Rebel escrita por Blake


Capítulo 12
All or none




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Aquela foi mais uma noite em claro para Phil Coulson, mais uma noite se convencendo que nada daquilo era sua culpa, e como de praxe, mais uma noite falhando nessa missão.

Levantou-se da poltrona após se torturar por tempo demais e seguiu até a cozinha, deparando-se com a figura de May estática diante do fogão, possivelmente esquentando água para mais um dos seus inúmeros chás. Nem se dera conta da hora, mas ao olhar pela janela, pôde reparar que já era de manhã. Ela notou a presença dele ali, mas nada disse.

– Me desculpe – iniciou, encostando-se na porta. A asiática permaneceu imparcial, ignorando-o completamente, não a culpou por isso, sabia que tinha sido um idiota ao acusá-la daquela forma – Eu nunca deveria ter dito aquelas coisas, May, eu não estava pensando –

– Deveria se é o que você realmente acredita – a asiática respondeu, enfim virando-se para o homem, seu timbre indicava claramente o quão magoada estava, assim como seu semblante.

– Eu não acho – aproximou-se da esposa, perdendo-se momentaneamente nas orbes escuras da mesma. Por mais “durona” que May quisesse aparentar, seus olhos sempre demonstravam tanta ternura. Coulson tinha muitos motivos para amá-la, mas apenas um para ter se apaixonado: aqueles olhos. – Eu juro que não acho, eu fui um babaca, o que não tem sido muito raro – admitiu, abaixando os olhos e suspirando – Mas esse babaca aqui te ama e está realmente arrependido – declarou, tocando no rosto da baixinha a sua frente.

– Taylor ? -

– Audrey Harper merece justiça – foi a única resposta que ele lançou àquela pergunta.

Havia refletido muito sobre aquela questão e deu-se conta de que estava pondo Taylor à frente dos seus princípios, os mesmos princípios que o faziam acordar todos os dias e lutar pelas pessoas inocentes. Parte de si desejava protegê-la e impedir que qualquer um pusesse as mãos sobre ela, a outra parte apenas desejava que ela não machucasse mais alguém, mas o único pensamento constante era: se tivesse que escolher entre um inocente e Taylor, quem escolheria salvar ?

May concordou com um aceno breve e afundou o rosto no peito largo do esposo, parecia tão indefesa encolhida ali. Sentia-se igualmente indefesa e antes que notasse estava encharcando a camisa de Coulson com suas lágrimas.

△REBEL

Recuperavam-se do êxtase, Riley com o rosto repousando sobre o tronco de Taylor, que a fazia um leve cafuné e pareciam ter acabado de presenciar algo divino. Sexo, quando bem feito, causava essa sensação de plenitude. Foi tirada dos seus devaneios pouco convencionais pela vibração do celular, tateou o criado mudo até pegar o aparelho.

‘Ward’ era o nome estampado na tela. Atendeu.

– Alô ? – falou de forma natural.

– Onde você está ? – o homem questionou, embora não parecesse bravo. Se havia um consenso sobre aquele “relacionamento” era, Grant poderia foder quem quisesse e Taylor tinha o mesmo direito. Sua relação com Riley não era segredo para ninguém, o único princípio que nunca mudaria na sua vida; sua sinceridade.

– Com a Carter – admitiu e esperou ele prosseguir, afinal, teria que ter um motivo para ligá-la.

Pôde ouvi-lo trincando os dentes do outro lado da linha, mas rapidamente se controlou. Uma força da natureza como ela não poderia ser domada, até um dos manda chuvas da HYDRA sabia disso.

– Temos um trabalho, essa nova organização está vindo atrás de nós, temos que nos antecipar a eles – ele enfim respondeu, numa calma forçada.

– Eu não matarei agentes federais ou serei acessório em suas mortes, Ward – decretou num tom frio. Matar agentes federais era punível com prisão perpétua no estado de NY, independente da sua idade, e Taylor não daria chance ao azar. Pela sua conta enfrentaria cerca de dois anos num reformatório pelos crimes que já havia cometido, não tinha nenhuma intenção de adicionar um infinito a essa conta.

– Não, mas você vai me ajudar a derrubá-los – ele a respondeu com sadismo – Você tem razão, não podemos lidar com duas agências, então vamos pôr uma no esquecimento – finalizou e apenas esperou a garota dar algum sinal de entendimento.

