Em Meio a Guerra escrita por Cinthia Feitoza


Capítulo 4
Verão de 1917


Notas iniciais do capítulo

Mais um!!!! =D =D

Musiquinha dele: https://www.youtube.com/watch?v=1PvBc2TOpE4



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— Você consegue, Harry! — Ron gritou do outro lado do campo verde, erguendo seu punho fechado em apoio a mim. Os alvos estavam a minha frente, a arma nas mãos, e o medo estampado no rosto. Eu nunca gostara de praticar tiro ao alvo, até agora nunca havia acertado uma só bala no círculo vermelho, mas como meu pai sempre me ensinara: um homem deve estar preparado para todos os desafios que lhe vieram na vida.

— É só mirar um pouco pra lado e depois atirar, Harry! – Fred e Jorge falaram juntos, sorrindo como sempre, enquanto me ensinavam, sentados em seus lugares ao lado de Rony, como eu deveria atirar. Virei claramente irritado e envergonhado, na direção deles, o que só os fez rir ainda mais, passeando meu olhar pelos presentes até encontra-la; Gina estava sentada ao lado de Hermione, que olhava feio para os gêmeos, dando pouca atenção aos irmãos. Ela olhava para mim e, quando a surpreendi encarando-a, ela sorriu discreta e baixou o olhar, antes de erguê-lo outra vez e soltar um “Boa sorte” de seus lábios, sem emitir nenhum som. Sorri em agradecimento e, respirando fundo, virei-me em direção ao alvo, mirando cautelosamente antes de puxar o gatilho e perfurar o centro vermelho do alvo na primeira tentativa.

(...)

O lago dentro da casa dos meus pais era pequeno, mas era muito mais profundo do que aparentava. A água cristalina e fria, junto de margens ladeadas pelo maior número de árvores que eu já contemplei transformavam o lugar num verdadeiro oásis, exótico e aconchegante. A primavera coloria nossos jardins àquela manhã, os raios de sol, fracos e amarelos, cortavam o céu azul, criando um efeito incrível no gramado verde. Era uma manhã maravilhosa e comum, até que Molly e Gina Weasley adentraram nossa sala de estar. Minha mãe sorria abertamente ao recebê-las e eu as cumprimentei com alegria, só então percebendo como Gina estava diferente; ela parecia mais alta, os cabelos, que estavam presos debaixo de um delicado chapéu de cor azul clara, ainda eram vermelhos e vivos como eu me lembrava, mas o rosto estava mais fino, mais delicado, perfeito. Ela me olhou e sorriu discretamente, sentando ao comando da minha mãe; eu já me dirigia à saída para deixa-las mais a vontade, quando a voz da minha mãe me fez parar no meio do caminho.

— Harry, você se importa de mostrar os jardins para Gina? Acredito que ela estava entediada de conversa de adultos e com certeza vá lhe agradar fazer um passeio ao ar livre. — Dona Lilian sorriu, sendo acompanhada por Dona Molly, que olhou para o rosto alvo da filha. Gina me olhou, como se esperasse que a sugestão da minha mãe não fosse mal interpretada por mim. Eu sorri, lhe estendendo a mão.

— Se assim ela desejar, será um prazer para mim! — falei, olhando diretamente para a ruiva, que corou e colocou sua mão sobre a minha, me acompanhando até o exterior da casa.

— Espero não estar atrapalhando nenhum de seus planos, Harry. — Gina começou, depois de alguns minutos de caminhada pelo jardim.

— Não se preocupe com isto, Gina. Como eu disse, é um prazer acompanha-la. — sorri. — Fico contente que tenha vindo hoje, ou seria eu a permanecer na sala ouvindo a entediante ‘conversa de adultos’ como minha mãe denominou. — brinquei e ela gargalhou um pouco. Não sei explicar qual a razão, mas só de ouvir sua risada soar, meu coração aqueceu dentro do peito; era uma sensação de tranquilidade, de paz.

— Sua mãe é muito modesta, a conversa delas nem é assim tão entediante... — ela começou e não pude evitar olhá-la com descrença. — Mas, o passeio está sendo bem mais agradável, tenha certeza! Falar de costuras, vestidos, eventos sociais não é divertido. — ela finalizou, me fazendo sorrir um pouco. Apoiada em meu braço, ela caminhava em silêncio, observando cada detalhe do jardim. Passei a observá-la por alguns instantes, perguntando-me quando a irmã do meu melhor amigo havia se tornado uma mulher tão... Interessante.

— Ouvi dizer que vocês tem um lago na propriedade! Isto é verdade? — ela questionou, soltando meu braço, virando-se de frente para mim. Confirmei com a cabeça, apontando uma trilha bem a nossa frente. Ela estreitou os olhos na direção da mata, encontrando o caminho. Um sorriso, largo e faceiro, se fez em seus lábios e ela desviou seu olhar para mim, o olhar travesso.

