da expressão de Snape quando a poção começou a falhar. Sua face estava vazia de emoções embora seus olhos possuíssem aquele brilho.

“O que diabos é aquilo? Não é a primeira vez que o vejo. Que sentimento é aquele?”

Mesmo com aqueles questionamentos na cabeça, sem me conceder um único segundo de paz, eu voltei para o quarto e, pegando minha mochila, voltei ao banheiro. Tomei um banho rápido, vesti-me e voltei para o quarto. Pela janela percebi que já havia passado do meio-dia.

Os questionamentos sobre Snape foram substituídos por outros um pouco mais antigos.

“Que dia é hoje?”

=.=.=

Pela minha contagem, fiquei dois dias sem ver e ouvir Snape. A casa parecia inabitada, exceto por mim. Aquela ausência de Snape denunciava que algo de muito importante estava acontecendo no mundo bruxo.

Eu me alimentei normalmente, um prato de comida e um copo de suco sempre apareciam sobre a mesinha nos horários das refeições.

Depois daqueles dois dias, eu estava completamente recuperada. Para passar o tempo, eu treinara minhas habilidades de animagia, transformando apenas partes do meu corpo o mais rápido e perfeito que conseguia. Apesar do treinamento consumir todo o tempo que eu quisesse, ele não apagava os meus pensamentos, voltados para o mundo bruxo.

No anoitecer, ouvi sons no andar inferior. Eu me abaixei e coloquei o ouvido no assoalho, tentando ouvir melhor. Snape estava ali, finalmente. Ele xingava de vez em quando.

“Está irritado, Snape?” – perguntei para mim mesma, imaginando o que teria acontecido.

Os sons que ele causava moveram-se, saindo do cômodo abaixo do quarto, e eu não consegui mais ouvi-lo. Ergui-me e caminhei até a porta, coloquei meu ouvido na madeira e aguardei. Ouvi seus passos subindo a escada e seus resmungos ocasionais. Dei um passo para o lado, para trás da porta, caso ela fosse aberta.

Eu já estava forte o bastante para conseguir atacá-lo, se tivesse uma chance. Minhas mãos se transfiguraram, ganhando curtas e afiadas garras negras. Respirei fundo, pronta para cumprir minha missão.

Snape abriu a porta e avançou, seu próprio andar e postura denunciava sua ira. Não me importei, apenas ataquei. Ergui a mão esquerda e avancei. Enquanto isto, ele olhou pelo quarto e não me viu. Minha respiração denunciou-me, fazendo Snape se virar para mim. Meu ataque não podia ser evitado, as garras desciam e faltamente atingiriam o ombro dele.

Entretanto, ele tinha ótimos reflexos e segurou meu punho esquerdo, impedindo meu ataque. Nossos olhares mantiveram-se fixos um no outro enquanto eu movia minha mão direita em um novo ataque. Novamente ele me impediu, segurando meu punho direito.

- Você acha mesmo que conseguirá me matar? – perguntou ele, a voz tão bruta que me assustou – Você é apenas uma aluna, não é capaz de nada!

- Nada?! – exclamei, irritada, tentando soltar minhas mãos – Eu sou capaz de coisas que McGonagall jamais sonhou em fazer. – eu ergui minhas mãos na altura dos olhos dele, obrigando-o a olhar para as garras.

- Animagia... – falou ele, o asco visível em sua expressão – Os grifinórios acham que transformar-se em animais é a habilidade mágica mais cobiçada do mundo? – ele riu na minha cara, desdenhando – Eu tenho pena de vocês.

- Devia ter pena de si mesmo! – gritei de volta, muito irritada embora estivesse um pouco assustada com o jeito dele – Você vai querer ir pro inferno quando eu terminar com você.

- Terminar comigo? – rosnou ele, apertando meus punhos, o rosto mascarado de ira perto do meu – Você é igual aos idiotas da Ordem da Fênix, promete coisas impossíveis e não consegue proteger a si mesma.

- A Ordem da Fênix não é assim!

Ele me puxou para perto da cama e me empurrou contra ela. Eu caí no colchão e bati a cabeça na parede. Instantaneamente ela latejou e eu me senti perdida. Minhas mãos voltaram ao normal sem a minha ordem.