– Tudo bem, estamos a caminho – respondeu e desligou.

– O que é dessa vez ? – Riley perguntou preguiçosamente.

– Dominação mundial – sussurrou com certo sarcasmo e foi coletando as roupas dispostas pelo chão, se enfiando no banheiro em seguida.

– E o óleo ? – foi a única pergunta, feita num tom mimado por Riley.

Foi impossível não sorrir com aquela carinha emburrada – Hoje não é um bom dia para morrer, RiRi – respondeu, selando-lhe os lábios rapidamente e dando por encerrado aquele assunto, pelo menos por hora.

△REBEL

A jovem entrou no escritório de Ward, quarenta minutos após a ligação desse, os cabelos estavam desgrenhados num coque mal feito e Riley a seguia, gatunamente, a morena lançou um sorriso cínico na direção de Grant, que não retribuiu.

– Que bom que resolveu aparecer – ele soltou, de forma mal-humorada e só então voltou as orbes acinzentadas na direção de Riley – Poderia nos dar licença, por favor ? – indagou com certa rispidez.

A morena deu de ombros e distanciou-se, abandonando o cômodo sem dizer nada.

– Qual o problema ? – Taylor enfim disse algo, achando aquele comportamento ridículo.

O moreno levantou-se, parando à frente da jovem num ar bem ameaçador. A garota nada temeu e sequer piscou ao encará-lo com frieza.

– Quando você vai entender que é minha ?! – quis saber, de forma minimamente possessiva e apertou os braços de Taylor com mais força do que deveria.

Riu com escárnio. Aquilo era patético, um homem de trinta e dois anos se humilhando para uma garota com ½ da sua idade.

Soltou-se do aperto dele num movimento rápido, e no instante seguinte estava segurando uma navalha contra a jugular do mesmo, encarando-o num ar verdadeiramente assassino – Sua ? – iniciou cinicamente – Não se iluda, você é apenas meu atalho – sussurrou, ficando na ponta dos pés para alcançar o ouvido do mais velho, finalizando com uma mordida sobre o pescoço do mesmo. Guardou a navalha e o avaliou com certo sadismo.

O homem a empurrou com raiva, mas não de forma violenta, parecia frustrado e olhava-a num misto de desejo e ódio.

– Rosalind Price – enfim falou, jogando sobre a mesa a foto da mulher que viram dando aquela entrevista na televisão – Comanda a ATCU e quer nossas cabeças, o plano é simples, teremos a dela primeiro – anunciou de forma monocromática. Enquanto Taylor apenas o encarava, esperando ele iluminá-la sobre como iriam realizar aquele feito.

– E como vamos fazer isso ? – questionou quando se deu conta que ele não iria prosseguir.

– Você que vai descobrir – finalizou e sorriu sarcasticamente na direção da jovem que o encarava no mesmo ar imparcial de antes, embora um traço de sorriso pairasse sobre seus lábios.

– O que eu ganho com isso ? – aquela única frase poderia ser o mantra da loura, nunca fazia nada de graça, ainda mais quando estava de mau-humor, como era o caso.

– Uma viagem para Sokovia, soa bem ? – ele falou e foi possível ver os olhos azuis da garota cintilarem, ela descobriria um jeito de invadir o maldito Pentágono após aquela proposta e Ward sabia disso.

Rússia, iria para a Rússia!

Sorriu largo para o homem e ele retribuiu. Ward era fraco se tratando dos aspectos do coração e tendia a se apaixonar por pessoas impossíveis, primeiro Skye e agora Taylor, sorte no amor não parecia ser sua especialidade.

O moreno novamente aproximou-se da jovem, deslizando os dedos delicadamente pelos braços finos da garota, como num pedido de desculpa por seu descontrole mais cedo e a puxou para um abraço, embebedando-se no aroma que os cabelos dela exalavam.

Taylor deixou-se ser abraçada e encostou o rosto no peito delineado do homem, parecia tão indefesa envolvida por aqueles dois braços fortes. Talvez fosse seu rosto angelical, mas parecia frágil na maior parte do tempo, pelo menos até mostrar do que era realmente capaz.

– Por que você quer complicar isso ? – enfim indagou, levantando as orbes azuis para encará-lo.