— Aposto que chego lá antes de você! — ela falou, já correndo na direção da trilha. Sorri com seu ato infantil, mais logo parti em seu encalço, adentrando a trilha a toda velocidade. Gina avançava com rapidez e logo o lago estava a nossa frente. Num dado momento, ela virou-se para mim, apontando a distância que ainda havia entre nós e o lago. Sem perceber, ela dava passos em direção ao lago. Tentei avisá-la, mas já era tarde; o salto do seu sapato fincou na terra e quando ela tentou dar o passo seguinte, desequilibrou caindo de costas no lago. Corri, livrando-me do terno que vestia, e pulei no lago, arranhando o braço direito na ponta de uma pedra na margem do lago. Gina sabia nadar, mas de qualquer forma não quis arriscar; com todas aquelas roupas era muito difícil se movimentar. Tomei em meus braços, sentindo-a colocar os seus em me pescoço e andei devagar em direção à margem, sentando no gramado assim que saímos da água.

— Você está bem, Gina? Machucou-se? Bateu a cabeça em algum lugar? — perguntei, observando-a em busca de ferimentos. Ela tremia de frio, mas parecia intacta, sem nenhum arranhão. Respirei tranquilo, cobrindo-a com meu terno que estava seco.

— Harry, você está sangrando! — ela exclamou, puxando minha mão em sua direção, mostrando o corte grande, mas pouco profundo. Ela tomou um lenço que envolvia seu pescoço, cobrindo meu ferimento, pressionando-o para que o sangue estancasse.

— Eu estou bem, Gina. Vamos voltar pra casa. Você precisa de roupas limpas e secas. Quando chegarmos lá, eu cuido disso. Não se preocupe comigo! Vamos — Ajudei-a a levantar, dando apoio para que ela pudesse caminhar sem pisar o pé esquerdo, que estava vermelho e inchado.

— Me desculpe, Harry! Se eu não tivesse dado a ideia de apostarmos corrida, nada disso teria acontecido. — ela disse cabisbaixa, apoiada em mim, enquanto andávamos lentos e molhados, de volta para casa.

— Gina, não há razões para desculpas! O importante é que estamos bem não é? Essas coisas acontecem e mais tarde, quando lembrarmos, vamos rir muito disso tudo, certo?! — sorri, olhando em seus olhos castanhos chorosos. Ela balançou a cabeça e jogou-se sobre mim, num abraço caloroso.

— Obrigada, Harry! — ela disse simplesmente, e eu sorri, apertando o abraço em sua cintura, inspirando o cheiro doce de seus cabelos molhados.

(...)

Os fogos de ano novo estavam banhando o céu com sua luz. 01 de Janeiro de 1914 inaugurava uma nova etapa. A Universidade havia acabado, e agora era a hora de me tornar adulto, homem. Mamãe e Papai olhavam sorridentes para o céu iluminado, enquanto Carlinhos e Fred Weasley cantarolavam algo incompreensível, a alegria ficando por conta do champanhe que haviam ingerido. Os Weasley casados permaneciam ao lado de suas esposas e filhos aproveitando a companhia um dos outros, enquanto eu observava, distante, uma ruiva a olhar o céu tomada por um fascínio difícil de encontrar em qualquer parte. Desde o episódio do lago, eu a enxergava de uma forma diferente; Ginevra havia deixado de ser apenas uma amiga, ela era uma mulher, linda, gentil, delicada, educada e alegre, que ia me cativando um pouco mais ao passar dos dias. Em alguns momentos eu chegava a pensar que ela também gostava de mim, mas ela nunca me dera demonstrações claras e eu nunca ousei arriscar a abrir meu coração e perdê-la; mas olhando-a agora, tão desesperadamente linda, não conseguia pensar em nada mais além dela; eu a queria, não só como amiga, a queria como amante, companheira, esposa... A queria do meu lado para sempre! E só queria ter certeza de que ela me queria assim também. Fechei os olhos, buscando coragem para me aproximar e lhe contar sobre meus sentimentos e intenções, e no exato momento em que os abri, ela desviou seu olhar do céu para mim e sorriu, chamando-me para acompanhá-la. Fui até ela, ignorando a presença de seu pai e de seus irmãos intimidadores, parando ao seu lado.

— Por que estava ali sozinho? — ela perguntou, enquanto ajeitava uma mecha do meu cabelo que caia sobre a testa.

— De onde eu estava achei que poderia admirar melhor a beleza desta noite, mas de onde estou agora posso ver muito melhor! — sorri, sustentando seu olhar, observando corar violentamente. Levei uma de minhas mãos ao seu rosto coberto por sardas vermelhas, acariciando sua bochecha. Ela baixou o olhar, certamente corando uma segunda vez em minha presença. — Você é linda, Gina, e não consigo entender como nunca havia te dito isso antes. — falei e ela levantou seu rosto com rapidez, me olhando surpresa e lisonjeada.

