Ally: Jogo de Amor escrita por Ella


Capítulo 10
Chocolate Quente




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– Abra a porta pra mim, por favor. Nick pede para o motorista.

Ele pega Ally no colo e a leva para o táxi, por estar desmaiada ele a coloca sentada com a cabeça encostada no seu ombro:
– Podemos ir, mesmo lugar de antes. - Diz ao motorista que segue caminho.

Nick tira seu doudoune, sobrepõe em Ally e depois enrola seu cachecol no pescoço dela. O motorista observa os dois enquanto dirige, até a curiosidade sair:
– Você é o que dela?

A olhando gelada e vulnerável Nick diz:
– Amigo, sou amigo dela.

Chegando na casa dele, Nick entra com Ally e vai direto para a sala onde está a lareira:
– Nick, o que é isso? - Pergunta sua mãe.

– Quem é ela? - Pergunta sua avó.

– É a Ally vovó... - Ele responde deitando-a no sofá.

– Ally? A garota da trilha? - Indaga sua mãe.

– Sim. - Responde sério.

As duas ficam se olhando por alguns segundos:
– O que aconteceu com ela? - Questiona sua mãe.

– Eu não sei. - Diz. - Eu a encontrei assim na rua, não podia deixar ela lá.

– Verdade, você fez bem querido. - Ela diz.

Ally começa a acordar, porém fraca:
– A lareira está acesa? - Ele pergunta.

– Não, vou acender... - Diz sua avó.

Tentando levantar Ally cai sem força:
– Ally. - Afirma. - Ally? Está me ouvindo? - Pergunta calmo sentado junto à ela.

– Ni. - Ela força para falar. - Nick... O... O que? - Ela treme e tomba novamente.

– Ela ainda não está aquecida, Ally precisa se aquecer rápido. - Nick exclama.

– Vou aumentar o aquecedor. - Detalha sua mãe.

– Vou fazer chocolate quente. - Ressalta sua avó.

Nick senta Ally, ela não está mais tão debilitada, o calor aquece seu corpo aos poucos. Ele observa suas roupas:
– Você precisa de mais agasalhos e um cobertor. Eu vou pegar. - Diz distraído.

Ele se levanta, impulsiona andar mas algo o prende. Seu olhar se dirige para seu suéter, onde vê que Ally o segura com sua mão gelada:
– Ally, eu vou pegar um cobertor pra você. - Diz virando para sair.

Ela não o solta, mantém o segurando com a cabeça um pouco baixa, respiração forte e pouca lucidez:
– Ally. - Diz confuso.

Sua mãe reaparece, ela percebe algo estranho no local:
– O que houve? - Pergunta.

– Ally não me deixa sair! - Exclama. - Eu quero pegar mais agasalhos e um cobertor pra ela, mas... - Ele olha para sua mãe seguindo o olhar até a mão de Ally no seu suéter.

– Eu vou pegar. Enquanto isso fique abraçado com ela, o calor do seu corpo vai esquentá-la. - Destaca e sai.

Seguindo o conselho de sua mãe, Nick se senta, puxa Ally, passa as pernas dela em volta de sua cintura, e a abraça forte. Sendo inesperado e apertado Ally se surpreende; ele a segura muito firme, com os braços na cintura dela ele a alisa de forma calorosa para poder esquentá-la, o abraço fica cada vez mais quente conforme Nick a comprime gradativamente; ele nota que ela também o abraça e sua respiração começa a ofegar percebendo o corpo de Ally junto ao seu, até que sua mãe entra na sala com o cobertor nas mãos.
Vendo à cena na sua frente ela tenta não estragar, porém ele a vê, devagar se afasta de Ally e a cobre:
– Obrigada. - Ally diz baixo à mãe de Nick.

Sentada no sofá perto da lareira enrolada no cobertor, e com as mãos ainda geladas, Ally não receia quando Nick pega suas mãos e olha bem nos seus olhos. Ele pergunta um pouco apreensivo:
– O que aconteceu? Aonde você estava indo? - Vendo que não conseguiria a resposta para aquelas perguntas ele muda. - Ally, por que você está tão ausente, da escola, da realidade, o que houve?

– O meu avô morreu. - Ela diz de uma só vez.