– Eu não sei se conseguirei te ver todos os dias sabendo que sou apenas seu atalho – respondeu num tom baixo, encarando-a de forma resignada.

– Eu não tenho mais nenhum lugar para ir – admitiu e aquilo era, de fato, verdade.

– Você não pertence a lugar nenhum, ou quer pertencer a algum lugar, esse é o motivo – ele falou e a soltou, era óbvio que Taylor só estava ali pelos recursos que HYDRA poderia provê-la, mas duvidava que ela permaneceria após ter suas dúvidas sanadas.

– É, você tem razão – sussurrou num ar distante e foi impossível não levar as lembranças para bem, bem distante.

F△B – Dezembro, 2004

Luzes. A casa estava repleta delas, luzes de todas as cores que piscavam a uma certa frequência, num determinado intervalo de tempo. Vozes. Haviam vozes de todos os tipos e as nuances que alguns entoavam ao falar, denunciava suas reais personalidades, seus sorrisos forçados, o modo que moviam as mãos ao conversarem. Ao contrário do que todos acreditavam, nada passava despercebido pela quieta criança. O mundo era apenas muito assustador para ela, as pessoas eram apenas muito superficiais para sua sensibilidade apurada.

Taylor aos seus cinco anos não compreendia interações sociais e em retorno, ninguém a entendia. Odiava contato visual, a forma que algumas pessoas falavam consigo, naquele tom infantil idiota, como se ela fosse alguma tapada; forçadas, falsas, medíocres. Odiava-os.

Era Natal e a mãe de Coulson o “obrigou” a passá-lo consigo, desde que o marido havia morrido a mulher se tornou 100x mais insuportável. Como Phil era o único filho homem que tivera, sobrou para ele aguentar as intermináveis lamentações e dramas da alcoólatra Jane. Melinda e Taylor foram como parte do pacote, mas nenhuma das duas parecia muito feliz com aquela situação.

A minúscula criança estava tão deslocada que se agarrou à barra da saia de May e escondia-se atrás das suas pernas a cada nova aproximação.

– Qual é o problema dessa menina ?! – Jane inquiriu, sempre fazia a mesma pergunta quando a via e sempre que se referia à Taylor, empregava um tom irritadiço, parecia não se conformar por ter perdido sua radiante Lily e ter ganhado como prêmio de consolação a loirinha. O completo oposto.

– Mamãe, estamos aqui como a senhora pediu, agora, por favor, não diga nada que faça com que eu me arrependa de ter vindo – Coulson afastou a mãe da esposa e filha e a deu uma “dura”.

O rosto da criança era a mesma máscara imparcial de antes, como se nem houvesse escutado o que havia sido dito, mas internamente tudo doía, de um modo que palavras não expressariam. Sentia-se louca, alguém que foi deixado no planeta errado por alguma piada de mau-gosto, tudo ao seu redor parecia errado, mas de alguma forma, a errada era ela. Não entendia sob qual ótica aquelas pessoas viviam e demoraria mais alguns anos para enfim descobrir o quão conveniente a ótica da ignorância era.

O sentimento de não pertencer nunca lhe foi estranho. Nunca havia pertencido a algum lugar antes.

FB△END

– Entendeu ? – Ward, aparentemente, não notou que os pensamentos de Taylor estavam longe, pois prosseguiu falando. A garota não havia entendido absolutamente nada.

– Não – admitiu sem nenhuma vergonha.

– Rosalind Price, temos que sequestrá-la, não matá-la, aparentemente ela prendeu o irmão do Bishop de forma arbitrária, apenas para que ele se entregue, faremos uma troca; a vida dela, pela liberdade do Bishop Jr. – Ward resumiu.

– EUA não faz acordo com terroristas – o relembrou de um fato muito importante e bastante óbvio, além de estranhar aquela troca, não era do feitio de Grant Ward aquele tipo de “acordo”.

– Se o Presidente espera se reeleger, ele começará a fazer – concluiu sem humor.

Deu de ombros e se distanciou dali, não adiantava debater muito sobre aquilo, mas a pulga atrás da orelha permaneceu. Tinha algo errado e ninguém era mais qualificado do que ela para descobrir.

Precisava achar Riley, necessitaria de uma ladra para o que tinha em mente.

△REBEL


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