- Bando de incompetentes. Grifinórios imprestáveis! Não conseguem nem ao menos proteger a si mesmos! – bradou Snape, andando de um lado pro outro.

- Do que está falando? – eu entendi o motivo da ira dele, algo havia acontecido no mundo bruxo, algo que envolvia a Ordem da Fênix.

- Diga-me, é uma característica de todos os grifinórios terem ideias estúpidas? – Snape virou-se para mim, a voz tremendo de raiva.

 - O que aconteceu? – eu estava curiosa e preocupada, alguns membros da Ordem da Fênix tinham minha admiração e até mesmo carinho, eu não queria que nada de ruim acontecesse com qualquer um deles.

- Potter. – Snape cuspiu a palavra, como se ela fosse um verme em sua boca.

Eu fiquei paralisada. De fato, algo realmente importante havia acontecido. Snape continuou andando de um lado pro outro, bufando e resmungando coisas que eu não entendia.

- O que aconteceu? – perguntei de novo, a voz mais calma.

- Retiraram o Potter da casa de seus tios. – ele não se deu ao trabalho de me olhar.

- E eles...

- Ah, sim! Eles conseguiram manter o Potter a salvo. – ele me cortou, encarando-me.

Eu sorri, satisfeita pela derrota dos comensais.

- O Lorde ficou irritadinho? – desdenhei, pouco me importando que ele reagisse contra mim.

Snape riu, frio e sarcástico.

- O Lorde das Trevas queria o Potter e não se importou com os outros, para ele foi uma derrota completa. – respondeu ele.

- E para você não? – surpreendi-me com o que ele falara, como se ele não compartilhasse dos pensamentos e sentimentos de seu mestre.

- Nós, os comensais, tivemos um prêmio de consolação. – disse ele, sua voz e expressão banhada de uma alegria insana.

Por detrás da voz e da expressão que eu nunca vira antes, seus olhos estavam vazios, sem nenhuma luz, nem a da vida que possuía em seu corpo. Notar isto fez-me pensar no que, de fato, incomodava Snape. Aquele olhar contradizia tudo o que ele dizia e expressava, ele não parecia feliz, apenas vazio.

- Prêmio de consolação? – repeti o que ele dissera, temerosa pela resposta.

- Claro... – concordou ele, interrompendo sua caminhada – muitos comensais festejaram. Não é todo dia que matamos o responsável pela prisão de dezenas dos nossos.

Meu queixo caiu e eu senti meu coração perder um compasso.

“Não pode ser.”

Aquilo era impossível, impensável.

- Olho-Tonto... – sussurrei, minha expressão denunciando meu choque.

Snape deu uma risada baixinha, fria e bruta. Eu permanecia naquele estado de cética e, ao mesmo tempo, crédula.

- Mesmo com essa perda significativa, resultado de seus erros, aqueles idiotas não aprenderam nada! – falou Snape, retomando sua caminhada.

- O que quer dizer com isso?

- Já se passaram cinco dias desde a transferência do Potter. – respondeu ele, me encarando, como se aquilo explicasse tudo.

Eu tentei compreender. Snape estava se contradizendo e não parecia notar isto. Ele dizia que ela uma vitória e uma alegria ter matado Alastor “Olho-Tonto” Moody, mas seus olhos eram vazios de sentimentos. Ele servia à Voldemort e lutava contra a Ordem da Fênix e ficava irritado pela incompetência dos inimigos. Tudo aquilo estava estranho demais.

Então minha mente assimilou outra coisa, algo que me deixou com a expressão apavorada.

- Que dia é hoje?! – minha voz concordou com meu sentimento, saindo baixa e trêmula.

Snape me encarou, sem falar nada, por algum tempo. Depois, virou-se e caminhou até a porta, ignorando minha pergunta.

- Snape! – chamei, exasperada.

Ele parou sob o batente da porta, a mão na maçaneta. Seu olhar tornou-se frio e, por mais que ele pudesse tentar esconder, triste.

- Hoje é o último dia do mundo bruxo como o conhecemos. – respondeu ele, a voz rouca, fazendo-me arrepiar – Hoje é dia 31 de julho, V.


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