Nick trava, engole seco:
– Na quarta, um dia depois do passeio na chácara, eu fui pra casa dele de manhã, de lá eu ia pra escola, como fazia sempre. - Ally conta lentamente. - Estávamos fazendo o café da manhã, como de costume, e então ele passou mal, eu chamei uma ambulância e fomos para o hospital; ele ficou em estado grave por três semanas, também fiquei doente mas foi o emocional e logo melhorei, mas ele não, ele teve muitas complicações enquanto estava internado, e acabou não resistindo.

– Por isso você não foi pra escola essas semanas? Estava com seu avô? - Ele pergunta delicadamente.

– Aham. Minha mãe falou pra mim ficar com ele já que ela não poderia estar sempre do lado dele, então eu fiquei lá, até ele não aguentar mais, até o homem que me criou fechar os olhos para sempre. - Continua, tensa. - Eu não pude fazer nada. - Ele sente gotas pingando na sua perna. - Meu avô teve um ataque cardíaco na minha frente, e eu não pude fazer nada, isso é injusto.

– Você não teve culpa Ally. - Nick tenta consolá-la.

– Foi ele que me criou, ele que me ensinou a ler e a escrever, ele me ensinou a ter respeito, educação, lealdade, honra. Foi ele que me ensinou a cozinhar, fotografar, cantar. Meu avô com certeza é meu maior exemplo. "Lute pelos seus sonhos querida, seus sonhos é o há de mais precioso em você", foi o que ele me disse minha infância toda e parte da adolescência, e agora, ele não vai me ver lutando e realizando meus sonhos. - Muito mais gotas pingam. - Eu vou dizer adeus à ele com muita dor, vou dizer adeus à ele amanhã, no seu velório. Adeus é algo que não deveria se ter, uma palavra dolorosa, e injusta.

– Ally. - Ele fica sem saber o que falar.

– Esse velório será o reencontro de meus familiares, todos estarão chorando e lamentando, pela morte do vovô. Nesse velório verei minha mãe depois de dias sem a ver, mais de 15 dias. Durante esse tempo eu não a vi, pois quando eu estava no hospital ela estava tralhando no seu setor, e quando ela estava com ele eu estava ausente. Eu nunca havia passado mais de 3 dias sem a ver, nem que seja só por um segundo em casa ou na rua, porém, dessa vez foi diferente, fiquei realmente só.

– Realmente só?

Ally balança a cabeça em sinal de sim:
– Só. 15 dias sem ver minha mãe, mais de 30 sem ver meu pai; durante todo o momento em que meu avô estava internado, eu estava só. A última vez que vi meu pai foi no dia em que nos vemos após o beijo; quando ele foi viajar de novo, antes de ir beijou minha testa e disse "Eu te amo filha, durante minhas viagens tenho muita saudade de você e de sua mãe, essas horas que passo ao lado das duas são os melhores da minha vida, fiquem bem." e me beijou novamente. Sei que a saudade ao qual ele sente machuca, porém também sei que minha saudade pelos dois dói e fere, apesar dos momentos que passo com eles essa ausência agora me mostra como sou fraca. E essa fraqueza está me corroendo.

Sem voz, mudo e silencioso, Nick escuta tudo:
– E sua família? Por que você não... - Ally o corta.

– Minha família não gosta de mim, eles não gostam da bastarda que invadiu a família deles, é isso que falam de mim, "a bastarda que invadiu nossa família."

– Bastarda? - Indaga Nick.

– Eu sou adotada, a mulher que me teve me abandonou na maternidade quando nasci, não sei quem é meu "pai" ou se tenho "avós", "tios", não sei de mais nada além disso.

– Como sua mãe chegou até você ? - Curioso.

– Minha mãe descobriu que não podia ter filhos por causa de um problema no útero, ela ficou arrasada, então meu pai deu a idéia de adoção para ela, no mesmo dia foram ao orfanato e eu estava lá, mesmo tendo mãe e pai. Acontece que minha mãe se apaixonou por mim junto com meu pai e eles não hesitaram em me adotar, minha família nunca me aceitou, a não ser meu avô, minha avó, e uma tia, porém, agora só tenho minha tia. Eu sou muito grata aos meus pais, sei que me amam muito e essa ausência também machuca eles, porém também sei que se sacrificariam por mim, acontece que tudo o que eu quero é que a minha vida volte ao normal, quando eu tinha 10 anos.

