Em Meio a Guerra escrita por Cinthia Feitoza


Capítulo 2
Inverno de 1916


Notas iniciais do capítulo

Continuando nosso jornada pela Primeira Guerra Mundial... Eis mais um capítulo =D

Musiquinha dele: https://www.youtube.com/watch?v=eFOOCYA4xWs



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Eu já ouvira falar sobre guerras! As aulas de história deixavam claro que não se tratavam apenas de honra, bravura, glória; havia também a carnificina, o terror, o sangue jorrando pela areia, mas eu nunca pude imaginar quão terrível a morte poderia ser até vê-la tão de perto. Dia após dia, a quantidade de homens, compatriotas, companheiros de regimento, amigos abatidos pelas armas alemãs era tão grande quanto o estrago que nossas armas conseguiam causar. Infantaria, Artilharia e Cavalaria sofriam baixas enormes a cada batalha travada. Homens mutilados pelos tiros de canhão, corpos inertes sendo usados de escudos por outros homens, postos de enfermagem lotados com mais feridos do que era possível comportar; era a verdadeira definição do caos. Os dias eram cobertos de medo e tensão em cada homem amontoado abaixo das trincheiras, tentando sobreviver às investidas do inimigo, à umidade nauseante do chão ao nosso redor, e as noites, em nossos aposentos improvisados, eram repletas de saudades. Não havia uma só noite em que eu não pensasse em Gina, nos seus cabelos vermelhos, em seu sorriso faceiro, em seu gênio forte (aquela garota conseguia ser irredutível quando queria); amava-a com cada pedaço de mim e era este amor que me mantinha vivo, inteiro de corpo e alma até agora. Era a vontade de voltar pra casa que me impedia de cair em lágrimas como Duda fazia todas as noites antes de dormir; não que eu o considerasse fraco e covarde por conta disso; o horror durante o dia era intenso e a dor da perda dos amigos e das saudades de casa era ainda maior à noite. Mas pensar em Gina hoje não me trazia muita paz; todos os Weasley estavam no mesmo batalhão que eu, o trecentésimo nonagésimo quarto, alocado em território belga, e eu só conseguia imaginar como ela sofreria ao saber que perdera dois irmãos para a guerra... Carlinhos e Fred, ambos da cavalaria, foram alvejados por metralhadoras em batalha hoje, um dia depois da porção da trincheira em que ficava a artilharia comandada por Gui ser atingida por canhões, mantando muitos de seus homens e deixando o ruivo com o lado esquerdo do rosto tão machucado, que ficara quase irreconhecível. Desde o cessar fogo que a escuridão da noite impunha aos exércitos, Rony permanecia no posto de enfermagem, aguardando notícias do irmão mais velho, tentando encontrar forças pra escrever aos pais contado o tão doloroso acontecimento, e cuidando da própria perna cortada pelos arrames fardados, enquanto arrastava os corpos dos irmãos para dentro da trincheira. Ao que parecia, Hermione estava alocada no mesmo território que nós e encarregou-se de cuidar pessoalmente dos ferimentos de Gui e do marido. Percy e Jorge estavam muito mais quietos que de costume quando voltaram da enfermaria naquela noite e, quando Ronald retornou com os olhos vermelhos, a perna enfaixada e uma expressão tão triste, entendi que hoje não haveria sessão de piadas e nem sorrisos. Me aproximei do meu melhor amigo, tocando-lhe o ombro; ele desviou seus olhos em minha direção e sorriu fraco.

— Nem pareciam Carlinhos e Fred deitados ali... — ele começou de cabeça baixa, bebendo um gole de uma bebida qualquer que seu irmão Percy lhe oferecera. — Não haviam sorrisos. Eles estavam sempre sorrindo! — Ronald tomou o líquido claro todo de uma vez e fechou os olhos, numa expressão de dor em seguida. Ele não chorava agora, mas a tristeza intensa banhava suas íris azuis, retirando delas qualquer brilho que outrora existisse.

— Todos nós sentiremos falta deles, Ron, mas eles estão livres de todo esse caos. — comecei vacilante, sentando ao seu lado. — Agora é hora de fazerem os anjos caírem na gargalhada! Cabe a nós sermos generosos e deixar que eles partam e alegrem a outros, como alegram a nós todos estes anos. — não sei de onde aquelas palavras saiam, mas pareceram funcionar, já que Ronald soltou um sorriso um pouco mais alegre que o anterior e virou-se para Jorge, que permanecia quieto e taciturno em sua cama.

— Consegue imaginar o Fred escondido entre as árvores, jogando pedrinhas nas asas dos anjos? — questionou o irmão, que não conseguiu evitar sorrir.

— E Carlinhos fazendo cócegas no nariz dos anjos até que eles estapeiam os próprios rostos? — foi Percy quem perguntou, fazendo com que todos rissem um pouco alto. Todos lembrando que já foram vítimas daquelas e de outras tantas brincadeiras dos irmãos. E então começamos a relembrar cada uma das pequenas trapalhadas que aqueles dois nos fizeram passar e assim eu percebi que ficaríamos bem... Nada seria como era antes, mas quando aquilo acabasse estaríamos prontos para recomeçar e tudo ficaria bem.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo ^^



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