— Harry... — ela começou a dizer, totalmente sem jeito, mas eu a impedi, colocando meus dedos sobre seus lábios.

— Não diga que eu estou mentindo. Você sabe que não estou! Eu fui um tolo por muito tempo, alimentando um medo tão grande quanto o sentimento estranho e prazeroso que passei a nutrir por você. Passei tempo demais tentando me convencer de que estava enganado, que isso não poderia acontecer, tentando evitar o inevitável... — a seriedade em minhas palavras era palpável e o olhar que Gina me lançava era confuso.

— O que estou tentando te dizer é que... Eu me apaixonei por você! Eu me apaixonei e não disse nada, com medo de que você pudesse não sentir o mesmo que eu. Mas hoje, eu escolhi deixar de lado todos estes medos e te dizer a verdade! — ela me olhava incrédula, com os olhos ainda mais brilhantes do que eu jamais vira. — Eu amo você, Ginevra Weasley, e estou disposto a enfrentar seu pai, seus irmãos, o mundo inteiro, se você me amar também. — então ela sorriu; o sorriso mais maravilhoso de todo o mundo. Ela piscou os olhos repetidas vezes e pude notar que uma lágrima rolou de um deles, molhando sua bochecha. Enxuguei-a com meu polegar e ela pôs sua mão sobre a minha.

— Eu sempre amei você, Harry Potter! Sempre... — ela falou e era como se os fogos no céu estivessem dentro de mim. Quis tomá-la em meus braços, cobrir seus lábios com os meus e passar a noite inteira assim com ela, mas haviam convenções a cumprir, e eu não colocaria a honra dela em xeque por pressa. Depois que eu conversasse com o Sr. Weasley haveriam muitas oportunidades para tudo aquilo.

— Fica comigo esta noite e segura a minha mão pelo resto da festa? — com as nossas mãos unidas, levei a dela em direção aos meus lábios, beijando seu dorso, e nos viramos para admirar o céu enquanto os últimos fogos da noite ainda o iluminavam.

— Com toda certeza!

(...)

— Prometa que vai voltar, Harry! Prometa que vai voltar pra mim! — Gina suplicava, os olhos castanhos brilhando com as lágrimas acumuladas em seu interior. — Prometa que eu irei vê-lo outra vez, Harry... Prometa pra mim.

— Harry! Harry... Harry...

Uma voz doce chamou meu nome, me fazendo despertar daquele sonho. Tentei abrir os olhos e ver quem era, mas um breu tomava tudo a minha frente. Senti um peso sobre meus e notei que um tecido pesado cobria meus olhos, puxei-o sem delicadeza, sentindo a pele arder com o contato e tentei abrir meus olhos, mas os borrões claros e indefinidos eram tudo que eu enxergava.

— Harry, como está se sentindo?... Harry? Consegue me entender? — a voz de Hermione soou e eu busquei sua figura a minha frente, não vendo nada além de sombras. Ela tocou minha mão, como se assim dissesse que estava por perto, e senti-me aliviado de encontrar uma amiga naquele momento.

— Mione! O que houve comigo? Porque eu não consigo enxergar nada? — questionei nervoso, quase desesperado. Hermione apertou minha mãe e consegui ouvir sua respiração pesada antes dela começar a explicar.

— Harry, no último combate, você e parte do batalhão foram expostos a uma quantidade enorme de gás cloro. O Cloro é muito tóxico e a quantidade que você inalou quase arruinou seus pulmões. — ela pausou por alguns segundos, limpando a garganta, protelando o anúncio de algo que eu sabia ser ruim.

— Hermione, pode contar de uma vez. Estou pronto para o que vier! — falei, buscando coragem dentro das escassas esperanças que eu ainda possuía; a guerra matou muitas coisas boas dentro de mim, mas minha vontade de viver para ver este terror chegar ao fim permanecia intacta.

— O clorou danificou as suas retinas, Harry! Ainda não sei como conseguimos manter seus pulmões íntegros, foi uma espécie de milagre! Mas não pudemos fazer muito por seus olhos. — o tom soturno em sua voz era um tanto assustador. O que ela realmente queria dizer com ‘ não pudemos fazer muito pelos seus olhos’?

— Isso quer dizer que eu vou ficar cego, Hermione? — perguntei alarmado, as sombras em minha visão se tornando ainda mais escuras.

— É o mais provável, Harry. Eu sinto muito! — Mione tocou meu ombro, numa tentativa de me consolar. Não a repeli e nem a agradeci por isso; não disse nem fiz nada por muitos dias.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? ^^



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