Ally levanta o rosto, dele caem lágrimas, ao ver ela assim o coração de Nick aperta:
– Era tudo perfeito até essa idade, passávamos muito tempo juntos, meus melhores aniversários foram os de 8 e 9 anos, melhores lembranças, até meu pai começar a trabalhar como corretor e mamãe ser transferida para o setor 15. - Ela começa a chorar mais forte. - Tudo mudou, comecei a vê-los cada vez menos. Passei meu aniversário de 12 e 14 anos sozinha, no de 15 mamãe foi solicitada então eu passei com o vovô, e no de 17, esse ano, meu pai viajou no dia porque se esqueceu do meu aniversário. É muito difícil. - Ela prende os soluços. - Eu moro sozinha praticamente desde os 10 anos, acordo só, tomo café só, almoço só, vou pra escola só, chego só, janto só, durmo só. Minha única companhia é Luna, se eu um dia a perder enlouqueço.

– Ally. - Ele gagueja sem fala.

– Você não sabe como é. - Ela chora aflitamente, com a respiração ofegante. - Você tem sua mãe, sua avó do seu lado, te dando apoio e amor, eu não tenho os meus a muito tempo. Eu perdi minha avó, ontem perdi meu avô, e tenho meus pais ausentes.

– Por que você não fala com seus pais sobre isso? - Ele questiona.

– Eu não posso pedir a eles para sacrificarem os sonhos deles por mim. É injusto.

Nick não sabe o que dizer, vendo ela tão vulnerável e magoada:
– Você tem muita sorte pela sua família, sempre estão ao seu redor mesmo se for para te chatear. Eu queria poder brigar com meu pai e depois fazer as pazes, nem tempo para isso eles tem. Eu quero uma vida normal de adolescente, eu quero meus pais ao meu lado, quero os meus avós me dando carinho e fazendo cafuné, quero o meu avô me vendo realizar meus sonhos. - As palavras começam a oscilar. - Eu não aguento mais essa solidão, não aguento mais ficar naquela casa só, conheço todos os sons, ruídos, barulhos, zumbidos daquela casa, são 7 anos da minha vida sozinha. - Ela soluça de dor. - Eu não aguento mais isso Nick, eu me sinto muito só, meu coração está doendo, latejando. Estou exausta. - Inúmeras lágrimas de sofrimento despencam dos seus olhos. - Está machucando muito.

Ally caí com o rosto coberto de tristeza e solidão no peito de Nick e chora sem parar. Ela soluça em seu coração, ele treme e a abraça forte enquanto acaricia seu cabelo. Toda a dor de Ally saí naquele abraço. Depois de um tempo, o choro começa a cessar:
– Vai ficar tudo bem Ally. - Nick diz calmo olhando para ela e sorri leve.

Ele a solta:
– Espera um pouco. - Sai da sala.

Sua avó e sua mãe que esperam na sala de estar levantam quando ele aparece. Nick conversa com sua avó ligeiramente e depois ela vai falar com Ally.
Encostado na parede, ele fica respirando fundo até sua avó voltar. Sendo psicóloga, talvez ela pudesse ajudar Ally.

Ele desperta vendo sua avó aparecer com expressão preocupante:
– Vovó. Conversou com ela? - Pergunta.

– Sim querido.

– O que você acha?

– Querido, a situação de Ally é um tanto delicada, ela está vivendo na solidão, ninguém pode viver assim. Ela pode entrar em depressão, e isso é o provável que aconteça. - Explica.

– Depressão? - Indaga.

– Sim. Ela precisa de companhia, atenção, carinho, afeto. Ou então. - Ela o olha lamentando.

Nick respira forte. Com a cabeça sua mãe manda ele falar com Ally.
Entrando na sala ele a vê já lúcida, sem lágrimas e fora do cobertor:
– Está melhor? - Pergunta.

Ela balança a cabeça em sinal de sim:
– Pegue, é chocolate quente. - Ele a oferece. - Foi minha avó quem fez, se eu fosse você tomaria. É delicioso.

Ally pega a xícara de suas mãos e fica a rodeando com o dedo:
– Você deve me achar uma idiota! - Exclama.

– Todos somos idiotas. - Ele responde sério, sorrindo de lado depois.

Ela levanta a cabeça:
– Aonde você vai? - Pergunta o vendo sair.

– Vou pegar chocolate pra mim. Eu já volto. - Sorri fofo e sai.

Observando a casa, a lareira, a xícara, Ally suspira lentamente e toma o chocolate quente. Um sorriso adorável surge no seu rosto.


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