1 de Outubro
3:15 da manhã

Tudo se transformou em uma pequena confusão.
Jack soltou um grito nada másculo, Stelar atirou um sapato na coisa. Ismael pronunciou alguma coisa, e tudo se iluminou. A coisa soltou um grito alto, um grito bestial. E se debateu. Vinicius se atirou sobre ele, e tentou esmurrar a coisa, mas era como tentar acertar fumaça. Sua mão atravessava e atingia o chão, mas a pior coisa ali, eram aqueles olhos, grandes e amarelos.
– Vocês podem tentar, crianças tolas, mas eu vou despertar de qualquer jeito. - A coisa rio e se dissipou.
Vinicius ficou parado, encarando o ponto aonde a coisa havia estado.
Um longo silêncio se seguiu enquanto as luzes se acendiam, mas de modo fraco.
– O que foi isso? Perguntou Jack quebrando o silêncio.
– A..aquele, era Daungher. Não era? Perguntou Ismael em um sussurro.
– Acho que sim. - respondeu Stelar.
– Quem é Daungher? Alguém pode me explicar o que ta acontecendo? Jack praticamente gritou a última pergunta.
Todos se viraram pra ele e sorriram.
– Uma longa história. - Respondeu Vinicius por fim.

...

1 de Outubro
9:50 da manhã

O dia amanheceu nublado. Que novidade. Pela primeira vez em tempo, eu estava sentado, na varanda, lendo meu livro favorito. Apesar das nuvens pesadas, a brisa do vento era quente e agradável.
Estava metade do sexto capítulo de Magnus Chase, quando a porta se abriu. Marck entrou por ela. Os cabelos molhados, as gotas de água escorrendo pelo rosto e caindo sobre a camisa polo. Os olhos verdes brilhando, acompanhando o largo sorriso. O aparelho azul marinho, brilhando em meio a luz cinzenta do dia.
– Vejo que o bom humor ta reinando aqui. - fecho o livro, colocando um dedo para marcar a página.
– Pois é. Magnus Chase? Marck senta ao meu lado, abraçando os joelhos.
– Sim, você me deu ele de presente, e ainda não tinha tido tempo pra ler.
– Ah sim. Gostando?
– Adorando. - sorrio. - Ficou sabendo?
– Do que? Marck me encarou, seus olhos encontrando os meus.
– Daungher esteve aqui, hoje de madrugada. O pessoal deu um jeito nele. - era impossível não rir. - Tipo, cara, a Stelar jogou um sapato nele.
– Ela fez o que? - Marck começou a rir. - Eles são bem loucos né.
– Muito. - Encostei a cabeça no vidro de proteção.
– Quanto tempo o Jack vai ficar?
– Até o recesso acabar, ou seja, daqui uns dois ou três dias. - dei de ombro, fechando os olhos.
– Menos mal, ele o Vini parecem preste a se matarem.
– Você sabe como somos. Ainda mais, quando os dois são capitães do time.
– Você tem que escolher melhor, os seus namorados. - Marck bateu os dedos em meu calcanhar, me fazendo abrir os olhos.
– Pois é. Como acabamos nessa situação mesmo? Perguntei olhando pra rua.
– Deixa eu ver. Você tem o sangue para libertar um cara, com um nome tão estranho, que é até difícil de pronunciar. Sério, com tantos nomes legais.
– Pois é. Cara, Daungher. Que diabos de nome é esse? Acho que até Josephino seria mais assustador.
Marck e eu trocamos um breve olhar e começamos a rir.
– Que tal uma partida? Quem matar mais zumbis ganha. - disse ele levantando.
– Fechado. Mas vou colocar música pra animar.
– Ta. - ele se levantou e caminhou até o Xbox.
Me levantei. Coloquei o livro na estante. Pluguei o celular no amplificador e coloquei The Nigths do Avicii. Sentei ao lado de Marck e começamos a jogar. Cantamos juntos.
– "He said "One day you'll leave this world behind
So live a life you will remember"
My father told me when I was just a child
These are the nights that never die
MY FATHER TOLD ME" - Cantamos cada vez mais alto.
Jack apareceu na porta, o cabelo bagunçado, o sorrisinho metido no rosto. Os olhos castanhos brilhando de alegria.
– Você me fez perder um zumbi. - resmunguei voltando a olhar pra tv.
– Não tive a intenção. - Jack sentou ao meu lado. Nossos joelhos se bateram, como em nosso primeiro encontro, naquela lanchonete, quando ele sentou ao meu lado pra me beijar. E uma galera aplaudiu. Foi incrível. - Posso jogar?
– Só depois que eu derrotar ele de lavada. - disse Marck sem tirar os olhos da tv.
– Sai, eu que vou ganhar.
– Só se trapacear. - Marck se jogou sobre o lado, caindo sobre mim.
– Ei, sai. - o empurrei para o lado, rindo. -Ah é? Agora você vai ver.
A chuva começou a cair do lado de fora, enquanto começava a tocar Blush da Wolf Alice. Os pingos, parecendo querer através o vidro das portas, con tamanha força. Meus pelos se arrepiaram, já que essa música havia sido a que tava tocando, na minha primeira vez com Jack. Ainda lembro do toque dele, sobre minha pele. Os beijos. As mordidas. O modo como ele olhou em meus olhos, e perguntou se eu estava feliz. Acho que ele também lembrou disso, já que seus olhos se encheram de lágrimas, e ele sorrio, batendo o joelho novamente no meu.
Uma parte de mim, amava o Vini de uma maneira inexplicável. Mas a outra, bem, essa queria que eu larga-se tudo, pegasse a mão de Jack e fugisse para qualquer lugar. E havia uma pequena parte de mim, que queria ficar com o Mael, eu ainda podia sentir o gosto salgado de seus lábios, por causa das lágrimas.
Acho que essas emoções confusas, vinham da transformação, tudo parecia tão ampliado dentro de mim. Eu me sentia diferente, não só pelo fato de ter virado um lobo, mas pelo fato de eu me sentir vivo, como se cada emoção tivesse triplicado e ficado mais forte. Mas eu me sentia forte.
Eu sei, isso é meio louco de se explicar. Mas é algo que só dá para se sentir.
Eu sei, que os dias vão correr, que o meu destino está cada vez mais perto. Mas eu vou fazer de tudo, para mudar ele. E sei que tenho pessoas, dispostas a me ajudarem nisso.
Apesar de tudo, eu me sentia em paz. E era isso que me importava.
Nós três ficamos ali, sentados, rindo, como qualquer adolescente normal. O mundo já não parecia um lugar deprimente, mas um lugar vivo, aonde tudo pode acontecer, quando você menos se espera.
Eu não queria que o dia acaba-se, queria poder ficar ali, seguro nas risadas e em tudo o que me deixava feliz.
A chuva foi aumentando, conforme chegava no refrão da musica, até se transformar em uma tempestade. E isso era bom.